1º Trimestre de 2020
Introdução
I-Eleição
II-Arrependimento e fé
III-Regeneração
Conclusão
Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Apresentar as bases bíblicas para a doutrina da eleição;
Demonstrar a relevância do arrependimento para a obra da salvação;
Discutir sobre as especificidades da regeneração.
Palavras-chave: Jesus Cristo.
Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria de Marcelo Oliveira:
INTRODUÇÃO
O objetivo deste capítulo é apresentar os quatro aspectos importantes que, no estudo da Teologia Sistemática, enquadram-se na ordem da salvação: Eleição, arrependimento, fé e regeneração.
Veremos que a eleição nas Escrituras é uma doutrina biblicamente fundamentada, e, principalmente, centralizada em Cristo Jesus, por isso, é uma doutrina cristocêntrica.
Estudaremos também que o arrependimento e a fé precedem a obra de salvação. Nosso Senhor chama a todos a se arrependerem e, assim, crerem no Evangelho.
E, finalmente, perceberemos que a regeneração é uma doutrina desafiadora, pois nos mostra a nova natureza que herdamos como filhos e filhas de Deus.
A salvação é um dom precioso que Deus nos concedeu por meio de Jesus Cristo, seu Filho. Somos salvos pela graça divina, mediante a fé em Cristo. A notícia alvissareira é que a salvação é uma dádiva de Deus. Não depende, por isso, de regras, ritos, sistemas de leis ou algo semelhante. Ela não depende de nós, mas única e exclusivamente da graça de Deus.
Uma das coisas mais maravilhosas que pode acontecer para com o ser humano é desfrutar dessas bênçãos gloriosas e espirituais. Nesse sentido, iniciaremos o capítulo pelo grande bem que recebemos quando estamos em Cristo: a nossa eleição.
I - ELEIÇÃO
A doutrina bíblica da Eleição é uma das mais disputadas no estudo em Teologia. Séculos se passaram e o impasse continua. Qual estudioso da Bíblia nunca tomou conhecimento das disputas entre arminianos e calvinistas?
Os calvinistas afirmam que os eleitos são escolhidos antes de qualquer arrependimento e fé pela parte deles.1 Ou seja, a eleição precede a obra do Espírito Santo. E que também a Expiação de Cristo é limitada, isto é, nosso Senhor não morreu por toda a humanidade, mas por alguns eleitos por decreto antes da obra de salvação; ordenando outros para a perdição eterna. A isso denomina-se a dupla predestinação calvinista.
Nós, arminianos e pentecostais, afirmamos que os eleitos são escolhidos em Cristo Jesus para a salvação. E que Deus, pela sua presciência, previu que eles aceitariam o seu Filho. Afirmamos também que a Expiação de Cristo é ilimitada, ou seja, que Ele morreu por toda a humanidade para salvação, e que esta é eficaz a todo o que se arrepende e crê no Filho de Deus.
A grande distinção de nossa posição em relação à perspectiva calvinista é que nós partimos de Cristo. Primeiramente, Deus predestinou Jesus Cristo para ser o Salvador dos pecadores, o Mediador, o Redentor, o Sacerdote e Rei. Por isso, é uma doutrina cristocêntrica. Consideramos, assim, que qualquer doutrina que não parta de Cristo é insuficientemente cristocêntrica.2
A eleição bíblica é uma doutrina que não se baseia numa espécie de particularismo, em que se seleciona alguns indivíduos e descarta outros; mas ela é claramente corporativista, onde um povo é eleito. Quer dizer que Deus escolheu Cristo como o Redentor de um corpo de pessoas que se arrepende e crê em Jesus. De acordo com William G. Witt, “a eleição e predestinação não se tratam da escolha incondicional e misteriosa de certas pessoas conhecidas apenas por Deus, mas antes, a eleição e predestinação daqueles que depositam a fé em Cristo, seu redentor”. Portanto, continua William Witt, “a eleição é em Cristo, mas não há ninguém que esteja em Cristo sem que tenha fé”.3
Por isso, para nós pentecostais-arminianos, soa incrivelmente antibíblica a afirmação de que a eleição precede ao arrependimento e a fé, já que, conforme vimos, a eleição bíblica se confirma em quem deposita a fé primeiramente em Cristo. É o que está expresso na Declaração de Fé das Assembleias de Deus:
A predestinação genuinamente bíblica diz respeito apenas à salvação, sendo condicionada à fé em Cristo Jesus, estando relacionada à presciência de Deus. Portanto, a predestinação dos salvos é precedida pelo conhecimento prévio de Deus daqueles que, diante do chamamento do Evangelho, recebem a Cristo como o seu Salvador pessoal e perseveram até o fim.4
Essa compreensão nos motiva, por intermédio do revestimento de poder do Espírito Santo, a proclamar com urgência o evangelho da Salvação. Assim, podemos dizer que a eleição em Cristo se aplica de modo corporativo, em que Deus elegeu um povo: a Igreja. E faz parte desse povo quem passa pela obra de convencimento do Espírito Santo, mediante o arrependimento e fé. Assim, passamos a analisar agora esse aspecto corporativo da eleição de Deus em Cristo Jesus.
A eleição como uma doutrina biblicamente fundamentada
Em primeiro lugar, a Bíblia ensina a eleição de Deus no Antigo Testamento: a escolha de Abraão (Ne 9.7), a escolha de Israel (Dt 7.6; 14.2; At 13.17), a escolha de Davi (1 Rs 11.34); também no Novo Testamento: a inclusão de anjos (1 Tm 5.21), Cristo (Mt 12.18; 1 Pe 2.4,6), um remanescente de Israel (Rm 11.5) e os crentes, de maneira individual (Rm 16.13; 2 Jo1.1,13) ou coletiva (Rm 8.33; 1 Pe 2.9). Aqui, encontramos na Bíblia dois tipos de eleição: a eleição para o ministério (individual) e a eleição para a salvação (coletiva).
A eleição de indivíduos refere-se ao serviço e funções ministeriais e suas relevâncias no Reino de Deus. Só para ficar em dois exemplos, podemos citar o de Jeremias em que ele tenta relutar contra a própria chamada: “Antes que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses da madre, te santifiquei e às nações te dei por profeta” (Jr 1.5). Soberanamente Deus elegeu e chamou o profeta. Outro exemplo marcante é o chamado do apóstolo Paulo: “E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões” (At 9.5). O apóstolo foi forjado pelo Senhor Jesus para uma obra pela qual impactaria muitas nações.
A perspectiva coletiva — ou corporativa — da eleição vai em direção à totalidade do Corpo de Cristo. Conforme as palavras do pastor Silas Daniel:
A Bíblia sempre fala da eleição no plural. Deus ‘nos elegeu’ (Ef 1.4). O foco, invariavelmente, é esse povo (Ef 2.14,19), corpo (Ef 1.23; 2.15,16; 3.6; 4.4,12,16,25; 5.23,30, família (Ef 2.19; 3.15), edifício (Ef 2.20-22), chamado de Igreja (Ef 1.22; 3.10; 5.23,24,25,27,29,32). Toda a Epístola aos Efésios, por exemplo, trata os eleitos como um corpo, um conjunto. Claro que um conjunto é formado por indivíduos, mas o foco sempre é o conjunto. O foco da eleição não é o indivíduo, mas o grupo, o corpo, a Igreja, formada por todos aqueles que creram em Cristo e permanecerão até o fim.6
Aqui, como se pode ver, não negamos a doutrina da eleição. Pelo contrário, reafirmamo-la solenemente, pois trata-se de uma doutrina maravilhosa. Deus em Cristo nos elegeu, mediante sua presciência, para a salvação. Entretanto, em relação à mecânica dessa doutrina, afirmamos vigorosamente que, no lugar de a eleição ser pessoal, ela é corporativa; no lugar de selecionar pessoas, Deus escolheu a Igreja. Igualmente foi o que Ele fez no Antigo Testamento. No lugar de escolher israelitas, escolheu Israel (Is 48.1).
Essa doutrina da eleição coloca Cristo como o centro de tudo e enfatiza o amor de Deus pela humanidade. Infelizmente, há setores do segmento evangélico que parece ter problemas sérios em Deus amar o pecador. Como se Ele só estivesse interessado em destruí-lo inevitavelmente. Ora, as Sagradas Escrituras falam com clareza que Deus amou o ser humano pecador (leia-se: a humanidade) de tal forma que enviar o seu Filho amado ao mundo foi a prova mais concreta desse amor: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
A urgência de correspondermos à dignidade da eleição
Aqui, nos referimos a nossa responsabilidade diante da eleição. Atente para este versículo: “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis” (2 Pe 1.10). Esse versículo está dentro da seção de 2 Pedro 1.5-11. Essa seção trata a respeito da responsabilidade humana no desenvolvimento da santidade. Isso está muito claro nos versículos 5-7 em que a qualidade da fé é destacada. Ou seja, ela deve ser acrescida de virtude, ciência, temperança, paciência, piedade, fraternidade e amor. No versículo 8 o apóstolo diz que se essas qualidades forem confirmadas em nós, não seremos “estéreis” nem “ociosos” no conhecimento de nosso Senhor. Essas qualidades formam uma espécie de identidade, uma marca em nós na caminhada com Cristo.
Retomando o versículo 10, destacamos a expressão “procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição”. Ou seja, é uma ordenança a zelar com vigor o que recebemos de Jesus, isto é, a vocação e a eleição para a salvação. Aqui, há um apelo do apóstolo à vida santa. A exortação apostólica é tão séria que Pedro completa o versículo dizendo que “fazendo isto, nunca jamais tropeçareis”. Do contrário, o que foi construído em nós por nosso Senhor Jesus Cristo pode ser destruído por nossas próprias ações por intermédio de uma apostasia. Há quem veja nessas palavras uma espécie de confiança do homem para desenvolver a sua santidade. Isso é um espantalho, pois uma vez que o Espírito Santo operou em nós, agora, temos o privilégio de cooperar com Ele no zelo de nossa eleição e santidade. Pois não havendo esse zelo, essa cooperação, a carta aos hebreus nos adverte para a possibilidade real da apostasia: “Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se não escaparam aqueles que rejeitaram o que na terra os advertia, muito menos nós, se nos desviarmos daquele que é dos céus” (12.25).
Os perigos que nos rodeiam para nos tirar da presença de Cristo são muitos. A sedução das antigas e novas religiões. O apelo a viver uma vida hedonista. Perspectivas filosóficas que nos tiram a esperança do céu e da vida eterna com Cristo. Por isso há um apelo nas Escrituras em valorizarmos o que Deus tem nos presenteado. Por intermédio do Espírito Santo, a vivermos em pronta vigilância, zelar pela nossa vida devocional na presença de Deus, de modo que sejamos achados fiéis.
Muitos em nome da graça, “da soberania determinista de Deus” na salvação, da “eleição incondicional”, têm justificado sua vida de pecado, banalizado a santidade e esfriado o fervor, bem como cochilado na urgência da evangelização.
O que não é eleição
Mostramos que a nossa eleição está fundamentada em Cristo. Nele, somos eleitos para vida eterna. O que significa dizer que a eleição bíblica não é um decreto de Deus firmado desde antes da fundação do mundo em que uns já estão destinados para o inferno e outros, para céu (supralapsarianismo 7). Também não quer dizer que dentre um “mar” de seres humanos mortos e caídos, Deus escolheu alguns, ignorando complemente os demais (infralapsarianismo 8).
De modo nenhum é assim. A Bíblia revela que Deus é todo amor, Ele deseja e espera que todos os homens se salvem (2 Pe 3.9). Outrossim, aqueles que resistem à graça de Deus são os responsáveis pela a própria escolha em viver eternamente separados do Pai, conforme nos diz Daniel Pecota:
[...] Necessário é dizer que, fosse impossível resistir à graça de Deus, os incrédulos pereceriam, não por não quererem corresponder, mas por não poderem. A graça de Deus não seria eficaz para eles. Neste caso, Deus pareceria mais um soberano caprichoso que brinca com os seus súditos que um Deus de amor e graça. Sua promessa: ‘todo aquele que quer’ seria uma brincadeira de inigualável crueldade, pois Ele é quem estaria brincando. Mas o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo não brinca conosco. Quando os braços de nosso Senhor Jesus Cristo se estenderam na cruz, Ele abrangeu a todos, pois Deus ama o mundo. Deus é amor, e a própria natureza do amor subentende que ele pode ser resistido ou rejeitado. Pela sua própria natureza, o amor é vulnerável. Não lhe diminuímos a magnífica grandeza ou a soberania se cremos possível recusar seu amor e graça, que buscam atrair todas as pessoas a si mesmos. A situação é a inversa. Deus, cujo amor anseia que todos cheguem a Ele mas não os obriga irresistivelmente a vir e cujo coração fica magoado com a recusa, forçosamente é de uma grandeza que ultrapassa a nossa imaginação.9
Ora, o que é produzido em nós para a salvação não pode ser executado sem o consentimento expresso de quem está vivendo a experiência. De fato, a salvação provém da graça inefável de Deus, mas isso não significa você anular a responsabilidade humana nessa economia espiritual. Eliminar a responsabilidade do homem é deixar de considerar textos sérios das Escrituras em que nosso Senhor expõe a necessidade de uma escolha, pois
Há somente uma resposta apropriada a tamanho amor: arrepender-nos e crer. Claro está que não podemos produzir tais ações sem a capacitação divina. Por outro lado, não são produzidas em nós sem o nosso consentimento. Evitemos as expressões extremadas do sinergismo (a ‘operação em conjunto’) e do monergismo (a ‘operação isolada’). [...] Formas extremadas de sinergismo remontam a Pelágio, que negava a depravação essencial da humanidade. Na sua expressão evangélica moderada, entretanto, remonta a Armínio e, de modo mais expressivo, a Wesley, sendo que estes dois teólogos enfatizavam nossa capacidade de escolher livremente, mesmo nas questões que afetam o nosso destino eterno. O sinergista evangélico afirma que somente Deus salva, mas acredita que as exortações universais ao arrependimento e à fé fazem sentido apenas se pudermos, na realidade, aceitar ou rejeitar a salvação.10
Essa perspectiva bíblica e equilibrada para a eleição divina é determinante para a nossa prática de evangelização. Essa compreensão foi e continua a ser determinante na abundante colheita de almas que o Senhor dá à sua Igreja. Somos chamados por Deus a anunciar o evangelho a toda a criatura, mostrando-lhe a seriedade da decisão que ela tem que tomar. Diante dela, e da operação do Espírito Santo, lhe é posta duas escolhas: vida e morte; luz e trevas; salvação e perdição.
II - ARREPENDIMENTO E FÉ
O arrependimento e a fé são elementos essenciais no processo de salvação do crente. Eles dizem respeito à pessoa que tem sua mente inteiramente transformada (arrependimento); e, ao mesmo tempo, a uma virada completa para crer (fé).
O arrependimento como uma obra divina
A palavra arrependimento, do substantivo grego metanoia, significa “mudança de mente”. É uma reviravolta integral em que a pessoa passa a mudar suas atitudes básicas. É também um aspecto central para a fé cristã.
O Novo Testamento dá ênfase grande acerca do arrependimento. Em Atos 17.30, a Palavra revela que Deus anuncia a todos os homens que se arrependam. Em Mateus 3.2, a mensagem de João Batista é o arrependimento. Em Jesus, ela se revela em Mateus 4.17. Nos apóstolos, em Atos 2.38 o arrependimento está no centro da pregação. Todos são uníssonos em ressoar: “Arrependei-vos!”.
Mas o que é o arrependimento na prática? Em sua obra, “Teologia de John Wesley”, Kenneth J. Collins cita um fragmento de um dos sermões do grande pregador britânico a respeito de arrependimento:
Bem, o arrependimento não é uma obra isolada, mas, por assim dizer, é um conjunto de muitas outras, pois as seguintes obras estão compreendidas em seu âmbito: (1) o pesar por causa do pecado; (2) a humilhação sob a mão de Deus; (3) o ódio do pecado; (4) a confissão do pecado; (5) a súplica veemente por misericórdia divina; (6) o amor de Deus; (7) o deixar de pecar; (8) o firme propósito de ter nova obediência (9) a restituição de bens adquiridos desonestamente; (10) o perdão das transgressões cometidas contra nós; (11) as obras de caridade ou de assistência ao necessitados.11
Em tempos mais tarde, bem depois da pregação do sermão acima, Wesley escreve:
Primeiro, por arrependimento, você quer dizer apenas condenação do pecado. Mas essa é uma avaliação muito parcial do arrependimento. Qualquer criança que tenha aprendido o catecismo sabe que, no arrependimento, também está incluída a renúncia ao pecado; [...] viver, quando há oportunidade, em obediência à vontade de Deus; e até mesmo quando não há oportunidade, ter sincero desejo e propósito de fazer isso; [...] e a fé nas misericórdias de Deus concedidas por intermédio de Cristo Jesus.12
Note que essa perspectiva wesleyana acerca do arrependimento está claramente de acordo com que João Batista pregou no deserto. Diante do povo, ao ser perguntado por ele como proceder diante de seu próprio pecado, João Batista respondeu:
Quem tiver duas túnicas, que reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, que faça da mesma maneira. E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer? E ele lhes disse: Não peçais mais do que aquilo que vos está ordenado. E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal, nem defraudeis e contentai-vos com o vosso soldo (Lc 3.11-14).
Em Efésios, apóstolo Paulo revela este mesmo princípio:
Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade. Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem. E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o Dia da redenção (Ef 4.28-30).
A Bíblia expressa a necessidade do arrependimento porque, ao mesmo tempo, ela expõe a pecaminosidade universal dos homens. Nesse sentido, o arrependimento traz a ideia de dor, angústia e miserabilidade em relação às nossas ações perversas. A consciência que uma vez estivemos rebelados contra Deus deve causar em nós tamanha comiseração.
A missão de Cristo: chamar pecadores ao arrependimento
O chamado de Cristo ao arrependimento era uma marca de seu ministério: “Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” (Mt 9.13). Aqui, há um ponto muito significativo. A mensagem de Cristo é acolhedora e consoladora, mas essencialmente, ela requer o arrependimento dos que a ouvem. Num tempo marcado pelos discursos fáceis, em que Jesus aparece como quem recebesse a todos sem exigir nada em troca; é preciso reafirmar: por ocasião do seu ministério terreno, Nosso Senhor requeria e ainda requer dos que o ouve, o arrependimento.
O conteúdo da mensagem evangélica
Atônitos, por serem confrontados com os seus delitos e pecados, os ouvintes do apóstolo Pedro, na ocasião do Pentecostes, perguntaram: “Que faremos, varões irmãos” (At 2.37). De pronto, o apóstolo Pedro lhes respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus para o perdão dos pecados” (At 2.38). Esta é pregação pura e simples: o chamado para o arrependimento e o convite para crer.
Se o arrependimento é a mudança completa da natureza, a fé é o único caminho de acesso a Deus, conforme expresso em Hebreus 11.6. É preciso arrepender-se, mas é preciso fé no Filho de Deus, o que significa confessá-lo com a boca e o coração.
Não se pode negociar com esse compromisso evangélico de pregar a Cristo, chamando o povo a arrepender-se e a crer. Num contexto onde a mensagem em muitos lugares está sendo violada, precisamos ressoá-la conclamando que os homens se arrependam e creiam no evangelho.
III - REGENERAÇÃO
Quem passa pelo arrependimento e pela fé em Cristo, passa pela experiência da regeneração. É a obra em que Deus faz tudo novo em uma pessoa.
O que é regeneração
O teólogo Daniel Pecota define o termo regeneração assim: “A regeneração é a ação decisiva e instantânea do Espírito Santo, mediante a qual Ele cria de novo a natureza interior”.13 Isso diz respeito ao ato soberano de Deus de criar tudo novo na interioridade humana. Essa perspectiva aparece no Antigo Testamento quando ocorre a promessa de que o Senhor fez a respeito de tirar o “coração de pedra” e colocar no lugar um “coração de carne” (Ez 11.9). Essa promessa é corroborada por Ezequiel 36.25-27, quando o profeta diz: “Então, espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo [...]. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos”. O Novo Testamento reafirma tal poder regenerador: “não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5).
Essa ação poderosa, decisiva e instantânea do Espírito ocorre na vida de quem se arrepende de seus pecados e crê no Filho de Deus.
Características da regeneração na vida de uma pessoa
O conjunto de características que marcam a regeneração na vida de uma pessoa que se arrepende e crê não passa necessariamente por aspectos físicos, mas por um conjunto de consequências espirituais que obrigatoriamente impactam a natureza material do ser humano.
Quem passou pela experiência bendita da regeneração não é mais dominado pela natureza pecaminosa, mas pelo Espírito Santo. Quem anda no Espírito, não mais será enredado pela concupiscência da carne (Gl 5.16).
Quem passou pela experiência bendita da regeneração reconhece-se como filho de Deus. O Espírito Santo testifica com ele a respeito dessa maravilhosa paternidade: “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16). O que significa que nossa natureza é outra, nossa filiação é divina e, portanto, estamos mortos inteiramente para o pecado, a transgressão e os delitos; e graciosamente vivos para Deus.
Quem passou pela experiência bendita da regeneração vive absolutamente diferente dos que não foram alcançados por tão maravilhosa graça. É um novo pensar, agir, sentir. As ações agora emergem de um interior completamente regenerado. Por isso, seu pensar, agir e sentir são novos.
A experiência da regeneração traz uma perspectiva de novidade para a vida com Deus. Assim, somos convidados por Ele a andar em novidade de vida. Andarmos em sua presença a fim de que, com coerência de nossa vida, o seu nome seja glorificado.
CONCLUSÃO
O estudo sobre a obra de salvação traz para nós a perspectiva de quão grande é o amor de Deus. Um amor maravilhoso que não olha cor, raça, gênero e condição social. Mesmo o mais vil pecador é objeto do amor de Deus. Foi por ele que o Pai entregou o seu Filho.
Esse amor nos constrange a afastar-nos do caminho de maldade, perversidade e a andar em novidade de vida. Aqui, há uma correlação de amor e santidade. Isso é interessante, pois o grande pregador britânico John Wesley tinha exatamente esse entendimento
“[...] por ele entender que o amor e a santidade têm relação um com outro — e, às vezes, estão ‘em tensão’ um com o outro. Ou seja, Wesley, de um lado, considera, em termos da santidade divina — a santidade que separa e distingue —, ‘a infinita distância existente entre Ele e nós’. De outro lado, ele ressalta a comunicabilidade do amor e o fato de ser dirigido ao outro, seu abraço abrangente. A santidade, conforme mencionado na introdução, cria distância; o amor busca comunhão. Esses mesmos dois predicados do ser divino, santidade e amor, descrevem — na verdade, sintetizam — qual é a vontade do Altíssimo para a igreja, para aqueles que não foram apenas ‘chamados’ e ‘separados’, em santidade, do mundo, mas que também foram convidados a entrar, em amor e missão, nesse mesmo mundo.14
Que amor é esse? É o amor que nos abraçou sendo nós pecadores ainda, mas que nos convidou a viver a santidade de Deus. É o amor baseado na bondade Deus, sua longanimidade, misericórdia e compaixão, que também é santo. O amor e a santidade de Deus são pontos que por nós devem ser sempre ressaltados. Foi esse amor que fez com que houvesse uma salvação. Por isso, esse amor nos constrange a amar, a ser santo, a estar em comunhão plena com Deus. A santidade como consequência direta do amor de Deus deve ter lugar precípuo em nossa vida pessoal.
Fomos eleitos e regenerados, respondemos a essa bênção com arrependimento e fé. Somos, assim, participantes da mais preciosa bênção que o nosso Deus providenciou para a humanidade: a salvação. Que amor é esse?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLLINS, Kenneth. Teologia de John Wesley: O Amor Santo e a Forma da Graça. Rio de Janeiro: 2010.
DANIEL, Silas. Arminianismo a Mecânica da Salvação: Uma exposição histórica, doutrinária e exegética sobre a graça de Deus e a responsabilidade humana. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
OLSON, Roger E. Olson. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. São Paulo: Editora Reflexão, 2013.
PINK, A. W. Deus é Soberano. 2.ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 1997.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Claudionor C. Dicionário Teológico. 13ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
GILBERTO, Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
GREATHOUSE, Wilian M.; METZ, Donald; CARVER, Frank. Comentário Bíblico Beacon. v. 8. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
RICHARDS, Lawrence O. Comentário-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
*Adquira o livro do trimestre. Jesus Cristo: Filho do Homem: Filho de Deus. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
Que Deus o(a) abençoe.
Telma Bueno
Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens
1 Leia o que escreve A. W. Pink, no clássico reformado Deus é Soberano: “[...] A eleição feita pelo Pai precede a obra do Espírito Santo nos que são salvos, bem como precede a obediência que eles prestam mediante a fé” (PINK, A. W. Deus é Soberano. 2.ed. São José dos Campos - RJ: Editora Fiel, 1997, p.60).
2 OLSON, Roger E. Olson. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. 1.ed. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, pp.237,38.
3 Witt, William G. apud OLSON, Roger E., 2013, p.240.
4 Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.110.
5 HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.362.
6 DANIEL, Silas. Arminianismo a Mecânica da Salvação: Uma exposição histórica, doutrinária e exegética sobre a graça de Deus e a responsabilidade humana. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.429.
7 Oriunda de duas palavras latinas, supra (acima, superior) e lapsus (queda), a expressão revela que, supostamente, Deus escolheu alguns para a vida eterna e condenou todos os demais seres humanos para a perdição eterna desde antes da fundação do mundo.
8 Oriunda de duas palavras latinas, infra (abaixo, inferior, base) e lapsus (queda), a expressão traz a perspectiva de Deus estava contemplando todas as criaturas caídas e mortas no pecado. Assim, Deus escolheu os eleitos e ignorou os não-eleitos. Isso foi feito por decreto divino desde antes da fundação do mundo.
9 HORTON, Stanley, 1996, p.366-67.
10 Ibidem, p.367.
11 COLLINS, Kenneth. Teologia de John Wesley: O Amor Santo e a Forma da Graça. 1.ed. Rio de Janeiro: 2010, p.216.
12 COLLINS, Kenneth., 2010, p.217.
13 HORTON, Stanley, 1996, p.370.
14 COLLINS, Kenneth., 2010, p.39.
Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso no preparo de suas Lições Bíblicas de Jovens. Nossos subsídios estarão à disposição toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não vão esgotar todo o assunto e não é uma nova lição (uma lição extra). Você não pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo.