1º Trimestre de 2020
Introdução
I-O Sacrifício
II-A Reconciliação
III-A Redenção
Conclusão
Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Discutir sobre a superioridade e as especificidades do sacrifício do filho de Deus;
Apresentar as bases da reconciliação salvífica realizada por Jesus;
Demonstrar a singularidade da obra da redenção realizada pelo Cristo.
Palavras-chave: Jesus Cristo.
Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria de Thiago dos Santos:
INTRODUÇÃO
O estudo sobre a salvação é um dos mais emblemáticos tratados na Bíblia. A doutrina da salvação pode ser compreendida com base em pelo menos três aspectos específicos que representam os atos generosos de Deus em nosso favor: o sacrifício, a reconciliação e a redenção. A experiência da salvação é viva e dinâmica e, por isso, passível de profundas reflexões que são imprescindíveis para a edificação espiritual da igreja.
O sacrifício é a expressão material de significado espiritual no Antigo Testamento que visava à ratificação da comunhão com Deus. Em o Novo Testamento, esta prática deixa de ser um protocolo ritualístico para assumir um formato de prática espiritual que observa as intenções do coração do ofertante. Vale destacar que o maior sacrifício descrito na Bíblia é o sacrifício substitutivo de Jesus sobre a cruz do Calvário. Ali, Deus, por sua graça salvadora, ofereceu o seu melhor a fim de resgatar o ser humano que se encontrava afastado e condenado em pecados.
A partir do ato sacrificial do Salvador, o ser humano tem, finalmente, a condição de alcançar a reconciliação com o seu Criador. Teologicamente falando, pode-se dizer que a reconciliação é uma das consequências centrais do sacrifício de Jesus no Calvário. Esta não é uma iniciativa do homem, mas um ato que é fruto do amor e da misericórdia de Deus. Foi por intermédio da cruz de Cristo que se abriu o caminho para a reconciliação.
Após o conhecimento da graça de Deus é possível ao ser humano experimentar da redenção. Deus, através de seu ato redentor, concede a todos a oportunidade de alcançarem a salvação, antes impedida por conta da deplorável condição de pecados em que a humanidade se encontrava. A Palavra de Deus tem a explicação correta a respeito da redenção disponível a todo aquele que crer e acerca da esperança futura dos santos.
I. O SACRIFÍCIO
A entrega do sacrifício na perspectiva do Antigo Testamento tem a pretensão de significar o culto a Deus nos tempos antigos. Ao oferecerem as primícias do campo, ou seus animais a Deus, os filhos de Israel expressavam o pedido de perdão, a gratidão e a adoração a Deus. A prática do sacrifício era regulada por princípios que expressavam o caráter justo do eterno Deus e a normatização com relação àquilo que deveria ser sacrificado, a quantidade e as ocasiões apropriadas.
Em contrapartida, o Novo Testamento apresenta uma nova compreensão do sacrifício, tendo em vista que a revelação de Deus manifestou-se de modo completo e plenamente inteligível a partir de Jesus Cristo (cf. Ef 3.19). Desde então, o sacrifício passou a ser compreendido como uma prática espiritual que revela as intenções do coração do ofertante em detrimento aos protocolos ritualísticos que apontam apenas para o cumprimento de formalidades.
Neste contexto, vale ressaltar que o propósito divino é conceder aos seus servos a oportunidade de oferecerem a Deus, não aquilo que é sem valor ou a sobra do que se tem em abundância mas, a sincera expressão devocional que Lhe agrada. Seguindo o princípio que Ele mesmo estabeleceu, o Criador decidiu oferecer um sacrifício substitutivo em favor de nossas vidas. Ele nos deu o melhor: o Seu Filho Unigênito. A salvação é o maior milagre de Deus em prol do seu povo.
O que é um sacrifício no Antigo Testamento?
O sacrifício fazia parte do cerimonial ritualístico do Antigo Testamento, uma expressão material do desejo do homem de se aproximar de Deus e agradá-Lo. A palavra “sacrifício”, do latim sacrificium, significa oferenda de animais, frutos e produtos da terra, visando a propiciação de pecados, o reconhecimento da soberania divina e o enaltecimento do Criador. No Antigo Testamento, o sistema sacrificial acha-se regulamentado nos livros do Êxodo e do Levítico (ANDRADE, 2004).
As ofertas e sacrifícios instituídos na lei eram a forma como o adorador chegava-se diante de Deus. Nestas ocasiões o adorador não podia se apresentar diante de Deus de mãos vazias. Note que as ofertas e sacrifícios tinham a função específica de expressar o pedido de perdão, a gratidão a Deus pela produtividade de suas terras ou outro aspecto da vida; ou mesmo o reconhecimento da soberania divina, um ato de adoração.
Conforme está registrado no Pentateuco, há diversas formas de ofertas e sacrifícios, cada qual, com a sua finalidade e ocasião. Mas nada se compara ou mais se aproxima do evento redentor de Cristo, do que o sacrifício do cordeiro pascal. Ao observarmos a prática instituída por Moisés na noite em que o SENHOR passou sobre o Egito, trazendo morte a todos os primogênitos, é possível perceber que a marca do sangue do cordeiro sobre os umbrais das portas dos hebreus era o sinal do livramento (cf. Êx 12.22,23).
Ninguém que leia as Escrituras de modo perceptivo pode fugir à realidade de que o sacrifício está no âmago da redenção, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento. A figura de um cordeiro ou cabrito sacrificado como parte do drama da salvação e da redenção remonta à Páscoa (Êx 12.1-3). Deus veria o sangue aspergido e “passaria por cima” daqueles que eram protegidos por sua marca. Quando o crente do Antigo Testamento colocava as mãos no sacrifício, o significado era muito mais que identificação (isto é: “Meu sacrifício”); era um substitutivo sacrificial (“Sacrifíco isto em meu lugar”) (HORTON, 1996). Todo sacrifício precisa ter significado, razão de ser, para quem realizava o ato sagrado (Lv 7.30; 22.29), embora a finalidade última fosse sempre a glória de Deus.
O que é um sacrifício em o Novo Testamento?
O Novo Testamento traz informações bem significativas no que diz respeito ao sacrifício. Haja vista que a revelação divina manifestou-se de modo completo e plenamente compreensível a partir de Jesus Cristo.
Embora não se deva forçar demais as comparações, a figura é claramente transferida a Cristo no Novo Testamento. João Batista apresentou-o, anunciando: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). [...] Paulo se refere a Cristo como “nossa páscoa” (1 Co 5.7). Pedro afirma que fomos redimidos “com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pe 1.19) (HORTON, 1996). Assim, o sacrifício de Jesus é o maior modelo de expressão sincera do que é “sacrificar”.
Semelhantemente, o Senhor espera encontrar em seus servos a oferta de sacrifício verdadeira através de uma vida santa que tem o prazer de apresentar espírito, alma e corpo para a glória de Deus (cf. 1 Ts 5.23). Logicamente, uma vida santa não diz respeito ao cumprimento integral de cerimoniais e dogmas denominacionais, embora estes sejam relevantes. Mas, acima de qualquer coisa, uma vida santa requer uma existência devotada de serviço e amor ao próximo (Jo 13.13,14).
Assim como no Antigo Testamento, o sacrifício era apresentado de diversas formas, em quantidades e ocasiões diferentes, em o Novo Testamento é possível perceber que há também propósitos específicos na forma como apresentamos o nosso sacrifico a Deus.
Dentre as formas de sacrifício descritas na Bíblia que expressam uma devoção a Deus, está o sacrifício de louvor. Deus espera receber o fruto dos lábios que exaltam o seu nome (cf. Hb 13.15,16). Nesta mesma passagem, o autor de Hebreus destaca também a importância da comunicação como um sacrifício que agrada a Deus.
A palavra “comunicação” (koinonias) aqui é um substantivo e geralmente significaria: “Não se esqueçam de ter comunhão”. Isto é compatível com o conselho geral do autor em outra parte da epístola (Hb 10.25); mas nesse contexto, como em 2 Coríntios 9.13, a ideia pretendida é uma preocupação amorosa pelos companheiros crentes que resulta em ajuda prática e monetária (Tg 2.15,16; 1 Jo 3.17). Isto também faz parte da nossa lealdade absoluta a Jesus. No entanto, quando o autor conclui com a cláusula: porque, com tais sacrifícios, Deus se agrada, a palavra “tais” provavelmente inclui o sacrifício de louvor bem como o sacrifício de ações benevolentes. Deus estava completamente enfadado com os sacrifícios de animais, mas Ele nunca se cansará das expressões cristãs de gratidão e amor (GREATHOUSE; METZ; CARVER, 2006).
E, por fim, percebe-se que a preocupação do Espírito, ao sondar os nossos corações, procura encontrar um coração quebrantado e contrito, disposto a obedecer a Deus através de uma vida que se preocupe com o bem-estar do próximo, porquanto, são desses sacrifícios que Deus se agrada. O mero cumprimento de formalidades, sem haver um sincero propósito de serviço e gratidão a Deus, não tem valor algum.
O sacrifício verdadeiro
O terceiro aspecto que deve ser considerado a respeito do sacrifico, e talvez seja o mais importante, diz respeito à consistência do sacrifício ofertado a Deus. O rei Davi nos deu o exemplo do que consiste o sacrifício verdadeiro que deve ser apresentado a Deus: aquele que tenha algum valor.
Oferecer do que se esbanja ou daquilo que não serve mais, não somente é inútil, enquanto ato devocional, como também se torna um verdadeiro insulto ao nosso Criador (Mq 6.6-8). Isto significa que o sacrifício apresentado a Deus deve ter algum custo para o ofertante.
Ao analisarmos a natureza do sacrifício do Criador por nós, é possível perceber o quanto Lhe custou a vida do seu próprio Filho. Deus ofereceu o seu melhor em favor da humanidade, um sacrifício substitutivo de valor inestimável. Éramos nós que merecíamos morrer em nossos pecados e permanecermos destituídos da glória de Deus por toda eternidade (cf. Rm 3.23). No entanto, o Criador decidiu pagar o preço do resgate a fim de que tivéssemos uma nova oportunidade.
Tecnicamente, a palavra “expiar” — hb. kapar — significa “encobrir”, “cobrir”, “ocultar”, “tirar da vista”. [...] Biblicamente, expiar é pagar, quitar, tirar os pecados de alguém, perdoar, mediante um sacrifício reparador exigido, mas também propiciador. Expiar, pois, é tirar o pecado mediante a morte de alguém como substituto do culpado e condenado. No nosso caso, foi Jesus quem morreu por nós, pecadores perdidos (Is 53.10; Jo 1.29; Ap 13.8; 2 Co 5.21). Sem expiação pelo sangue não há perdão do pecado (Lv 4.35) (GILBERTO, 2009).
Em resposta ao chamado para o arrependimento, o pecador não pode apresentar-se diante de Deus de mãos vazias. É preciso o sacrifico para alcançar o perdão dos pecados. Jesus Cristo é o sacrifício perfeito que Deus espera receber do pecador. Sendo assim, a mais sincera resposta que o pecador pode apresentar a Deus é a fé no seu Filho Unigênito (cf. Hb 10.19-23).
II. A RECONCILIAÇÃO
Definitivamente, o pecado separou a humanidade de Deus. A trajetória humana seguiu por um caminho distante do que o propósito divino tinha para a sua Criação. Por conta disso, tornou-se necessário um meio pelo qual a humanidade pudesse alcançar a reconciliação com o seu Criador. Nesta relação, Deus assume o protagonismo e toma a iniciativa em prover a reconciliação por meio da cruz.
A necessidade de reconciliação é resultado da situação de conflito da humanidade pecadora com o seu Criador. A separação da comunhão com Deus é decorrência do pecado e da decisão do homem em viver separado de Deus (cf. Rm 3.23; 5.1). Em contrapartida, a reconciliação é uma das consequências centrais do sacrifício de Jesus no Calvário. Deus, por sua graça e misericórdia, interveio para que a humanidade tivesse condições de tornar à comunhão com Ele.
Vale destacar que no processo de salvação, o mérito da reconciliação é exclusivo de Deus. O ser humano estava enfermo em sua triste condição de pecado, mas Deus, pelo seu infinito amor e graça, resolveu resgatar o homem e torná-lo à comunhão (cf. Rm 8.1-4). Assim sendo, não há nada que o ser humano possa fazer para justificar-se diante de Deus, pois a reconciliação é uma ação exclusiva da graça de Deus.
O eterno cuidado de Deus se manifestou através da cruz. Em um único ato, Jesus Cristo cumpriu todas as exigências da lei e revelou todo o poder da graça. Somente o Senhor, entregando a própria vida, pode satisfazer a justiça divina (Rm 8.3,4). Por esse motivo, a restauração espiritual promovida pelo Pai implica uma mudança significativa de vida.
O que é reconciliação?
A palavra reconciliação vem do latim reconciliatio, que significa reatamento de relações entre partes litigantes. O Senhor Jesus, com sua morte vicária, reconciliou-nos com Deus de maneira definitiva, clara e eficiente (Ef 2.16; Cl 1.20) (ANDRADE, 2004). A reconciliação não era apenas uma escolha, mas também uma necessidade da humanidade pecadora cuja separação da comunhão com Deus trouxe graves consequências para a história humana.
Com a entrada do pecado no mundo, através de Adão e Eva, a humanidade passou ao estado de rebelião com Deus, estando assim em conflito com o seu Criador. Por esse motivo é tão difícil para o ser humano abandonar as obras das trevas e voltar-se para Deus, pois a sua natureza decaída, tendenciosa ao pecado, impede que o homem esteja em santidade e obediência.
Há somente uma saída e o Senhor Jesus deixou esse ensinamento claro a Nicodemos, nos dias em que esteve aqui na terra: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3.3). O ser humano que deseja reconciliar-se com o seu Criador precisa “nascer de novo”, isto é, experimentar da regeneração espiritual.
Regeneração é o ato interior da conversão, efetuada na alma pelo Espírito Santo. Conversão é mais o lado exterior e visível da regeneração. Uma pessoa verdadeiramente regenerada pelo Espírito Santo é também convertida (cf. Lc 22.32). Sendo regenerado pelo Espírito Santo, o crente é declarado filho de Deus (1 Jo 1.12,13). O que ocasiona a regeneração espiritual não é primeiramente a justificação pela fé, mas a comunicação da vida de Cristo — da vida eterna ao pecador arrependido. Justificação tem a ver com o pecado do pecador; regeneração tem a ver com a natureza do pecador. Justificação é imputada por Deus; regeneração é comunicada por Deus (GILBERTO, 2009).
Assim sendo, a reconciliação é resultado da graça e misericórdia de Deus, manifestada em Jesus Cristo, por intermédio da sua morte sobre a cruz do Calvário. Uma morte substitutiva que nos possibilitou a oportunidade de alcançar a regeneração espiritual e o perdão divino. Devemos ser gratos a Deus por seu grandioso amor.
O protagonismo de Deus no ato da reconciliação e o nosso papel
No processo de reconciliação o mérito é exclusivo de Deus, pois o ser humano, enfermo em sua triste condição de pecado, jamais alcançaria a condição de aproximar-se novamente do seu Criador. A reconciliação é o resultado do infinito amor de Deus manifestado em Jesus Cristo (1 Pe 2.10).
Note que a salvação é um ato exclusivo da graça de Deus em favor do pecador. O que é graça? Graça, no sentido comum, diz respeito ao favor de Deus dispensado bondosamente aos seres humanos, no sentido de prover os meios de subsistência a todos, sem distinção (Sl 104.27-30). No sentido de graça relacionada à salvação, é a provisão graciosa do Senhor para com o indigno transgressor da sua lei (cf. Rm 3.9-26). Ela resulta da parte de Deus para com o pecador. [...] De acordo com Efésios 2.5,6, o pecador está morto, e nessa condição não pode ajudar em nada. Como efetuaria ele a sua própria ressurreição? Assim como não pudemos ajudar em nada quando do nosso primeiro nascimento, muito menos em nosso segundo nascimento. Tudo é pela graça, para que o homem não tenha de que se gloriar (GILBERTO, 2009). Assim sendo, não há nada que o ser humano possa fazer para restabelecer a comunhão com o seu Criador.
A reconciliação é um ato da bondade de Deus. Infelizmente o ser humano tenta, por meios próprios, aproximar-se de Deus e se frustra, pois o único caminho para o homem salvar-se é declarar que crê no sacrifício vicário de Jesus Cristo sobre a cruz. O papel do pecador na reconciliação é corresponder ao chamado divino que diz respeito a obedecer aos preceitos da Palavra de Deus, viver de forma santa e dedicar-se ao serviço da evangelização.
A reconciliação por meio da cruz
A reconciliação é fruto do cuidado de Deus que Ele manifestou através da morte de Jesus Cristo sobre a cruz. Este ato tão bárbaro, a princípio, não pareceu atender à justiça humana no que diz respeito à aplicação da pena sobre o malfeitor, visto que nEle não havia culpa alguma que o tornasse digno de morte. Entretanto, a morte de Jesus sobre a cruz atendeu aos requisitos da justiça divina. Era necessário que Ele, como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, fosse entregue para ser crucificado (Jo 1.29; 12.27).
A situação da humanidade era bem complicada, haja vista que a condenação era certa por causa do pecado. Mas Deus, pelo seu amor e graça, proveu a justificação mediante a fé. O termo justificação refere-se ao ato mediante o qual, com base na obra infinitamente justa e satisfatória de Cristo na cruz, Deus declara os pecadores condenados livres de toda a culpa do pecado e de suas consequências eternas, declarando-os plenamente justos aos seus olhos. O Deus que detesta “o que justifica o ímpio” (Pv 17.15) mantém sua própria justiça ao justificá-lo, porque Cristo já pagou a penalidade integral do pecado (Rm 3.21-26) (HORTON, 1996). Desta forma, a morte de Jesus satisfez as exigências da justiça divina.
Além de cumprir a justiça divina a cruz foi o meio pelo qual Deus reconciliou com Ele mesmo tanto os judeus quanto os gentios, o povo da promessa e os filhos da adoção, a fim de formar um único povo. O que Cristo fez foi desfazer (katargo, “anular”, “deixar sem efeito”, “tornar irrelevante”) a Lei que aos olhos dos judeus os separava de todos os outros homens. O que Paulo quer dizer é que uma vez que o judeu crente não mais se relaciona com Deus por meio da Lei Mosaica, não há motivo para o antigo antagonismo de qualquer grupo. Agora, o crente de origem gentílica participa de todas aquelas bênçãos que, anteriormente, só estavam disponíveis ao judeu fiel; e, juntos, nós somos concidadãos do povo de Deus, e membros da Casa de Deus (RICHARDS, 2007).
Assim sendo, a Igreja de Cristo recebeu a incumbência de transmitir a mensagem da reconciliação a todas as pessoas. O nosso dever, como arautos do Rei, é proclamar as ricas misericórdias do Altíssimo para que o maior número de pessoas alcance a reconciliação com o Criador e, assim, experimentem de uma mudança significativa de vida (cf. Mt 28.19,20).
III. A REDENÇÃO
A redenção é mais um dos resultados da obra salvífica de Jesus Cristo sobre a cruz do Calvário. Assim como a reconciliação é fruto de uma ação direta do Criador em relação às suas criaturas, a redenção trata-se de uma atitude que somente Deus pode realizar em favor da humanidade. O Novo Testamento trata de narrar a nossa completa dependência do Senhor em relação à redenção e a nossa condição final como salvos em Cristo.
Refletir sobre a redenção nos faz pensar nos aspectos da condição do pecador em relação ao pecado. Assim como um escravo que vive sob o jugo de seu senhor e não tem autonomia alguma sobre as próprias decisões, o pecador também depende da graça de Deus para que seja liberto e possa viver uma vida de paz, liberdade e comunhão com o seu Criador (Rm 6.16-23).
Em o Novo Testamento é possível encontrar uma explicação mais clara nas palavras de Paulo no tocante a redenção. Conforme Ef 1.7, redenção é: “[...] a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça”. Somos completamente dependentes da graça e da misericórdia de Deus para que alcancemos a libertação dos pecados e a restauração da comunhão com Deus.
E, no tocante à expectativa da redenção futura, a obra redentora de Jesus Cristo aponta para o nosso estado eterno, nossa condição final em que seremos salvos e completamente livres de qualquer sofrimento desta vida para vivermos eternamente com o nosso Salvador no céu (Lc 21.28; Ef 4.30). Que não falte a fé para que estejamos prontos no aguardo da grande chamada para encontrar com o Senhor nos ares.
Uma possível definição
Redenção é uma expressão que vem do latim redemptio, que significa resgate, libertação. No contexto bíblico, significa livramento proporcionado por Cristo ao oferecer-se para morrer em nosso lugar (Rm 3.24; Ef 1.7). Com a sua morte vicária, livrou-nos das consequências eternas do pecado original (ANDRADE, 2004). De forma geral é importante destacar que a redenção é uma atitude que somente Deus pode realizar em favor da humanidade.
Para uma compreensão mais clara sobre o aspecto da redenção é importante voltar-se para a metáfora da libertação de um escravo mediante um resgate — gr. lytron —, além de retirar esse escravo do mercado de escravos, para não mais ficar exposto à venda. Redenção sempre requer o preço a ser pago para garantir a liberdade do escravo (GILBERTO, 2009). Desta forma, o redentor como figura social era aquele responsável por patrocinar a mudança de status de quem era escravizado.
Semelhantemente, Deus surge no cenário da história para resgatar o homem da sua triste condição de pecado. Ele entregou o seu Filho Unigênito como preço para pagar o resgate dos pecadores. E não podemos nos esquecer da história dos hebreus no Egito, como Deus libertou o seu povo da escravidão para inseri-lo em uma terra que emana leite e mel. Assim o Senhor também pagou o preço pelo resgate do pecador e o leva para uma vida eterna nos céus.
Uma compreensão do conceito de redenção no Novo Testamento
O conceito de redenção é explicado de forma lúcida tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento. Os Evangelhos e as Cartas Paulinas destacam a redenção como resultado da morte de Jesus Cristo sobre a cruz. Paulo é mais específico quando afirma em Efésios 1.7 que em Jesus, temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça.
Em o Novo Testamento, Jesus é tanto o “Resgatador” quanto o “resgate”; os pecadores perdidos são os “resgatados”. Ele declara que veio “para dar a sua vida em resgate (gr. lutron) de muitos” (Mt 20.28; Mc 10.45). Era um “livramento (gr. apolutrõsis) efetivado mediante a morte de Cristo, que libertou da ira retributiva de Deus e da penalidade merecida do pecado”. Paulo liga nossa justificação e o perdão dos pecados à redenção que há em Cristo (Rm 3.24; Cl 1.14, apolutrõsis neste dois textos). Diz que Cristo “para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Co 1.30). Diz, também que Cristo “se deu a si mesmo em preço de redenção (gr. antilutron) por todos” (1 Tm 2.6). O Novo Testamento demonstra claramente que Ele proporcionou a redenção mediante o seu sangue (Ef 1.7; Hb 9.12; 1 Pe 1.18,19; Ap 5.9), pois era impossível que o sangue dos touros e bodes tirasse os pecados (Hb 10.4). Cristo nos comprou (1 Co 6.20; 7.23, gr. agorazõ) de volta para Deus, e o preço foi o seu sangue (Ap 5.9) (HORTON, 1996).
A entrega de Cristo foi suficiente para pagar o preço do resgate. Desta forma, sua morte fez com que os pecados dos que creem fossem perdoados. E não apenas isso, mas também proporcionou o livramento da condenação eterna. Somos completamente dependentes da graça divina para que alcancemos uma restauração plena da comunhão com Deus.
A expectativa da redenção futura
E, por fim, vale destacar que a obra redentora de Jesus Cristo aponta para o nosso estado eterno, para nossa condição final após a morte. O resgate já foi pago e chegará um dia em que seremos completamente livres de qualquer sofrimento desta vida para vivermos eternamente ao lado do nosso Salvador (Lc 21.28; Ef 4.30).
A redenção cuida de proporcionar ao crente a esperança da vida futura, visto que não há nada que possa nos separar do amor de Deus (cf. Rm 8.35-39). A Bíblia afirma que em esperança somos salvos (Rm 8.23), isto é, a partir do momento em que declaramos crer no sacrifico de Jesus Cristo na cruz do Calvário, recebemos a esperança da nossa ressurreição. “Somos salvos” (esothemen) é melhor traduzido como “fomos salvos”. Quando nós fomos salvos, Paulo está dizendo, foi pela esperança da nossa redenção final (GREATHOUSE; METZ; CARVER, 2006).
A esperança da redenção final é alimentada pela fé, pela qual, temos acesso à graça de Deus (cf. Rm 5.2). Esta fé é paciente e não consiste na realização de obras para se alcançar a salvação, visto que a salvação não vem das obras (cf. Ef 2.8,9). Mas consiste na realização de obras como resultado dessa fé (cf. Ef 2.10). A justiça de Deus se descobre por intermédio do evangelho de fé em fé, pois o justo viverá da fé (cf. Rm 1.16,17). Esta é a fé que conduz o crente à consumação da redenção eterna.
CONCLUSÃO
Com base nas reflexões deste capítulo é possível compreender a importância da doutrina da salvação para a igreja. A salvação é uma experiência viva e dinâmica, realizada por Deus com a intenção de prover à humanidade uma saída para a iminente condenação eterna. O sacrifício de Jesus Cristo na cruz foi o meio instituído por Deus para reconciliar a humanidade com Ele mesmo e levá-la à redenção eterna.
O sacrifício de Jesus Cristo na cruz foi também a maior manifestação de amor da parte de Deus em nosso favor. Ele deu o seu melhor a fim de resgatar o ser humano que se encontrava afastado e condenado em pecados. Da mesma maneira, devemos corresponder a este amor e entregarmos as nossas vidas como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (cf. Rm 12.1,2).
A vontade de Deus sempre foi a comunhão com a sua criação. Infelizmente, o homem, por causa do pecado, afastou-se de Deus. Mas o Criador tomou a iniciativa e veio ao encontro da humanidade pecadora a fim de reconciliá-la com Ele mesmo. Esta glória pertence ao Senhor que decidiu manifestar a sua graça e misericórdia.
Assim sendo, Deus promove, ao que crer, a redenção de uma vida de escravidão, por conta do pecado, para uma vida santa e justa em sua presença. A redenção na vida do crente não tem efeito apenas neste tempo presente, mas abre o caminho para uma esperança eterna ao lado do Salvador. Que esta fé nunca falte no coração dos salvos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Claudionor C. Dicionário Teológico. 13ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
GILBERTO, Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
GREATHOUSE, Wilian M.; METZ, Donald; CARVER, Frank. Comentário Bíblico Beacon. v. 8. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
RICHARDS, Lawrence O. Comentário-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
*Adquira o livro do trimestre. Jesus Cristo: Filho do Homem: Filho de Deus. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
Que Deus o(a) abençoe.
Telma Bueno
Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens
Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso no preparo de suas Lições Bíblicas de Jovens. Nossos subsídios estarão à disposição toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não vão esgotar todo o assunto e não é uma nova lição (uma lição extra). Você não pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo.