Lição 8 - O Papel do Líder e a Convivência Cristã
IntroduçãoI - Conselhos à Liderança Cristã;II - Conselho à Juventude;III - Relacionamento entre os Irmãos. Conclusão
Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Conhecer os conselhos de Pedro à liderança cristã;
Conscientizar sobre a importância da obediência dos jovens aos pastores e aos mais velhos;
Mostrar os princípios para o relacionamento saudável entre os irmãos.
Conhecer os conselhos de Pedro à liderança cristã;
Conscientizar sobre a importância da obediência dos jovens aos pastores e aos mais velhos;
Mostrar os princípios para o relacionamento saudável entre os irmãos.
Palavras-chave: Esperança, alegria, crescimento e firmeza.
Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Valmir Nascimento:
Pedro está chegando ao fim da sua primeira carta e, antes de concluir, tem uma palavra pastoral aos membros da igreja, incluindo os líderes, pois sabia da importância do bom preparo dos ministros cristãos na condução do povo de Deus em tempos de angústia. O apóstolo igualmente exorta aos jovens cristãos acerca da necessidade de se submeterem aos líderes e aos mais velhos, assim como conclama todos os crentes a uma vida de humilde convivência.
Veremos que as Escrituras têm orientações para toda a comunidade cristã, do maior ao menor, do mais velho ao mais novo, pois Deus não faz acepção de pessoas. Iremos aprender que quando os irmãos de fé se relacionam de maneira saudável, em mútua submissão e com o afetuoso desejo de servir, criamos uma comunidade fraterna e forte, capaz de suportar as adversidades até a volta de Jesus.
Conselhos à Liderança Cristã
Uma palavra aos presbíteros (5.1)
Ao final de sua epístola, Pedro dirige alguns conselhos especiais aos presbíteros. Apesar de aparentemente desfocada, esta parte conecta-se logicamente com a seção anterior. O fato de o julgamento começar pela casa de Deus (4.17) inspirou o apóstolo a se concentrar na necessidade de pureza do coração perante Deus nos relacionamentos na comunidade da fé, a começar pelos líderes1.
A palavra grega presbytero descreve o título de dignidade dos indivíduos experientes e de idade madura que formavam o governo da igreja local, também chamados anciãos (cf. At 14.23; 20.17; 1 Tm 5.1). No Novo Testamento, as funções de pastor, bispo e presbítero tem a mesma conotação, são homens experientes na fé; vocacionados para atuarem como supervisores da obra de Deus e no cuidado pastoral.
É interessante observar que, apesar da autoridade apostólica, Pedro apresenta-se como um presbítero. Tal postura indica primeiramente a humildade de Pedro, colocando-se na mesma condição dos líderes para quem ele se dirige, atitude bem diferente daqueles que em nossos dias se autoproclamam apóstolos. Em segundo lugar, ao se considerar presbítero, Pedro está deixando claro que as admoestações também se aplicam a ele sem qualquer distinção. Nenhum homem, afinal, está acima do Evangelho!
Apascentando o rebanho de Deus (5.2a)
Recordando possivelmente a ordem que ele mesmo recebeu do Mestre Jesus (Jo 21.16), Pedro admoesta os obreiros a apascentarem o rebanho de Deus (v.2). Nas Escrituras, dada a familiaridade com o pastoreio, a relação entre o pastor e suas ovelhas é usada como uma bela metáfora de amor, cuidado e proteção. Por esse motivo, o salmista Davi declara de modo confiante: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará” (Sl 23.1). Jesus se apresenta como o Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas e por elas dá a sua vida (Jo 10.11-15).
Basicamente, apascentar as ovelhas refere-se às tarefas realizadas pelo pastor no cuidado do seu rebanho. Em primeiro lugar, é responsabilidade do pastor prover alimento e água para suas ovelhas, a fim de que elas não pereçam. Isso significa alimentar a igreja com a Palavra de Deus.
Em segundo lugar, o pastor protege suas ovelhas contra os ladrões e os predadores. Conforme Warren Wirsbe, “o pastor sempre ia adiante do rebanho e explorava a região para ter certeza de que não havia nada ali que fizesse mal às ovelhas. Verificava se não havia cobras, valas, plantas venenosas e animais perigosos”2. O pastor está sempre preocupado com a saúde física e espiritual das suas ovelhas, velando para que não sejam destruídas pelo adversário.
Em terceiro lugar, apascentar significa governar, guiar as ovelhas pelo caminho que devem trilhar. Para isso, é preciso lançar mão de dois instrumentos, a vara e o cajado. A vara serve para corrigir e disciplinar a ovelha rebelde. Enquanto isso, além de ser um instrumento de apoio, o cajado serve para resgatar a ovelha ou trazê-la para mais próxima do pastor.
Em segundo lugar, o pastor protege suas ovelhas contra os ladrões e os predadores. Conforme Warren Wirsbe, “o pastor sempre ia adiante do rebanho e explorava a região para ter certeza de que não havia nada ali que fizesse mal às ovelhas. Verificava se não havia cobras, valas, plantas venenosas e animais perigosos”2. O pastor está sempre preocupado com a saúde física e espiritual das suas ovelhas, velando para que não sejam destruídas pelo adversário.
Em terceiro lugar, apascentar significa governar, guiar as ovelhas pelo caminho que devem trilhar. Para isso, é preciso lançar mão de dois instrumentos, a vara e o cajado. A vara serve para corrigir e disciplinar a ovelha rebelde. Enquanto isso, além de ser um instrumento de apoio, o cajado serve para resgatar a ovelha ou trazê-la para mais próxima do pastor.
O cuidado com as ovelhas (5.2b,3)
É um enorme privilégio alguém ser chamado para o santo ministério. Todavia, pesa sobre o obreiro cristão a grande responsabilidade de cuidar do rebanho, o dever de zelar pelas vidas que foram confiadas por Deus. Pedro dá três solenes advertências sobre o ministério pastoral, contrapondo com três recomendações.
1. Não por força, mas voluntariamente. O sentido básico do conselho de Pedro é que os pastores devem fazer a obra de Deus com boa disposição e ânimo, e não de má vontade. O pastoreio não deve ser visto como um fardo ou um serviço eclesiástico obrigatório, e sim como a execução da vocação divina. Aquele que encara o ministério cristão como uma atividade profissional, tal qual o funcionário desmotivado, realizará suas atividades como se estivesse sendo constrangido a fazê-lo. Não é esse o propósito de Deus para a vida de um obreiro.
Fazer a obra do Senhor com a motivação errada é algo que subverte o sentido da vocação cristã. Cada vez mais torna-se difícil distinguir dentro do mundo religioso a verdadeira chamada para o santo ministério, quando se percebe a busca desenfreada por cargos e posições eclesiásticas. Em seu livro A vocação espiritual do pastorEugene Peterson esclarece que “a idolatria à qual os pastores são notoriamente suscetíveis não é pessoal, mas vocacional, a idolatria de uma carreira religiosa que podemos comandar e controlar”3.
2. Nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto. Jesus ensinou que o trabalhador é digno de seu salário (Lc 10.7). Paulo também escreveu ao jovem obreiro Timóteo: “Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina” (1 Tm 5.17). É consenso entre a maioria dos estudiosos que o termo “duplicada honra” refere-se ao respeito devido aos presbíteros, englobando principalmente a remuneração financeira4. Evidentemente, tal passagem deve ser lida à luz do seu próprio contexto, numa época em que os obreiros não eram integralmente remunerados por suas atividades pastorais. O costume que então vigorava, explica J. Glenn Gould, “era que os líderes da igreja se sustentassem, da mesma maneira que o apóstolo o fazia. Na opinião de Paulo, o bom serviço merece reconhecimento e recompensa. Aquele cujo trabalho era tomado quase todo pelo trabalho da igreja deveria receber mais compensação”5.
O Didaquê, documento que trata do catecismo dos cristãos do século I, dizia: “Assim também o verdadeiro mestre é digno do seu alimento, como qualquer operário. Assim, tome os primeiros frutos de todos os produtos da vinha e da eira, dos bois e das ovelhas, e os dê aos profetas, pois são eles os seus sumos-sacerdotes”.
Chama atenção a ênfase que Paulo dá àqueles que trabalham na palavra e na doutrina. O apóstolo dos gentios está incentivando a valorização do ministério do ensino. Com muito pesar, salvo raríssimas exceções, talvez este seja um dos conselhos bíblicos mais negligenciados em nossas igrejas. Enquanto os pregadores de multidões, os milagreiros e os preletores itinerantes são supervalorizados e até mesmo endeusados, aqueles que se dedicam ao ensino das Escrituras são sistematicamente negligenciados e desprestigiados, tanto no aspecto pessoal quanto na remuneração financeira. Ao que tudo indica, o mestre tem menos valor do que o pregador eloquente, numa clara inversão dos valores bíblicos. Isso explica em parte a tragédia evangélica percebida em nosso tempo, com o crescente analfabetismo bíblico e a enorme falta de consciência cristã.
Seja como for, a Bíblia deixa transparecer que é absolutamente legítimo que o pastor receba pelo seu trabalho no ministério cristão. Entretanto, ela também adverte para o perigo da ganância, o desejo desenfreado pelo rendimento financeiro. Portanto, “o que é proibido não é o desejo de ter remuneração justa, mas o amor sórdido ao lucro”6. Pedro está dizendo com todas as letras que o obreiro não deve fazer a obra de Deus pensando no que lucrarão com isso em termos materiais, mas que o façam no desejo de servir ao Senhor de todo o coração. Aqueles que buscam lucro por meio do ministério cristão não são pastores, são gerentes eclesiásticos. Eles não amam a obra, amam a si mesmos.
3. Nem como tendo domínio (como dominadores) sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. Nos dois conselhos anteriores, Pedro enfocou a motivação interna do pastor, agora ele se dirige ao comportamento exterior. Wayne Grudem informa que o termo traduzido por dominadores (katakyrieuo) significa “governar pela força, subjugar”, transmitindo a ideia de emprego severo ou exagerado da autoridade7. Desse modo, “Pedro está proibindo aqui o domínio arbitrário, arrogante, egoísta ou excessivamente restritivo. Ele dá a entender que os presbíteros não devem liderar fazendo uso de ameaças, intimidação emocional ou ostentação de poder, nem de modo geral pelo uso de força ‘política’ dentro da igreja, mas, sempre que possível, mediante o poder do exemplo”8.
Este conselho de Pedro é uma mensagem poderosa e ao mesmo tempo necessária para a liderança cristã. Embora os líderes tenham autoridade de Deus, não devem abusar do poder que receberam, impondo sobre o rebanho um poder excessivo e autoritário. Eles podem usar a disciplina dentro dos limites bíblicos, mas não devem impor medo; podem exortar e conduzir a ovelha pelo caminho correto, mas não devem, pelo simples poder do cajado, maltratá-las e destruí-las. Aqueles que assim procedem pagarão um alto preço (Jr. 23.1-4).
Alguns obreiros foram tão cegados pelo poder e obcecados pelo prestígio ministerial que acabam se esquecendo destas palavras de Pedro. Eles se esquecem que a igreja não lhes pertence, que ela é herança de Deus, e não sua propriedade particular ou de sua família.
Por causa daqueles que assim procedem vemos um sem-número de ovelhas decepcionadas e perdidas espiritualmente. Foram vítimas de falsos pastores que lhes importunaram, assediaram, abusaram espiritualmente e, em muitos casos, até mesmo sexualmente. Tais condutas não são dignas do ministério cristão, e por isso mesmo não podem nem mesmo serem chamados de pastores, mas de falsários da fé.
O verdadeiro pastor usa a sua autoridade com amor, sabedoria e prudência. Porque ele tem a profunda convicção de em breve, Cristo, o Sumo Pastor, haverá de lhe entregar a coroa de glória! (5.4).
Conselhos à Juventude
Sujeição dos jovens (5.5a)
Na sequência, Pedro volta-se para os jovens: "Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos aos anciãos..." (v.5). Subentende-se pelo conselho de Pedro que a juventude deve obedecer não somente aos líderes religiosos, mas também se sujeitar aos irmãos de fé mais velhos. Por que essa instrução específica destinada aos jovens? Porque, como é comum nessa fase da vida, os jovens tendem a ser mais rebeldes e contestadores. O respeito aos pastores e aos mais velhos é um princípio que vale para todos, mas deve ser recordado com maior veemência na flor da juventude, quando os hormônios afloram e o sentimento de independência costuma despontar.
Apesar das diferenças de uma geração para outra, a juventude em geral é marcada pela formação da consciência crítica e pelos constantes questionamentos. Se não souber amadurecer e aprender a lidar com as suas inquietações, o jovem cairá numa vida de rebeldia e desobediência. Conhecendo o coração do homem, da criança ao adulto, Deus deixou esse lembrete tão preciso em sua Palavra.
Como nunca, a ordem do jovem cristão obedecer ao seu pastor merece atenção em nossas igrejas. A chamada geração do milênio caracteriza-se por sua contraposição às regras, à formalidade e às instituições. Diversas pesquisas sugerem que um alto percentual de jovens da atualidade diz ter fé, mas não querem pertencer a uma religião; afirmam ser espirituais, mas preferem não fazer parte de uma igreja específica. Um número significativo deles têm percepções negativas sobre a igreja e a liderança religiosa.
Diante desse contexto, é responsabilidade da liderança criar um ambiente hospitaleiro, em que os jovens cristãos se desenvolvam como pessoas e amadureçam na fé, para que cresçam na graça e no conhecimento. Essa perspectiva entra em contraste como o modelo de ministério de jovens adotado em muitas igrejas contemporâneas, que entende este trabalho como sinônimo de entretenimento religioso.
James K. Smith, no livro Você é aquilo que ama, chama atenção para esta visão distorcida. O que se entende por ministério para jovens, observou Smith, “muitas vezes não é uma forma séria de formação cristã, mas sim, um esforço pragmático e desesperado de manter os mais jovens como membros de carteirinha de nosso clube evangélico. Temos confundido manter os mais jovens dentro dos prédios com mantê-los ‘em Cristo’”9. Essa é a razão pela qual percebemos a realização desenfreada de eventos cristãos em massa que buscam atrair a juventude, no afã de mantê-los engajados com as atividades eclesiásticas.
Smith destaca que cedemos a formação dos mais moços às liturgias seculares (isto é: do mundo), precisamente quando importamos essas liturgias para dentro da igreja sob o argumento da “relevância”. O resultando é que, “apesar de os jovens estarem presentes em nossos eventos dirigidos a eles, estão na verdade participando de algo veladamente relacionado a visões da boa vida. A própria forma de entretenimento em torno das quais esses eventos são montados reforça um narcisismo e um egoísmo profundos, que são o oposto de aprender a negar a si mesmo e a tomar a cruz (Mt 16.24)”.
Desse modo, apesar da maciça presença entusiasmada dos jovens em tais eventos, “essa participação não está realmente formando seus corações e direcionando seus desejos para Deus e seu reino, uma vez que a liturgia padrão desses eventos são construídas sobre rituais consumistas e sobre ritos de valorização pessoal”10. Segundo Smith, este entretenimento religioso está apenas aumentando a fileira daqueles que dirão: “Senhor, Senhor, nós não comparecemos a todos os encontros, acampamentos e jogos de vôlei em teu nome? (cf. Mt 7.21-23)”.
Qualquer pessoa sensata deverá concordar que vivemos esta realidade. Basta observar que, em sua grande maioria, estes eventos incentivam a criação de celebridades evangélicas e o consumismo religioso, e são “vendidos” como se fossem abalar o mundo e resolver todos os nossos problemas espirituais pela simples experiência participativa. Uma análise cuidadosa e comparativa vai nos mostrar que esse tipo de estratégia em nada difere daquela adotada pelos eventos seculares, pois fornecem, segundo Smith, “um tipo de experiência manipulada e administrada que essencialmente se baseia em estratégicas naturais, ativando as mesmas emoções com os mesmo estímulos, como qualquer concerto, jogo de futebol americano ou reunião de estudantes”11.
Não tenho dúvidas que do ponto de vista social é muito melhor o jovem cristão frequentar um evento cristão como este do que um show popular, por exemplo. Entretanto, uma vida cristã firmada em episódios de experiência emotiva equivale a uma alimentação regada a fastfood: ela sacia a fome imediata, mas não alimenta o corpo com os nutrientes necessários para uma vida saudável e crescente. Embora a diversão sadia faça parte da vida cristã, um ministério que foca somente na distração entre os jovens não será capaz de prepará-los para os desafios da vida e para a experiência plena com o Senhor.
Por tais razões James Smith questiona a propaganda religiosa que equipara o “seguir Jesus” com o mesmo que estar inflamado, empolgado e extrovertido por Jesus. O problema é que aqueles que simplesmente não possuem esse estado de espírito presumirão que não podem ser cristãos, ao menos esse tipo ideal de jovem crente. Nas palavras de Smith: “Se a exuberância de um pastor de jovens cheio de energia for tomada como exemplo, então inúmeros jovens erroneamente concluirão que simplesmente não podem ser cristãos”12. A consequência disso? “Procurando incentivar uma experiência empolgante e divertida para conservar os jovens na fé, acabamos apenas criando consumidores de uma mensagem de Jesus, ao mesmo tempo em que desencantamos diversos jovens que simplesmente não concebem inscrever-se em um clube de atividades de Jesus”13.
Voltando à recomendação de Pedro, a sujeição dos jovens aos pastores e à própria Palavra do Senhor não pode ser o resultado nem da opressão da liderança, nem do entretenimento religioso. A liderança cristã não precisa oprimir os jovens para que sirvam ao Senhor, e também não devem se preocupar em espelhar o mundo na tentativa de cativarem a sua atenção. Até porque, o jovem que vai à igreja, como qualquer pessoa, está cansado do mundo, e quer ver nela algo diferente para a sua vida, e não uma simulação forçada da experiência secular.
A obediência bíblica dos jovens é resultado de uma transformação interior, que o compele a se sujeitar de maneira voluntária. Nesse ponto, a vida em comunidade (não os eventos), a compreensão da verdadeira adoração (não a experiência episódica) e os hábitos espirituais como a oração, a leitura da Bíblia e o jejum são vitais para a formação do jovem cristão. Uma congregação comprometida com a formação de fé dos mais jovens, escreveu Smith, “é uma congregação que os convida desde muito cedo a serem verdadeiro adoradores, envolvendo-os e integrando-os na prática comum de adoração comunitária. Cristãos jovens são alimentados como todos os cristãos: a partir dos meios comuns da graça oferecidos na Palavra e na mesa, na proclamação e nos sacramento”14.
Ao incluir os mais moços em seus conselhos, Pedro demonstra a importância que possuem dentro da comunidade cristã. Apesar da diferença etária, os jovens integram o corpo de Cristo e possuem responsabilidades idênticas a qualquer outro membro. Os jovens não são o futuro da igreja, como afirmam alguns, mas a igreja presente! Assim, o trabalho e o discipulado da juventude envolvem o mesmo repertório de práticas que caracterizam o cristão em geral. “Se nos preocuparmos em ‘conservar’ os jovens na fé, então devemos mantê-los conosco no santuário, em vez de sequestrá-los para alguma parte do prédio”15.
Relacionamento entre os Irmãos
Sujeição mútua e humildade (5.5b,6)
Tendo aconselhado os jovens a se sujeitarem aos anciãos, Pedro prossegue dizendo que todos devem se sujeitar uns aos outros. Agora a recomendação é geral, independentemente da posição ou idade, pois se trata de um princípio para a vida cristã. Como podemos fazer isso? Revestindo-nos da humildade, diz Pedro. Simon Kistemaker explica que “a sugestão é de que os cristãos devem atar a humildade à sua conduta para que todos possam reconhecê-los. Pedro exorta os leitores a amarrarem a humildade a si de uma vez por todas. Em outras palavras, ela deve acompanhá-los para o resto de suas vidas”16.
Há muitas razões que nos impelem como crentes à vida humilde, mas o texto de Pedro deixa transparecer dois motivos essenciais.
A primeira é anunciada no v.5: “porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”. Pedro usa como referência Provérbios 3.34. Ênio Muller afirma que temos aqui o motivo teológico17 para a humildade, mas em termos éticos essa motivação expressa uma perspectiva consequencial.
Noutras palavras, devemos ser humildes porque o resultado final dessa atitude é melhor do que o da soberba. Deus abençoa o humilde, mas resiste ao orgulhoso. Isso porque, como dizia C. S. Lewis, o orgulho é o grande pecado, o pecado fatal. “O homem orgulhoso sempre olha de cima para baixo para as outras pessoas e coisas: é claro que, fazendo assim não pode enxergar o que está acima de si”18.
Deus premia a humildade exatamente porque todo fragmento de orgulho afronta diretamente a Ele e aos seus atributos. A esse respeito afirmou Os Guinness: “o orgulho é a violação e a desordem fundamental do amor, pois põe o amor próprio à frente do amor a Deus. Ele quebra o primeiro mandamento: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento”, e, inevitavelmente quebra o segundo grande mandamento: “Ame o seu próximo como a si mesmo”19.
Assim, escreveu Lewis, se alguém quer admitir a humildade, o primeiro passo é reconhecer o próprio orgulho. “O mínimo que se pode dizer é que, se ele não for dado, nada mais poderá ser feito. Se você acha que não é presunçoso isso significa que você é presunçoso demais”20.
A segunda razão para vivermos em humildade encontra-se no v.6:“Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte”. Em termos éticos, extrai-se daqui um imperativo categórico. Devemos agir humildemente porque Deus assim o diz. Assim como a santidade, a humildade é um dever de todo cristão. Paulo reforça: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fp. 2.3).
Lance toda a ansiedade sobre Cristo (5.7)
Não é fácil manter serenidade e calma diante das dificuldades. O ser humano tem a propensão de se consumir pelos problemas atuais e mais ainda por aqueles que virão. Isso se chama ansiedade: a preocupação excessiva com aquilo que ainda não aconteceu. Sabendo disso, Pedro recomenda uma atitude importante para a nossa saúde espiritual e emocional: depositar toda a ansiedade em Deus, pois Ele cuida de nós e se encarrega das nossas cargas.
Jesus nos prometeu: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Então, por que muitos crentes, apesar de estarem na igreja, ainda vivem sob o peso da ansiedade? Talvez porque insistem em carregar os seus próprios fardos, acreditando que são capazes de suportá-los.
Ocorre que, por mais leve que seja, qualquer carga que tentarmos carregar sem a ajuda divina, será esmagadora. Eis porque Pedro diz que devemos lançar sobre Deus não parte, mas toda a nossa ansiedade. Warren Wirsbe escreveu: “Não se deve lançar as ansiedades sobre ele aos poucos, retendo as preocupações que acreditamos ser capazes de resolver por conta própria. Guardar "pequenas ansiedades" fará com que logo elas se transformem em grandes problemas! Cada vez que surge um novo fardo, devemos, pela fé, lembrar o Senhor (e nós mesmos) de que já o entregamos a ele”21..
É um alento para a nossa alma saber que podemos entregar aos pés de Cristo nossos medos, frustrações e angústias, pois temos a garantia de que Ele cura as feridas da nossa alma.
Resista ao adversário (5.8)
Por fim, Pedro reitera a exortação para que todos os salvos mantenham a sobriedade e a vigilância, pois o inimigo das nossas almas está à espreita, bramando como um leão, querendo nos tragar.
O adversário e seus demônios tentam se aproveitar dos momentos de turbulência para destruir a vida do cristão. A metáfora empregada por Pedro a respeito do leão é pertinente, e faz lembrar que se trata de um predador que ataca de repente e com violência, geralmente quando a vítima, sem nada suspeitar, está envolvida em atividades rotineiras22. O Diabo é astuto e traiçoeiro e sabe que é mais difícil derrotar o crente fiel no campo aberto da batalha, e por isso prefere pegá-los desprevenidos. Ele anda em derredor, aguardando o momento mais propício para destruir a nossa vida.
Como registra o Comentário Bíblico de Aplicação Pessoal: "Quando os crentes se sentem sozinhos, fracos, desamparados, e desgarrados dos outros crentes, eles podem se concentrar tanto nos seus próprios problemas, que se esquecem de vigiar quanto ao perigo. Nestas ocasiões, os crentes são particularmente vulneráveis aos ataques de Satanás, que podem vir sob várias formas, frequentemente atingindo o ponto mais fraco da pessoa - tentação, medo, solidão, preocupação, depressão, perseguição".23
No entanto, em vez de temer o Diabo, o acusador e caluniador, o crente deve vigiar e resisti-lo firme na fé. Em conselho semelhante, Tiago disse para resistir o Diabo e ele fugirá (Tg 4.7b).
Saudação Final
Pedro encerra sua carta com o mesmo tom de esperança, lembrando aos leitores que Deus está no controle de tudo. Podemos viver em esperança porque foi Cristo quem nos chamou à sua eterna glória, e as provações momentâneas simplesmente estão nos aperfeiçoando, confirmando, fortificando e fortalecendo. Nosso caráter está sendo moldado e melhorado no fogo da provação.Por essa razão, apesar da perseguição da igreja e das tribulações nesta terra, devemos como Pedro, tributar toda honra a Deus: A Ele seja a glória e o poder, para todo o sempre. Amém!
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Que Deus o(a) abençoe.
Telma Bueno
Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens
1 GRUDEM, 2016, p. 183.2 WIRSBE, 2007, p. 553.3 PETERSON, Eugene. A vocação espiritual do pastor. São Paulo: Textus, 2006, p. 16.4 ARRINGTON; STRONSTAD, 2015, p. 673.5 GOULD, J. Glenn. As epístolas pastorais. Em: Comentário Bíblico Beacon – vol. 9 – Gálatas a Filemon. Rio de Janeiro: CPAD, 2016, p. 491.6 E. G. Selwyn, citado por KISTEMAKER, 2006, p. 259.7 GRUDEM, 2016, p. 186.8 Idem.9 SMITH, James K. Você é aquilo que ama: o poder espiritual do hábito. São Paulo: Vida Nova, 2017, p. 193.10 Ibid., p. 194.11 Ibid., p. 197.12 Ibid., p. 195.13 Ibid.,p. 195.14 Ibid.,p. 201.15 Ibid., p. 202.16 KISTEMAKER, 2006, p.266.17 MULLER, 1998, p. 259.18 LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 165.19 GUINNESS, Os. Sete pecados capitais. São Paulo: Shedd Publicações, 2006, p. 41.20 Ibid., p. 171.21 WIRSBE, 2007, p. 558.22 GRUDEM, 2016, p. 193.23 Comentário Bíblico de aplicação pessoal: Vol. 2 – Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 734