sábado, 24 de outubro de 2020

Lição 04 - 4º Trimestre 2020 - Saul: Somente ser escolhido não faz a diferença - Jovens.

 

Lição 4 - Saul: Somente ser escolhido não faz a diferença 

4º Trimestre de 2020

INTRODUÇÃO

Neste capítulo, trataremos do primeiro rei de Israel, Saul. Escolhido por Deus e ungido pelo profeta Samuel, Saul teria um futuro brilhante se não resolvesse desobedecer ao Senhor e fazer pouco caso das orientações do Eterno. Saul foi o homem escolhido pelo próprio Deus para inaugurar a monarquia em Israel. Todavia, essa escolha, como qualquer outra, não se torna plena se o escolhido por Deus não faz o que é possível para obedecer à sua vocação. Além da desobediência, ele optou por obedecer ao Senhor parcialmente e viu-se envolvido pelo ciúme e pela inveja. Saul perseguiu Davi, foi atormentado, consultou uma feiticeira e terminou os seus dias de forma triste, dando cabo da sua própria vida. Como veremos, o imenso projeto de Deus não possui predileção por pessoas que desprezam a obediência e que fazem pouco caso daquilo que o Senhor diz. Infelizmente, não são poucas as pessoas que preferem sair do caminho de Deus para seguirem outras trilhas, pagando um preço alto por isso.

 I - UM INÍCIO SOBRENATURAL

A história do início da monarquia em Israel dá-se no livro de 1 Samuel. O livro dos Juízes registra que, após a morte de Josué, não havia uma liderança nacional reconhecida. Os juízes revezaram-se em diversas frentes, mas não como um governo administrativo e organizado. A falta de uma liderança mais centralizada provavelmente despertou nos israelitas o desejo de serem governados por um rei. As outras nações tinham reis que provavelmente organizaram administrativamente os seus Estados. Além disso, os filhos de Samuel, que poderiam dar prosseguimento ao ministério do seu pai, não eram pessoas confiáveis para liderar o povo. Diferentemente do pai, eles eram pessoas que se deixaram corromper, e isso foi um dos motivos que levou os anciãos a pedir a Samuel um rei.

2. Escolhido por Deus

Dizer que Saul não foi escolhido por Deus é uma declaração que precisa ser avaliada à luz das Sagradas Escrituras. De acordo com 1 Samuel, o povo pede um rei (8.5), cumprindo-se o que o Senhor havia predito em Deuteronômio 17, e Ele concede a realização desse pedido (8.22). A prerrogativa da escolha era de Deus. A orientação dada por Ele foi: Quando entrares na terra que te dá o Senhor, teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Porei sobre mim um rei, assim como têm todas as nações que estão em redor de mim, porás, certamente, sobre ti como rei aquele que escolher o Senhor, teu Deus; dentre teus irmãos porás rei sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não  seja  de teus irmãos.  Porém não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito, para multiplicar cavalos; pois o Senhor vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si. (Dt 17.14-17) O Eterno encarregou-se de revelar a Samuel quem seria o primeiro monarca dos hebreus: O Senhor o revelara aos ouvidos de Samuel, um dia antes que Saul viesse, dizendo: Amanhã, a estas horas, te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por capitão sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; porque tenho olhado para o meu povo, porque o clamor chegou a mim (1 Sm 9.15,16). Esses textos deixam claro que o Senhor conduziu as circunstâncias que levaram Samuel a entender que Ele havia escolhido Saul como rei de Israel. O texto ainda diz que Saul seria ungido para trazer livramento ao povo de Deus. Na perspectiva de Eugene Merrill: Conforme muitos estudiosos já observaram, a escolha de Saul foi mais baseada em dons carismáticos, bem mais ao estilo dos juízes, do que na linhagem dinástica normal, caracterizada pela entronização e sucessão. Ele não pertencia a qualquer linhagem especial — veio de uma pequena tribo, a tribo de Benjamim, e era filho de Quis, que embora sendo homem de aparência, certamente não possuía nem podia reivindicar qualquer grau de nobreza. 2 Duas questões precisam ser observadas com cautela no tocante ao que Merrill disse. A primeira é em relação aos dons carismáticos pelos quais Saul foi apontado para ser rei. Estamos falando de uma época em que a profecia e a revelação de Deus aos seus profetas era reconhecida e aceita. Dons carismáticos são apresentados nas Escrituras como uma forma de Deus falar com as pessoas e edificar a sua obra. Foi por meio de uma palavra da parte de Deus que Débora falou com Baraque e convocou-o para a guerra, e a Escritura não coloca em xeque que quem escolheu Saul para ser rei e revelou-o ao profeta Samuel foi o próprio Deus. Os testes para a profecia ser entendida como vinda de Deus eram simples: Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos, porquanto o Senhor, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o Senhor, vosso Deus, com todo o vosso coração e com toda a vossa alma. Após o Senhor, vosso Deus, andareis, e a ele temereis, e os seus mandamentos guardareis, e a sua voz ouvireis, e a ele servireis, e a ele vos achegareis. E aquele profeta ou sonhador de sonhos morrerá, pois falou rebeldia contra o Senhor, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da casa da servidão (Dt 13.1-5) E se disseres no teu coração: Como conheceremos a palavra que o Senhor não falou? Quando o tal profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra se não cumprir, nem suceder 

Ser Escolhido somente não Faz Diferença sim, esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou o tal profeta; não tenhas temor dele. (Dt 18.21,22) Se o profeta levasse o povo a afastar-se do Senhor, ou se profetizasse e não fosse cumprido o que havia falado, era, então, tido por falso profeta. O chamado carismático de Saul estava de acordo com a vontade de Deus, como veremos. A segunda questão, desta vez sobre a ordem dinástica, é o fato de que, para que haja uma dinastia, é necessário que haja uma sequência de reis vindos de um mesmo tronco familiar. Como Israel não tinha anteriormente esse tipo de liderança governamental, Saul foi o primeiro. Sempre é preciso ter um rei iniciando o processo que gerará uma dinastia. No caso de Saul, a dinastia não ocorreu porque Saul foi posteriormente rejeitado por Deus. É possível que Merrill esteja fazendo uma análise da perspectiva das nações em torno de Israel que poderiam ter dinastias. Entretanto, Saul foi o primeiro dos reis hebreus e, se tivesse permanecido obedecendo às orientações do Senhor, seria também o primeiro rei de uma dinastia. O certo é que Samuel, na escolha de Saul por Deus, atuou obedecendo orientações divinas, e rejeitar tal fato no processo de interpretação do texto é o mesmo que desprezar a própria orientação do Senhor a Samuel.

3. Sinais da sua Vocação

Para entendermos a importância do chamado de Saul, é preciso ver o que Samuel fala acerca da sua escolha. Entendemos que o Senhor não apenas falou com o profeta, certificando ao homem de Deus que aquela era a orientação divina. O próprio escolhido, Saul, precisava entender que fora chamado por Deus, e o Eterno deu-lhe claras mostras de que Ele estava conduzindo o início da monarquia em Israel por meio de Saul. Para Samuel,

 “[...] o Senhor o revelara aos ouvidos de Samuel, um dia antes que Saul viesse, dizendo: Amanhã, a estas horas, te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por capitão sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; porque tenho olhado para o meu povo, porque o clamor chegou a mim (1 Sm 9.15,16). 

Na sequência, após ser relatado que o Senhor havia falado com Samuel no dia anterior, ocorre o cumprimento do que Ele havia dito: 

E, quando Samuel viu a Saul, o Senhor lhe disse: Eis aqui o homem de quem já te tenho dito. Este dominará sobre o 52 | Os Bons e Maus Exemplos meu povo. E Saul se chegou a Samuel no meio da porta e disse: Mostra-me, peço-te, onde está aqui a casa do vidente. E Samuel respondeu a Saul e disse: Eu sou o vidente; sobe diante de mim ao alto; e comei hoje comigo; e pela manhã te despedirei e tudo quanto está no teu coração to declararei (1 Sm 9.17-19).

Saul, em seguida, recebeu um lugar de honra numa refeição em que Samuel havia convidado 30 homens (1 Sm 9.22, 23). Porém Samuel tomou a Saul e ao seu moço e os levou à câmara; e deu-lhes lugar acima de todos os convidados, que eram uns trinta homens. Então, disse Samuel ao cozinheiro: Dá cá a porção que te dei, de que te disse: Põe-na à parte contigo. Após isso, Samuel diz que Saul foi escolhido por Deus (1 Sm 10.1) e acrescenta que as jumentas de Quis, pai de Saul, foram achadas (1 Sm 10.2). O motivo da empreitada de Saul chegara ao fim, mas a de Deus ainda não. Saul, após ser ungido, encontraria um grupo de profetas, juntar-se-ia a eles e profetizaria logo em seguida, tornando-se, assim, um novo homem (ver 1 Sm 10.5-7). A orientação divina era que, após esses sinais serem cumpridos, Saul saberia que o Senhor era com ele (1 Sm 10.7). Esses sinais seriam cumpridos no mesmo dia (1 Sm 10.9). Ou foram obra do acaso e de uma manipulação dos “dons carismáticos” de Samuel, ou foi o próprio Deus que conduziu cada detalhe para assegurar a Saul que a vontade do Eterno é que o benjamita fosse rei. A verdade é que o Senhor não apenas escolheu Saul, como também mostrou por sinais que Ele estaria com o primeiro rei de Israel. Saul, com tantos sinais, ainda assim teve dificuldades de ser visto imediatamente como um escolhido do Senhor. Não havia escolas para reis. Não houve sequer um rei de Israel antes de Saul. Ele precisou confiar e depender de Deus. Infelizmente, essa confiança e dependência duraram pouco no seu reinado. 

II – ERRANDO NO MEIO   

1. Uma Chamada Promissora?

Após ser ungido rei de Israel, Saul iniciou o seu reinado com uma campanha militar. Um homem chamado Naás, amonita, sitiou Jabes-Gileade e propôs que faria aliança com os homens daquela localidade caso eles Saul – Ser Escolhido somente não Faz Diferença | 53 arrancassem, cada um, o seu olho direito. Assim, a afronta cairia sobre Israel, uma forma de dizer que as localidades em Israel não estavam seguras e que qualquer um poderia tomá-las, pois não havia rei em Israel. A mutilação daqueles homens seria uma grande vergonha para a nação. Para que tal não acontecesse, a notícia dessa afronta chegou até Saul (1 Sm 11.6,7). A didática de Saul foi bem simples. Enviar pedaços de carne às tribos de Israel com aquela mensagem foi convincente. A resposta do povo foi à altura da afronta lançada. Saul reuniu mais de 300 mil homens, que atacaram os sitiantes amonitas e livraram Jabes-Gileade. O gosto da vitória foi tão grande que “todo o povo partiu para Gilgal, e levantaram ali rei a Saul perante o Senhor, em Gilgal, e ofereceram ali ofertas pacíficas perante o Senhor; e Saul se alegrou muito ali com todos os homens de Israel” (1 Sm 11.15). A vitória na campanha contra os filhos de Amom indicava que a monarquia em Israel havia começado bem. O Senhor abençoou com uma vitória a primeira guerra travada por Saul, e a sua liderança começou a ser reconhecida pelos hebreus. Como menciona Katie McKoy, Saul, ainda humilde, deu a Deus a glória pela vitória de Israel sobre os amonitas (vv 12, 13). Gilgal, como local onde os filhos de Israel puseram pela primeira vez os pés na Terra Prometida e erigiram um monumento a Deus pela libertação deles da escravidão do Egito (Js 4.19, 20), era um lugar apropriado para a celebração da vitória deles. Mas eis que Saul, posteriormente, deixou-se levar pelo seu próprio entendimento. Em todo momento de guerra, soldados precisam estar alimentados para que possam manter-se em combate e dificultar as coisas para o inimigo. Numa situação de guerra seguinte, Saul conjurou uma maldição a qualquer soldado do seu exército que se alimentasse naquele dia e condenou à morte o próprio filho, Jônatas, que não sabia da ordem do rei. Por misericórdia de Deus, Jônatas foi poupado pelo povo. Saul era dotado de uma séria falha de personalidade. Ele se inclinava a decisões precipitadas, quando sob pressão. Isso evidenciou-se no episódio em que Jônatas, seu filho, comeu um pouco de mel encontrado no campo, sem saber que seu pai impusera uma maldição a quem comesse algo durante a batalha. Isso provocou uma crise de autoridade e, quando o exército tomou o lado de Jônatas, para que ele não fosse vítima de uma palavra precipitada do rei, a crise de autoridade tornou-se uma crise de confiança, e Saul foi o perdedor.

2. Uma Desobediência Completa 

Passado um ano do seu reinado, Saul entrou numa nova empreitada: lutar contra os filisteus. Os antigos inimigos de Israel armaram um combate contra os hebreus, e Saul deveria aguardar o retorno de Samuel para que o sacerdote oferecesse holocaustos ao Senhor e fossem ao combate. Entretanto, a impaciência de Saul foi mais forte que o seu senso de respeito pelo que Deus orientara. Ele mesmo ofereceu sacrifícios (1 Sm 13.9,10). O problema maior não era os filisteus no campo de batalha, e sim a precipitação do rei de Israel (1 Sm 13.13,14).

3. Uma Obediência Parcial

Em outra ocasião, o Senhor havia dito a Saul, por intermédio de Samuel, que o rei aniquilasse os amalequitas. Aquele povo seria julgado por Deus por causa dos seus maus procedimentos contra os filhos de Israel, e Saul recebeu a ordem para destruí-los. Mas o que o rei de Israel fez? Poupou o rei e separou o gado para oferecerem um “sacrifício” ao Senhor. Acontece que Deus não tinha pedido nada daquilo. A resposta do Eterno para Samuel foi: “Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir e não executou as minhas palavras” (1 Sm 15.11). Saul até tentou apresentar desculpas para a sua atitude, só que o peso do seu julgamento é visto nas palavras de Samuel em 1 Samuel 15.22,23. 

4. O Cântico das Mulheres 

Outro cenário triste na vida de Saul e que mostra o quanto ele era suscetível à mudança de humor foi quando, após a morte de Golias por Davi, chegando este da batalha, mulheres receberam-no juntamente com os combatentes do rei com danças e um cântico bem distintivo: “Saul matou milhares, mas Davi matou dez milhares!”. Ao que parece, Saul não se sentiu incomodado com a vitória de Davi sobre Golias. O que Saul não gostou foi do canto das mulheres após a vitória de Davi sobre gigante, pois a música que cantavam atribuiu um valor maior para a vitória do adolescente e, consequentemente, uma vitória menor para o rei (1 Sm 18.6-9). Imagina a cena: Você chega do combate, e vêm mulheres cantando e dançando ao seu encontro com uma forma de celebração patriótica comum naqueles dias. É provável que o tipo de música que elas cantavam obrigasse-as a ficarem divididas em dois grupos, onde um grupo cantava que Saul havia matado milhares, e o outro respondia que Davi havia matado dez vezes mais. Esse tipo de manifestação deixou o rei de Israel bastante irritado. Pouco antes da batalha contra Golias, o Senhor já havia dito a Saul duas vezes que ele havia sido rejeitado por ter desobedecido a Deus (1 Sm 13.13,14 e 15.23). A mente irritada do rei fez as devidas contas: “O que falta para esse moço, senão o reino?”. O que Saul não percebeu é que o mesmo Deus que o escolhera já havia escolhido também o seu sucessor.

III – UM FIM DESASTROSO PARA O PRIMEIRO REI DE ISRAEL    

1. O Preço de não se Ouvir e Obedecer a Deus 

Deus claramente nos concede o poder da escolha, mas igualmente as consequências da responsabilidade. Ele não nos fez pessoas sem entendimento ou volição. Ter a capacidade de escolher obedecer ao Senhor ou não em nada fere a soberania de Deus, pois Ele permanece soberano. Quem perde a oportunidade de ser usado por Deus é quem rejeita o projeto divino para a sua vida. O destino de Saul estava decretado. A chance que ele tivera no governo foi mal aproveitada, e ele seria substituído. 

2.Buscando Respostas no Mal

Saul, diante da batalha contra os filisteus, que seria a sua última, resolve procurar uma feiticeira para que lhe servisse de mediadora com o sobrenatural. Ele havia consultado ao Senhor, mas não obteve respostas por nenhuma das formas costumeiras (1 Sm 28.6). O preço a ser pago pela desobediência na liderança do povo de Deus foi o silêncio do próprio Senhor para com o rei. É intrigante saber que o silêncio de Deus não fez Saul busca-lo e obedecê-lo. Lamentavelmente, não são poucos os que buscam respostas de Deus sem querer buscar na mesma medida a sujeição aos desígnios dEle. 

3.O Perigo da Feitiçaria 

Não se pode ignorar que a feitiçaria não é uma prática nova. As sociedades antigas tinham os seus feiticeiros, e eles utilizavam-se dela para obter os seus desejos ou prejudicar pessoas tidas por desafetas. William Barclay comenta sobre a feitiçaria no primeiro século da era cristã: 

Feitiçaria(s); Mar.: magia. A palavra farmakeia seguiu um processo de degeneração no significado. Farmakon é uma droga, e farmakeia é o uso de drogas. Há três etapas no significado da palavra. Farmakeia é usada como uma palavra médica sem o menor mau sentido. Platão fala dos diferentes tipos de tratamento médico; a cauterização, a incisão, o uso de drogas, a privação dos alimentos (Platão: Protágoras 354 A). Dá sua própria opinião de que as doenças não perigosas nunca devem ser complicadas ainda mais pelo uso de drogas (Platão: Timeu 89 B). A esta altura, farmakeia é simplesmente uma palavra médica para uso medicinal das drogas. ii. A palavra passa, então, a denotar o abuso das drogas, ou seja: o uso de drogas para envenenar e não para curar. Assim, lemos acerca da lei a respeito do envenenamento (Platão: Leis 933 B), e Demóstenes acusa um homem mau de envenenamento e de todos os tipos de vilezas (Demóstenes 40.57). Este é o começo do mau sentido da palavra. iii. Por fim, a palavra assume o significado de feitiçaria e bruxaria. É usada, por exemplo, repetidas vezes para os feiticeiros e mágicos egípcios que competiam com Moisés quando Faraó não queria deixar Israel ir (Êx 7.11, 22; 8.18; Sab. 7.12; 18.13); a magia, bruxaria e feitiçaria são pecados por causa dos quais Isaías prediz a destruição da Babilônia pela ira de Deus (Is 47.9, 12). A palavra completou um círculo inteiro. A partir do significado de uma droga que cura, veio a significar um envolvimento vicioso e maligno na bruxaria e feitiçaria. O cristianismo desenvolveu-se numa era em que o uso da feitiçaria e das artes mágicas era generalizado, e frequentemente com intenções criminosas. Sabemos pouca coisa, ou nada, no tocante à feitiçaria, bruxaria e magia nos primeiros séculos da literatura grega. Plínio tem uma história que diz que a magia foi introduzida na Grécia por certo persa chamado Óstanes nos tempos das guerras persas (Plínio: História Natural 30.1). A primeira referência à feitiçaria criminosa acha-se nos discursos de Demóstenes. No discurso contra Aristogeiton refere-se a Teoris de Lemnos, “a feiticeira imunda”, que foi devidamente executada por causa dos seus maus caminhos. Em Roma, já nos dias das Doze Tábuas, achamos um regulamento que Saul – Ser Escolhido somente não Faz Diferença | 57 proíbe a danificação das colheitas alheias mediante a feitiçaria (Sêneca: Questões Naturais 14.7). Mas foi perto do fim do Império que a magia se generalizou em Roma. J. R. Mozley escreve: “É impossível negar que neste período, tentativas eram feitas no sentido de lesar inimigos e obter vantagens particulares por meios sobrenaturais, de tal maneira que a magia era exibida como prática realmente malévola, senão também maléfica” (Artigo sobre Superstitio, em W. Smith: Dictionary of Greek and Roman Antiquities). Não são poucas as inscrições em túmulos para homenagear as pessoas cuja morte, segundo se declarava, tinha sido provocada pela magia. Uma delas diz: “Eunia Fructuosa jaz aqui. Morreu de modo imerecido. Paralisada por sortilégios, ficou deitada por longo tempo, de modo que seu espírito foi torturado violentamente até sair dela, antes de ser devolvido à Natureza. Os Fantasmas ou os deuses celestiais serão os vingadores deste crime” (C.I.L. 2756).5 Como se fosse pouco, Saul chegou a usar o nome de Deus para garantir que não iria punir a feiticeira que o atendeu: Eis que tu saber o que Saul tem feito, como tem destruído da terra os adivinhos e os encantadores; por que. Pois, me armas um laço à vida para me fazer matar? Então Saul lhe jurou pelo nome do Senhor, dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevirá por isso (1 Sm 28.9,10). 

4. O Fim de um Reinado 

Saul termina a sua história dando fim à própria vida. Após deixar de ouvir as orientações de Deus, ele viu-se sozinho e cercado por inimigos. Perdeu três dos seus filhos na batalha e tirou a própria vida, dando fim à sua história de forma triste. Termina, assim, a história do primeiro rei de Israel, um homem escolhido pelo Senhor, mas que se perdeu no caminho por causa da desobediência. 

CONCLUSÃO 

Ser escolhido por Deus para uma obra ou ministério não nos isenta de andar conforme os padrões de Deus. Saul obteve do Senhor uma cha 5 BARCLAY, William. As Obras da Carne e o Fruto do Espírito. São Paulo: Vida Nova, pp. 35,36. 58 | Os Bons e Maus Exemplos mada, e sinais seguiram-se de que Deus havia-o escolhido. Entretanto, o que o fez perder o reino aos olhos do Eterno foi não andar de acordo com as orientações do Senhor. Não basta ter uma chamada de Deus. É preciso ser obediente a Ele em todo o tempo, pois isso certamente garantirá a presença e a orientação dEle conosco. A história de Saul poderia ter tido um final diferente. Ele poderia ser lembrado como um rei obediente a Deus e temente aos seus desígnios. A honra que ele recebeu para realizar a transição entre o período dos juízes e a monarquia foi obscurecida pela sua desobediência, pela precipitação, por inveja e por buscar o mal. Que possamos entender que ser vocacionado pelo Senhor tem o seu preço e que a obediência imediata às ordens de Deus e a comunhão com Ele garantem que sejamos bem-sucedidos em todos os nossos empreendimentos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Lição 03 - 4º Trimestre 2020 - Papai do Céu ouve o meu louvor - Berçário.

 

Lição 03 - Papai do Céu ouve o meu louvor 

4º Trimestre de 2020

Objetivo da lição: Levar os alunos a entender, por intermédio das atividades e da historinha, que Deus escuta o louvor das crianças.

É hora do versículo: “[...] O louvor dado a ti chega até o céu e é cantado pelas crianças e pelas criancinhas de colo [...]” (Salmos 8.1,2).

Nesta lição, as crianças aprenderão que o Papai do Céu é grande, poderoso e ouve o nosso louvor. O Papai do Céu fica muito feliz quando uma criança o louva.

Estimule que seus alunos a louvarem ao Senhor, cantando bem alto lindos corinhos que lhes são ensinados.

Como complemento para esta lição, após realizar todas as atividades propostas no manual do professor, e caso ainda haja tempo, sugerimos que distribua a imagem abaixo para as crianças colorirem o bebê que está cantando, louvando ao Papai do Céu.

licao3 bebecantando bercario 

Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Verônica Araujo
Editora da Revista Berçário

Lição 03 - 4º Trimestre 2020 - Arão e Hur ajudam Moisés - Maternal.

 

Lição 3 - Arão e Hur ajudam Moisés 

4º Trimestre de 2020

Objetivo da lição: Conscientizar as crianças de que todos carecemos da ajuda uns dos outros, e mostrar-lhes que orar por alguém é uma forma de ajuda. 

Para guardar no coração: “Ajudem uns aos outros e assim vocês estarão obedecendo [...]”  (Gl  6.2).

Seja bem-vindo

“Um clima emocional positivo deve ser criado logo na recepção das crianças, para que se sintam bem durante toda a aula. Receba-as com alegria e calma. Um professor nervoso, que chegou atrasado e ainda está ocupado na arrumação da sala não é uma boa coisa. Elas devem encontrar um ambiente de ordem e sossego, e ao mesmo tempo bonito e alegre.

Seja atencioso ao cumprimentar os alunos que vão chegando, e note pequenos detalhes em sua aparência, como uma bolsinha na mão da menina, um corte de cabelo do menino, uma peça nova no vestuário, etc. Encontre algo a elogiar em cada um deles. Algumas crianças chegam com novidades todos os domingos; outras, com menos recursos, quase nunca têm algo novo a mostrar. Mas certamente têm um cabelo, um nariz, um sorriso, ou um comportamento bonito, que você deve sempre admirar” (Marta Doreto).

Subsídio professor

“Porque os alunos do maternal não conseguem pintar direito os bonitos desenhos que lhes oferecemos?

Simples: os seus músculos maiores (pernas, braços, etc) ainda estão em desenvolvimento, e conseqüentemente os músculos mais finos ainda não se desenvolveram o suficiente, nem os seus reflexos mais delicados foram estabelecidos.

Por isso, não têm controle do lápis ou giz de cera, e só fazem rabiscar por cima do desenho, em vez de colori-lo dentro das linhas.

Isto não significa que não devamos dar-lhes figuras para colorir. Elas são um importante meio de fixação da história e da mensagem. Mas devem ser simples, sem muitos detalhes, uma vez que as crianças do maternal – principalmente as mais novas – focalizam apenas uma imagem por vez” (Marta Doreto).

Atividade do aluno

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Até logo

Depois de repetir o versículo e o cântico do dia, encerre a aula com uma oração. Prepare as crianças para a saída. Quando os pais ou responsáveis forem buscar as crianças, recomende que, em casa, leiam a história bíblica de hoje para o(a) filho(a). Sugira que utilizem uma bíblia infantil. O texto bíblico da lição se encontra em Êxodo 17.8-16. 

Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Telma Bueno
Editora Responsável pela Revista de Maternal 

Lição 03 - 4º Trimestre 2020 - O Amigo que Subiu na Árvore - Jd. Infância.

 

Lição 3 - O Amigo que Subiu na Árvore 

4º Trimestre de 2020

Objetivos: Os alunos deverão saber que o Papai do Céu se aproxima e abençoa quem busca passar tempo com Ele; e aprender que quem aceita a Jesus tem o coração transformado e não quer mais viver em pecado (errando), mas sim, obedecendo à sua Palavra. 

É hora do versículo: “Cheguem perto de Deus, e ele chegará perto de vocês! [...]” (Tg 4.8).

Nesta lição, as crianças aprenderão, através da história de Zaqueu, que ele subiu em uma árvore para estar mais perto de Jesus. O Papai do Céu abençoou e transformou o coração de Zaqueu para ele não mais fizesse coisas erradas.

Após realizar todas as atividades propostas na revista do professor e caso haja tempo, imprima a folha abaixo com o desenho ilustrando o momento do encontro entre Jesus e Zaqueu. Reforce com as crianças que Jesus vê além das aparências. Ele viu em Zaqueu um coração arrependido que precisava de salvação. 

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Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Verônica Araujo
Editora da Revista Jardim de Infância

Lição 03 - 4º Trimestre 2020 - Uma história sobre alguns peixes - Primários.

 

Lição 3 - Uma história sobre alguns peixes 

4º Trimestre de 2020

Objetivo: Que o aluno compreenda que somente os justos herdarão o Reino de Deus.

Ponto central: Os justos servem a Deus com sinceridade.

Memória em ação: “O Senhor conhece as pessoas que são dele” (2 Tm 2.19a)

 Querido (a) professor (a), primeiramente parabéns pelo seu dia celebrado nesta semana, em 15 de outubro. Que vocação árdua e honrosa a de ensinar. Principalmente valores tão ricos como os contidos na Palavra de Deus. Que Jesus continue os abençoando e recompensando em todas as áreas de suas vidas aqui na terra. Contudo, certamente o maior galardão virá do Senhor na eternidade.

Os mestres sábios, aqueles que ensinaram muitas pessoas a fazer o que é certo, brilharão como as estrelas do céu, com um brilho que nunca se apagará”. (Daniel 12.3 NTLH)

No próximo domingo nossa aula será embasada na passagem de Mateus 13.47-52. Jesus, o Mestre dos mestres, usou uma história com elementos muito inseridos no dia a dia daqueles ouvintes, para que assim eles compreendessem com profundidade a lição, de forma que tal conhecimento e entendimento ficassem claros e enraizados. Falando a pescadores e pessoas próximas ao mar e à rotina desses trabalhadores que melhor analogia Jesus poderia fazer do que esta da pesca e separação dos peixes bons e maus, presente na “Parábola da Rede”?     

Seguindo o exemplo do nosso mais brilhante professor, que tal fazer o mesmo, contextualizando as crianças com a parábola? Além de suas atividades propostas na revista, sugerimos para tal objetivo, outra versão do jogo da pescaria.     

Divida a turma em dois ou três grupos, de acordo com a quantidade de presentes e tamanho do jogo a ser utilizado. Dê a cada grupo pouco tempo para pescarem a maior quantidade de peixes possíveis. Porém, ao final da pescaria de todos, só vai pontuar os peixes que forem bons. Para assim identificá-los, você pode inserir dentro ou na cauda deles (onde as crianças não verão a princípio) um sinal: um coração preto (representando o mal do pecado) ou um branco (representando a bondade e justificação de Jesus).     

Abaixo seguem alguns exemplos e materiais que você pode utilizar, de acordo com sua criatividade e preferência. A maioria utiliza o clipe de papel (dentro do feltro, ou na ponta/boca do peixinho de E.V.A. ou cartolina), pois este é atraído pelo imã na ponta da vara de pesca.

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 Fonte das imagens: Pinterest 

As crianças adoram. E além de se divertirem, compreenderão melhor o que Jesus queria explicar sobre os ímpios e os justos só serem separados no final, no dia do Juízo. Portanto, até lá precisamos manter nosso coração puro, sendo cada dia mais aperfeiçoado por Jesus.

O Senhor lhe abençoe e capacite! Boa aula.

Paula Renata Santos
Editora Responsável pela Revista Primários da CPAD 

Lição 03 - 4º Trimestre 2020 - Isaque, um filho obediente - Juniores.

 

Lição 3 - Isaque, um filho obediente 

4º Trimestre de 2020

Texto bíblico – Gênesis 22.1-8.

Prezado(a) professor(a),

Na lição desta semana seus alunos aprenderão importantes lições através do exemplo de Isaque, o filho de Abraão. O episódio mais marcante na história de Isaque é o momento em que Deus pede ao seu pai que o oferecesse em sacrifício sobre o monte Moriá. Embora a história não revele detalhes se Isaque entendeu o que estava acontecendo, fica evidente a sua disposição em obedecer às ordens de seu pai no tocante ao sacrifício. Isaque descansou nas palavras de Abraão e confiou que ele sabia o que estava fazendo quando o questionou sobre o sacrifício: “Abraão respondeu: — Deus dará o que for preciso; ele vai arranjar um carneirinho para o sacrifício, meu filho. E continuaram a caminhar juntos”. A submissão de Isaque tem muito a nos ensinar no tocante ao nosso relacionamento com Deus.

Em primeiro lugar é importante que seus alunos saibam que Deus é bom. Talvez para os adultos seja natural compreender que Deus estava testando a obediência de seu servo, Abraão. Entretanto, para as crianças é preciso explicar com maiores cuidados a fim de que eles não cresçam com uma visão deturpada da imagem de Deus. O mesmo Deus que proveu o carneiro a seu servo Abraão foi o mesmo que proveu tudo o que ele precisava para ser bem sucedido nas terras de sua peregrinação.

Outro aspecto relevante é a submissão de Isaque às ordens de seu pai. Ele não replicou quando Abraão ordenou que preparasse as coisas bem cedo para ir em direção ao Monte Moriá. A obediência de Isaque é entendida por muitos estudiosos como figura da obediência de Cristo quando se entregou para morrer na cruz do Calvário por amor à humanidade (cf. Lc 22.41,42). Este entendimento se encaixa perfeitamente, tendo em vista que o carneiro que Deus proveu naquela ocasião lembra exatamente a forma como o Senhor proveu Jesus Cristo para nos substituir na cruz: “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (cf. Jo 1.29). A pena de morte era merecida para cada um de nós, porém o nosso Mestre Amado, o Unigênito Filho de Deus, morreu em nosso lugar.

A submissão de Isaque ensina muito a respeito de confiar e depender de Deus em qualquer circunstância, pois assim como Abraão sabia o que estava fazendo, Deus também sabe o que está a realizar em nossas vidas quando nos pede alguma coisa. Ele mesmo é quem provê tudo o que precisamos para obedecê-lo. O comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal (1995, p. 64) discorre a respeito da provisão divina:

Deus proverá. ‘Deus proverá’ (hb. ‘Jeová-Jiré’. V. 14), é uma expressão profética da providencia divina de um sacrifício substitutivo, um carneiro (v. 13). O cumprimento pleno da declaração de Abraão realiza-se quando Deus provê seu Filho Unigênito para ser o sacrifício expiador no Calvário, para a redenção da humanidade. Daí, o próprio Pai celestial fez aquilo que Ele determinou que Abraão fizesse (Jo 3.16; Rm 5.8-10; 8.32).

Isaque era certamente um jovem nessa ocasião, perfeitamente capaz de resistir a seu pai, se assim quisesse. Mas, em total submissão a Deus e obediência ao seu pai, permitiu ser amarrado e deitado sobre o altar, assim como Jesus voluntariamente foi até a cruz.

Deus se agrada da submissão, ainda mais quando esta vem de um coração sincero e desejoso de obedecê-lo. Aproveite para realizar a atividade a seguir com seus alunos: divida a classe em duplas. Um dos alunos da dupla deverá ser vendado. Organize um trajeto na sala de aula e coloque alguns obstáculos. Você pode utilizar as cadeiras, mesas e outros objetos que deverão ser deixados ao longo do caminho. Um dos alunos da dupla dirá em qual direção o aluno vendado deverá seguir. É um verdadeiro teste de confiança! Vence a brincadeira a dupla que conseguir chegar ao final do percurso em menos tempo. Ao final da atividade, explique que às vezes o Senhor nos guia por caminhos bem difíceis que aos nossos olhos parecem ser impossíveis de percorrer devido à quantidade de obstáculos que encontramos pela frente. Mas se prestarmos atenção somente na voz de Deus e nos submetermos à sua vontade, Ele nos guiará pela direção certa para que cheguemos até o final do trajeto. 

Tenha uma excelente aula! 

Lição 03 - 4º Trimestre 2020 - Jesus Vai ao Templo - Pré Adolescentes.

 

Lição 3 - Jesus Vai ao Templo 

4º Trimestre de 2020

A lição de hoje encontra-se em: João 2.13-22.

Olá prezado(a) professor(a),

Na lição desta semana seus alunos aprenderão um pouco mais sobre o templo como um local de comunhão, ensino e adoração. Nos tempos de Jesus os líderes religiosos não tinham esse temor e não respeitavam o espaço que Deus havia reservado para adoração. Muitos tratavam as coisas de Deus de qualquer maneira. Jesus, sendo o Filho de Deus enviado a este mundo, não poderia aceitar que a Casa de seu Pai se tornasse um covil de ladrões. Isso explica a sua indignação e protesto contra as práticas cambiais e comerciais que aconteciam no templo.

Antes de tratarmos sobre o comércio no templo é imprescindível compreender o propósito de Deus para este espaço que Ele reservou. O templo era o local mais importante do território de Israel. Ali o Senhor havia se comunicado com os reis e sacerdotes em momentos importantes da história do povo hebreu. Como os líderes religiosos dos dias de Jesus poderiam tratar aquele espaço com total desrespeito? Isso era inaceitável.

Além de ser um lugar de relacionamento com Deus, o templo era também um espaço de aprendizado e crescimento espiritual. Era no templo que os meninos da idade de doze anos, aproximadamente, tornavam-se “filhos do mandamento”. O próprio Jesus foi encontrado no templo, conversando com os doutores da lei, ouvindo e interrogando sobre grandes verdades a respeito do Reino de Deus (cf. Lc 2.46,47).

Mas o que chama atenção neste episódio é o fato de que havia um comércio na Casa de Deus. Em nenhum ponto das Escrituras é possível encontrar alguma recomendação no tocante a permitir-se ou orientar o comércio no templo. Esse tipo de prática é fruto do afastamento dos lideres religiosos da presença de Deus. Homens que carregavam o nome da religião judaica e conheciam bem a lei e os costumes, porém seus corações estavam afastados de Deus.

Note que apesar de desejar a salvação daqueles homens, Jesus não deixou de manifestar a sua indignação com a atitude deles e foi bem claro com relação ao que mais estava provocando tristeza no coração de Deus: “— Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado!” Transformar a Casa de Deus em comércio significava trocar a adoração a Deus, que deveria ser a prioridade de quem o serve, para ganhar alguma vantagem ou privilégio por meios indevidos. Deus nunca deve ser deixado em segundo plano por motivo algum.

A purificação do templo ensina lições relevantes no que diz respeito à qualidade da nossa adoração. Na Bíblia de Estudo Pentecostal (1995, p. 1550) encontramos alguns detalhes:

A purificação do templo foi o primeiro grande ato público do ministério de Jesus (Jo 2.13-22) e também o último (cf. Mt 12.12-17; Mc 11.15-17). Com grande indignação, Ele expulsou da casa de Deus os ímpios, os avarentos e os que invalidaram o verdadeiro propósito espiritual dela. A dupla purificação do templo, efetuada por Jesus durante o seu ministério de três anos, indica quão importante são suas lições espirituais, que se seguem:

(1) O maior cuidado de Jesus é com a santificação e com a devoção sincera dentro da sua igreja (cf. Jo 17.17,19). Ele morreu para santificá-la, purificando-a, para ser santa e irrepreensível (Ef 5.25-27).

(2) A adoração na igreja deve ser em espírito e em verdade (Jo 4.24). A igreja deve ser um lugar de oração e de comunhão com Deus (cf. Mt 21.13).

(3) Cristo condenará todos aqueles que usam a igreja, o evangelho, ou seu reino, visando ganhos ou glórias pessoais, ou autopromoção.

(4) Nosso amor sincero a Deus e ao seu propósito redentor resultará num ‘zelo’ consumidor pela justiça da sua casa e do seu reino (Jo 2.17). Isto quer dizer que ser semelhante a Cristo inclui a intolerância com a iniquidade dentro da igreja (cf. Ap 2.3).

(5) É essencial que todo autêntico ministro cristão proteste contra aqueles que profanam e degradam o reino de Deus (cf. Rm 14.17; 1 Co 6.9-11; Gl 1.6-10; Ap 2.3).

(6) Se não deixarmos Cristo entrar em nossas congregações para expurgar o engano, a imoralidade, a secularização e a profanação, (veja Ap 2,3) mais tarde, na sua segunda vinda, Ele executará juízo divino, purificando suas igrejas de modo definitivo (ver Ml 3.2).

É indispensável que os seus alunos saibam que a Casa de Deus é um lugar especial e deve ser respeitado como tal. Ensinar as verdades bíblicas e os valores do Reino inclui medir que comportamentos são esperados daqueles que servem a Deus. Mostre aos seus alunos que o temor do Senhor é algo que não pode ser imposto, mas deve emanar de um coração que deseja servir a Deus com sinceridade. Pergunte como tem sido o comportamento deles dentro e fora da igreja. Mostre que além de respeitarmos a Casa de Deus, vale lembrar que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo (cf. 1 Co 6.19). Deus também espera que cuidemos dele com temor e reverência, tendo como motivação o desejo sincero de adorar e servir exclusivamente a Deus.

Boa aula!

Lição 03 - 4º Trimestre 2020 - Quando a Chamada de Deus não faz diferença: Os Filhos de Eli - Jovens.

 

Lição 3 - Quando a Chamada de Deus não faz diferença: Os Filhos de Eli 

4º Trimestre de 2020 - 18/10/2020 

INTRODUÇÃO 

Quando falamos sofre fé, é necessário falarmos também sobre pessoas escolhidas por Deus para que sirvam de intercessores, líderes que pastoreiem pessoas e que as auxiliem a crescer na fé. A esses escolhidos denominamos sacerdotes. Por ocasião da saída do Egito, o Senhor separou pessoas que ficariam diante dEle para auxiliar os hebreus na adoração correta, dentro dos padrões que Ele mesmo estabeleceu. Essas pessoas, dedicadas ao culto, à guarda e ao ensino da Lei eram os sacerdotes e os levitas. No livro coletivo que antecede 1 Samuel, o de Juízes (Rute, no Cânon, vem antes de Samuel, mas narra a história de uma mulher moabita e viúva indo habitar em território hebreu), o destaque é dado a pessoas que julgavam o povo e libertava-o das mãos de opressores estrangeiros. Não se fala dos sacerdotes, e duas menções são feitas a levitas (Jz 18.1-31 e 21.1-17 — um levita que sai para peregrinar onde achasse comodidade. Quando o livro de 1 Samuel começa, Deus dá destaque — negativo — a três homens da família sacerdotal: Eli, Hofni e Fineias, o pai e os seus dois filhos. Trataremos sobre os dois filhos de Eli neste capítulo. 

A Família de Samuel 

O autor dos livros de Samuel apresenta-nos a origem do profeta. Fruto de um voto feito ao Senhor por uma mulher casada, porém estéril, Samuel nasce em um lar dividido pela bigamia e pelas lutas constantes da possível segunda esposa do seu pai, cujo nome era Penina. No ambiente de adoração, não levou em conta a contínua humilhação como era tratada por Penina (ver 1 Sm 1.8). 

É possível que Elcana tivesse se casado primeiramente com Ana e, visto que não podia ter filhos com ela, casou-se com Penina, que lhe deu filhos, mas era, em outras coisas, um aborrecimento para ele. Dessa forma, os homens são surrados com frequência pelas suas próprias varas. Penina era extremamente impertinente e provocadora. [1] Penina censurava Ana com veemência por causa de sua aflição, desprezando-a por causa de sua esterilidade, e falava de maneira insultuosa com ela, como alguém que não recebia qualquer favor dos céus. Penina invejava o benefício que tinha do amor de Elcana. Quanto mais benevolente ele era com Ana, mais Penina a provocava, tornando-se desprezível e grosseira. Penina aumentava seu ataque quando subiam à Casa do Senhor, talvez porque não estavam mais tempo juntos ou, porque, então a afeição de Elcana se tornava mais evidente. Mas Penina agia de forma pecaminosa ao mostrar sua maldade em momentos como aquele, quando mãos puras deveriam ser elevadas ao altar de Deus, sem iras e queixas. Também foi muito insensível naquela época aborrecer Ana, não apenas porque estavam juntas e outros poderiam perceber essa importunação, mas esse era um tempo em que Ana buscava concentrar-se nas suas devoções e desejava estar calma e tranquila e livre de perturbação. O grande adversário de nossa pureza e paz é mais insistente em nos irritar em momentos em que buscamos estar mais serenos e tranquilos. Quando os filhos de Deus vêm para apresentar-se perante o Senhor, podemos estar certos de que Satanás também está entre eles. Como se percebe, o fruto de não se observar a orientação divina tem o seu preço. Deus, porém, havia atentado para a aflição da sua serva, Ana e logo haveria de trazer do seu ventre um menino que seria profeta, juiz e sacerdote do Eterno. 

A Família de Eli 

Os livros de Samuel estão inseridos, como se entende, no período dos juízes, época em que ainda não havia rei em Israel. Trata-se de um período em que a Bíblia registra uma sequência de afastamentos do povo da presença de Deus e das permissões que Ele concedia aos inimigos do seu povo para oprimi-los. É nesse contexto que Hofni e Fineias surgem no relato sagrado. Vindos de uma família sacerdotal, os moços cresceram e foram educados, como se entende, dentro do ambiente do culto dedicado ao Senhor. Eles foram ensinados sobre os protocolos do culto. Sabiam como usar as vestimentas sacerdotais, a ordem dos cerimoniais, como oferecer os sacrifícios, as datas festivas e como aplicariam a Lei de Deus. Todavia, mesmo esse conhecimento não fez daqueles sacerdotes pessoas tementes a Deus. A liturgia que eles exerciam não vinha do coração, mas do costume que tinham aprendido com o seu pai, Eli. Quando a Lei de Deus não está no coração da pessoa, é difícil convencê-la de que os seus atos terão a devida retribuição. Sacerdotes do Senhor em Siló Hofni e Fineias são mencionados como sacerdotes do Senhor em Siló (1 Sm 1.3). Essa localidade, Siló, tornou-se o centro de adoração naqueles dias, e os israelitas dirigiam-se àquela localidade para celebrar ao Senhor. Há estudiosos que creem que Siló pode ser considerada a primeira capital de Israel, dada à sua importância para as tribos que haviam saído do deserto. Quando entraram na Terra Prometida, os hebreus juntaram-se em Siló e ali montaram a Tenda da Congregação (Js 18.1). Em Siló, Ana orou ao Senhor pedindo um filho, sendo ouvida pelo Eterno. Foi também em Siló que os filhos de Eli davam mal testemunho do seu sacerdócio, roubando carne do sacrifício e deitando-se com mulheres. Por fim, foi em Siló que a Arca do Senhor foi capturada pelos filisteus, o que foi uma vergonha para a nação de Israel. Deus mesmo confirma que estava naquele lugar. Foi em Siló que o Senhor disse a Jeremias: “[...] fiz habitar o meu nome” (Jr 7.12), e foi lá que Ele despertou Samuel para o chamado profético com o qual foi usado por décadas. Os filhos de Eli receberam um ministério muito importante: o de serem sacerdotes de Deus. Acredita-se que preenchiam os requisitos para tão nobre

Os Filhos de Eli – Quando a Chamada de Deus não Faz Diferença

Eles não apresentavam falhas físicas, vestiam-se como verdadeiros sacerdotes e eram considerados sacerdotes de Deus. O historiador Henry Daniel-Rops diz que A perfeição física era exigida do sacerdote. “Ninguém dos teus descendentes (de Arão) em que houver algum defeito se chegará...” disse o Senhor; e o infeliz Hircano perdeu o sumo sacerdócio no dia em que suas orelhas foram dilaceradas. Uma vez escolhidos, precisavam ser “separados”, consagrados numa cerimônia escrupulosamente organizada. Depois do banho ritual, vestiam-se com linho, sendo ungidos com óleo. A seguir, faziam três sacrifícios, um novilho e dois carneiros, colocando as mãos sobre os animais antes de oferecê-los. O sacerdote tomava uma porção do sangue do terceiro sacrifício, misturando com óleo, e ungia o postulante na orelha direita, polegar direito e pé direito. A seguir colocava sobre as mãos e coxas dele um pouco de gordura de carneiro, pão asmo e um bolo de farinha e óleo, que mais tarde eram queimados sobre o altar. Esses ritos vinham de tempos imemoriais, destinados evidentemente a transmitir poderes sobrenaturais ao novo sacerdote. Uma vez consagrado, este gozava de toda espécie de privilégios, entre eles o de viver no templo e comer os sacrifícios e os pães da proposição. Suas mulheres e descendentes obtinham o mesmo privilégio. Parece-nos razoável crer que os moços preencheram os requisitos externos da Lei para o sacerdócio. Acontece que o interior dos moços de Eli estava contaminado por uma criação leniente e por práticas pecaminosas no ambiente de culto. 

Filhos de Belial 

A Palavra de Deus diz-nos que aqueles moços eram filhos de Belial (1 Sm 2.12). A palavra Belial (beliy´al) traz a ideia de algo ou pessoa inútil, sem valor. Os filhos de Eli não eram pessoas úteis no ministério sacerdotal. O seu testemunho público era vergonhoso, e eles não representavam o Deus que os havia escolhido. Essa expressão, filhos de Belial, é aplicada aos homens de Gibeá, que abusaram e violentaram a concubina de um levita que se dirigia à Casa do Senhor (Jz 19.22). Da mesma forma, é usada para referir-se aos sacerdotes em Siló. Eles eram sacerdotes por uma questão de sanguinidade — haviam nascido na família de sacerdotes —, mas eram imprestáveis para o ministério. Charles Swindoll diz que Hofni e Finéias eram sacerdotes como o pai; no entanto, agiam de maneira completamente oposta à vida de Eli e ao que ele ensinara. A Bíblia diz: “Os filhos de Eli eram ímpios; não se importavam com o Senhor nem cumpriam os deveres de sacerdotes para com o povo...” (1 Sm 2.12, 13). Eles não foram os únicos pregadores ou sacerdotes que atuaram no ministério sem conhecer o Senhor. A realidade continua até hoje.5 Uma comparação entre Samuel e os filhos de Eli pode ser destacada: Em contraste com a inutilidade dos filhos biológicos de Eli, lemos a história de Samuel, o filho adotivo. Samuel nasce de uma mulher chamada Ana. Ela era estéril e prometeu ao Senhor que, se lhe fosse concedido um filho, o entregaria tão logo fosse desmamado.... Temos três moços criados pelo mesmo homem, no mesmo ambiente, sob as mesmas regras, mas com uma enorme diferença. Samuel lembra-me uma linda rosa plantada no solo acima de uma fossa. Nesse ambiente depravado e repulsivo, Samuel conseguiu evitar a contaminação dos irmãos adotivos e cresceu amando ao Senhor. 

Desrespeito com a Oferta do Senhor 

Uma das ocasiões mais sagradas para o culto cristão é o momento em que honramos a Deus com nossos dízimos e ofertas, cientes de que nosso ato de fé é importante para a manutenção da Casa de Deus, como também é uma forma de mostrar que não somos dominados pela ganância, pois tudo o que temos foi o Senhor quem nos deu. O culto hebreu tinha o seu momento em que pessoas agradecidas traziam as suas ofertas para serem entregues ao Senhor, e parte dessa oferta — no caso, de carne — era reservada aos sacerdotes. Hofni e Fineias pegavam para si a “gordura”, a parte que era destinada ao Senhor, para ser queimada, e faziam isso antes de ser apresentada ao Senhor. Quando um hebreu trazia uma oferta de animais, os sacerdotes tomavam a oferta antes de a mesma ser entregue ao Eterno. Deus não deixaria que aqueles  que servissem ao altar ficassem desguarnecidos, nem as suas famílias e, por isso, propôs que parte da oferta em forma de carne fosse distribuída aos homens de Deus. Contudo, Hofni e Fineias tinham outros planos (ver 1 Sm 2.16). O Senhor não precisava daquela carne para si, mas o ato de um hebreu trazer aquela oferta era uma expressão da sua fé, da obediência e do respeito para com as orientações de Deus. Os sacerdotes beneficiavam-se de parte daquela oferta, com a bênção e permissão divinas, mas a atitude dos filhos de Eli era abusiva tanto para com Deus quanto para com a pessoa que trazia aquela oferta. 13-17. Esta rara descrição da adoração em Canaã antes da monarquia revela alguma familiaridade com as regras levíticas. Os adoradores sabiam que a gordura do sacrifício devia ser queimada como oferta ao Senhor (v. 16; cf. Lv 17.6; Nm 18.17). Provavelmente, eles também sabiam que certas partes do animal eram designadas para os sacerdotes a fim de lhes servir de alimento (Lv 7.28-36; Dt 18.3). Insatisfeitos com o que devia ser uma provisão adequada, esses homens intimidavam os adoradores a permitir que apanhassem, ao acaso, bons pedaços de carne, tivessem ou não direito a isso. Os protestos eram inúteis, e a falta de cumprimento disso era enfrentada à força (cf. v. 9c). Em religiões étnicas, o ritual tem de ser executado exatamente de acordo com o costume, a fim de ser eficaz; na adoração do Deus vivo, que perdoa o pecado e é misericordioso, as pessoas tomavam certas liberdades e desprezavam a oferta do Senhor. Isso era indesculpável.

Vida Violenta 

Os filhos de Eli são descritos como homens violentos. Sem limites e acostumados a não ouvir ninguém, esses moços desrespeitavam a oferta do Senhor. Se isso fosse pouco, agiam com violência caso uma pessoa não quisesse entregar a eles aquilo quer era do Senhor (ver 1 Sm 2.17). Aqueles moços fizeram as suas regras pessoais no culto não para adorarem ao Senhor, mas para usufruírem das ofertas que eram trazidas pelas pessoas. Um dos mais graves erros no que concerne à liturgia é forçar uma pessoa a agir de forma contrária aos ditames divinos, e isso de forma planejada. Obreiros podem ser tentados a usar da palavra para “forçar” pessoas a dar mais do que podem ou mais do que receberam, usando de dolo com mentiras ou teologias de troca, que “vinculam Deus” com a obrigatoriedade de abençoar pessoas sem a necessidade de elas terem comunhão com Deus ou lhe prestarem obediência. 

Vida Imoral 

Um dos pecados narrados por Samuel sobre os filhos de Eli era a imoralidade sexual que ocorria no entorno do espaço sagrado. A religião de Canaã adotava a prostituição como uma forma de envolvimento religioso no culto à fertilidade, mas os hebreus não deveriam afeiçoar-se a essas práticas, visto serem condenadas pelo Senhor, que espera que os seus filhos primem pela sexualidade sadia, tendo o casamento como parâmetro para as relações sexuais entre um homem e uma mulher. Esses quesitos não são diferentes com a liderança do povo de Deus. A liderança atrai pessoas de todos os tipos, cabendo aos ministros e obreiros de Deus vigiar acerca do convívio que terão com essas pessoas. Entretanto, esse não foi o caso de Hofni e Fineias. Esses homens cederam à tentação de aproveitarem-se das mulheres que vinham ao local de culto. Apesar de serem casados, desrespeitavam não apenas a sua aliança com Deus no ministério, como também os seus próprios lares, envergonhando o seu pai e o próprio Deus. O desprezo desses moços para com o Senhor era tão visível que eles tornaram o local do culto num ambiente de promiscuidade e difamação contra o nome do Eterno. Joyce Baldwin argumenta: Presume-se que as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação, também mencionadas em Êxodo 38.8, serviam de forma semelhante aos levitas, acerca dos quais o mesmo verbo, sãbjã ’, é empregado (e.g., Nm 4.23; 8.24). É a palavra também designada para o serviço militar, sugerindo recrutamento, e dá o nome “Senhor dos Exércitos” (sebã’ôt_; cf. o comentário sobre 1 Sm 1.3-8). A imoralidade era parte integral da adoração cananeia, mas estava em total desacordo com o culto de Israel ao Senhor; de fato, era um pecado contra o Senhor. Pecando o homem contra o próximo, Deus lhe será o árbitro: esta última oração poderia ser traduzida assim: “os juízes poderão defendê-lo” (cf. ARC), pois a palavra ’elohim tem esse sentido em determinados contextos (cf. Êx 21.6; 22.8-9) onde os juízes agem como representantes de Deus na administração da justiça (Êx 18.19-22). Em contraste, o pecado deliberado contra o Senhor enquadrava-se numa categoria totalmente diferente. Os filhos de Eli não poderiam Os Filhos de Eli – Quando a Chamada de Deus não Faz Diferença | 43 alegar ignorância; sua soberba ditatorial clamava por uma queda (cf. vv. 2, 9, 10a).8 4. Deus não Deixa de Falar com Eli Levando em conta que essas ocorrências foram registradas por Deus, Ele não deixou de advertir Eli, o sacerdote, que era pai dos obreiros que causavam vergonha. A Palavra de Deus diz que Eli era um homem velho quando advertiu os seus filhos. No entanto, os moços já tinham se acostumado com seus pecados. 

• Eles faziam o povo de Israel pecar (1 Sm 2.24). A postura dos sacerdotes fazia com que o povo cresse que poderia agir da mesma forma. Se os homens de Deus, que ofereciam e administravam os sacrifícios, podiam fazer o que quisessem, o povo seguiria o seu exemplo de devassidão e desrespeito para com as coisas de Deus. 

• Deus queria matá-los (1 Sm 2.25). Os moços já não ouviam o seu pai. A época da correção já passara. Se Hofni e Fineias não aprenderam a respeitar as coisas de Deus quando pequenos, como homens não respeitariam mais nada. A sua falta de temor e respeito geraram a sua pena de morte. 

• Davam coices na oferta do Senhor (1 Sm 2.29). A oferta, que o povo cuidadosamente trazia ao Santuário em homenagem ao Eterno, era tratada como se não tivesse valor. Deus compara os filhos de Eli com animais que dão coices, que usam de violência quando incomodados. 

• Eli havia engordado comendo oferta roubada do Senhor (1 Sm 2.29). Deus não diz que Eli roubou carne do sacrifício, mas deixa claro que ele foi conivente com os roubos dos filhos, pois comia a carne do sacrifício que eles haviam roubado. Quando uma pessoa participa de algo ilícito ou criminoso, beneficiando-se do roubo, é partícipe e também será julgado pelo que fez. Eli sabia dos roubos dos seus filhos, mas não agiu no sentido de repreendê-los. Talvez ele mesmo achasse que não havia problema naquela situação. Uma vez mais Eli carrega o peso do castigo, porque, na qualidade de chefe da casa, era responsável por verificar que a blasfêmia fosse contida. 

A história da insubordinação de seus filhos sem dúvida alguma remontava à juventude deles, quando teria sido possível discipliná-los. Diante dessa situação, a família toda será condenada, e nunca mais lhe será expiada a iniquidade nem com sacrifício nem com oferta de manjares. Fizeram-se provisões nos rituais para o sacrifício pelo pecado dos sacerdotes, mas tal sacrifício só cobria o pecado não intencional (Lv 4.2; cf. Lv 4.13, 22, 27). O pecado cometido com “abuso de poder”, num desrespeito intencional diante da lei de Deus, tal como o que os filhos de Eli cometeram, não podia ser resolvido por sacrifício algum. O próprio Eli havia previsto um juízo calamitoso (1 Sm 2.25), e um profeta já havia anunciado a decadência de sua família (1 Sm 2.31); agora, o próprio Senhor anuncia o destino inescapável da casa de Eli.

Consequência de desprezar-se a Deus 

Perderam a vida aqueles sacerdotes não respeitaram o seu chamado. Desprezaram a Deus, e, numa batalha dos israelitas contra os filisteus, a Arca do Senhor foi tomada, e eles, mortos (1 Sm 4.11). Deus havia dito a Eli que julgaria os seus dois filhos: “E isto te será por sinal, a saber, o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e a Fineias: que ambos morrerão no mesmo dia” (1 Sm 2.34). É possível dizer que parte do comportamento visto nos filhos de Eli deve-se ao próprio Eli por ser um pai tolerante com os pecados dos próprios filhos (1 Sm 3.13). A leniência de Eli pode ser vista quando o Senhor diz a ele, por meio de Samuel, que Hofni e Fineias serão julgados (1 Sm 3.18). Como pai, Eli não se importou com o julgamento divino contra os seus filhos. Ele não buscou ao Senhor por uma oportunidade de mudar a situação. Na mente de Eli, os seus filhos não tinham mais esperança. 2. Eu Honro os que me Honram Uma das passagens bíblicas mais enfáticas no tocante à forma como somos tratados por Deus encontra-se em 1 Samuel 2.30. Envilecer significa tornar vão, inútil. Ao invés de Hofni e Fineias servirem ao Senhor e serem honrados por Ele, preferiram honrar a si mesmos e aos seus desejos. Deus havia-os honrado, dando-lhes a oportunidade de nascerem em uma família sacerdotal e ministrarem a todo povo, mas eles não colocaram Deus em primeiro lugar. Eles desonraram ao Senhor e pagaram o preço da sua atitude. 

Deus Chama Samuel 

Ele tem o seu ministério profético iniciado ainda criança, e Deus diz a Samuel que vai julgar os filhos de Eli. Costumamos ensinar às crianças a história de Samuel, contando para elas somente a parte que Deus chama o menino e ele responde: “Fala, Senhor, porque teu servo ouve”. No entanto, não falamos às crianças o que Deus disse a Samuel: a Casa de Eli estava condenada, e Deus exerceria o juízo contra ela. É curioso que, mesmo Samuel sendo um menino e sendo criado no ambiente em torno do santuário, ele não conhecia ao Senhor: “Porém Samuel ainda não conhecia ao Senhor, e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do Senhor” (1 Sm 3.7). Ainda assim, Samuel obedeceu à voz de Deus pela orientação de Eli. Crianças precisam e podem conhecer a Deus e, assim fazendo, poderão ser muito usados no ministério pessoal e coletivo desde a tenra idade como o foi Samuel. 

CONCLUSÃO

Desses tristes exemplos de vida, aprendemos três lições: 

• A Palavra de Deus mostra-nos que não basta ser escolhido pelo Senhor para um determinado ministério. É preciso levar a sério essa chamada, sob pena de desperdiçarmos os dons que Deus depositou em nós para que fôssemos úteis na sua obra. A vocação não correspondida é inútil. 

• Deus não mudou o seu plano de usar pessoas limitadas na sua obra. Entretanto, é preciso termos temor de Deus em nossas limitações para não envergonharmos o Senhor. 

• Deus jamais deixará a sua obra sem uma liderança fiel. Ele é o maior interessado em que a sua obra seja feita e que os que nela trabalham sejam igualmente abençoados. Que possamos, com base neste capítulo, ser pessoas mais gratas a Deus pelas oportunidades que recebemos e jamais desprezar a graça de servi-lo. 

Lição 03 - 4º Trimestre 2020 - Jó e a Realidade de Satanás - Adultos.

 

Lição 3 - Jó e a Realidade de Satanás 

4º Trimestre de 2020

ESBOÇO DA LIÇÃO

INTRODUÇÃO
I – O LIVRO DE JÓ E A NATUREZA DE SATANÁS
II – O LIVRO DE JÓ E AS OBRAS DE SATANÁS
III – O LIVRO DE JÓ E O OCASO DE SATANÁS
CONCLUSÃO

OBJETIVO GERAL
Destacar que Satanás não é um ser autoexistente, mas criado; e que sua ação não se sobrepõe a soberania de Deus.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
I – Explicar que o Livro de Jó não procura explicar a origem de Satanás, mas que seus atributos revelam quem ele é;
II – Afirmar que as obras do Diabo são visíveis e que o Livro de Jó revela sua natureza maligna;
III – Sublinhar o  ocaso do Diabo, isto é, seus intentos sobre Jó não foram alcançados;

PONTO CENTRAL
O Diabo é um ser espiritual, mas não é autoexistente.

JÓ E O ENIGMA DO MAL

José Gonçalves

[...] veio também Satanás entre eles” (1.6). Satanás aparece no livro de Jó como uma realidade cósmica e a quem o mal que sobrevém ao patriarca está associado. Satanás é a tradução do termo hebraico sãtãn, com o sentido de adversário e oponente.i Alguns teólogos argumentam que esse Satã citado no livro de Jó não seria o mesmo encontrado na literatura veterotestamentária posterior (1 Cr 21.1) e nem tampouco o Satã a quem se refere o Novo Testamento (Mt 4.10). Dessa forma, R. A. F. Mackenzie (2007, p. 929) destaca que esse Satã “ainda não se trata do ‘diabo’ da posterior teologia judaica e cristã”. Por sua vez, Terrien (1994, p. 65) explica que “o emprego do artigo definido mostra que o termo hassatan não era considerado nome próprio e que não deveria ser traduzido por Satã”. Ainda de acordo com Terrien, foi somente em um período posterior que esse termo tornou-se nome próprio e foi traduzido por Satã, ho diábolos.ii Além das questões léxicas, que, segundo defendem esses autores, impediriam vincular o Satã da narrativa de Jó com o Satã descrito em outras partes do Antigo Testamento e também do Novo Testamento, estaria também a questão de natureza teológica. Dessa forma, segundo eles, o redator de Jó não teria usado esse termo no seu aspecto teológico, mas funcional. Assim sendo, Schokel e Diaz (2002, p. 126) argumentam que não se deve confundir o Satã de Jó com “nossa imagem ou concepção do demônio, anjo caído que odeia a Deus e sua obra”. 

Negar que Satanás possui personalidade simplesmente por questões de natureza puramente léxica não tem convencido a muitos outros intérpretes. Verifica-se, por exemplo, que o uso do artigo ou o seu não uso, assim como outras regras de natureza gramatical, admite exceções.iii Por exemplo, o termo “Deus”, usado em referência ao Deus de Israel, vem muitas vezes precedido de artigo no texto hebraico do Antigo Testamento. Afirmar que o Deus de Israel não é um ser pessoal simplesmente porque vem precedido de artigo é algo inconcebível. Seria temerário, portanto, para o intérprete generalizar o uso dessa regra concernente ao uso do artigo. Daniel Estes (2013, p. 474) põe em evidência esse fato em relação ao uso do artigo definido: 

No Antigo Testamento, o artigo definido também é às vezes usado dessa maneira, como por exemplo, quando “o Deus” se refere a Deus ou “o baal” quando se refere à divindade cananeia Baal. Em vista disso, parece haver evidências significativas para ver o adversário em Jó como um antagonista de Javé e seu servo Jó.

O uso do artigo, portanto, não deve ser visto como uma limitação linguística à personalidade do Diabo, mas apenas como uma forma de descrever a função ou papel de Satanás como um adversário, sem, contudo, negar a sua pessoalidade. Vine, Unger & White Jr (2009, p. 282) destacam que, usado dessa forma, o termo tem o propósito de “enfatizar o papel de Satanás como ‘adversário’ que afligiu o patriarca com muitos males e sofrimentos”. Era dessa forma que a patrística cristã entendia (Oden, 2010). De uma forma geral, os Pais da Igreja, mesmo fazendo uso alegórico dessa narrativa, onde Jó simboliza o justo lutando contra as tentações do demônio, não faziam distinção alguma entre esse Satanás descrito em Jó daquele que aparece no Novo Testamento.iv 

Por outro lado, as evidências internas do texto do livro de Jó mostram alguns atributos de Satanás que o expõem como um ser dotado de personalidade. Além do fato de ser espiritual, capaz de agir sobrenaturalmente (Jó 1.7), Satanás, por exemplo, também demonstra ser possuidor de inteligência e conhecimento (1.7; 9). Ele demonstra conhecer Jó e a sua forma de comportar-se (1.7) bem como se mostra capaz de argumentar com Deus (1.9). Essas mesmas características são demonstradas por Satanás quando tentou a Cristo. Ele sabia, por exemplo, quem era Jesus e foi capaz de argumentar com Ele (Mt 4.1-11). O Diabo do livro de Jó e o do Novo Testamento são, portanto, a mesma pessoa. 

[...] e que se desvia do mal” (1.8, ARA). A expressão “que se desvia do mal” aparece no testemunho que Deus dá sobre Jó. Fica bastante claro que o livro de Jó não tem o propósito de explicar a origem de Satanás nem tampouco como o mal veio a existir no Universo.v O livro de Jó parte do pressuposto de que o Diabo existe e de que o mal é uma realidade. No caso de Jó, fica subentendido que o mal é anterior a ele, visto que Jó procurava evitá-lo (1.8). Jó vive, portanto, em um mundo moral onde a existência de Satanás e do mal são uma realidade. Não há como negar que o mal é uma realidade e que está espalhado pelo Universo. Ignorá-lo não é uma tarefa fácil. Como explicar, por exemplo, o fato de uma criança indefesa e inocente sofrer com câncer? Como explicar os grandes desastres naturais com milhões de vidas ceifadas? E o que dizer das guerras que já mataram milhões de pessoas? Essas são perguntas que não podem ser explicadas de forma satisfatória se a questão do mal não for levada em conta.vi O livro de Jó mostra que, mesmo antes de o patriarca ser provado, o mal já existia no mundo (1.8).vii Todavia, com respeito ao sofrimento de Jó, o mal aparece associado a Satanás, mesmo que o patriarca não tivesse consciência disso (1.11-12). 

Satanás aparece no texto de Jó como um ser que tem limites. Ele não faz o que quer ou pode fazer (1.12; 2.6). Isso significa dizer que, ao contrário de Deus, que é eterno e Todo-poderoso, Satanás é um ser espiritual criado. Todavia, dizer que o Diabo é um ser criado está muito longe de dizer que ele foi criado por Deus dessa forma ou que tenha criado o mal. Se Deus criou anjos bons, então de onde veio o Diabo? O Senhor criou seres perfeitos e bons, todavia dotados de livre-arbítrio. Assim como os humanos, Satanás, que antes fora um anjo bom, também foi dotado com capacidade de escolha. O livre-arbítrio não é bom ou mal em si, mas, dependendo da forma como é usado, pode ser transformado num bem ou num mal. Luis Henriques Jr (2019, pp. 44,45) observa que “o presente da liberdade que foi concedido veio com todas as consequências da existência. O surgimento do bem espiritual tem como consequência a possibilidade da existência do mal espiritual”. Com o livre-arbítrio, os homens podem escolher Deus, mas com ele também podem rejeitá-lo. Deus não queria que seres sem liberdade de escolha servissem-no. E a razão é simples: onde não há liberdade de escolha, o amor é forçado, e a responsabilidade moral não existe (Geisler, 2002). O Diabo tornou-se Diabo porque escolheu ser assim. 

Tanto no caso do homem como no de Satanás, a existência do mal tem origem na capacidade de escolha, isto é, no livre-arbítrio.viii Dessa forma, Poewell (2009, p. 340) diz que “o mal entrou no mundo pela livre escolha de criaturas moralmente responsáveis”. Qualquer outra tentativa de explicar a origem do pecado ou do mal no Universo que exclua a livre escolha do homem e dos anjos transforma Deus em um monstro moral. Deus seria o autor do pecado e, consequentemente, de todo sofrimento humano.ix O livre-arbítrio transformou um anjo bom em Satanás e o homem santo em pecador. Ulrich Luke (2012, p. 313) destaca que “a origem do mal se encontra, portanto, na liberdade das criaturas a princípio boas”. Da mesma forma, Geisler (2002, p. 534) destaca que 

Deus é bom, e criou criaturas boas com qualidade boa chamada livre-arbítrio. Infelizmente, elas usaram esse poder bom para fazer o mal ao universo ao rebelar-se contra o Criador. Então o mal surgiu do bem, não direta, mas indiretamente, pelo mal uso do poder bom chamado liberdade. A liberdade em si não é má. É bom ser livre. Mas com a liberdade vem a possibilidade do mal. Então Deus é responsável por tornar o mal possível, mas as criaturas livres são responsáveis por torná-lo real.x

Segundo Alvin Platinga (2012, p. 47): 

Um mundo com criaturas que sejam significativamente livres (e que livremente executem mais ações boas do que más) é mais valioso, se não houver complicações de outros fatores, do que um mundo sem quaisquer criaturas livres. Ora, Deus pode criar criaturas livres, mas não pode causar ou determinar que façam apenas o que é correto. Afinal, se o fizer, então elas não são afinal significativamente livres; não fazem livremente o que é correto. Para criar criaturas com capacidade para o bem moral, portanto, Deus tem de criar criaturas com capacidade para o mal moral e, não pode dar a essas criaturas a liberdade de executar o mal e, ao mesmo tempo, impedi-las de executá-lo. E aconteceu, infelizmente, que algumas das criaturas livres que Deus criou erraram no exercício de sua liberdade; essa é a fonte do mal moral. O fato de algumas criaturas errarem, contudo, não depõe contra a onipotência de Deus nem contra a sua bondade; pois ele só poderia ter impedido a ocorrência do mal moral removendo a possibilidade do bem moral.xi 

Geisler (2002, p. 534) corrobora esse fato: “Deus não é o responsável pelo exercício do livre-arbítrio para fazer o mal. Deus não realiza a ação livre por nós”. Ele, portanto, ao fazer criaturas livres, capazes de escolher, fê-las porque não deseja que ninguém o sirva ou o ame forçadamente. O amor forçado não é amor, mas estupro. Ainda de acordo com Geisler (2002, p. 539): 

É claro que Deus poderia forçar a todos a fazer o bem, mas então não seriam livres. Liberdade forçada não é liberdade. Já que Deus é amor, ele não pode impor-se contra a vontade de ninguém. Amor forçado não é amor, é estupro. E Deus não é um estuprador divino. O amor deve agir persuasivamente, mas não coercitivamente.


 i  HARRIS, R. Laird; Archer Jr, Gleason L; Waltke, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998.
ii TERRIEN, Samuel. Jó – grande comentário bíblico, p. 65. São Paulo: Paulus, 1994. 
iii  Uma dessas exceções pode ser vista, por exemplo, no uso arcaizante do artigo na literatura tanto hebraica como rabínica (SCHOKEL; DIAZ. Job: comentário teológico y literário, p. 87. Madrid: Ediciones Cristandad. 2002).
iv Veja, por exemplo, as obras: Comentario Al Libro de Job, 1.6 (Iso’dad de Merw, c.850); Libros Morales, 2.40, 65-66 (Gregório Magno, 540–604); Comentario al Libro de Job, 1.11 (João Crisóstomo, 348–407); Explicación del Libro de Job, 1.13 (Juliano de Eclana, 386–455); Comentarios al Libro de Job, 2.6 ( Efrén de Nisibi, 306–373). (Oden, Thomas. La Biblia Comentada por los Padres de la Iglesia. Madrid: Ciudad Nueva, 2010).
v A meu ver, Richard Taylor está correto quando diz que a presença do mal no Universo está associada à queda de Satanás e à presença do mal na terra à queda do homem (TAYLOR, Richard. Diccionario Teológico Beacon, p.416. Lenexa, Kansas: Casa Nazarena de Publicaciones: 1984). De fato, não há indicações na Bíblia de que haja um mal anterior a Satanás. Pelo contrário! Nossa percepção da existência do mal começa com a existência de Lúcifer. Deve ser destacado que o termo Lúcifer, como referência a Satanás, provém da Vulgata, tradução da Bíblia feita para o latim por Jerônimo (347–420 d.C) (LEMAITRÊ; QUINSON; SOT. Dicionário Cultural da Bíblia, p. 186. São Paulo: Loyola, 1999). A patrística, desde cedo, entendia que a passagem bíblica de Ezequiel 28.12-16 era uma referência à queda de Satanás. Dessa forma, Tertuliano (155–220 d.C) diz: “se você revisar a profecia de Ezequiel, notará facilmente que aquele anjo que havia sido criado bom se corrompeu por sua própria vontade”; Orígenes (184–253 d.C) escreve:  “portanto, estas afirmações de Ezequiel a respeito do príncipe de Tiro se referem, como temos demonstrado, a um poder adverso, e provam claramente que este poder era antes santo e bem-aventurado, mas desse estado de felicidade foi jogado na terra no momento em que se encontrou iniquidade nele”; e também Jerônimo (347–420 d.C) destacou que “aquele que foi nutrido no jardim das delícias como uma das doze pedras preciosas, foi ferido e caiu nos infernos desde o Monte do Senhor” (ODEN, Thomas. La Bíblia Comentada por los padres de la iglesia. Tomo 15, p.159-160. Madrid: Ciudad Nueva, 2015). Esse entendimento é confirmado pelas evidências internas do texto: 1. Os termos e expressões: “monte santo”, “pedras de fogo” (lit), não se harmonizam com o Éden terreno. 2. A referência a “querubim... ungido” (v. 17) não se aplica a Adão no Paraíso. 3. A referência feita por Paulo à “condenação do diabo” (1 Tm 3.6), como sendo o orgulho, só encontra paralelo no Antigo Testamento aqui (veja uma exposição completa em: HARRIS; ARCHER; WALTKE. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, pp. 1474,75. São Paulo: Vida Nova,1998).  Há uma exposição completa sobre o assunto feita pelo dr. Carlos Augusto Vailatti em: Demônios: Origem, Natureza, Atividades e Destino (https://www.youtube.com/watch?v=P7bHeTXALeI 08/10/2019).
viOs teólogos costumam dividir o mal em moral e natural. Nesse aspecto, o mal moral está associado à queda de Adão (Rm 5.12; 6.23), e o mal natural é uma consequência desta (Gn 3.17-19). No caso de um bebê inocente que sofre de uma enfermidade terminal, temos um exemplo do mal moral, visto que todos os homens estavam no lombo de Adão, inclusive o bebê. Por outro lado, uma catástrofe natural seria uma demonstração do mal natural (GERSTNER, J. H. Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã, vol II, pp.466,467. São Paulo: Vida Nova, 1992).
vii A palavra hebraica ha’, traduzida como “mal” (Jó 1.8), é a mesma usada em Gênesis 2.9,17; 3.5,22. (STRONG, James. Nueva Concordancia Exhaustiva de la Biblia. Nashville: Grupo Nelson, 1990).
viii Geisler mostra que esse era o pensamento cristão ao longo da História da Igreja: Justino Mártir (100–165 d.C); Irineu (125–202); Atenágoras (séc. II); Teófilo (130–190 d.C.); Taciano (120–173 d.C.); Bardesanes (154-222 d.C.); Clemente de Alexandria (150–215 d.C.); Tertuliano (155–225 d.C.); Novaciano (200–258 d.C.); Orígenes (185–254 d.C.); Metódio (260–311 d.C.); Cirilo de Jerusalém (315–387 d.C.) Gregório de Nissa (335–395 d.C.); Jerônimo (340–420 d.C.); João Crisóstomo (347–407 d.C.); Agostinho, antes de 412; Anselmo (1033–1109 d.C.); Tomás de Aquino (1225–1274 d.C.)
ixDeus não é o autor do mal, mas, como onisciente que é, tem conhecimento da sua existência. Todavia, conhecer não significa causar. Deus tem conhecimento sobre o mal, mas não o causa. De acordo com Ulrich Luke, Deus “conhece o mal com antecedência, mas sem que essa presciência possa ser considerada uma causa ou aprovação do mal” (LUKE, Ulrich. Novo Léxico da Teologia Dogmática Católica, p. 313. Petrópolis: Vozes, 2015).
x Em outra obra da sua autoria, Geisler explica que tanto no caso de Lúcifer como do homem, as suas ações são autocausadas. Dessa forma, Deus, que é imaculadamente perfeito, não poderia ser a causa do pecado de Lúcifer e, também, do homem. Sendo Lúcifer o primeiro ser a pecar, a sua ação, necessariamente, foi autocausada. (GEISLER, Norman. Teologia Sistemática: pecado, salvação, igreja e últimas coisas, vol. 2, p. 76. Rio de Janeiro: CPAD, 2010).
xi Ainda de acordo com Platinga, o livre-arbítrio pressupõe: 1. Um Deus que é onisciente, Todo-poderoso e todo bondade, criou o ser humano como sujeito moral, o que implica ter a capacidade de escolher entre o bem e o mal. 2. Como Deus é onisciente, sabia que o mal apareceria; como é Todo-poderoso, podia criar o mundo com diversas possibilidades; e como é todo bondade e a sua moral é perfeita, só pode ter tido boas razões para criar o mundo tal como o fez. 3. Como consequência, Deus pode ter criado a possibilidade de haver o mal; contudo, foi o ser humano quem, ao escolher fazer o mal, o tornou realidade. Entretanto, Deus não foi pego de surpresa em razão de o mal fazer-se realidade. Portanto, em última instância, o mal existe no mundo porque Deus tem um bom motivo para permitir a sua existência (POWELL, Doug. Guia Holman de Apologética Cristianapruebas y fundamentos de la fe cristiana, p. 339. Nashville, Tenessee: BH Español, 2009).

Lição 03 - 4º Trimestre 2020 - A igreja perseguida - Adolescentes.

 

Lição 3 - A igreja perseguida 

4º Trimestre de 2020

TEXTO BÍBLICO: Atos 7.54-59

DESTAQUE: Felizes as pessoas que sofrem perseguições por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do Céu é delas. (Mateus 5.10)

OBJETIVOS:
Enfatizar
 que ser perseguido por amor a Cristo não deve provocar medo, pois é uma honra;
Reforçar que aqueles que são fiéis até o fim serão galardoados no Céu por sua fidelidade;
Mostrar que os cristãos perseguidos tem a presença do Espírito Santo sobre a sua vida, como aconteceu com Estêvão, o primeiro mártir da Igreja.

Caro(a) Professor(a),

Na lição desta semana seus alunos conhecerão um pouco mais sobre a história da igreja. Um dos grandes desafios enfrentados pela igreja nos primeiros anos de existência foi a perseguição religiosa. 

Jesus anunciou aos seus discípulos quando ainda estava com eles neste mundo, que a Igreja passaria por momentos difíceis por causa da pregação do evangelho. Os discípulos deveriam estar preparados para lidar com a oposição e perseguições e, para isso, era necessário que estivessem cheios do Espírito Santo.

Nos dias atuais, há países onde pregar a Palavra de Deus é um grande desafio e muitos cristãos ainda sofrem, outros até mesmo morrem pela causa do evangelho.

De outro modo, há lugares onde há total liberdade religiosa, como é o caso do Brasil. Mas, infelizmente, o que deveria ser motivo de alegria e investimento na propagação do evangelho, tornou-se motivo para acomodação. 

Vejamos algumas recomendações de Cristo direcionadas aos seus discípulos no tocante ao sofrimento pelo evangelho:

A. A causa das perseguições.  

Em primeiro lugar, precisamos  destacar que  a perseguição não é por nenhum motivo particular dos discípulos. 

Infelizmente, nos dias atuais, muitos pensam que sofrer perseguição consiste em passar por aflições e adversidades cotidianas que fazem parte das intempéries da vida.

Por mais difíceis que sejam essas adversidades, estas ocorrem por motivos pessoais e em nada têm a ver com os sofrimentos e perseguições enfrentados pela igreja de Cristo nos primeiros dois séculos de existência.

Enquanto os sofrimentos presentes são de ordem pessoal, aqueles eram integralmente por conta da fé em Jesus Cristo e muitos entregaram a própria vida para serem mortos pela causa do evangelho (cf. At 7.58—8.1-3).

B. Uma resposta direcionada pelo Espírito Santo. 

Jesus ensinou aos seus discípulos que não seria necessário premeditar o que dizer quando fossem caluniados e acusados falsamente diante das autoridades. As palavras de sabedoria emanariam inspiradas da parte do Espírito Santo. Jesus ainda deixa bem claro que os perseguidores não poderiam resistir às palavras de sabedoria que certamente os convenceriam do erro. Isso aconteceu com o Senhor Jesus quando foi julgado pelos líderes judeus, mas infelizmente eles amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus e preferiram matar Jesus por inveja e receio de perderem o cargo instituído pelos romanos (cf. Jo 11.46-48; Mc 15.10).

C. Perseguição na família. 

Jesus anunciou também que os discípulos seriam entregues para serem mortos até mesmo por seus familiares.

Isso aconteceu e ainda acontece em alguns países, principalmente os que são de predominância mulçumana, onde parentes entregam à morte os próprios familiares por considerarem desobediência e blasfêmia ao islamismo quando alguém abandona a fé islã e volta-se para outra religião. 

Em outros países onde se tem liberdade religiosa ocorre também o preconceito quando um parente decide seguir Jesus. Muitos se tornam oponentes, alvos de chacota e passam a ser odiados por abandonarem as tradições familiares. 

Apesar de não ser uma perseguição nos mesmos moldes de outros países onde há a proibição em relação à pregação do evangelho, não deixa de ser desconfortável ter de enfrentar a rejeição e opressão dos próprios familiares.

D. Uma promessa de livramento. 

Apesar de toda dor e sofrimento, sejam estes de ordem física ou emocional, Jesus prometeu livrar-nos dos homens maus. 

Isso não significava que a morte não poderia ocorrer, mas o cuidado de Deus em preservar seus servos para que tivessem condições de continuar pregando o evangelho seria notável. 

Isso aconteceu várias vezes com os apóstolos, inclusive com Paulo, em suas viagens missionárias. 

Entretanto, Deus prometeu livramento aos seus servos. Jesus disse aos seus discípulos: “não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (cf. Mt 10.28).

Por mais preciosa que esta vida pareça a eternidade com Deus certamente é mais importante. A vida física pode até perecer, mas a vida eterna nunca perecerá porque nada poderá separar o crente fiel do amor de Deus (cf. Rm 8.35-39).

E. Na vossa paciência, possui a vossa alma.

Esperar com paciência que todas as lutas e perseguições cheguem ao fim não é algo fácil. Quando se está vivendo a experiência do problema, a angústia não nos deixa ter expectativa alguma. 

Mas a Palavra de Deus nos mostra que podemos nos gloriar nas tribulações, “sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (cf. Rm 5.3-5). 

Sentir alegria em meio aos caos exige da pessoa que passa pela dor, certa racionalidade e fé. Racionalidade para pensar que o caos que enfrenta pode ser administrado e fé para confiar que Deus não o deixará desamparado. 

Esse era o posicionamento dos apóstolos quando se deparavam com as lutas e perseguições por amor ao evangelho. Eles sabiam que a leve e momentânea tribulação não haveria de se comparar com o peso da glória que estava reservado (cf. 2 Co 4.16-18).