terça-feira, 29 de setembro de 2020

Lição 13 - 3º Trimestre 2020 - Renovando a Aliança - Jovens.

 

Subsídios Lições Bíblicas - Jovens

Lição 13 - Renovando a Aliança 

3º Trimestre de 2020

Introdução

Como são formados, no inconsciente coletivo da sociedade, os conceitos sobre as pessoas? Pelo conjunto dos fatos praticados ou predominantemente pelos últimos atos? Vejamos. Como nos lembramos de Judas Iscariotes?  Pela sua decisão de seguir a Cristo, deixar sua família, participar do ministério evangelístico do Messias ou pelo beijo traidor? E do presidente americano Richard Nixon? Pela sua luta contra a inflação, a aproximação política dos EUA com a China e a retirada das tropas americanas do Vietnã, ou pelo escândalo das escutas telefônicas ilegais na Casa Branca, o caso Watergate? Foram seus últimos atos, sem dúvida, que estigmatizaram suas biografias. Na Bíblia há muitas histórias de homens que começaram bem, mas terminaram mal. Não cultivaram a virtude da perseverança. Desobedeceram a Deus. Perderam a fé. Entretanto, há homens nobres, fiéis, resilientes, os quais começaram bem, tiveram uma vida equilibrada, por andarem com o Senhor, e concluíram sua carreira gloriosamente. Dentre eles ressai, de maneira palmar, o comandante Josué.

O poder nunca o corrompeu. A assunção ao comando, com o passar dos anos, apenas mostrou sua essência, quem realmente ele era. Sua espiritualidade não se resumia à superficialidade. Seu mentor, Moisés, deixou um bonito legado para a posteridade, que ele, com humildade, seguiu triunfalmente. Aliás, a Bíblia diz que "precedendo a honra vai a humildade" (Pv 15.33).

O sucesso nunca subiu à sua cabeça, mantendo firme a aliança com Deus. Ganhou muitas guerras, mas jamais perdeu a paz e a comunhão com o Senhor. A maldade e a intolerância não se instalaram no reino. A decepção e a tristeza também não, pois sua fé nunca mudou, por isso ele não perdeu o rumo, nem se tornou um homem amargo e cruel.

Ele poderia ter começado bem, e terminado mal, mas, para a glória de Deus, terminou melhor. Era esse o plano do Altíssimo. Seu nome foi inscrito no rol da galeria dos heróis da fé, e, assim, Deus não o lançou ao ostracismo, circunstância contumaz dos desobedientes.

O desfecho da história de cada um de nós depende da qualidade das escolhas que fazemos, ao longo da vida. A biografia de Josué é uma prova de que o fim das coisas é melhor que o começo, mas somente para quem toma as decisões corretas, em Deus, até o fim. Nunca é tarde para se arrepender.

Assim, com o reconhecimento incontestável de suas virtudes e sua extraordinária liderança, depois de anos de paz vividos desde a divisão da terra, Josué convocou o povo para duas assembleias, a fim de se despedir, concitando os hebreus a que não desistissem de possuir o restante da terra prometida e continuassem a servir a Deus (Js 23) e, finalmente, propondo que renovassem o concerto com o Senhor (Js 24).

Nas duas ocasiões, em que pese o tom saudosista, condensado na frase “eis que vou hoje pelo caminho de toda a terra” (Js 23.14), Deus o usou grandemente com exortação e grave advertência, características de um grande líder, tais como: “um só homem dentre vós perseguirá mil” (Js 23.10 ARA) e “deitai, pois, agora, fora aos deuses estranhos que há no meio de vós” (Js 24.23). O povo se animou e renovou a aliança com o Eterno, para, em seguida, enterrar os restos mortais de José (Js 24.32), marcando o fim de uma Era de heróis da fé.

I- Instantes finais

1- Josué reúne o povo em Siló

Não se tem certeza onde ocorreu a primeira assembleia geral de Josué com os hebreus e sua liderança, mas o local mais provável para sua realização foi em Siló, onde estava instalada a tenda da congregação, porém existe, ainda, a possibilidade de ela ter ocorrido em Timnate-Sera, onde Josué morava. O fato é que o respeitado líder desejava falar a todo povo suas últimas orientações administrativas.

Também, não existem comprovações de ocorrerem periodicamente tais assembleias entre o comandante-em-chefe e seus subordinados. A nação de Israel, além disso, estava passando por um momento de certo conforto, agora já estabelecida e usufruindo da terra prometida. Assim, talvez, os hebreus tivessem até esquecido de Josué; já não precisavam mais de alguém para prepará-los para uma guerra, agora eles até poderiam, quem sabe, se ocupar mais em estabelecer relações diplomáticas amistosas com os cananeus que restaram por perto – essa, inclusive, aparenta ser uma das maiores preocupações de Josué.

Josué revela, então, uma característica marcante dos homens de Deus: eles reconhecem a importância de saber parar. Isso, em pelo menos dois sentidos aqui abordados: a) a hora de começar e o tempo de encerrar o ministério e b) o momento certo de parar, avaliar e ajustar a trajetória. Josué reconhecia que seu tempo à frente da nação de Israel estava chegando ao fim, que o projeto de Deus tinha para seu povo continuaria e convoca, portanto, toda liderança de Israel para ouvir suas recomendações para o futuro.

2- Josué faz um discurso contundente

Neste primeiro discurso, é importante perceber que ele é realizado bem depois da conquista de Canaã, “muitos dias depois que o Senhor dera repouso a Israel de todos os seus inimigos em redor, e sendo Josué já velho e entrado em dias” (Js 23.1). Não é possível saber a quantidade exata de tempo transcorrido, mas há a certeza de que foi tempo suficiente para o povo desfrutar das bênçãos da terra prometida e seu líder avançar ainda mais em idade e experiência. Ou seja, Josué pôde observar o povo de Israel por um bom tempo antes de marcar aquela reunião, por isso as palavras dele deveriam ser ainda mais valorizadas pela alta carga de sabedoria e experiência que eram capazes de transmitir àquela geração e, quiçá, às futuras. 

Josué inicia sua fala relembrando-os que já estava “velho e entrado em dias” (Js 23.2); cedo ou tarde, Israel não poderia mais contar com sua presença. Sejam quais fossem os desafios que o povo deveria enfrentar dali em diante, eles deveriam enfrentá-los sozinhos, não mais com Josué, mas como Josué. Então, ele começa a trazer à memória tudo quanto o Senhor realizou no meio deles e de que forma tão maravilhosa o próprio Deus se encarregara de batalhar pelo povo. E Josué arremata: Esforçai-vos! (Js 23.6). Essa foi a mesma palavra que o Senhor lhe dissera, através de Moisés, na ocasião do seu chamado (Dt 31.7)! Agora, aquele que esforçou-se e foi grandemente usado pelo Altíssimo, empregava toda força do imperativo de seu chamado – e que todos conheciam bem, pois o fato estava registrado no livro de Deuteronômio, o qual era lido a cada sete anos por todo Israel, na festa dos tabernáculos – e conclamava o povo a possuírem a mesma determinação em guardar e fazer “tudo quanto está escrito no livro da lei de Moisés; para que dele não vos aparteis nem para a direita nem para a esquerda” (Js 23.6) a fim de que não se imiscuíssem com a cultura pagã das cidades que ainda restaram ao redor deles.

Josué teve a oportunidade de contemplar os caminhos que o povo escolhia trilhar enquanto estavam em período de bonança, e, certamente, observava uma perigosa aproximação com as culturas do mundo que os cercava. Por isso, com o mesmo padrão de zelo que possuía, fez um chamado à responsabilidade do compromisso com o Senhor. Ele os convidava a manterem sempre bem hasteada a aliança com o Jeová Nissi (um dos nomes de Deus: o Senhor é minha bandeira – Ex 17.15)!

3- A justiça de Deus é implacável 

Na parte final de seu discurso, Josué muda o enfoque. A partir do versículo doze, ele passa a apresentar o resultado da desobediência (Js 23.15).

Como dito em mais detalhes no capítulo anterior, Israel possuía o livre arbítrio de suas escolhas, estava livre para decidir. O que se impõe é: pode-se escolher a semente, mas não a colheita. Se o povo decidisse pelo caminho da obediência e retidão, Deus cumpriria tudo o que tinha prometido (Js 23.5). Porém, caso decidissem pelo caminho da desobediência e rebelião, os resultados seriam devastadores (Js 23.16)!

Josué primeiro apresenta os benefícios de preservar firme a fé e o compromisso com o Jeová Nissi. Note como as nações temiam aquele povo nômade, de ex-escravos, sem tecnologia bélica de ponta (Js 2.8-11)... Deus era, e continuaria sendo, fielmente, a bandeira do povo de Israel. Porém, diante da quebra da aliança com o Senhor, os hebreus conheceriam inevitavelmente o Jeová Nakah – um dos nomes de Deus: o Deus que pune (Ez 7.9)!

O Criador é mui longânimo em misericórdia, prometendo, inclusive, renová-las a cada manhã (Lm 3.22), mas não se pode esquecer que o Senhor também é fogo consumidor (Dt 4.23,24; Hb 12.29) – completamente justo e santo! Paciência que nunca acaba não é paciência, é subserviência. Para o pecado existe uma recompensa (Rm 6.23) – seus efeitos são inevitáveis.

II- Josué reúne o povo em Siquém

1-Aliança é renovada.

Josué, depois, marcou outra assembleia, com as mesmas pessoas, em um local muito especial, tanto que, dessa vez, ele é expresso para os leitores do livro: Siquém. Era especial porque foi neste mesmo lugar que Abraão teve um encontro com o Senhor e dEle recebeu a confirmação de Sua promessa (Gn 12.6,7) e porque, também, era próximo dos montes Gerizim e Ebal, onde o povo renovara a aliança com o Senhor algum tempo atrás (Js 8.30-35). Siquém carregava, com certeza, forte significado para o povo de Deus; pairava sobre aquele lugar a memória constante da presença de Deus e da renovação de Suas promessas e alianças. 

“...Eles se apresentaram diante de Deus” (Js 24.1) e Josué intenta, nessa assembleia, diferentemente da anterior, não mais fazer um discurso teológico, de despedida, porém trazer uma palavra profética, que começou desta maneira: “Assim diz o Senhor Deus de Israel” (Js 24.2). Ele iniciou narrando a história do povo, a partir de Abraão, quando ainda era idólatra (esse era um aceno importante de se fazer diante das preocupações de Josué com a idolatria do povo), passando pelas trajetórias de Isaque, Jacó, Moisés e Arão, bem como lembrando os grandes feitos, desde as pragas no Egito até a expulsão dos cananeus, sempre realçando que foi Ele, o Senhor, quem concedeu todas as vitórias aos hebreus (Js 24.2-13). 

O resultado de toda recordação histórica do povo é, sinteticamente, um: a produção um profundo temor ao Deus todo poderoso; que exista um forte e contínuo medo em receber a desaprovação do Altíssimo e trocar as maravilhosas experiências da boa mão do Senhor pela terrível ira do Jeová Nakah. Josué fez tudo o que pôde para oportunizar àquela geração a escolha de renovar, de novo, a opção pelo concerto com o Criador ou não. Eles estavam cientes das condições exigidas pelo Deus dos deuses – o que incluía a exclusividade da adoração. É possível, até, que tais exigências de Deus fossem a tônica dos argumentos das culturas pagãs para tentar persuadir os Israelitas à apostasia, tais como “esse Deus é muito rígido”, “Ele é implacável e vingativo” ou “cobra algo que naturalmente não queremos fazer”. Será que, nos dias de hoje a santa igreja do Senhor não é direcionado argumentos como esses, intentando o desvio dos crentes do santo caminho ou, até mesmo, para um modelo de evangelho mais light, mais “moderno”? O Mestre ensina que Seu julgo é suave e Seu fardo é leve (Mt 11.30). Contudo, não podemos esquecer jamais que o caminho para a salvação é estreito (Mt 7.13,14) e nesse caminho não se passa com bagagem, é necessário despir-se de si mesmo (Mt 16.24)! O caminho mais largo e fácil é ladeira para a perdição (1 Jo 2.15-20).

O fato é que, depois de tudo, o povo fez sua escolha deliberada, racional e intencional: "Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses!” (Js 24.16 NVI). Eles estavam optando, acertadamente, pela aliança com o Criador. Josué, que conhecia de perto a perigosamente fácil inclinação do povo à idolatria (ver Dt 9.6-16), fez uma solene advertência (Js 24.19,20), obtendo como a resposta final do povo que “de maneira nenhuma [abandonaremos a Deus]! Nós serviremos ao Senhor" (Js 24.21 NVI).

2- O memorial

Concluída a profecia, Josué conclamou o povo a servir ao Todo-Poderoso, como ele e sua casa o fariam, mesmo que todos se esquecessem do concerto que fizeram com Deus (Js 24.15) e que, ademais, renovassem esse compromisso memorialmente. O povo aceitou, de bom grado, a proposta do servo do Senhor, renovando a aliança (Js 24.26). 

Os homens, com frequência, esquecem os compromissos morais e espirituais firmados, mas o Senhor nunca se olvida, pois nossas palavras que firmam compromisso ficam gravadas perpetuamente perante Deus, da mesma forma que as dEle ficam! Josué representou essa circunstância imutável ao erigir, debaixo de um carvalho, uma grande pedra, dizendo que ela serviria para prestar testemunho (Js 24.27). Mesmo aqueles que, porventura, não estivessem familiarizados com a escrita poderiam ver, naquela rocha, uma espécie de memorando oficial e de interesse público, a sólida e imutável lembrança desse dia glorioso: o dia em que a aliança com o Altíssimo foi renovada!

3- Josué, servo do Senhor, e Eleazar, morrem!

No início do livro (Js 1.1) Josué, mesmo depois da morte de Moisés, continuou se autoqualificando como “servo de Moisés”, ao passo que, ao longo do livro, Moisés sempre foi chamado, por Josué, de “servo do Senhor”. Agora, com a morte de Josué, alguém que escreveu essa porção final, denominou-o, por inspiração divina: “Josué, filho de Num, o servo do Senhor” (Js 24.29). Deus sempre honra, e coloca em postos estratégicos, aqueles que colocam suas vidas inteiramente em Suas mãos.

A morte de Josué, o enterro dos ossos de José e o falecimento do sacerdote Eleazar (Js 24.29-33), põem termo ao livro e encerram, de forma magnânima, um ciclo áureo de personagens acima da média dos homens, formando uma grande nuvem de testemunhas, que viveram pela fé  (Hb 11.1-31; 12.1).

III - Um salto para o futuro

Depois da morte de Josué, os hebreus passaram a viver na terra prometida,sendo liderados por juízes. Após, instaurou-se a monarquia, com a assunção ao trono do Rei Saul. Tempos depois, houve a divisão do reino: Sul e Norte e, com o passar dos séculos, grandes impérios levaram os povos de Israel para cativeiro. O Reino do Norte nunca retornou à sua terra, mas o do Sul voltou 70 anos depois.

Em seguida, Israel, ou o Reino de Judá, como ficou conhecido, habitou na sua terra por gerações, mas sempre sofrendo agressões e o domínio de inimigos. No tempo de Jesus, por exemplo, Israel estava subjugado pelos romanos. No ano 70 d.C., entretanto, por causa de uma rebelião, aconteceu a destruição de Jerusalém e os habitantes foram dispersos pelo mundo, a Diáspora, que durou cerca de 2.000 anos.

1- O renascimento de uma Nação

No fim do século XIX, surgiu um movimento político-nacionalista chamado Sionismo, pela iniciativa do Theodor Herzl, que pregava a volta de milhões de judeus à sua terra, a Palestina, a qual estava sob o domínio do Império Otomano. A justificativa disso era a Bíblia, por causa da promessa de Deus. Assim, em 1918, com o fim da 1ª guerra, o Império Otomano deixou de existir e a Inglaterra passou a ter domínio da região, impulsionando a imigração judaica nas décadas seguintes.

O ambiente de tensão etnocentrista na palestina era uma realidade, mas a partir da década de 1930, isso se tornou mais visível, quando começaram a eclodir violentos conflitos internos com a população árabe. Entre os anos de 1939 e 1945, no período da 2ª Guerra Mundial, houve grande perseguição do regime nazista, sob a liderança de Adolf Hittler, o que levou ao extermínio de milhões de judeus de várias nacionalidades, genocídio conhecido como Holocausto, o que estimulou ainda mais o Sionismo.

Em 1947, a ONU estabeleceu um plano para a partilha da Palestina entre árabes e judeus, após o encerramento do mandato britânico na região, consubstanciado na Resolução nº 181, que foi aprovada em uma sessão presidida por um brasileiro, Osvaldo Aranha, o qual deu o voto de desempate para a criação de dois Estados independentes: Israel e a Palestina.

Os judeus aceitaram a divisão proposta, mas as lideranças palestinas e árabes não. Ou seja, o surgimento do Estado Judeu foi conflituoso desde antes de acontecer, como o foi o nascimento dos irmãos Jacó e Esaú. Assim, num clima de hostilidade dos vizinhos regionais, mas sob a bênção de Deus, e cumprindo a palavra profética (Is 35.10; 56.8; Jr 3.14; 23.8; Ez 11.17), David Ben Gurion, em 14 de maio de 1948 (5 de yiar de 5708, segundo o calendário judaico), proclamou em Tel Aviv o novo Estado de Israel, o que se configurou, no contexto do final dos tempos, em relação ao Plano da Salvação, como o sinal de maior significado na perspectiva da iminente volta do Senhor, porque Ele disse “aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão” (Mt 24.32). 

Além do mais, o renascimento de Israel das cinzas da história como nação politicamente organizada em apenas um dia, também estava previsto nas Escrituras, conforme se vê: “Quem já ouviu falar de uma coisa assim? Quem já viu isso acontecer? Pois será que um país pode nascer num dia só? Uma nação aparece assim num instante? Mas foi isto mesmo que aconteceu com Sião: assim que sentiu dores de parto, ela deu à luz os seus filhos” (Is 66.8 NTLH). O Senhor, que ama as portas de Jerusalém (Sl 87.2), estava a colocando no centro do cenário mundial, favor decisivo para o desenrolar dos últimos fatos da história da humanidade.

2 - Guerras e conquistas  

No dia seguinte à restauração da “figueira” (Mt 24.32; Lc 21.29-31), Egito, Síria, Líbano, Jordânia e Iraque atacaram Israel. Depois de um ano de conflito, foi declarado um armistício, em 1949, e criou-se uma linha divisória imaginária entre os dois estados, chamada linha verde. Ocorre que o estado palestino nunca foi criado, sendo a terra destinada para ele sido fatiada entre vários países: Israel ficou com uma parte, a Faixa de Gaza ficou com o Egito, a Cisjordânia e a parte leste de Jerusalém ficaram com a Jordânia. 

Israel, dessa forma, ficou com um território maior do que o previsto. Nas décadas de 1950 e 1960, a imigração dos judeus, da Europa, aumentou sensivelmente para a região. Em 1964, como contraponto ao avanço sionista, e contando com o apoio da Liga Árabe, foi fundada a Organização para a Libertação da Palestina – OLP, que, nas décadas de 1970 e 1980, começou a desferir ataques terroristas contra os judeus, no afã de pressionar para receberem a devolução dos territórios ocupados por Israel.

Em 1967, eclodiu um outro importante conflito bélico: A Guerra dos Seis Dias, quando Egito, Síria e Jordânia atacaram Israel, o qual, mais uma vez, saiu vitorioso, acrescentando novamente seu território, dominando, agora, também, a Faixa de Gaza e Península do Sinai (Sul), as Colinas de Golã (Norte), a Cisjordânia (Leste), incluindo a porção oriental de Jerusalém.

Diante da expansão do território israelense, em 1973, Egito e Síria fizeram um ataque surpresa contra Israel (Guerra do YomKippur), que, novamente, no final, ganhou a guerra. Em 1979, Menachem Begin, 1º Ministro de Israel, assinou um tratado de paz com o Egito, com a intermediação dos EUA, quando os hebreus devolveram a Península do Sinai.

Israel continuou sendo odiado por seus vizinhos e, em 1982, quando atacou e ocupou uma das bases que eram usadas para lançamento de foguetes pela OLP, no Sul do Líbano, contra o Estado Sionista, libaneses revoltados criaram, financiado pelo Irã, o grupo terrorista Hezbolah, composto prioritariamente por muçulmanos xiitas.

3- Das Intifadas até os dias atuais

Até o momento em que este comentário foi escrito, já aconteceram várias Intifadas – palavra árabe que significa agitação, levante, revolta – da população civil da denominada “Palestina” contra o Estado de Israel. A primeira aconteceu em 1987, por causa da ocupação israelense da Cisjordânia e Faixa de Gaza. Nesse momento de tensão política, foi criado o grupo terrorista Hamas, de origem muçulmana sunita, que buscava, em suma, a destruição total de Israel. A Intifada prosseguiu até o ano de 1993, quando Yitzhak Rabin, 1º Ministro de Israel, assinou o acordo de paz em Oslo, na Noruega, com a OLP, liderada por Yasser Arafat. Em 1994, Israel assinou acordo de paz com a Jordânia.

A 2ª Intifada aconteceu porque, em 28 de setembro de 2000, o líder da oposição do parlamento hebraico, Ariel Sharon, que se tornaria 1º ministro meses depois, visitou o Monte do Templo em Jerusalém Oriental, o que foi interpretado que Israel estava reivindicando tanto os territórios ocupados quanto o Monte do Templo, um dos lugares mais sagrados dos muçulmanos. Em decorrência disso, no dia 6 de outubro de 2000, o Hamas declarou um "dia de fúria" e pediu aos palestinos que atacassem postos militares avançados de Israel, o que levou Israel, em 2002, a construir um muro para proteger seu o território na fronteira com a Cisjordânia. Em 2005, porém, Israel tirou as tropas da Faixa de Gaza, o que marcou o fim da rebelião. Dois anos depois, os terroristas do Hamas passaram a controlar a Faixa de Gaza, enquanto o Fatah, grupo político atualmente liderado por Mahmoud Abbas, permaneceu administrando apenas a Cisjordânia.

O crescente desentendimento étnico-político-religioso regional, com o lançamento de foguetes contra Israel, ataques à população civil, dentre outros atos de hostilidade, provocou fortes respostas militares do povo sionista nos anos de 2010, 2012, 2014 e 2015 (Intifada das Facas), o que fomentou, ainda mais, o sentimento antissemita presente historicamente. Registre-se, ademais, que os conflitos ocorridos ultimamente na terra prometida, notadamente no Século XX, além de proporcionarem a morte de milhares de pessoas, forçou que cerca de 700 mil palestinos fossem expulsos de suas casas, os quais se transformaram em refugiados nos países vizinhos. Eles e/ou seus descendentes, hoje, somam cerca de 7 milhões de pessoas que se sentem injustiçadas, daí a enorme dificuldade de resolver essas tensões antes da volta do Salvador do Mundo.

No dia 30 de setembro de 2019, por exemplo, vários órgãos da mídia internacional repercutiram o discurso do chefe militar do Irã, Major-General HosseinSalami, dizendo já existirem, atualmente, plenas possibilidades da destruição total de Israel; ideal político 1, aliás, defendido abertamente pelo regime dos aiatolás desde a Revolução Islâmica de 1979. O intento satânico de aniquilar os descendentes de Abraão é, tanto antigo, quanto real; mas Israel, o pequeno, mas desenvolvido país asiático, encravado em uma porção da terra prometida, continuará sua marcha escatológica até que aquilo que está escrito a seu respeito, nas sagradas escrituras, cumpra-se integralmente.

Conclusão

O livro de Josué narra a trajetória épica de um povo que ultrapassou seus limites pessoais, aprendendo a confiar em Deus nos momentos mais difíceis, arriscando suas próprias vidas, em face da manifestação gloriosa do poder de Deus, bem como pela condução prudente e corajosa de seus principais líderes nesse período: Josué, o comandante, e Eleazar, o sacerdote. 

No fim da narrativa bíblica, ambos estavam próximos da morte, mas vislumbra-se o cuidado constante da liderança com o objetivo de que a geração vindoura mantivesse o padrão vitorioso de obediência total a Deus, consubstanciado no pacto estabelecido (Js 24.26,27), marcando, com isso,  o fim de um ciclo histórico, coroado, ademais, pelo enterro dos ossos de José.

Logo em seguida, há a informação, por outro escritor, acerca da morte de Josué e Eleazar (Js 24.29,33), encerrando exitosamente a missão dada pelo Senhor. Suas vidas cumpriram o propósito para o qual foram designadas pelo Eterno. O futuro traria muitas surpresas, boas e más, sobre a vida dos hebreus, até os dias atuais, mas Deus nunca perdeu, como se viu, ao longo dos milênios, o controle das rédeas da história.


1  AGENCE FRANCE PRESSE; STAFF, Toi. Iran Guards chief: Destroying Israel now not a dream but an ‘achievable goal’. The Times Of Israel, 2019. Disponível em: < https://www.timesofisrael.com/iran-guards-chief-says-destroying-israel-is-not-a-dream-but-an-achievable-goal/>. Acesso em: 18 out. 2019.


Lição 12 - 3º Trimestre 2020 - As Cidades de Refúgio são estabelecidas - Jovens.

 

Subsídios Lições Bíblicas - Jovens

Lição 12 - As Cidades de Refúgio são estabelecidas 

3º Trimestre de 2020

Introdução

As escolhas que os indivíduos fazem na vida trazem consequências, por isso Deus não tem o culpado por inocente, na medida em que é a pessoa, e não Deus, o responsável pelas decisões tomadas. Assim, havendo pecado, o juízo divino recai sobre o transgressor sem nenhum constrangimento por parte do Justo Juiz. Se fosse de outra forma, o condenado teria um forte argumento de defesa: — Como o Senhor condena alguém que foi obrigado a pecar? Haja vista que me fizeste predestinado à destruição, como eu poderia escapar? Agora queres me condenar? Onde está a Tua justiça? Apenas cumpri o destino que me traçaste. Não queiras me convencer que se trata de Tua soberania, mas de pura tirania! Simples assim. 

O tema do livre arbítrio tem alimentado, por séculos, o debate filosófico e teológico entre os intelectuais de plantão e, a cada dia mais, somam-se argumentos de um lado e outro, aumentando o abismo conceitual, acirrando-se as diferenças e não caminhando para o consenso. Essa falta de unanimidade, entretanto, apenas fortalece a ideia de que temos o livre arbítrio de pensar distintamente e, assim, seguir nossa própria tese filósofo-teológica. Deus é desse jeito mesmo: Ele nunca força ninguém a fazer nada, apenas indica o caminho. 

O grande apologista do século XX, com sua perspicácia habitual, usa as palavras com maestria, explicitando algumas das razões pelas quais os homens podem e devem ser responsabilizados em face de suas condutas. Caso vivêssemos em um mundo em que os indivíduos fossem “teleguiados” pelo Eterno, nenhum sentido haveria em se falar em recebimento de galardões no Céu. Mister, mencionar, todavia, que sendo o Senhor o Sumo Bem, todas as nossas fontes estão nEle (Sl 87.7), isto é, tudo de bom que o homem faz, sejam pensamentos, palavras ou ações, defluem do único Ser que abastece o Universo de amor e bondade. Nesse mesmo sentido, Lewis arremata posteriormente que o Senhor criou o Homem para ser movido por Ele mesmo, o qual se constitui no único “combustível que o nosso espírito deve queimar, ou o alimento de que deve se alimentar” 1.

Nesse passo, não acreditando na heresia do panteísmo (Deus é tudo e tudo é Deus), há que se entender que, por causa do livre arbítrio, o mal passou a existir no mundo e, assim, quando a humanidade toma decisões equivocadas, peca, o faz por escolha própria, voluntariamente, de “caso pensado” – dolo, em atender ao convite do mal e não à voz do Criador, que brada constantemente nas consciências: “Este é o caminho, andai nele” (Is 30.21). 

O livre arbítrio, dessa forma, acontece por causa da soberania de Deus, e também por Sua humildade. Ele, que poderia manipular a todos, de forma a nunca ser desobedecido, preferiu deixar-nos livres para escolher o caminho, mas enviou Seu Filho para nos dizer qual era o bom e único “Caminho” (Jo 14.6). Assim, em Sua sublime humildade, Ele inspirou homens a escreverem o Novo Testamento não em tom solene e eclesiástico, de forma que fosse uma obra de arte literária do grego clássico, porém preferiu o popular grego coiné, a língua usada pelos comerciantes, escravos, indigentes... O Deus que, em Sua soberania, decidiu descer a um grau extremo de humildade, a ponto de se acomodar no ventre de uma pobre mulher hebreia, e, em momento posterior, tornar-se um desprezado pregador itinerante que seria preso como bandido pela polícia, também optou em trazer sua mensagem de salvação em linguagem vulgar, prosaica, não academicista. Essa mescla de soberania e humildade divinas, geraram, assim, a possibilidade das idiossincrasias humanas, o que faz de cada criatura um ser insubstituível, ante à sua complexa individualidade, pela multiplicidade de escolhas diante da vida.

Esse maravilhoso livre arbítrio, portanto, que foi concedido amorosamente por Deus a todos os homens, encontra-se, de maneira destacada, como pano de fundo dos capítulos 20 a 22 de Josué. Livre arbítrio para o homicida culposo (que não teve a intenção de matar) fugir para uma das cidades de refúgio e, também,uma vez aceito, permanecer ali indefinidamente. Livre arbítrio para Israel entregar aos levitas as cidades prometidas. Livre arbítrio para as tribos transjordânicas, que ficaram voluntariamente a leste do Jordão, voltarem para suas terras e, às margens do rio, erigirem um altar memorial.

O Altíssimo, que ensinava Israel como a um filho, pegando-o pela mão, não lhe acorrentava os pés... Assim, depois de séculos de relacionamento decorridos desde Abraão, com muitos caminhos trilhados, alguns aprovados por Deus e outros não (a maioria), agora, os hebreus que restaram, podiam, enfim, repousarem seguros na terra prometida!

I-Deus ordena estabelecer cidades de refúgio

1- Deus protege quem praticou homicídio culposo

O Senhor determinou o estabelecimento de seis cidades de refúgio: Bezer para os rubenitas; Ramote, em Gileade, para os gaditas; Golã, em Basã, para os da meia tribo de Manassés (as quais foram nominadas ainda por Moisés –Dt 4.41-43) – as três na Transjordânia; Quedes na montanha de Naftali; Siquém na montanha de Efraim; e Hebrom, na tribo de Judá (Js 20.7) – as três na Cisjordânia (estrategicamente nas regiões norte, central e sul de Canaã) – ver mapa no capítulo anterior. O Altíssimo, ademais, cuidou da acessibilidade rápida à salvação do homicida não intencional, determinando que fossem construídas estradas até essas “fortalezas judiciárias” (Dt 19.3), de forma a regular um costume da antiguidade (o qual ainda persiste até hoje em algumas comunidades do Oriente Próximo), de que o parente mais chegado de um homem morto acidentalmente poderia vingá-lo (Nm 35.12,19; Dt 19.12). 

As seis cidades de refúgio que o Senhor estabeleceu estavam localizadas de tal maneira que qualquer pessoa que matasse alguém acidentalmente teria que caminhar apenas a jornada de um dia para estar em segurança. Assim, o acusado de homicídio, então, se quisesse, iria ao “lugar de salvação” o mais rápido possível, e ali apresentaria seu caso à porta da cidade. Havendo a admissibilidade de sua defesa prévia, seria submetido ao “júri popular”. Caso fosse absolvido, o agressor poderia morar na cidade de refúgio até a morte do sacerdote (Nm 35.10-25; Js 20.1-6), quando, então, estaria livre para viver noutro lugar.

2- O significado espiritual das cidades de refúgio

Nessas cidades de refúgio, a vida do agressor não era protegida necessariamente por um forte esquema de segurança com soldados, armas etc., mas sobretudo pelo próprio Deus que, na sua palavra, garantia-lhe o salvo-conduto. 

Assim, analisando esses detalhes, maravilhamo-nos do tratamento sobremodo justo, misericordioso e amoroso que o Senhor Deus dispensava ao “pecador” imprudente, demonstrando o significado mais profundo da palavra Justiça e, por isso mesmo, compreende-se, a partir da leitura de Hb 6.18, “que as cidades de refúgio eram um tipo de Cristo. O apóstolo faz alusão a isso quando fala daqueles que fugiram procurando refúgio, e também da esperança oferecida a eles” 2, circunstância observada também por Mark Water 3, e R. N. Champlin, o qual afirmou que “as cidades de refúgio representam o refúgio que temos em Cristo, o qual é nosso sumo sacerdote. (...) em Cristo o pecador perdoado fica inteiramente livre da culpa” 4.

3- O perigo de sair da cidade de refúgio 

O acusado de cometer homicídio culposo (Nm 35.22,23, Dt 19.4,5), uma vez absolvido, teria uma vida tranquila na cidade de refúgio, desde que nunca a deixasse. Entretanto “se de alguma maneira o homicida sair dos limites da cidade de refúgio, onde se tinha acolhido, e o vingador do sangue o achar fora dos limites da cidade de seu refúgio, e o matar, não será culpado do sangue” (Nm 35,26,27).

As pessoas estavam protegidas nas cidades de refúgio, e ninguém as poderia arrebatar desses asilos, que representavam um lampejo da graça de Deus no tempo da lei. Elas se constituíam abrigos contra a injustiça, e não havia quem desafiasse o rigor dessa norma. Posteriormente, “desde os dias do imperador Constantino, os templos cristãos exerciam essa função. (...) Na Idade Média, quando o poder papal tornou-se grande, esses costumes continuavam prevalecendo” 5. Atualmente, vê-se com certa frequência, na mídia, a concessão de asilo de países distintos a presos políticos, em seus territórios e, inclusive, em suas embaixadas. As cidades de refúgio, porém, não tinham essa função de diplomacia internacional, mas seu foco era evitar que, no seio da terra prometida, houvesse injustiças contra inocentes.

Entretanto, o homicida perdoado tinha liberdade para, querendo, sair da cidade de refúgio; ele poderia, usando seu livre arbítrio, transpor os portões externos e seguir seu caminho, o que seria muito perigoso, diante da fúria do vingador do sangue (Dt 19.6).  Da mesma maneira, sair do refúgio que há em Jesus Cristo não se traduz em uma sábia conduta, antes, pelo contrário, põe a “ovelha desgarrada” em risco iminente de morte eterna.

II - Os levitas exigem sua herança

1- A demora na herança dos levitas

As cidades de refúgio estavam entre as 48 dos levitas, por isso a ordem de Deus para que as cidades de refúgio fossem estabelecidas era uma clara alusão às cidades levitas, sendo 4 por tribo, mas nenhuma medida administrativa foi tomada nesse sentido, até que houve pressão sacerdotal (Js 21.2,3). Na verdade, essas cidades levitas seriam uma grande bênção para Israel, na medida em que elas não estariam em uma mesma tribo, mas espalhadas por toda a terra de Canaã, de maneira que a presença do ministério religioso abençoaria todo o povo, ensinando-lhe o caminho do Senhor. Elcana, por exemplo, era levita, mas também efraimita (1 Sm 1.1), o que significa dizer que ele tinha elevado status na comunidade de Efraim (pertencia uma casta especial), por ser levita, todavia não integrava uma 13ª tribo – como Samuel, seu filho, o qual, serviu como sacerdote no tabernáculo do Senhor, que estava em Siló, substituindo Eli. Assim, não deve existir dúvida quanto à cidadania, haja vista que “os levitas (...) eram membros das tribos onde viviam, para todos os efeitos práticos” 6.

Impressionante como, por vezes, os servos de Deus agem com egoísmo e ingratidão quando são abençoados, esquecendo-se de que outros irmãos possuem carências que devem ser supridas com a sua abundância. O que aconteceu com a liderança de Israel com frequência acontece no seio da igreja. Por isso, deve-se ter todo o cuidado para que não fiquemos seduzidos com os bens recebidos e desprezemos a conduta apropriada: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35). 

2- O estabelecimento das cidades dos levitas 

Por causa da lealdade dos levitas no Monte Sinai, eles foram recompensados com as cidades que lhes eram necessárias para que suas famílias pudessem viver e se desenvolver, não obstante o salário dos levitas adviesse dos dízimos trazidos ao santuário. Dessa forma, dentro do território de cada tribo haveria 4 cidades cedidas aos levitas, e, em volta delas, ficaria resguardada uma faixa de terra de 450m, a partir da muralha, para o pasto, e mais 450m após – novecentos metros ao todo de cada lado (norte, sul, leste e oeste) – e a cidade no meio (Nm 35.4,5 NTLH).

Por outro lado, Deus, em sua sabedoria, deu aos sacerdotes 13 cidades nas terras de Judá e Benjamim, próximas à Jerusalém, que seria a cidade do grande Rei (Mt 5.35), e ali se edificaria o templo do Senhor, são elas: Hebrom (uma cidade de refúgio), Libna, Jatir, Estemoa, Holom, Debir, Aim, Jutá, Bete-Semes, Gibeão, Geba, Anatote e Almom, todas, com exceção de Jutá e Gibeão, são novamente mencionadas em 1 Cr 6.54-60, razão pela qual alguns estudiosos acreditam que essas tenham mudado de status ao longo dos séculos.

3- A fidelidade de Deus

Depois de anos de guerra, a terra foi conquistada (ainda que não completamente) e dividida. Foram muitas batalhas, mas isso faz parte da jornada, na medida em que “Deus nunca prometeu a seus filhos dias fáceis (...). A promessa não é de comodidade, e, sim, vitória. (...) Crescemos na adversidade, porque aprendemos a confiar mais no Senhor” 7. Nesse momento, Josué declarou como o Senhor tinha sido fiel e cumprido todas as suas promessas (Js 21.43-45).

Os israelitas, talvez, naquela longa caminhada, não imaginassem como eram importantes para o Altíssimo e, quiçá, por isso, em alguns momentos cruciais, tomou conta deles um sentimento de desânimo, o desejo de voltar ao Egito. E muitos dos que seguiam adiante, pelo deserto, achavam que seriam fragorosamente derrotados. Esse é um erro fatal, que não se pode cometer, posto que perdendo a batalha da mente, o homem dificilmente vencerá os outros embates. 

Os filhos Israel eram muito importantes para o Eterno (como Deus é humilde!) e, na realidade, eles só precisavam, enfrentar com diligência e fé os desafios que lhes eram apresentados. O fato é que: mesmo diante dos altos e baixos dos hebreus, o Senhor continuou fiel, e todas as coisas que sucederam, desde o dia que saíram do Egito, cooperaram para o bem daqueles que amavam a Deus. Os rebeldes, porém, ficaram pelo caminho.

III- A despedida das tribos tranjordânicas

1- Duas tribos e meia são despedidas 

Quando o apóstolo Paulo escreveu sua última epístola, da prisão, afirmou com convicção que tinha combatido o bom combate, acabado a carreira e guardado a fé. O apóstolo dos gentios, naquela ocasião, não apresentava nenhum rancor quanto às lutas do passado, mas encerrava de modo valoroso e esperançoso a missão dada por Deus, demonstrando que entendia que o seu tempo havia terminado. Ele também reconheceu, pelo Espírito, que possuía um grande tesouro no Céu, o qual ele chama, genericamente, de coroa. O grande missionário da Igreja primitiva “revisa calmamente o caminho que seguiu e o aprova” 8. Com um sentimento muito parecido, os guerreiros das tribos transjordânicas receberam, de Josué, a informação que o tempo deles tinha findado, e que era hora de voltarem para suas tendas. Eles, igualmente, haviam combatido o bom combate, acabado a carreira, e guardado a fé, e, agora, voltavam para casa cheios de tesouros, decorrentes dos despojos, autorizados pelo Senhor, em face das conquistas sobre as nações de Canaã. Israel estava enriquecido.  

É bem verdade que havia ainda muitíssima terra para ser conquistada, mas o propósito daquela incursão bélica estava concluído, razão pela qual Josué dispensou Rúben, Gade e a meia tribo de Manassés. Aqueles nobres guerreiros haviam passado muitos anos longe de suas famílias, batalhando pela terra prometida por Deus e, nesse instante, precisavam retomar suas vidas. Isso faz lembrar também as últimas palavras ditas a respeito de Zacarias, pai de João Batista: “E sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa” (Lc 1.23).

Na vida é assim mesmo: as pessoas são comissionadas para realizarem algo importante, mas, nem sempre, conseguem completar todo o desígnio, como foi o caso dessas tribos. Uns plantam, outros regam e outros colhem. O certo é que, os propósitos de Deus sempre serão alcançados, pois não ficam adstritos, apenas, a esta ou àquela geração. Cedo ou tarde, independentemente do tempo, transformar-se-ão em momento histórico do seu povo. 

2- Exortação à obediência

Como Deus requer de seus filhos obediência e organização no trato das coisas santas, sem se descuidarem de nenhum dos preceitos estabelecidos, que são requisitos para a manutenção das bênçãos recebidas, Josué reuniu as tribos transjordânicas e agradeceu-lhes por terem lutado as guerras do Senhor, conforme determinação de Moisés, sendo obedientes em tudo, bem como os elogiou porque eles não desampararam nenhum de seus irmãos de outras tribos e, no fim do discurso, exortou-os a que permanecessem fiéis, pois esse era o segredo de um futuro feliz! Que grande advertência para a igreja dos dias atuais!

A carreira dos guerreiros transjordânicos havia se encerrado “como uma maratona, repleta de obstáculos e dificuldades que esmaga os homens (...). Aprendemos que a carreira exige dedicação e coragem, bem como o poder do Espírito Santo, pois, de outro modo, será inteiramente possível concluí-la com êxito” 9. Eles precisavam, com denodo, perseverarem obedientes até o fim.

3- O altar junto ao Jordão 

Ao voltarem para suas famílias, as três tribos transjordânicas pararam às margens do Jordão, onde construíram um imponente altar, semelhante ao que estava em Siló, o que revoltou os líderes hebraicos, que partiram ferozmente para confrontá-los. Ao explicarem que não se tratava de um altar para oferecer sacrifícios, mas apenas de um memorial, às tribos que ficaram a Oeste do Jordão, capitaneadas pelo sacerdote, aceitaram o monumento pacificamente.

O grande problema da construção de um altar naquelas circunstâncias era o possível desvio para a idolatria, pecado fortemente condenado por Deus, que levou à morte milhares de israelenses, no caso de Baal-Peor. De fato, a intenção das tribos de Rúben, Gade e metade de Manassés não era ruim, mas a conduta imprudente revelava muito acerca dessas tribos que estavam se alojando ao oriente do Jordão. Elas já estavam absorvendo o espírito que predominaria no tempo dos juízes: cada um fazia o que achava certo! 

Se, por um lado, a construção de um memorial não era um pecado, por outro poderia ser um embaraço, como aconteceu, causando mal-estar nos irmãos das tribos da Cisjordânia. Então, vislumbra-se um problema de ausência de comunicação, entendimento e cumplicidade, no serviço do Senhor. Nenhuma atitude autônoma, que traga divisão, conflito, controvérsia, deve ser cultivada, pois Deus ama a unidade.

Conclusão

Deus determinou várias medidas administrativas para que seu povo desfrutasse de todas as condições para seguir em frente, como uma sociedade politicamente organizada, defendendo uma cultura calcada nas determinações que emanaram do coração de Deus. Por isso, depois de dividir todo o território de Canaã, Josué estabeleceu as cidades de refúgio, por Sua justiça, e as dos levitas, por Seu compromisso com os integrantes do ministério para, após, dispensar aqueles que tinham dado sua quota de sacrifício em prol da nação. 

Mesmo com todos os enormes danos causados aos moradores de Canaã, os povos nativos remanescentes queriam paz com Israel; reconheciam a supremacia dos hebreus. Israel enfrentou pântanos desconhecidos pela fé, mas o Senhor foi fiel em tudo e cumpriu-lhe todas as promessas.


1  LEWIS, C. S.. Cristianismo Puro e Simples. 1ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 2005, p.66.
2 PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard F.; REA, John. Dicionário Wycliffe. 1ª ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2012, pp. 417,418.
3 WATER, Mark. Enciclopédia de Fatos Bíblicos. São Paulo: Hagnos, 2014, p. 558.
4 CHAMPLIN, R. N.. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 13ª ed., vol. 1, São Paulo: Hagnos, 2015, p. 731.
5  CHAMPLIN, R. N.. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 13ª ed., vol. 1, São Paulo: Hagnos, 2015, p. 731.
6 CHAMPLIN, R. N.. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 13ª ed., vol. 3, São Paulo: Hagnos, 2015, p. 794.
7 MEARS, Henrietta C..Estudo Panorâmico da Bíblia. São Paulo: Vida, 1982, p. 85.
8  LIVINGSTON, George Herbert; COX, Leo G.; KINLAW, Dennis F.; BOIS, Lauriston J. Du; FORD, Jack; DEASLEY, A.R.G..Comentário Bíblico Beacon. 1ª ed., vol. 1, 2, 8, Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 533.
9 CHAMPLIN, R. N.. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. 1ª ed., vol. 5, São Paulo: Hagnos, 2014, p. 522.

Lição 11 - 3º Trimestre 2020 - Uma Herança conquistada pela Fé - Jovens.

 

Subsídios Lições Bíblicas - Jovens

Lição 11 - Uma Herança conquistada pela Fé 

3º Trimestre de 2020

Por Reynaldo Odilo

Introdução 

Depois de anunciar que há tempo para todo o propósito debaixo do sol, Salomão descreveu os diversos tempos que incidem, na ocasião propícia, sobre toda a humanidade, começando pelos mais elementares deles: tempo de nascer e tempo de morrer (Ec 3.1,2).  O primeiro deles é essencial para o início de qualquer narrativa e acontece sem qualquer interferência ou resistência do nascente, sendo que, diversas circunstâncias do nascimento (família, local do nascimento, tipo de parto, etc.), acontecem em decorrência das escolhas dos pais. Por exemplo, o nascimento de Jesus em Belém da Judeia aconteceu porque seus pais, José e Maria, foram se alistar naquele lugar. Outras questões, porém, são escolhas de Deus (DNA, sexo do bebê, cor dos olhos... apesar de, às vezes, existirem tentativas antiéticas de manipulações genéticas).

O segundo desses tempos primordiais e inexoráveis a todo ser vivo, o dia da morte, entretanto, possui características bem distintas. Via de regra, ninguém o planeja e dá-se de maneira imprevisível, daí o ditado de que “a morte chega sem mandar aviso”. Ao invés do contentamento e sorrisos, próprios dos nascimentos, em face da fagulha de esperança pela vinda de um novo ser, quando chega a morte, tristeza e choro são as marcas distintivas desse momento. O nascimento é episódio para ser lembrado; já a morte, por seu turno, evento para ser esquecido. Diante disso, normalmente as pessoas comentam, com alegria, sobre os nascimentos de entes queridos, mas preferem não falar sobre suas mortes. De qualquer jeito, queiramos ou não, vida e morte são faces de uma mesma moeda. E Deus, em sua Palavra, recomenda que aprendamos a reconhecer o tempo da nossa partida deste mundo: “Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim, e a medida dos meus dias qual é, para que eu sinta quanto sou frágil” (Sl 39.4).

O Senhor auxilia nessa tarefa, dando aos homens todos os sinais de que o “dia da transição” se aproxima. A pessoa começa a ficar com os cabelos grisalhos, a pele enruga, as forças gradativamente diminuem, a visão fica turva, os dentes caem da boca... (A descrição poética disto tudo também foi feita por Salomão, Ec 12). O maior pregador do século XX, Billy Graham, do alto dos seus 93 anos, observando as dificuldades da velhice, disse que ela “não é para os fracos”.1 Ele, sem dúvida, foi a prova dessa afirmação, pois mesmo sentindo os severos efeitos do Mal de Parkinson, doença que lhe afligia, esforçou-se grandemente para manter sua produção intelectual e evangelística quando o corpo não queria obedecer aos comandos da sua mente. Mesmo assim, continuou dando frutos na senilidade (ele morreu um pouco mais novo do que Josué).

Reconhecer que o tempo da partida se aproxima, assim, não é uma tarefa tão difícil, pois as manifestações no corpo físico são evidentes e a morte, no fim da estrada, termina se tornando uma necessidade. Aliás, o maior apologista do século XX, C.S. Lewis, compreendia que a morte era uma necessidade da humanidade, não por questões fisiológicas, mas por aspectos espirituais, pois se o homem fosse imortal, diante do seu orgulho e lascívia cada vez mais aumentados, com o passar do tempo, “ele progrediria de simples homem decaído para a categoria de demônio, possivelmente além de qualquer possibilidade de redenção”.2  Assim, com a morte, esse perigo foi evitado.

Destarte se, por um lado, o nascimento de uma criança traz a mensagem que se renova a esperança para o mundo, por outro, a morte propaga uma comunicação ainda mais importante: faça as escolhas corretas, antes que seja tarde demais! Por isso mesmo está escrito que é melhor ir para uma casa onde há luto do que para uma festa (Ec 7.2).

Essa regra vale para todos os homens, por esse motivo disse Deus a Josué: “Já estás velho, entrado em dias...” (Js 13.1). O grande general, de tantas batalhas, que havia presenciado as pragas no Egito, transposto o Mar Vermelho, caminhado 40 anos pelo deserto, atravessado o Rio Jordão e conquistado 31 cidades-estados ou reinos, agora, com mais de 100 anos, recebia o anúncio do seu Comandante, que estava chegando a hora de partir e, portanto, deveria ultimar as providências. Esse conselho, aliás, Deus o daria em outras ocasiões. Ezequias, por exemplo, recebeu a informação divina: “Põe em ordem a tua casa, porque morrerás e não viverás” (Is 38.1). O próprio Jesus sabia que o tempo de sua morte era chegado (Jo 13.1, 3, 18.4, 19.28) e, por isso, deu as últimas instruções aos discípulos, concluindo, com êxito, sua missão.

Josué, da mesma forma, recebendo a orientação celestial, concluiu a divisão da Palestina, que tinha começado na Transjordânia, sob Moisés, quando as tribos de Rúben, Gade e metade de Manassés receberam como herança as terras a leste do Jordão. Agora, no lado oeste do rio, na terra de Canaã propriamente dita, no arraial em Gilgal, Judá recebeu herança no Sul e Efraim, e a meia tribo de Manassés receberam herança no Norte, mas não somente isso: os territórios inconquistados na periferia de Canaã (Js 13.2-6, 18.1-10) também seriam distribuídos entre todas as demais tribos. Dessa forma, os hebreus manteriam a postura vigilante da guerra, sem “tirarem a armadura”, até que toda terra fosse possuída. 

I - A Divisão do Sul de Canaã

1. A partilha da terra conquistada

Assim, Josué, no arraial em Gilgal, começou dividindo os reinos do Sul (Js 10), os quais ficaram com Judá. Em seguida, distribuiu o território conquistado no Norte de Canaã (Js 11) aos filhos de José, Efraim e Manassés, que tiveram prioridade em face da primogenitura outorgada a José (1 Cr 5.1). A partilha foi feita por meio de sorteio, o que “era aceito como um decreto procedente de Deus”,3 nos termos das regras daquela dispensação: “A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda a disposição” (Pv 16.33). Nos últimos dias, porém, Deus nos tem falado pelo Filho (Hb 1.1).

Estava chegando ao fim a carreira do grande estadista Josué, mas ainda com a ocupação inacabada. Deus havia prometido uma faixa territorial bem maior, mas muito não foi conquistado e, por isso, o quinhão se tornou pequeno para tanta gente, razão pela qual Josué precisou fiscalizar tudo de perto, inclusive porque a região já estava mais ou menos ocupada.4

2. A herança de Judá e de Calebe

Os hebreus que entraram em Canaã eram pessoas doutrinadas e, por conseguinte, reconheciam a ordem de prioridades estabelecidas por Deus nos escritos proféticos. Eles, por isso, não fizeram nenhuma rebelião quando a tribo de Judá ficou com a melhor e maior parte da herança. Afinal, reconheciam que Judá tinha a primazia, porque era poderoso entre os irmãos e dele viria o Soberano (1 Cr 5.2), recebendo assim os territórios ao Sul (Js 10).

Dos filhos de Judá, sem sombra de dúvida, havia uma espécie de herói nacional, Calebe. Não só porque era um dos homens mais idosos do arraial, mas, sobretudo, por sua fé inabalável em Deus, a tal ponto que se pode afirmar, como dizia C.S. Lewis, que ele tinha familiaridade com o Criador, conhecia-o como a uma pessoa, um amigo, acreditando totalmente nas suas palavras, possuindo uma verdadeira obstinação na fé. Assim, Calebe deu mostras sobejas de que confiava nEle “além das evidências, mesmo contra muitas evidências”,5  por ocasião do evento histórico em Cades Barneia, quando, 45 anos antes, incentivou o povo a crer nas promessas de Deus (Js 14.10-12) e, por isso, quase foi morto, porque suas ideias confrontavam as evidências trazidas por 10 dos seus 11 companheiros de expedição, os espias. Calebe nunca deixou que sua felicidade dependesse de algo que poderia morrer. Dessa forma, mesmo passado décadas, e com a morte de milhares de companheiros, amigos de infância, irmãos, etc., todo o seu amor continuava intenso pelo Eterno, pois era o único Amado de sua alma.6  Caso não fosse, a revolta por incontáveis perdas poderia tê-lo contaminado, levando-o à falência espiritual. Ele, porém, no fim dos dias, estava firme e forte.

Em face dessa intimidade com o Altíssimo, antes da distribuição da terra, esse grande homem disse a Josué que se sentia com a força e disposição de um guerreiro, reivindicando o Monte Hebrom, que tinha sido a herança prometida por Deus, ainda no tempo de Moisés. Josué, por conhecer bem o amigo, assim como se lembrando da profecia, concedeu o pedido do decano de Judá. Calebe preferiu se antecipar e fazer o pedido a Josué para demonstrar aos seus irmãos que o mais importante não era a providência, aquela ou outra terra, mas a promessa de Deus. Todo aquele que serve ao Senhor na juventude não será por Ele esquecido na velhice.

Israel já tinha conquistado a cidade de Hebrom (Js 10.37), mas não o monte que era guarnecido por gigantes, os filhos de Anaque, guerreiros grandemente temidos, os quais, segundo os estudiosos, eram ascendentes de Golias e que teriam sido eles quem espancaram a esperança da conquista de Canaã dos 10 espias (Nm 13.33). Destarte, o território prometido a Calebe, um dos mais protegidos e perigosos da Terra Prometida, seria conquistado por um ancião de 85 anos. Deus estava humilhando a falta de fé dos homens incrédulos e tardos de coração.

O verbo hebraico usado ao se referir àquela batalha foi yarash (Js 15.14; Jz 1.20, ARA) traduzido como expulsar, mas que também traz a conotação de desapropriar ou fazer perder a herança, dando a entender que quando os gigantes viram o velho Calebe e seus guerreiros subirem à peleja deixaram suas posições fortificadas e abandonaram Hebrom. Calebe foi à luta pela sua herança, mas, após a desapossar, entregou-a aos levitas e também se tornou uma cidade de refúgio.

3. A herança de Acsa

Os pais geram impressões indeléveis na vida dos filhos. Sempre. Seja para o bem ou para o mal. Nas celebrações dos 90 anos de fundação da Igreja Assembleia de Deus, em Belém do Pará, no ano de 2001, estavam presentes Ivar Vingren, filho de Gunnar Vingren, e Débora, filha do missionário Daniel Berg. Em certo culto, quando Ivar tomou a palavra, fizeram-lhe a seguinte pergunta: “Quais são as lembranças que você tem de seu pai?”. Ele respondeu: “Não me lembro de muita coisa sobre meu pai, pois quando ele morreu eu era bem pequeno, mas me recordo muito bem de vê-lo, de joelhos, orando em seu quarto. Lembro-me de que ele era um homem de oração”. Ivar Vingren seguiu os passos do seu pai e também se tornou um missionário.

No caso da filha de Calebe, Acsa, o exemplo de seu pai lhe deixou marcas profundas. Diante disso, houve um episódio tão marcante, que o Senhor fez questão de registrá-lo em duas oportunidades (Js 15.16-19; Jz 1.12-15). Assim como Calebe, Acsa mostrou a importância de se lutar por seus ideais. Deus selecionou esse fato para mostrar que as pessoas deveriam agir com essa mesma tenacidade. 

Acsa foi dada como esposa do jovem Otniel, que viria a ser juiz em Israel após a morte de Josué, recebendo como dote uma terra seca, mas pleiteou território que tivesse água, tendo recebido uma terra excelente, que tinha fontes superiores e inferiores, ou seja, brotava água dos montes e das planícies. A insatisfação de Acsa, portanto, gerou determinação para ela ir em busca de sua bênção. Se ela não tomasse uma iniciativa teria, certamente, ficado frustrada e sua família sofreria as consequências de uma vida difícil, com pouca água, mas Acsa não se acomodou, fez algo para mudar a situação, e recebeu copiosas bênçãos.7  Nossas bênçãos espirituais e materiais (nessa ordem) devem ser buscadas com afinco (Mt 7.7). Os que ficam indiferentes, olhando para as nuvens (Ec 11.4), nunca conquistarão a Terra Prometida.

II - A Divisão do Norte de Canaã

1. A herança de José

Os filhos de José, Efraim e Manassés, cujas tribos tornaram-se poderosas, adquiriram o direito à herança de Jacó juntamente com seus tios. Então, quando Josué dividiu o Norte, mais a parte central de Jericó e Ai, as duas tribos foram logo contempladas (Js 14.4, 16.4), tendo recebido os territórios “mais belos e férteis da Terra Prometida”.8  O investimento que José fez, abençoando sua família, bem como no Reino de Deus, trouxe resultado a curto, médio e longo prazo, como sempre acontece quando são lançadas sementes de amor e fé no solo da sua Augusta presença. A conduta fiel, generosa e justa de José foi recompensada com favores singulares da parte de Deus, colhidos quando em vida, ainda, mas que também recaíram sobre sua descendência, séculos adiante. 

Mister lembrar que metade de Manassés, além das tribos de Rúben e Gade, receberam antecipadamente suas heranças na Transjordânia (Pv 20.21), a leste do Jordão, território não pertencente à Canaã. Os hebreus transjordânicos, 20 anos antes do cativeiro geral das 10 tribos pelo rei da Assíria (1 Cr 5.26), foram levados cativos e nunca mais retornaram.

2. A passividade dos filhos de José

As tribos dos filhos de José, Efraim e Manassés, tinham muita pujança em Israel, mas não possuíam grande arrojo para a guerra. Assim, ficaram passivas diante dos desafios. A tribo de Efraim recebeu, por exemplo, dentre as cidades, Gezer como herança, mas não expulsou os cananeus que ali habitavam (Js 16.10) e a tribo de Manassés, de igual modo, suportou a presença de alguns inimigos (Js 17.12,13), os quais, mais tarde, foram para ambos um laço (Js 23.13). 

Ademais, eram murmuradores: foram reclamar contra Josué pela terra recebida, na verdade, reclamando contra o Senhor (Pv 16.33), alegando que era pequena (Js 17.14-18). Josué, então, disse: “Se tão grande povo és, sobe ao bosque, e ali corta, para ti, lugar na terra [...]” (Js 17.15) e completou: “expelirás os cananeus, ainda que tenham carros de ferrados, ainda que sejam fortes” (Js 17.18). Ou seja, Josué estava dizendo, em outras palavras: Não murmurem, mas sejam fortes e corajosos, e ampliem os seus marcos territoriais.

3. A herança de Josué 

A coragem foi a virtude mais reiterada por Deus ao mais destacado efraimita de todos os tempos: Josué. O imperativo de “sê forte e corajoso” (Js 1.9, ARA) guiou todas as suas ações bélicas, deixando um extraordinário legado aos hebreus. O Senhor sempre o instruiu dessa forma porque sabia que “onde não existe coragem, nenhuma outra virtude pode sobreviver senão por acidente”.9  Lastreado nessa constatação, percebe-se claramente que Josué não apenas foi corajoso, mas também desenvolveu inúmeras virtudes, a ponto de ser considerado por alguns como o “Jesus” do Antigo Testamento.

Nesse diapasão, concluída a partilha da terra para as tribos, foi entregue a Josué a cidade de Timnate-Sera, na montanha de Efraim, segundo o mandado do Senhor (Js 19.49,50), mas essa não era uma linda e adornada cidade. Josué teve que reedificá-la e, só então, habitou nela, fazendo emergir a verdade de que os servos de Deus não são recompensados necessariamente nesta vida por suas atividades em prol do Reino. O Galardão Real, o mais precioso, o mais desejado, não se recebe nesta vida, mas está guardado no Céu. 

III - A Divisão das Terras não Conquistadas

1. O tabernáculo em Siló 

Depois de dividir as terras subjugadas, algumas tribos que ficavam ao redor do tabernáculo saíram de Gilgal e, com isso, Israel armou o tabernáculo em Siló (Js 18.1-6), cidade de Efraim, tendo permanecido lá por cerca de 300 anos, até que, na época do sacerdócio de Eli, a Arca foi tomada pelos filisteus (1 Sm 4.4; Jr 7.12; Sl 78.60).

Em Siló, Josué criticou as sete tribos pela negligência em possuir o restante da terra (Js 18.3) e, como entendia oportuno que os guerreiros das tribos transjordânicas voltassem às suas famílias, nomeou “homens de probidade comprovada que fossem constatar com exatidão a grande fertilidade de todo o país de Canaã, retornando com uma descrição fiel” 10. Por fim, ordenou que dividissem a terra remanescente em sete partes, as quais seriam sorteadas à porta da tenda da congregação (Js 19.51). Tudo seria repartido diante de Deus!

2. Sete tribos recebem o “título de propriedade” da terra

Uma vez realizado o estudo agrimensor, Josué sorteou os territórios de Benjamin, Simeão e Dã, os quais ficaram ligados ao Sul — Judá, e as terras de Issacar, Zebulom, Naftali e Aser fariam fronteira com a herança de Efraim e Manassés, ao Norte. Nada lhes tinha sido entregue, mas eles ficaram satisfeitos.

A divisão da terra da parte inconquistada, do ponto de vista humano, era mais ficção do que realidade, tratando-se apenas de um título de propriedade para o futuro. Tudo isso, porém, pela direção de Deus. Nesse passo, Deus se comprometia, de um lado, em conceder vitória, e Israel aceitava entrar numa longa luta que se seguiria, até adquirir toda a Terra Prometida. Os hebreus, apesar de suas fraquezas, aprenderam a confiar no Senhor. Eles avançaram para o futuro cheios de esperança, mesmo não tendo recebido tudo o que esperavam naquela geração, o que veio a acontecer integralmente somente no auge da monarquia hebraica, durante o reinado de Davi.11 Na verdade, desde sempre, as promessas de Deus estavam de pé, mas eles não se arriscaram em guerrear contra todos os inimigos, em todos os lugares, e, por causa dessa inércia, Josué repreendeu-os severamente.

Os descendentes de Dã, por outro lado, herdaram uma pequena porção de terra, mas não se acovardaram ou murmuraram: subiram e conquistaram Lesém, uma cidade a oeste do monte Hermom, a qual a chamaram de Dã e ali estabeleceram sua capital. Eles foram vizinhos dos filisteus, os quais tiveram muitos problemas com um nobre danita: Sansão (Jz 13–16). O cristão, como os danitas, deve aprender a transformar dificuldades em oportunidades.

3. A herança da tribo de Levi

Desde que a tribo de Levi aceitou o seu chamado, por causa de um ato de obediência (Êx 32.26-28), entendeu que a vida dos seus membros seria diferente da vida dos integrantes das outras tribos. Eles não guerreariam, nem receberiam herança, todavia o Senhor garantiu o sustento deles por intermédio das ofertas que chegassem ao tabernáculo/templo, para que pudessem se dedicar integralmente à obra do ministério.

Deus nunca prometeu riquezas materiais para quem exercesse o santo sacerdócio, apenas disse que Ele mesmo seria a herança dos levitas. Assim, quando da repartição da terra a leste do Rio Jordão, o Senhor determinou que 48 cidades fossem destinadas para os levitas (Js 21.41) dentro da herança das tribos, de maneira que o “bom cheiro” ministerial fosse espalhado em toda Canaã, mas o título de propriedade de cada cidade permaneceria com a tribo respectiva. Os levitas, portanto, eram peregrinos em terra estranha.

Conclusão

Para quem vive pela fé, entender o que Deus tem destinado como herança constitui-se na visão mais importante da vida, o que foi importantíssimo para todo o povo de Israel, pois sem esse entendimento as pessoas não se moveriam juntas para alcançarem os objetivos comuns. 

Destarte, finda a distribuição da terra e há um sentimento misto de alegria e frustração, conquista e negligência, porquanto eles estavam no lugar em que os seus ancestrais tanto almejavam (José, por exemplo, pediu que seus ossos fossem enterrados lá) e tinham recebido o inimaginável para qualquer observador humano, porém isso era bem menos do que o planejamento divino. O líder Josué concluiu sua trajetória ministerial como um homem feliz, não plenamente realizado, uma vez que ainda havia muita terra a conquistar, mas completamente satisfeito em ter sido instrumento do Senhor na Terra. Na vida e na guerra nem tudo ocorre como se planeja, mas é certo que Deus nunca perde o controle dos fatos da história.


1 GRAHAM, Billy. A Caminho de Casa: vida, fé e como terminar bem [tradução Melina dos Santos Revuelta]. São Paulo: Editora Europa, 2012, pp. 24,25.
LEWIS, C. S. Milagres. São Paulo: Vida, 2001, pp. 197, 198. 
3 LIVINGSTON, George Herbert; COX, Leo G.; KINLAW, Dennis F.; BOIS, Lauriston J. Du; FORD, Jack; DEASLEY, A.R.G.. Comentário Bíblico Beacon. 1. ed., vol. 1,  Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 58 
4 BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2008, p. 405. 
5 LEWIS, C. S. A Última Noite do Mundo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018, p. 35. 
6 LEWIS, C. S. Os Quatro Amores. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009, p. 166.
7 ADEYEMO, Tokunboh (editor geral). Comentário Bíblico Africano. São Paulo: Mundo Cristão, 2010,  p. 289. 
8 CHAMPLIN, R. N.. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. 2. ed., vol. 2, São Paulo: Hagnos, 2001,  p. 960.

9 LEWIS, C. S. Surpreendido pela Alegria. 1. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1998, p. 167. 
10 JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 131. 
11 MEARS, Henrietta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. São Paulo: Vida, 1982, p. 84.

Lição 01 - 4º Trimestre 2020 - O Livro de Jó - Adultos.

 

Lição 1 - O Livro de Jó 

4º Trimestre de 2020

ESBOÇO DA LIÇÃO
I – Autoria, Local e Data do Livro de Jó
II – Estrutura Literária do Livro de Jó
III – Natureza e Mensagem do Livro de Jó

OBJETIVOS GERAL DA LIÇÃO
Mostrar que o Livro de Jó é uma poesia inspirada que retrata o dilema vivido por uma pessoa histórica.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS    
I. Mostrar que, a partir das evidências internas do livro, é possível conhecer o contexto no qual Jó viveu;   
II. Especificar o gênero literário e de que forma esse conhecimento ajuda na compreensão do Livro de Jó;   
III. Identificar o propósito e a mensagem do Livro de Jó.

ÉTHOS E PÁTHOS NA MENSAGEM DE JÓ

Pastor José Gonçalves

Não há dúvida de que o tema da sabedoria, como, por exemplo, aquela exposta no livro de Provérbios, passa a ser contrastada com a sabedoria encontrada no livro de Jó. Enquanto Provérbios põe a sabedoria em termos morais, isto é, com o Senhor recompensando os bons e punindo os maus, Jó, por outro lado, contrasta com essa forma de crer. Daniel Estes (2013, p. 336) destaca que 

o propósito maior do livro de Jó é demonstrar que embora a retribuição seja vista como uma verdade geral, a regra da soberania de Deus sobre o mundo não pode ser reduzida a uma fórmula rígida de retribuição. 

Na contramão da Teologia da Retribuição, Jó é um poderoso discurso contra a ideia de que o justo não sofre ou passa por revezes. O livro ecoa aquilo que, tempos depois, o salmista verbalizaria no Salmo 73: “Por que os justos sofrem e os ímpios prosperam?” (ver Sl 73). 

Não há dúvida de que Jó faz contraste com a doutrina da retribuição e demonstra inquestionavelmente a condição humana frente à soberania divina. O Deus de Jó é soberano. Todavia, a sua soberania não deve transformá-lo em um algoz ou carrasco. O livro deixa claro que Ele permite Jó ser testado até o limite último, mas não para provar que era soberano ou mostrar que era Deus, mas, sim, para provar que, mesmo oculto e ficando em silêncio, Ele estava com Jó e amava-o. Em Jó, a graça às vezes está oculta, mas está lá! Foi por amor que Ele reabilitou-o, e não, simplesmente, porque era soberano e podia fazer isso. O Senhor estava interessado no relacionamento com Jó e permitiu o Diabo tocá-lo para mostrar que Jó não servia a Deus por interesse, mas também porque o amava. Nesse aspecto, o livro de Jó levanta-se como um poderoso protesto contra a frieza que o legalismo religioso produzia no universo da fé. O culto a Deus não podia ser explicado em termos de leis ou regras meramente cerimoniais ou até mesmo morais. Elas eram importantes sim, mas não eram tudo. O livro não põe o preceito acima do princípio; não põe em evidência a Lei, mas a graça. Nesse sentido, a religião não é apenas regras, mas, sobretudo, relacionamento. Dessa forma, Jó antecipa-se em muitos séculos àquilo que os profetas pregariam. Assim como Jó, os profetas viam Deus não apenas como ethos, isto é, preceitos ético-morais, mas, sobretudo, pathos, isto é, amor, coração e afeto. Deus não era apenas razão, mas também emoção.

Aqui, a contribuição de Abraham J. Heschel (2012) — sem dúvida, um dos maiores estudiosos do fenômeno profético no antigo Israel — será de grande importância para mostrar que aquilo que em Jó apresenta-se de forma embrionária passa a ganhar corpo e forma nos profetas.i Heschel (1907–1972), um judeu austro-americano, estudou a ocorrência da profecia entre os hebreus e no mundo antigo, e os seus estudos há muito se tornaram referência mundial na pesquisa do movimento profético antigo. Mas é, sobretudo, a sua compreensão da relação existente entre pathos e ethos e como estes norteiam a práxis profética que fornecem uma grande contribuição na compreensão desses importantes personagens da história bíblica. Heschel (1973, vol. I, p. 70) destacou que o estudo da profecia bíblica revela que a experiência dos profetas caracterizava-se pelo que ele denomina de “coparticipação com os sentimentos de Deus, uma simpatia com o pathos divino”. O pathos divino é, portanto, refletido no profeta e, consequentemente, na sua forma de agir. Nesse aspecto, Heschel destaca que a resposta do profeta à inspiração divina é a simpatia que ele demonstra por aquilo que Deus quer e sente e, também, por aquilo que a ele foi revelado. 

Julius Wellhausen (1844–1918) creditou aos profetas a criação do monoteísmo ético no antigo Israel.ii Heschel (1973, vol. II, p. 109), por outro lado, não nega a contribuição dos profetas para o monoteísmo ético, mas destaca que a sua gênese não pode ser atribuída aos profetas clássicos, pois a moralidade já era uma bandeira levantada muitos tempo antes destes. Na análise de Heschel, o perigo dessa abordagem é fazer-se separar o ethos do pathos. Por essa proposta, os profetas seriam simples mensageiros morais em oposição ao cerimonialismo ritual. Para Heschel (1973, vol. II, p. 109), a moralidade “não era a principal característica da mensagem profética”. Para ele, o ethos divino não opera sem o pathos. Heschel (1973, vol. II, p. 110) destaca:

Qualquer pensamento de uma objetividade ou uma auto-subsistência das ideias platónicas, seja a ideia da beleza ou da justiça, é estranha aos profetas. Deus é eternamente pessoal, todo sujeito. Seu ethos e pathos são um. A preocupação com a justiça, a paixão com que os profetas condenavam a injustiça, [estava] enraizada em sua simpatia com o pathos divino. A principal característica do pensamento profético é a primazia da participação de Deus na história. A história é o domínio com o qual as mentes dos profetas estão ocupadas. São movidos por uma responsabilidade para com a sociedade, por uma sensibilidade ao que o momento exige.

Isso é importante, porque, no entendimento de Heschel (1973, vol.II, p. 110), a compreensão dos profetas sobre Deus não se limitava apenas a uma “ideia” sobre Ele, mas a um entendimento dEle. Não era, portanto, um conhecimento advindo de uma investigação teórica. Os profetas não se referiam a Deus como um ser distante e inalcançável, mas como estando sempre próximo e presente. Esse relacionamento íntimo com Deus era, sem dúvida, a fonte da sua inspiração, mas não a única. Dessa forma, a compreensão do propósito de Deus para o mundo vinha da inspiração que vinha dEle e, também, da correta compreensão da história. Heschel (1973, vol. II, p. 116) destaca que “a presença e anseio de Deus falou com eles através das manifestações da história”. Isso significa que os profetas receberam o seu conhecimento primeiramente da inspiração divina que tiveram e, secundariamente, dessa mesma presença divina na história. Heschel (1973, vol. II, p. 119) destaca que essa forma de Deus revelar-se aos profetas caracteriza a relação entre o pathos e o ethos.

Para o profeta, como assinalamos, Deus não se revela numa qualidade de absoluto abstrato, mas num relacionamento pessoal e íntimo com o mundo. Ele não apenas ordena e espera pela obediência; Ele também é afetado pelo que acontece no mundo e reage de acordo. Eventos e ações humanas despertam em alegria ou tristeza, prazer ou raiva. Não é concebido como julgar o mundo e ser separado dele. Ele reage de maneira íntima e subjetiva e, portanto, determina o valor dos eventos. Como é evidente do ponto de vista bíblico, as obras do homem podem movê-lo, afetá-lo, afligi-lo ou, pelo contrário, fazê-lo feliz e contente. Essa noção de que Deus pode ser intimamente afetado, que possui não apenas inteligência e vontade, mas também pathos, define de maneira básica a consciência profética de Deus.

No seu relacionamento com Deus, o homem não se conduz de forma passiva, mas numa forma dinâmica que se constitui um desafio aberto. Não acontece em um mundo de contemplação, mas numa relação apaixonada (Heschel, vol. II, p. 120). Assim sendo, não há, portanto, uma separação entre pathos e ethos, como dois polos em constante oposição ou em movimento dialético. Para Heschel (1973, vol. II, p. 120) “não há uma dicotomia de pathos e ethos, de motivo e norma. Não existe em forma conjunta em oposição; eles implicam-se e presumem-se um ao outro”. Nas palavras de Heschel (1973, vol. II, p. 122):

Não há dicotomia de pathos e ethos, de motivo e norma. Eles não existem em forma conjunta, como estando em oposição; eles implicam e pressupõem um ao outro. O pathos de Deus é ético, já que Ele é a fonte da justiça, e Seu ethos é cheio de pathos porque Deus é absolutamente pessoal, carente de algo impessoal. O pathos, então, não é uma atitude tomada arbitrariamente. Sua lei interna é a lei moral; o ethos é inerente ao pathos. Deus se importa com o mundo e compartilha seu destino. Na verdade, esta é a essência da natureza moral de Deus: Sua disposição para ter uma participação íntima na história do homem.        

Por fim, Heschel (1973, vol. II, p. 123) destaca que a compreensão da teologia do pathos é capaz de mudar o entendimento que se tem dos problemas humanos. Nesse aspecto, a visão do profeta sobre o homem é a mesma que Deus tem desse mesmo homem. Deus está entrelaçado na existência humana, e, dessa forma, aquilo que os homens fazem interessa a Ele. Heschel destaca que “o pecado, a culpa, o sofrimento, não podem separar-se da situação divina. A vida de pecado é algo mais que um fracasso do homem; é a frustração de Deus” (Heschel, 1973, vol. II, p.123). Citando Deuteronômio 10.14-15, Heschel (1973, vol. II, p. 124) destaca que, jamais na história, o homem foi levado tanto a sério como no pensamento dos profetas. Na mente dos profetas, destaca Heschel (1973, vol. II, p. 124),

o homem não é apenas uma imagem de Deus; é a preocupação perpétua dele. A ideia de pathos acrescenta uma nova dimensão à existência humana. Tudo quanto o homem faça, afeta não só a sua própria vida, mas também a vida de Deus na medida em que esta é dirigida ao homem.

A grande contribuição do pensamento de Heschel é que ele não apenas ajuda a resgatar a função da profecia na sociedade hebraica, mas, sobretudo, o verdadeiro sentido da religião — o relacionamento correto com Deus. Assim como os profetas, Jó demonstra que o experimentar Deus é muito mais profundo do que o falar sobre Ele. Nesse aspecto, tanto o pathos como o ethos nos profetas e em Jó, conforme definidos por Heschel, são paradigmas da verdadeira espiritualidade. Em outras palavras, o servir a Deus dá-se em bases relacionais, e não numa forma de barganha do tipo toma lá dá cá. 

Texto extraído da obra “A Fragilidade Humana e a Soberania Divina:O Sofrimento e a Restauração de Jó”.


i  HESCHEL, A. Joshua. Los Profetas, vol. I, II, III. Buenos Ayres: Paidos, 1973.
ii SICRE, J. Luis. Profetismo em Israel:O profeta, os profetas e a mensagem, p. 372. Petrópolis: Vozes, 1996.


Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso no preparo de suas Lições Bíblicas de Adultos. Nossos subsídios estarão à disposição toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não vão esgotar todo o assunto e não é uma nova lição (uma lição extra). Você não pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo. 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Lição 13 - 3º Trimestre 2020 - Um rei muito inteligente! - Berçário.

 

Lição 13 - Um rei muito inteligente! 

3º Trimestre de 2020: Subsídio especial

Objetivo da lição: Proporcionar atividades que permitam à criança saber que Deus nos dá inteligência.

É hora do versículo: “É o Senhor quem dá sabedoria [...]” (Provérbios 2.6).

Nesta lição, as crianças aprenderão, através da história de do rei Salomão que o Papai do Céu nos dá inteligência. Salomão foi o rei mais inteligente que já existiu. Vamos fazer uma coroa bem bonita para ele?

Imprima a folha abaixo e distribua para as crianças enfeitarem o desenho da coroa. Esta coroa será do personagem da nossa história. Ela deve ficar bem bonita. Faça esta atividade depois de realizar todas as atividades propostas no manual do professor e caso haja tempo. Disponibilize papéis picados dourados.

coroa licao13 bercario

Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Verônica Araujo
Editora da Revista Berçário