2º Trimestre de 2020
Prezado(a) professor(a), com a graça de Deus, estamos iniciando o preparo de mais uma lição. Segue abaixo o subsídio elaborado pelo comentarista do trimestre, pastor Reynaldo Odilo:
CONFIRMANDO O CONCERTO
Introdução
Caminhar com Deus apresenta, algumas vezes, exigências pouco compreensíveis, sob o prisma da racionalidade. Nesse diapasão, o Deus que criou o Universo e tudo que nele há, estabeleceu os princípios que regem o Seu relacionamento com os homens, e para tanto, prescreveu-lhes condutas, muitas das quais, é bem verdade, simbólicas, mas extremamente necessárias. Uma delas é a circuncisão, a remoção cirúrgica do prepúcio do órgão sexual masculino (Gn 17.11; At 7.8; Rm 4.11), anunciada pelo Senhor como condição indispensável, antes da Dispensação da Graça, para que alguém participasse do pacto abraâmico1 – a fonte de toda a bem-aventurança dos hebreus enquanto nação. Assim, para que Abraão cumprisse a sua parte na aliança (observe-se como Deus é humilde – submeter-se a fazer acordo com homens fracos e mortais), ele deveria se comprometer com a prática da circuncisão em todos os homens de sua casa.
O pai da fé cumpriu fielmente esse compromisso, que foi transmitido aos seus descendentes. Entretanto, durante a peregrinação no deserto, não consta a realização de nenhuma cerimônia de circuncisão. Deus, nesse período, deu aos hebreus mantimento, conforto, proteção, porém requeria deles (como requer da Igreja) uma atitude de obediência e fé, o que não aconteceu, e isso lhes custou, também, a perda do privilégio da celebração da Páscoa.
Quando a nova geração colocou os pés em Canaã – o evento conhecido como eisodus, Deus autorizou a circuncisão, para a confirmação da aliança, e a comemoração da Páscoa, pois uma nova etapa da vida deles estava chegando. Aliás, sabe-se que “aliança é um acordo entre duas ou mais pessoas em que quatro elementos estão presentes: partes, condições, resultados, garantias”2. Nesse caso específico, as partes eram Deus e Abraão e seus descendentes; a condição para Abraão era a circuncisão, os resultados e as garantias eram com Deus, e, por isso, o Senhor fez um juramento, porque Ele queria “mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa” de forma que “por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta,” Abraão e sua descendência fossem consolados na esperança do cumprimento da promessa (Hb 7.13-18).
Na vida dos cristãos hodiernos, igualmente, Deus cerca seus filhos de muitas promessas que nos acalmam o coração se, realmente, aprendemos a descansar nEle. A missão de Jesus Cristo, em seu aspecto encarnacional, ou seja, quando adentrou e participou do mundo do sofrimento humano3, frequentemente falava sobre o futuro com seus discípulos, mostrando-lhes as lutas e dificuldades que enfrentariam, mas sempre lhes garantindo que dias melhores viriam, ainda que fossem quando atravessassem os umbrais da eternidade. Que importava? Desde que mantivessem intacta a aliança com o Senhor, nesta vida ou no provir, eles seriam mais que vencedores. As contingências próprias da existência, portanto, fossem elas agradáveis ou não, seriam apenas o tempero da vitória no Céu (Rm 8.18).
Circuncisão: um segredo de Deus para os hebreus
A circuncisão não trazia em si a concretização de uma aliança, ela representava a adesão humana ao concerto firmado pelo Senhor com o patriarca Abraão (Gn 17.9-14)– uma condição imposta por Deus, como dito anteriormente, que consistia em um ato de obediência e fé (Dt 10.16; Jr 4.4; Cl 2.11,12). A cirurgia (por óbvio, sem anestesia), feita com uma pedra amolada (Js 5.2), causava fortes dores e desconforto por até três dias, deixando uma cicatriz na carne que distinguia os israelitas dos demais povos. Para se entender o motivo pelo qual Deus não mudou o rústico instrumento cirúrgico utilizado para a circuncisão, mesmo com o avanço da metalurgia do bronze e ferro, mister lembrar que Jesus disse ser Ele a pedra angular rejeitada (Mc 12.10; At 4.11; 1Pe 2.7) e Paulo ter afirmado que Cristo era a rocha que os seguia (1Co 10.4).
Na verdade, Deus estava apontando sempre, com todas as regras cerimoniais, para Cristo. Prova disso é que Paulo, ao falar da circuncisão menciona que “Nele também vocês foram circuncidados, não com uma circuncisão feita por mãos humanas, mas pela remoção do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo (...)” (Cl 2.11, 12 NAA). Assim, o apóstolo dos gentios fez uma ponte tipológica entre a circuncisão e o batismo em águas, ressignificando a circuncisão em relação à ordenança neotestamentária, haja vista que são momentos simbólicos da velha e nova aliança em que o ser humano morre para si mesmo e ressurge para Deus.
Ocorre, entretanto, que alguns estudiosos erradamente elegem o trecho de Cl 2.11,12 como argumento para defenderem o batismo em águas de bebês, alegando que as crianças hebreias, logo aos oito dias de vida, deveriam ser circuncidadas. Essa interpretação, todavia, não resiste ao melhor uso das premissas hermenêuticas. Ora, se por um lado, Paulo, para combater a doutrina dos judaizantes, ressignificou a circuncisão, de outro Jesus realizou a mesma engenharia interpretativa com festa da Páscoa, transmudando-a na celebração da Santa Ceia, porém poucos elementos cerimoniais permaneceram na nova “festa” instituída, inclusive não sendo observada o tempo em que acontecia, pois a Páscoa era realizada uma vez por ano, no primeiro mês, ao passo que a ceia cristã era celebrada sempre, na igreja primitiva, ao que tudo indica, “no primeiro dia da semana”.
Dessa forma, há respaldo bíblico para afirmar que a Páscoa foi transmudada em Santa Ceia e que a circuncisão foi ressignificada pela ordenança do batismo. Contudo, daí a defender que haja batismo de crianças por que a circuncisão acontecia no oitavo dia de nascimento, constitui-se em verdadeira agressão hermenêutica, uma vez que não há designações neotestamentárias que fundamentem tal tese.
O pacto abraâmico, portanto, ao exigir como condição de aceitação a circuncisão, traduzia o simbolismo da morte do adorador, em oposição ao sacrifício de seres humanos, amplamente praticado em religiões pagãs. Paulo explica, todavia, que a circuncisão em si não era nada se a pessoa não fosse fiel a Deus, pois o que vale para o Céu é a circuncisão do coração (mente); a mesma regra aplica-se integralmente a quem participa da Santa Ceia.
No cristianismo, não adianta a pessoa apresentar santidade exteriormente se não houver, no interior, fidelidade, pureza e bondade. Nessa situação, o indivíduo não passará, como disse Jesus, de um sepulcro caiado, bonito por fora, nas cheio de podridão por dentro (Mt 23.27). Imprestável, portanto. Essa é, em suma, a ética do Reino de Deus em todos os tempos!
Uma marca de Deus
Ao longo da Bíblia observa-se o Senhor Deus, aqui e acolá, marcando as pessoas, seja no sentido físico, como foi o caso de Caim (Gn 4.15), ou espiritual, como se vê em Ez 9.4, em que o Altíssimo mandou que fosse colocada uma marca na testa daqueles que gemiam por causa do pecado de Jerusalém, e em Ap 19.16, quando Jesus, em glória, foi visto com uma inscrição na coxa: Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Interessante perceber, ao contrário, em Lv 19.28, que o Eterno proibiu aos homens colocarem marcas (hb. aqa` – que também pode ser traduzido por incisão, impressão, tatuagem) sobre a pele deles, pois isso teria uma representação simbólica importante sobre a “propriedade do indivíduo” – a quem a pessoa pertence – na medida em que havia um antigo costume no Oriente de que escravos e soldados levassem o nome ou o sinal de seu mestre ou comandante tatuado ou perfurado (cortado) em seus corpos para indicar a que mestre ou general eles pertenciam. Alguns devotos pagãos, igualmente, e com o mesmo sentido, marcavam a si mesmos desta forma, com o símbolo identificativo dos deuses que adoravam.
Assim, quando o Todo-Poderoso anunciou que a circuncisão – a resposta humana de aceitação – ficaria como sinal (hb. owth– marca distintiva, ou símbolo) da aliança estabelecida (Gn 17.11), demonstrava que, sendo Ele o Criador, poderia marcar os homens com a cicatriz da circuncisão, ou outra qualquer (como aconteceu com Caim) – isso é soberania – porém os homens não deveriam permitir nenhuma inscrição em sua pele (Lv 19.28), a fim de denotarem que suas vidas eram consagradas exclusivamente ao Senhor, que os marcara.
O significado espiritual da circuncisão, portanto, era tão importante que o apóstolo Paulo, pelo Espírito, em Rm 4.11 (versão NAA), afirmou: “E Abraão recebeu o sinal [gr. semeion– marca, símbolo – que indica, no texto, aquilo pelo qual uma pessoa é diferenciada das outras e pelo qual se faz conhecida] da circuncisão como selo da justiça da fé (...)”. Que visão extraordinária! Paulo estava ensinando que a circuncisão deixava mais que uma cicatriz, era um sinal de Deus, o selo da justiça que provém da fé, porque não era autorizada em face da realização de algum ato de “justiça própria” do homem, que sugerisse sua autojustificação pelas obras da lei. Absolutamente, mas era realizada, pela fé, em todos os meninos (já que não existe predestinação individual para alguém ir para o céu ou o inferno) aos oito dias de nascimento.
O sinal de Deus no homem pela circuncisão (Rm 4.11), simbolizava a concessão divina de comunhão e autoridade que defluiriam, para todos que cressem, do sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário (com efeito retroativo), conforme está escrito: “...para que aquele que nEle crer...” (Jo 3.16). Nesse sentido, o mesmo Paulo escreveu: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo e para que, pela fé, nós recebamos a promessa do Espírito” (Gl 3.13, 14 – grifo acrescido). Isso é Graça, o dom imerecido. O selo da justiça da fé.
Mister recordar, porém, que a geração que saiu do Egito, não obstante circuncidada na carne, não tinha coração e lábios circuncidados (Ex 6.12; Lv 26.41; Rm 2.25), por isso morreu no deserto. Nesse passo, em Gl 6.17, Paulo fez lembrar que trazia no seu corpo as marcas (gr. stigma– sinal perfurado ou marca "a ferro e fogo") de Cristo. Essas marcas espirituais (embora ele possa aqui estar fazendo um trocadilho pelas cicatrizes que possuía, em face das 195 cruéis chicotadas recebidas dos judeus – 2 Co 11.24) constituíam-se no selo de sua comunhão com Deus e autoridade espiritual. Por isso, os gálatas não deveriam molestá-lo por questões sem importância, alusivas à lei mosaica, haja vista que ele já tinha o suficiente para a salvação– as marcas de Cristo.
Requisito para ser guerreiro
Para vencer as guerras que se avizinhavam, além da bênção de Deus, Israel precisava de um exército valoroso, obediente e cheio de fé, à altura do seu líder. Por isso, a restauração do pacto abraâmico era condição indispensável para se comer a Páscoa (Ex 12.44,48), bem como para um hebreu tornar-se guerreiro (Js 5.4); aliás, em Gn 17.14 Deus disse que os não circuncidados deveriam ser exterminados do povo e, de fato, o Senhor quase matou um filho de Moisés porque ele não era circuncidado (Ex 4.24-26).
Por tudo isso, a circuncisão para um guerreiro soava com uma verdadeira proteção (1Sm 17.26,36; Jz 14.3; 15.18; 1 Sm 14.6; 18.25; 2Sm 1.20; 3.14), que trazia a garantia da aliança com Deus, entretanto, ao mesmo tempo, tratava-se de uma cirurgia extremamente debilitante. Para se ter uma ideia das sequelas físicas, em Js 5.8 está escrito que o exército ficou desmobilizado até que sarassem as feridas, as quais provocavam fortes dores nos homens por, pelo menos, três dias (Gn 34.24,25), explicação apresentada por Josué como justificativa para a excepcionalidade da não circuncisão dos guerreiros até aquele momento (Js 5.4-7).
Um lugar chamado Gilgal
Lugar de aliança
Deus frequentemente escolhe lugares especiais para atos marcantes. Alguns desses ambientes são de incomparável beleza, como foi o caso de Cesareia de Filipe, para onde Jesus levou seus discípulos e ali ouviu a declaração de Pedro de que Ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.13-16); outros, porém, são bastante inóspitos e estigmatizados, tal como a Ilha de Patmos, que era utilizada para abrigar prisioneiros do Império Romano, onde Deus revelou todo o futuro a João. Assim, haja vista que nada acontece por acaso no Reino de Deus, o Senhor escolheu Gilgal como o local da renovação da aliança abraâmica, amalgamando os sentimentos de comunhão com Deus e a unidade de propósitos entre os Israelitas.
Gilgal, que pode ser traduzido por Monte de Prepúcios (Js 5.8 ARA), constituiu-se em um memorial, às gerações futuras, acerca das muitas circuncisões ocorridas– símbolo da conversão nacional – corroborando a ideia de que os prepúcios, quando cortados, foram amontoados em uma pilha e cobertos com terra, formando um pequeno monte.4
Aquele lugar, na verdade, por muito tempo seria um espaço de referência para os hebreus, sendo que ali se tornou um dos três lugares em que Samuel julgava a Israel (1Sm 7.16), um local de sacrifícios (1 Sm 10.8; 13.8; 15.21) e onde Saul foi proclamado rei (1Sm 11.15). Talvez lá tenha se tornado o centro da escola de profetas no tempo de Elias e Eliseu (2 Rs 2.1-4; 4.38). Uma localidade, portanto, que participou de forma importante da vida política e religiosa dos israelitas.
Lugar de exaltação
Em Js 5.9 o Senhor disse que, por causa da confirmação da aliança abraâmica, Ele tirou, naquele dia, o opróbrio (grande desonra pública) do Egito sobre os Israelitas, porque naquele momento “eles foram reconhecidos como sendo filhos de Deus livres, tendo o selo da aliança em sua carne” 5, não havendo mais nenhum resquício de influência da cultura do Egito. Isso significava que a vergonha, vexame, desgraça, de ter a aliança abraâmica suspensa (Nm 14.28-30), por causa do amor ao Egito (Nm 14.2-4), que gerou a desaprovação do povo diante de Deus, e fez milhares morrerem no deserto (Nm 14.22,23), resolvera-se ali!
A estratégia e perícia humanas apresentavam-se como elementos importantes para a conquista de Canaã, como se viu nos combates descritos por Josué, entretanto, caso os guerreiros estivessem conformados com este mundo (Rm 12.1,2), de nada serviria toda a preparação. Exemplo disso aconteceu em Nm 14.40-45, quando um grupo de combatentes, desobedecendo à orientação de Moisés, começou uma guerra para conquistar a terra prometida, mas foram fragorosamente esmagados pelos inimigos.
Da mesma forma, para os cristãos entrarem no descanso que Deus tem preparado para aqueles que O amam, deve ser removido todo o resquício de influência do mundo (o que Deus considera “opróbrio”), e isso se dá quando acontece a verdadeira conversão, pois “quem está em Cristo nova criatura é, as coisas velhas já passaram e eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17).
Lugar de prosperidade
Gilgal, o primeiro acampamento em Canaã, era, por excelência, um lugar do qual manava leite e mel. Ali não havia crise hídrica, e nem crise de pão. Os israelitas se sentiam muito felizes em Gilgal, pois estavam livres das dificuldades que suportaram no deserto e julgavam nada mais terem o que recear.6
Há um tempo, na vida do servo de Deus, que as coisas inexoravelmente são difíceis e, por isso, os milagres são abundantes, como aconteceu na caminhada pelo deserto. Entretanto, passado o deserto, renovada a aliança com Deus, e chegado o tempo do cumprimento da promessa, os milagres da Providência diminuirão, em face da prosperidade da abundância da terra prometida. Nesses dias, a dependência de Deus ainda será necessária (antes o povo era saciado milagrosamente com água saída da Rocha, todavia agora beberia regularmente as águas das chuvas – Dt 11.11,12), mas é certo que um novo padrão de acontecimentos, com alguma previsibilidade, desenvolver-se-á.
A celebração da Páscoa
Um pouco de história
A informação de Paulo de que o Reino de Deus consiste em justiça, paz e alegria no Espírito (Rm 14.17), confere com percepção de que o Senhor costumeiramente se relaciona com seus filhos através de festas, sejam elas as estabelecidas por Deus ou criadas pelas tradições. São muitas. O próprio Jesus, nos seus dias sobre a Terra, habitualmente frequentava festas, fossem elas religiosas ou não. No evangelho de João, por exemplo, quase todos os eventos narrados aconteceram antes, durante ou logo após a celebração de alguma festa; vale lembrar que primeiro milagre de Jesus aconteceu numa festa de casamento. Ele morreu na festa da Páscoa, Sua ressurreição e a ressureição dos santos, quando do arrebatamento, estão vinculadas biblicamente à festa das primícias (1Co 15.20-23) e o Espírito Santo foi enviado durante a festa de Pentecostes.
O que interessa, neste instante, entrementes, é tratar acerca de uma das mais importantes, a da Páscoa, que foi estabelecida por Deus, sob a administração de Moisés, em Ex 12.1-20, sendo determinado que, no dia 10 do mês de abibe (ou nisã), o povo separasse um cordeiro, ou cabrito, por família, porque, dentro de quatro dias, o animal seria sacrificado, assado no fogo e comido com pães ázimos e ervas amargosas, e isso apressadamente, haja vista que o povo estaria em retirada da terra dos faraós. Assim, no dia 14 do mês de abibe (ou nisã) ela foi celebrada pela 1ª vez no Egito (Ex 12.12); a 2ª vez aconteceu no deserto, ao pé do Sinai (Nm 9.5) e depois disso houve sua suspensão, por causa da rebelião dos filhos de Israel, pois em seus corações voltaram ao Egito (At 7.39), pelo que Deus rejeitou àquela geração. Quando, porém, em Gilgal, aconteceu a circuncisão dos hebreus que nasceram no deserto, e o Senhor retirou de sobre eles o opróbrio do Egito, pela confirmação da aliança abraâmica, o Senhor concordou que, pela 3ª vez em 40 anos, a Páscoa fosse comemorada.
Páscoa: um memorial judaico perpétuo
Importante mencionar que não há informação de que os crentes da igreja primitiva tenham celebrado a Páscoa, tendo Jesus a comido pela última vez, juntamente com seus discípulos, na noite em que foi traído, quando a reinterpretou, em consonância com suas próprias experiências, fazendo-a adquirir maior significado em Sua própria Pessoa, retendo, com isso, todo o simbolismo, ao estabelecer a ordenança da Santa Ceia 7. A partir de então os crentes estão esperando o dia em que Ele beberá conosco do fruto da vide no Reino do Pai (Mt 26.29; Mc 14.25; Lc 22.18), nas bodas do Cordeiro (Ap 19.7,9), mas em relação aos judeus ela foi estabelecida em memorial perpétuo (Ex 12.17). Paulo, nesse sentido, afirmou que Cristo é a nossa Páscoa (1Co 5.7)!
A perpetuidade do memorial judaico tem arrimo em suas raízes históricas, pois eles nunca devem esquecer que foram escravos do Egito e que o Senhor os tirou de lá com mão forte e braço estendido, sendo que o cordeiro trazia à lembrança o sacrifício; o pão sem fermento era um memorial à pureza e as ervas amargosas fazia menção à servidão amarga do Egito8. Não por a acaso, na Santa Ceia também, espiritualmente, fazemos a mesma viagem introspectiva, olhando para nosso o passado, presente e futuro em Cristo.
Páscoa: um símbolo poderoso
A Páscoa era uma festa obrigatória para os hebreus, e a ausência injustificada de alguém apto seria punida com a morte, haja vista a força simbólica do evento. Confirmando tal circunstância, João Batista disse que Jesus era o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29), fazendo clara alusão ao Senhor como o Cordeiro pascoal, e, com isso, atribuindo-lhe um simbolismo ainda mais poderoso: representava a morte do Filho Unigênito de Deus!
Desde o início, quando celebrada ainda no Egito, não se tratava, aos olhos do Eterno, de mera celebração cívico-religiosa, era na verdade um culto ao Deus verdadeiro, o criador do Universo, o qual se encarnaria, fazendo-se semelhante aos homens, e entregaria voluntariamente Sua vida para salvar a humanidade de seus pecados.
Conclusão
A circuncisão nacional dos nascidos no deserto, bem como a comemoração da Páscoa, por Josué, em Gilgal, provavelmente, diante de Deus, foram os episódios mais importantes de seu ministério. A passagem pelo rio Jordão, a queda dos muros de Jericó, a vitória sobre 31 reis cananeus têm seu excepcional significado espiritual e histórico, sem dúvida, mas esses dois fatos, que cravaram irretorquivelmente que o Altíssimo voltava-se, com compromisso, à geração que entrou em Canaã, ressai gloriosamente como a garantia de que todas as outras coisas dariam certo. Israel, enfim, estava apto para tomar posse das promessas divinas.
1 PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard F.; REA, John. Dicionário Wycliffe. 1ª ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 421.
2 PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard F.; REA, John. Dicionário Wycliffe. 1ª ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 61.
3 STOTT, John W. R..O Discípulo Radical. Viçosa, MG: Ultimato, 2011, p.26.
4 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico - Antigo Testamento - Josué a Ester. vol. 2, Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 21.
5 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico - Antigo Testamento - Josué a Ester. vol. 2, Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 20.
6 JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 241.
7 JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 241.
8 CHAMPLIN, R. N.. Enciclopédia de Biblia, Teologia e Filosofia. 13ª ed., vol. 5, São Paulo: Hagnos, 2015 p. 101.
Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso no preparo de suas Lições Bíblicas de Jovens. Nossos subsídios estarão à disposição toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não vão esgotar todo o assunto e não é uma nova lição (uma lição extra). Você não pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo.