Lição 5 - Vivendo uma Vida Santa
2º Trimestre de 2018
INTRODUÇÃO
I - VIDA SANTA QUE AGRADA A DEUS
II - O IMPERATIVO DA PUREZA SEXUAL
lII - A SANTIFICAÇÃO EM TODA MANEIRA DE VIVER
CONCLUSÃO
Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Caracterizar o tipo de comportamento que agrada a Deus;
Refletir a respeito do imperativo bíblico acerca da pureza
sexual;
Compreender que a santidade deve abranger todas as áreas de
nossa vida.
Palavra-chave: Santidade.
Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu
plano de aula, leia o subsídio abaixo:
“No capítulo 4 de 1 Tessalonicenses, vemos o início do
esforço de Paulo para responder algumas demandas doutrinárias e procedimentais
daquela comunidade. Neste momento específico da carta, temos uma profunda
reflexão sobre a necessidade de uma vida santa. O contexto politeísta do mundo
antigo no qual aquela igreja estabeleceu-se exigia muito mais do que uma
simples “troca” de deuses, ou seja, a conversão ao cristianismo implicava uma
série de mudanças comportamentais na vida pública e privada.
Ser cristão em Tessalônica acarretava não apenas mudanças
litúrgicas, mas também o abandono de todo um repertório sociocultural que tinha
a religiosidade como pano de fundo, e, nesse caso, com grande destaque, o
orfismo — principal religião mistérica do mundo helênico.
Reflitamos, então, sobre as orientações acerca da vida
privada — centradas, aqui, na questão da sexualidade —, assim como naquelas
destinadas à vida pública — pautadas na exigência de uma vida proba,
desvencilhada das corrupções e abusos aos mais fracos; práticas tão comuns
naquele contexto histórico.
I- O Cristão e a Cultura
Existe um modelo de procedimento social a ser adotado por um
cristão? O modelo de vida proposto por Paulo aos tessalonicenses para uma
comunidade há 2 mil anos ainda tem caráter aplicável na sociedade atual? Ao
discutirmos questões relativas à vida em sociedade dos cristãos, devemos
pautar-nos em regras ou princípios, atitudes ou conceitos?
Ora, as respostas a essas questões envolvem uma série de
comprometimentos conceituais, os quais, por se organizarem como uma cadeia
argumentativa, não podem ser assumidos sem levar em consideração aqueles que
estão conectados a eles.
Talvez, a questão central em toda essa discussão seja
compreender a relação entre cristianismo e cultura, mais especificamente sobre
a necessidade de apresentação dos princípios norteadores da cultura cristã e a
aplicabilidade dos mesmos à realidade comunitária de cada igreja local.
Se assumirmos o caráter estrutural dessa questão, a
necessidade de resposta a algumas das seguintes questões impõe-se: o que é
cultura? Existe uma cultura cristã ou apenas pressupostos cristãos que,
aplicados a qualquer cultura, ressignificam as práticas culturais vigentes de
qualquer sociedade? Diante do multiculturalismo contemporâneo, a defesa de
pressupostos supra culturais ainda faz sentido?
Partamos da definição de cultura como tudo aquilo que é
realizado pelo homem e não está condicionado pelo biológico. De tal concepção,
deriva-se uma inevitável conclusão: apenas o homem produz cultura, uma vez que
todos os demais seres vivos estão subordinados às suas determinações
genético-biológicas, restritos, assim, aos seus instintos animalescos, a uma
determinada região geográfica e modo de vida, por exemplo; o homem, por sua
vez, é criador de seus costumes, produtor de seu modo de vida e colonizador de
todo o planeta.
Para que se esclareça mais ainda tal definição de cultura,
lembremo-nos de que o homem é o único ser capaz de transformar a natureza,
enquanto os demais seres apenas se apropriam da mesma do modo como esta lhes é
apresentada. Criamos objetos para superar nossas limitações biológicas. Com o
avanço da tecnologia, somos capazes de, inclusive, por meio de substâncias que
produzimos ou transformações que realizamos em nós mesmos, alterar
condicionamentos naturais — pensemos em cirurgias para implantes de córneas,
utilização de próteses para substituição ou melhoramento de membros ou órgãos,
etc. Sobre essa concepção de cultura como elemento constitutivo e construtivo
do homem, afirma-nos Laraia:
O homem é o resultado do meio cultural em que foi
socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o
conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas gerações que o
antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural
permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação
isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade.
(LARAIA, 2008, p.48)
Pode-se, no entanto, restringir o conceito de cultura ao
conjunto de práticas significantes produzidas por uma determinada coletividade.
De acordo com essa definição stricto sensu de cultura, podemos entender que
cada comunidade, em períodos de tempo específicos, produziu uma série de
conhecimentos, artes, costumes e rituais — em suma, cultura — que só pode ser
entendido a partir de uma vivência interna à própria comunidade. Desse modo, um
simples observador externo será incapaz de compreender determinadas práticas
culturais; no máximo, será capaz de avaliá-las somente a partir de seu prisma
cultural particular, deformando, assim, o significado de certo conjunto de
ações próprio de uma sociedade.
A pergunta que persiste é: como definir uma cultura cristã?
Falando em termos sociológicos, seria mais exato falar sobre a cultura da
comunidade cristã em Tessalônica. Ou seja, as práticas culturais da Igreja em
Tessalônica provavelmente serão distintas daquelas vivenciadas na comunidade
cristã em Corinto, por exemplo, apesar de ambas serem coletividades que se
guiam religiosamente de acordo com a orientação cristã.
É por isso que Paulo não criticará, especificamente, a
alimentação onívora ou vegetariana dos grupos em conflito na Igreja de Roma,
mas, antes, exortará que, acima das questões gastronômicas — e é simplesmente
neste nível que elas são definidas pelo apóstolo —, estejam o amor ao próximo e
a misericórdia para com os mais frágeis na fé. A discussão que se concentra na
questão da liberdade e tolerância materializa-se por meio de uma celeuma
cultural (Rm 14) . Acerca de uma abordagem bíblico-teológica sobre a cultura,
defende Schwambach:
Se lermos o AT e o NT, vamos ver que a realidade do pecado
corrompeu os seres humanos e tudo o que eles pensam, falam, fazem, constroem,
inventam etc. Isso significa que toda a produção cultural da humanidade está
afetada pela realidade do mal, da queda, do pecado. O exercício de qualquer
profissão, o ensino em todos os níveis, toda a ciência, toda a tecnologia, toda
política, toda a arte, mas também todos os tipos de pensamento humano — toda a
elaboração filosófica, ideológica, cultural e até mesmo religiosa... Nenhuma
dessas realidades ficou sem ser atingida pela trágica realidade da queda.
(SCHWAMBACH, 2011, p.32,33)
Segundo esses critérios, parece ser mais coerente falar de
princípios supraculturais com relação ao cristianismo. A defesa daquilo que
seria o conceito de “cultura cristã” — abstraída de toda materialidade e
intersubjetividade social — implicaria na aceitação de que tal produção
cultural é fruto da ação humana que, ao longo dos séculos, por tradição, foi
transmitida às gerações seguintes. Sem dúvida alguma, o cristianismo e seus
pressupostos culturais são muito mais que uma elaboração humana, limitada ao
gênio de uma determinada comunidade e seus membros.
Outro argumento que nos auxiliará a rejeitar a ideia de uma
“cultura cristã” entendida como elemento produzido pontualmente em certo ponto
da história é o de que a produção cultural é algo extremamente dinâmico, movido
pelas transformações políticas, econômicas e sociais, atualizando-se
continuamente conforme as interações internas e externas de cada povo. Ora, se
as verdades cristãs que seguimos são eternas, logo estas não podem ser um
produto exclusivo da dinâmica social de uma comunidade.
Infelizmente, o que se percebe é que, ao longo dos séculos,
práticas culturais pertencentes a comunidades específicas foram impostas a
outras coletividades humanas sob o pretexto de serem parte de um conceito
abstrato de “cultura cristã”. Esse tipo de processo de violência simbólica é
que se denomina de etnocentrismo — a defesa da imposição de aspectos culturais
de um povo sobre outro de modo coercitivo e cruel.
É necessário, entretanto, reconhecermos que algumas práticas
culturais adotadas por certos povos colidem frontalmente com os princípios
cristãos, de tal forma que o papel da evangelização cristã nessas comunidades
será o de promover não apenas redenção individual, mas também a transformação
coletiva; não apenas salvação pessoal, mas também a restauração sociocultural.
Sobre essa delicada questão, os elaboradores do relatório
sobre a questão da cultura do movimento de Lausanne afirmam:
A conversão não deve “desculturalizar” o convertido. Na
verdade, como temos visto, sua lealdade agora pertence ao Senhor Jesus, e todas
as coisas do seu contexto cultural devem submeter-se ao escrutínio do Senhor.
Isso se aplica a toda a cultura, não somente às culturas hindu, budista,
islâmica ou animista, mas também à cultura cada vez mais materialista do
Ocidente. A crítica pode produzir uma colisão, à medida que elementos da
cultura forem submetidos ao juízo de Cristo e tiverem de ser rejeitados. Nesse
ponto, como reação, o convertido pode tentar adotar a cultura do evangelista em
lugar da sua. Deve-se resistir firme, mas carinhosamente a essa tentativa.
Dever-se-ia estimular o convertido para que visse suas relações com o passado
como uma combinação de ruptura e continuidade. Por mais que os novos
convertidos sintam que precisam renunciar por amor de Cristo, ainda são as
mesmas pessoas, com a mesma herança e a mesma família. “A conversão não desfaz;
ela refaz.” É sempre trágico, embora seja às vezes inevitável, quando a
conversão da pessoa a Cristo é interpretada por outros como traição às suas
origens culturais. Se possível, a despeito do conflito com sua cultura, os
novos convertidos deveriam procurar identificar-se com as alegrias, esperanças,
dores e lutas de sua cultura própria. (LUZBETAK, 1985, p.34)
Percebe-se, assim, que a busca incessante de cada comunidade
cristã local deve ser alinhar suas tradições e costumes ao crivo dos
pressupostos da cruz, os quais são eternos, supraculturais e constitutivamente
promotores da bondade e da justiça. Somente uma abordagem nesse nível poderá
ajudar-nos a fugir do falso dilema do relativismo cultural de um mundo
multiculturalista.
As múltiplas culturas podem e devem coexistir pacificamente
entre si. O que é inaceitável é o fato de que atos de violência — seja esta
simbólica ou física — sejam defendidos como tradições culturais respeitáveis.
Tudo aquilo que subjuga o outro sem conceder-lhe qualquer oportunidade de
escolha diferente, expropriando-lhe a humanidade e condicionando sua existência
à reificação deve ser totalmente rejeitado e combatido.
Paulo, os Tessalonicenses e o Padrão de Vida Cristão
Uma vez tendo sido realizado tal esclarecimento sobre o
papel da cultura e sua relação com o cristianismo, ficam mais claras as
orientações paulinas à comunidade tessalonicense. A preocupação de Paulo
repousava na necessidade de esclarecer àqueles novos cristãos que alguns
elementos de suas práticas culturais não eram próprios de execução para alguém
que experimentou um novo nascimento, uma vez que tais atitudes estavam
inteiramente ligadas a práticas idolátricas.
Um dos possíveis exemplos a serem apresentados sobre essa
relação das práticas socialmente regulares entre os tessalonicenses, porém
reprováveis segundo o padrão do cristianismo, é àquele que remete ao uso do
vinho nas celebrações antigas. Segundo Almeida (2014, p.27): “As orgias em
torno do vinho na Ásia Menor e na Palestina — os tabernáculos, solenidades dos
cananeus, eram, originalmente, orgias ao estilo dos bacanais — foram marcadas
por estados idênticos de êxtase aos das orgias em torno da cerveja na Trácia e
na Frígia.”
Rituais celebrativos do culto dionisíaco — os quais possuíam um calendário anual de,
pelo menos, três grandes festejos públicos anualmente — estavam intrinsecamente
associados a práticas sexuais. Cultos centrados no conceito de fertilidade da
terra que estavam interligados ao uso do corpo como oferenda às divindades, por
meio de danças, orgias e possessões, era algo muito comum naquele contexto
histórico.
Dessa maneira, o que temos na fala de Paulo no início do
capítulo 4 de 1 Tessalonicenses é a determinação de um sintoma que
caracterizava a sociedade em Tessalônica: a violência. Em virtude da forte
tradição do dionisismo que se desenvolveu naquela comunidade, os indivíduos não
conseguiam perceber que a objetivação de seres humanos — especialmente de
mulheres, com relação à sexualidade — é um dos mais degradantes atos de
subjugação. Por isso, o que Paulo faz nesse momento de seu ministério é
denunciar elementos de injustiça e dominação que operavam em Tessalônica sob o
pretexto de piedade religiosa.
Como se pode perceber, a exortação paulina à santidade na
sua epístola aos tessalonicenses, quando devidamente contextualizada, ganha
outras conotações que vão além de um mero ascetismo cristão. As preocupações de
Paulo com aquela jovem comunidade estavam diretamente ligadas à urgente
necessidade de cada indivíduo perceber a completa incompatibilidade que havia
entre o culto a Cristo Jesus e às celebrações, por exemplo, a Dioniso-Osíris.
A problemática da prostituição — para além de todo o debate
estabelecido por Paulo em outros textos — está relacionada em Tessalônica à
questão das possessões dionisíacas durante os bacanais . A devassidão sexual,
sendo prática condenável em si mesma segundo a ótica cristã, estava diretamente
associada às potestades que envolviam os cultos dionisíacos. Alertar a cada um
possuir seu vaso em santificação e honra (1 Ts 4.4) envolve diretamente a
necessidade de manter o corpo em separação exclusiva para Deus.
Perceba, no entanto, que a dedicação religiosa do corpo a
Jesus Cristo no culto cristão significa algo completamente diferente daquilo
que a possessão dionisíaca produz. Enquanto Dioniso bestializa seus adoradores
— conduzindo-os ao completo descontrole, aos seus instintos mais baixos e à
perda da consciência de si —, a consagração do corpo ao Senhor Deus implica
domínio próprio, adoração consciente e profundo autoconhecimento — produzido
pelo entendimento da fragilidade constitutiva de tudo aquilo que é humano.
A santidade de Deus em nossas vidas conduz-nos, muitas
vezes, a um padrão de sociabilidade que, de várias maneiras, transcende as
convenções sociais convenientemente aceitas, porém moral e espiritualmente
reprováveis. Assumir-se cristão em Tessalônica implicava em enfrentar a fúria
dos seguidores de César, Baco, Osíris e de tantos outros seres e deuses que
dominavam a cena política e religiosa daquela cidade.”
*Este subsídio foi adaptado de BRAZIL, Thiago. A Igreja do
Arrebatamento: O Padrão dos Tessalonicenses para Estes Últimos Dias. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
Que Deus o(a) abençoe.
Telma Bueno
Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens
1 Que fique registrado que uma questão absolutamente similar
na Igreja de Corinto também é abordada de forma análoga por Paulo (1 Co
8).
2 Especialistas afirmam que o Dioniso greco-romano é a mesma
divindade que era cultuada no Egito sob a denominação de Osíris. Dioniso-Osíris
é, dessa maneira, o deus dos rituais de fertilidade, do vinho e dos êxtases
sexuais coletivos. Cf. SISSA, Giulia. DETIENNE, M. Um falo para Dioniso. In: Os
deuses gregos. São Paulo: Cia das Letras, 1990. p. 267-277.
3 Eram assim que se denominavam oficialmente as celebrações
a Dioniso — ou Baco, como também era nomeado. Esses rituais envolviam
predominantemente mulheres que, entusiasmadas por Baco, entravam em transe
religioso, despindo-se, indo em bandos para as florestas, tomadas por um
frenesi bestial que as conduzia às mais animalescas práticas sexuais.
Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso
no preparo de suas Lições Bíblicas de Jovens. Nossos subsídios estarão à
disposição toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais
um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não
vão esgotar todo o assunto e não é uma nova lição (uma lição extra). Você não
pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso
objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa
fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos
preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo.