quinta-feira, 26 de abril de 2018

Lição 01 - 2º Trimestre 2018 - O Relativismo Moral - Juvenis.


Lição 1 - O Relativismo Moral

2º Trimestre de 2018

ESBOÇO DA LIÇÃO

1. EXISTE UMA VERDADE ABSOLUTA: JESUS CRISTO

2. O RELATIVISMO É PECADO

3. ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS DO RELATIVISMO



OBJETIVOS

Saber que existe uma verdade absoluta: Jesus Cristo;

Compreender o que é relativismo;

Conhecer algumas características do relativismo.

Querido (a) professor (a), um novo trimestre se inicia e com ele a oportunidade de ensinar aos juvenis acerca da Palavra de Deus, nossa grande aliada para lidar com as “questões difíceis do nosso tempo” – que é justamente o tema desta revista. Portanto, abra o seu próprio coração para ser alimentado pela instrução e fé, que vem pelo ouvir dessa poderosa Palavra (Rm 10.17).

Em dado momento da história de Israel o Senhor lhes disse: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta o conhecimento [...]” (Os 4.6 ARA). Que isto não nos suceda em nossos dias, em nossa igreja, em nossa classe. Oremos e vigiemos quanto a isso. Não apenas zelando por ler, tornando-nos meros conhecedores da Bíblia, mas também por sermos praticantes fervorosos dela.

Todos nós, envolvidos na obra do Senhor, ou com longa data de caminhada na igreja, precisamos tomar cuidado para não nos tornarmos como os sacerdotes Hofni e Finéias. Eles se tornaram tão acostumados com a Casa de Deus, com as Escrituras, tão habituados a conviver em meio ao sagrado, até mesmo ocupando cargos eclesiásticos importantes, tão próximos das coisas de Deus, mas os seus corações acabaram se distanciando do Deus de todas as coisas. Tal como Uzá, pelo costume com a obra do Senhor, esqueceram-se do poder extraordinário do Senhor da obra e do respeito que devemos ter a Ele (1 Sm 2.18-22; 1 Cr 13.9,10).

Portanto, prezado (a) professor (a), para começar este novo ciclo, sugerimos que você reserve um tempo para estar na presença do Altíssimo, refletindo sobre sua relação com Ele e a missão que Ele a ti entregou. Interceda pela sua vida, por um renovo espiritual para você, que se estenda também para toda a sua classe, refletindo no seu ministério.

Esta primeira aula do trimestre abordará um tema muito em voga, especialmente nos círculos sociais acadêmicos de nossos jovens. Por isso, esteja bem preparado para responder possíveis questionamentos e contrapontos dos alunos, mas sempre incentivando a participação e o diálogo aberto. Sua sala de aula precisa ser um ambiente em que eles se sintam seguros e a vontade para expressar suas dúvidas e opiniões, sem serem criticados por elas. Você, mestre, é o maior responsável por cooperar na criação desta ambiência acolhedora e fértil para o conhecimento. A fim de ajudá-lo no estudo mais aprofundado deste tema, sugerimos como subsídio o artigo do nosso comentarista Esdras Bentho, mestre em Teologia e autor de alguns livros pela CPAD para o portal de notícias CPAD News.

Relativismo e Cultura Cristã

O vocábulo “relativismo”, procede de dois termos latinos: “relatīvus” e “ismo”. O primeiro que se traduz por “relativo”, “referente”, “respeitante”, “que indica relação”, procede do verbo “refērre” cujo sentido primário é “levar”, mas também “trazer”, “refletir”, “referir” e “relatar”. O segundo, “ismo”,  é um sufixo que tanto pode derivar do grego “ismos” quanto do latim “ismo”, mas que ambos denotam sistema, ou doutrina filosófica.

Para compreendermos o relativismo é necessário esclarecermos o conceito de relação (já presente na definição do termo) como categoria do pensamento e conexão objetiva entre uma coisa e outra. Segundo o filósofo Edmund Husserl, o relativismo foi enunciado pela primeira vez por Protágoras de Abdera, filósofo pré-socrático, ao afirmar: “O homem é a medida de todas as coisas, do ser daquelas que são e do não ser daquelas que não são”. O sentido deste aforismo é que cada pessoa em particular depende das coisas, não de sua realidade física, mas de sua forma conhecida. Logo, o conhecimento é subjetivo, relativo e sensual, ou seja, “passa pelos sentidos”.  A questão levantada é se o homem tem ou não capacidade de conhecer a íntima natureza das coisas e a lei moral absoluta. Se a expressão “o homem” tratar-se de cada ser ou do indivíduo, a forma de relativismo proposta é subjetiva, isto é, circunscrita à pessoa, ao individuo. Assim teríamos tantas verdades quanto são as pessoas.  Deve-se observar, entretanto, que o relativismo apresentado nesta afirmação protagoriana é relacionada ao “relativismo do conhecimento ou gnosiológico”. Segundo Protágoras, o conhecimento racional é absoluto, enquanto o sensível, é relativo.

Vejamos o relativismo na filosofia aristotélica e contemporânea.

Na filosofia aristotélica são relativas as coisas cujo ser depende de outras. Nesse conceito, o relativo é oposto ao absoluto, isto é, que existe por si mesmo. Absoluto, portanto, é a Causa sem causa, enquanto o relativo é uma consequência proveniente de uma causa e que depende dela para ser explicada. O absoluto é autossuficiente, enquanto o relativo, não. O absoluto corresponde à existência de Deus e o relativo aos seres criados. Modernamente, no entanto, o relativismo é a teoria que nega a existência de qualquer teoria, regra, moral,  ética ou qualquer outro tipo de verdade que assuma para si o postulado de absoluto, inequívoco ou transcendente.

O relativismo, como observamos nos conceitos anteriores, assume diversas categorias ou classificações. Entre elas destacamos:

Relativismo Cognitivo (Conhecimento relativo)

Segundo o relativismo cognitivo, gnosiológico ou do conhecimento, toda opinião é justificável em razão de suas respectivas evidências. Não existe qualquer questão objetiva as quais um conjunto de normas deva ser aceito. O ateu, por exemplo, está certo por negar a existência de Deus; o cristão está correto ao afirmar que Deus existe.  O conhecimento do primeiro é materialista ou naturalista, o do segundo, teológico ou teleológico. No entanto, todas as duas opiniões são relativas. Não se pode assegurar qual das duas é absolutamente verdadeira. Mas, observemos que uma afirmação nega a outra. Portanto, as duas não podem estar certas. Uma está correta enquanto a outra está equivocada. Uma atesta de acordo com a verdade, enquanto outra, segundo a mentira. O relativismo, por conseguinte, é contraditório. De acordo com esta corrente, todas as formas de conhecimento são relativas ao mesmo tempo em que não explicam a toda realidade ou verdade, mas delas, apenas possuem partes ou relampejos.

Relativismo Ético (Ética relativa)

O relativismo ético acredita que nada é objetivamente mau ou bom, e que a definição de bem ou de mal, depende de um ponto de vista particular da cultura ou de um período histórico. Segundo os relativistas, a moral e a ética são determinadas por condições mutáveis, diferentes e contraditórios. Portanto, não se pode absolutizar o conceito de bom ou mau, bem ou mal. Não existe qualquer critério absoluto de moralidade ou ética; logo, qualquer norma ética e moral são arbitrárias e inconsistentes.

Relativismo Radical (Ceticismo)

O relativismo radical é a posição assumida pela corrente filosófica conhecida como “ceticismo”. Segundo o ceticismo o homem não pode chegar a qualquer conhecimento objetivo, quer nos domínios das verdades de ordem geral, quer no de algum determinado domínio do conhecimento. Para o cético, tudo é relativo, pois não é possível afirmar com certeza sobre qualquer possível verdade.

Apesar da teoria relativista de nosso tempo, o cristianismo ensina os valores absolutos. Os princípios e valores cristãos são opostos às normas e valores do mundo. Em primeiro lugar porque nós, os cristãos, cremos na existência de um só Deus, cujas leis regem não apenas o Universo, mas nossas vidas, planos e vontade. A cultura mundana, no entanto, nega a existência de Deus, ou então vive como se Deus não existisse (Sl 14; 53). Os valores cristãos possuem, pelo menos, três características principais. São universais, absolutos e imutáveis, pois procedem da vontade do Deus Pessoal Absoluto, Imutável e Universal. Vejamos em pormenor.

Universal. Os valores cristãos são universais em função de estarem fundamentados na moral divina. Nosso Deus é um ser moral. Os atributos divinos atestam que o Senhor é santo (Lv 11.44; 1 Sm 2.2), justo (2 Cr 12.6; Ed 9.15), bom (Sl 25.8; 54.6), e verdadeiro (Jr 10.10; Jo 3.33). Portanto, Ele é o padrão moral daquilo que é santo – oposto ao pecado –, daquilo que é justo – oposto a injustiça –, daquilo que é bom – oposto ao que é mau, e daquilo que é verdadeiro – oposto a mentira. Tudo o que é puro, justo, bom e verdadeiro têm sua origem no caráter moral de Deus. Logo, os valores morais são universais porque procedem de um Legislador Moral universal.

Absoluto. Absoluto é aquilo que não depende de outra coisa, mas existe por si mesmo. Os valores cristãos são absolutos porque procedem de um Deus pessoal que não depende de qualquer outro ser para existir. Ele é eterno (Dt 33. 27; Sl 10.16); existe por si mesmo (Êx 3.14), e tem a vida em si mesmo (Jo 5.26). Deus também é absoluto porque não está sujeito às épocas (1 Tm 1.17; 2 Pe 3.8; Jd 25). Ele governa eternamente o Universo (Sl 45.6; 145.13), e, seu reinado é de justiça (Hb 1.8). Portanto, as leis santas e justas de Deus são absolutas, porque procedem de um Legislador Absoluto.

Imutável. Imutável é a qualidade daquilo que não muda. Os valores cristãos são imutáveis porque o Senhor Deus é imutável. Ele não muda (1 Cr 29.10; Sl 90.2), é o mesmo em todas as épocas (Hb 13.8; Tg 1.17). Suas leis se conformam ao seu caráter moral, pois Ele é fiel (2 Tm 2.13). Portanto, os valores cristãos são imutáveis porque estão fundamentados no caráter perfeito e imutável de Deus.

Lembremos que:

A verdade é absoluta, mas o conhecimento que os homens possuem sobre ela pode ser relativo. Até fins da Idade Média, as autoridades eclesiásticas de então, acreditavam, fundamentado no livro de Josué, que a Terra era o centro do Universo. Outros, acreditavam que a Terra era plana e que os mares eram habitados por serpentes aladas, sereias e outros terríveis monstros. No Iluminismo e na época contemporânea, sabe-se que a Terra é que circula em torno do Sol e, não o contrário. Que a Terra é uma esfera e não um cubo. O que mudou? A verdade ou o conhecimento do homem sobre ela? A Terra não mudou de cubo para esfera ou passou a girar em torno do Sol.  O nosso conhecimento que mudou, passando de falso para verdadeiro e, não a absoluta verdade de que a Terra é uma esfera e que circula ao redor do Sol. 

A verdade é absoluta, não existem verdades relativas.  A verdade de uma sentença matemática é universal: 5 + 5 = 10, isto em qualquer lugar a todas as pessoas.A verdade é absoluta ou veraz. A palavra veraz é a raiz da palavra “veracidade”, que significa “verdade”, ou aquilo que é sempre verdadeiro, sem qualquer sombra de dúvida. Quando você  aprendeu a simples verdade de que 2+2=4, o seu professor estava falando com uma autoridade veraz. Este é um fato que não tem que ser arbitrado, discutido ou justificado. Ele é verdadeiro. É uma declaração irrefutável de um fato matemático.  Como no exemplo acima, qualquer coisa que é verdadeira possui autoridade pelo fato de ser verdadeira. O apóstolo Paulo reconheceu isto: “Porque nada podemos contra a verdade... “ (2 Co 13.8). A verdade tem Autoridade. Rejeitar a verdade é incorrer em julgamento: “Para que sejam julgados todos os que não creram na verdade (...)” (2 Ts 2.12). Deus, o Pai, fala a Verdade: Deus sempre diz a verdade; portanto, as palavras dele têm autoridade veraz: “Deus não é homem, para que minta... porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria” (Nm 23.19). A Bíblia é a Autoridade Veraz: É uma autoridade maior que qualquer posição na Igreja, na Ciência ou na Filosofia. (cf. Is 8.1).  Deus engrandeceu o seu próprio nome e a sua Palavra acima de todas as coisas (Sl 138.2).

O Senhor lhe abençoe e capacite! Boa aula e um trimestre enriquecedor.

Por Paula Renata Santos

Editora Responsável da Revista Juvenis

Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso no preparo de suas Lições Bíblicas de Juvenis. Nossos subsídios estarão à disposição toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não vão esgotar todo o assunto e não é uma nova lição (uma lição extra). Você não pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo.

Lição 05 - 2º Trimestre 2018 - Vivendo uma Vida Santa - Jovens.


Lição 5 - Vivendo uma Vida Santa

 2º Trimestre de 2018

INTRODUÇÃO

I - VIDA SANTA QUE AGRADA A DEUS

II - O IMPERATIVO DA PUREZA SEXUAL

lII - A SANTIFICAÇÃO EM TODA MANEIRA DE VIVER

CONCLUSÃO

Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:

Caracterizar o tipo de comportamento que agrada a Deus;

Refletir a respeito do imperativo bíblico acerca da pureza sexual;

Compreender que a santidade deve abranger todas as áreas de nossa vida.

Palavra-chave: Santidade.



Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio abaixo:

“No capítulo 4 de 1 Tessalonicenses, vemos o início do esforço de Paulo para responder algumas demandas doutrinárias e procedimentais daquela comunidade. Neste momento específico da carta, temos uma profunda reflexão sobre a necessidade de uma vida santa. O contexto politeísta do mundo antigo no qual aquela igreja estabeleceu-se exigia muito mais do que uma simples “troca” de deuses, ou seja, a conversão ao cristianismo implicava uma série de mudanças comportamentais na vida pública e privada.

Ser cristão em Tessalônica acarretava não apenas mudanças litúrgicas, mas também o abandono de todo um repertório sociocultural que tinha a religiosidade como pano de fundo, e, nesse caso, com grande destaque, o orfismo — principal religião mistérica do mundo helênico.

Reflitamos, então, sobre as orientações acerca da vida privada — centradas, aqui, na questão da sexualidade —, assim como naquelas destinadas à vida pública — pautadas na exigência de uma vida proba, desvencilhada das corrupções e abusos aos mais fracos; práticas tão comuns naquele contexto histórico.

I- O Cristão e a Cultura

Existe um modelo de procedimento social a ser adotado por um cristão? O modelo de vida proposto por Paulo aos tessalonicenses para uma comunidade há 2 mil anos ainda tem caráter aplicável na sociedade atual? Ao discutirmos questões relativas à vida em sociedade dos cristãos, devemos pautar-nos em regras ou princípios, atitudes ou conceitos?

Ora, as respostas a essas questões envolvem uma série de comprometimentos conceituais, os quais, por se organizarem como uma cadeia argumentativa, não podem ser assumidos sem levar em consideração aqueles que estão conectados a eles.

Talvez, a questão central em toda essa discussão seja compreender a relação entre cristianismo e cultura, mais especificamente sobre a necessidade de apresentação dos princípios norteadores da cultura cristã e a aplicabilidade dos mesmos à realidade comunitária de cada igreja local.

Se assumirmos o caráter estrutural dessa questão, a necessidade de resposta a algumas das seguintes questões impõe-se: o que é cultura? Existe uma cultura cristã ou apenas pressupostos cristãos que, aplicados a qualquer cultura, ressignificam as práticas culturais vigentes de qualquer sociedade? Diante do multiculturalismo contemporâneo, a defesa de pressupostos supra culturais ainda faz sentido?

Partamos da definição de cultura como tudo aquilo que é realizado pelo homem e não está condicionado pelo biológico. De tal concepção, deriva-se uma inevitável conclusão: apenas o homem produz cultura, uma vez que todos os demais seres vivos estão subordinados às suas determinações genético-biológicas, restritos, assim, aos seus instintos animalescos, a uma determinada região geográfica e modo de vida, por exemplo; o homem, por sua vez, é criador de seus costumes, produtor de seu modo de vida e colonizador de todo o planeta.

Para que se esclareça mais ainda tal definição de cultura, lembremo-nos de que o homem é o único ser capaz de transformar a natureza, enquanto os demais seres apenas se apropriam da mesma do modo como esta lhes é apresentada. Criamos objetos para superar nossas limitações biológicas. Com o avanço da tecnologia, somos capazes de, inclusive, por meio de substâncias que produzimos ou transformações que realizamos em nós mesmos, alterar condicionamentos naturais — pensemos em cirurgias para implantes de córneas, utilização de próteses para substituição ou melhoramento de membros ou órgãos, etc. Sobre essa concepção de cultura como elemento constitutivo e construtivo do homem, afirma-nos Laraia:

O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. (LARAIA, 2008, p.48)

Pode-se, no entanto, restringir o conceito de cultura ao conjunto de práticas significantes produzidas por uma determinada coletividade. De acordo com essa definição stricto sensu de cultura, podemos entender que cada comunidade, em períodos de tempo específicos, produziu uma série de conhecimentos, artes, costumes e rituais — em suma, cultura — que só pode ser entendido a partir de uma vivência interna à própria comunidade. Desse modo, um simples observador externo será incapaz de compreender determinadas práticas culturais; no máximo, será capaz de avaliá-las somente a partir de seu prisma cultural particular, deformando, assim, o significado de certo conjunto de ações próprio de uma sociedade.

A pergunta que persiste é: como definir uma cultura cristã? Falando em termos sociológicos, seria mais exato falar sobre a cultura da comunidade cristã em Tessalônica. Ou seja, as práticas culturais da Igreja em Tessalônica provavelmente serão distintas daquelas vivenciadas na comunidade cristã em Corinto, por exemplo, apesar de ambas serem coletividades que se guiam religiosamente de acordo com a orientação cristã.

É por isso que Paulo não criticará, especificamente, a alimentação onívora ou vegetariana dos grupos em conflito na Igreja de Roma, mas, antes, exortará que, acima das questões gastronômicas — e é simplesmente neste nível que elas são definidas pelo apóstolo —, estejam o amor ao próximo e a misericórdia para com os mais frágeis na fé. A discussão que se concentra na questão da liberdade e tolerância materializa-se por meio de uma celeuma cultural (Rm 14) . Acerca de uma abordagem bíblico-teológica sobre a cultura, defende Schwambach:

Se lermos o AT e o NT, vamos ver que a realidade do pecado corrompeu os seres humanos e tudo o que eles pensam, falam, fazem, constroem, inventam etc. Isso significa que toda a produção cultural da humanidade está afetada pela realidade do mal, da queda, do pecado. O exercício de qualquer profissão, o ensino em todos os níveis, toda a ciência, toda a tecnologia, toda política, toda a arte, mas também todos os tipos de pensamento humano — toda a elaboração filosófica, ideológica, cultural e até mesmo religiosa... Nenhuma dessas realidades ficou sem ser atingida pela trágica realidade da queda. (SCHWAMBACH, 2011, p.32,33)

Segundo esses critérios, parece ser mais coerente falar de princípios supraculturais com relação ao cristianismo. A defesa daquilo que seria o conceito de “cultura cristã” — abstraída de toda materialidade e intersubjetividade social — implicaria na aceitação de que tal produção cultural é fruto da ação humana que, ao longo dos séculos, por tradição, foi transmitida às gerações seguintes. Sem dúvida alguma, o cristianismo e seus pressupostos culturais são muito mais que uma elaboração humana, limitada ao gênio de uma determinada comunidade e seus membros.

Outro argumento que nos auxiliará a rejeitar a ideia de uma “cultura cristã” entendida como elemento produzido pontualmente em certo ponto da história é o de que a produção cultural é algo extremamente dinâmico, movido pelas transformações políticas, econômicas e sociais, atualizando-se continuamente conforme as interações internas e externas de cada povo. Ora, se as verdades cristãs que seguimos são eternas, logo estas não podem ser um produto exclusivo da dinâmica social de uma comunidade.

Infelizmente, o que se percebe é que, ao longo dos séculos, práticas culturais pertencentes a comunidades específicas foram impostas a outras coletividades humanas sob o pretexto de serem parte de um conceito abstrato de “cultura cristã”. Esse tipo de processo de violência simbólica é que se denomina de etnocentrismo — a defesa da imposição de aspectos culturais de um povo sobre outro de modo coercitivo e cruel.

É necessário, entretanto, reconhecermos que algumas práticas culturais adotadas por certos povos colidem frontalmente com os princípios cristãos, de tal forma que o papel da evangelização cristã nessas comunidades será o de promover não apenas redenção individual, mas também a transformação coletiva; não apenas salvação pessoal, mas também a restauração sociocultural.

Sobre essa delicada questão, os elaboradores do relatório sobre a questão da cultura do movimento de Lausanne afirmam:

A conversão não deve “desculturalizar” o convertido. Na verdade, como temos visto, sua lealdade agora pertence ao Senhor Jesus, e todas as coisas do seu contexto cultural devem submeter-se ao escrutínio do Senhor. Isso se aplica a toda a cultura, não somente às culturas hindu, budista, islâmica ou animista, mas também à cultura cada vez mais materialista do Ocidente. A crítica pode produzir uma colisão, à medida que elementos da cultura forem submetidos ao juízo de Cristo e tiverem de ser rejeitados. Nesse ponto, como reação, o convertido pode tentar adotar a cultura do evangelista em lugar da sua. Deve-se resistir firme, mas carinhosamente a essa tentativa. Dever-se-ia estimular o convertido para que visse suas relações com o passado como uma combinação de ruptura e continuidade. Por mais que os novos convertidos sintam que precisam renunciar por amor de Cristo, ainda são as mesmas pessoas, com a mesma herança e a mesma família. “A conversão não desfaz; ela refaz.” É sempre trágico, embora seja às vezes inevitável, quando a conversão da pessoa a Cristo é interpretada por outros como traição às suas origens culturais. Se possível, a despeito do conflito com sua cultura, os novos convertidos deveriam procurar identificar-se com as alegrias, esperanças, dores e lutas de sua cultura própria. (LUZBETAK, 1985, p.34)

Percebe-se, assim, que a busca incessante de cada comunidade cristã local deve ser alinhar suas tradições e costumes ao crivo dos pressupostos da cruz, os quais são eternos, supraculturais e constitutivamente promotores da bondade e da justiça. Somente uma abordagem nesse nível poderá ajudar-nos a fugir do falso dilema do relativismo cultural de um mundo multiculturalista.

As múltiplas culturas podem e devem coexistir pacificamente entre si. O que é inaceitável é o fato de que atos de violência — seja esta simbólica ou física — sejam defendidos como tradições culturais respeitáveis. Tudo aquilo que subjuga o outro sem conceder-lhe qualquer oportunidade de escolha diferente, expropriando-lhe a humanidade e condicionando sua existência à reificação deve ser totalmente rejeitado e combatido.

Paulo, os Tessalonicenses e o Padrão de Vida Cristão

Uma vez tendo sido realizado tal esclarecimento sobre o papel da cultura e sua relação com o cristianismo, ficam mais claras as orientações paulinas à comunidade tessalonicense. A preocupação de Paulo repousava na necessidade de esclarecer àqueles novos cristãos que alguns elementos de suas práticas culturais não eram próprios de execução para alguém que experimentou um novo nascimento, uma vez que tais atitudes estavam inteiramente ligadas a práticas idolátricas.

Um dos possíveis exemplos a serem apresentados sobre essa relação das práticas socialmente regulares entre os tessalonicenses, porém reprováveis segundo o padrão do cristianismo, é àquele que remete ao uso do vinho nas celebrações antigas. Segundo Almeida (2014, p.27): “As orgias em torno do vinho na Ásia Menor e na Palestina — os tabernáculos, solenidades dos cananeus, eram, originalmente, orgias ao estilo dos bacanais — foram marcadas por estados idênticos de êxtase aos das orgias em torno da cerveja na Trácia e na Frígia.”

Rituais celebrativos do culto dionisíaco  — os quais possuíam um calendário anual de, pelo menos, três grandes festejos públicos anualmente — estavam intrinsecamente associados a práticas sexuais. Cultos centrados no conceito de fertilidade da terra que estavam interligados ao uso do corpo como oferenda às divindades, por meio de danças, orgias e possessões, era algo muito comum naquele contexto histórico.

Dessa maneira, o que temos na fala de Paulo no início do capítulo 4 de 1 Tessalonicenses é a determinação de um sintoma que caracterizava a sociedade em Tessalônica: a violência. Em virtude da forte tradição do dionisismo que se desenvolveu naquela comunidade, os indivíduos não conseguiam perceber que a objetivação de seres humanos — especialmente de mulheres, com relação à sexualidade — é um dos mais degradantes atos de subjugação. Por isso, o que Paulo faz nesse momento de seu ministério é denunciar elementos de injustiça e dominação que operavam em Tessalônica sob o pretexto de piedade religiosa.

Como se pode perceber, a exortação paulina à santidade na sua epístola aos tessalonicenses, quando devidamente contextualizada, ganha outras conotações que vão além de um mero ascetismo cristão. As preocupações de Paulo com aquela jovem comunidade estavam diretamente ligadas à urgente necessidade de cada indivíduo perceber a completa incompatibilidade que havia entre o culto a Cristo Jesus e às celebrações, por exemplo, a Dioniso-Osíris.

A problemática da prostituição — para além de todo o debate estabelecido por Paulo em outros textos — está relacionada em Tessalônica à questão das possessões dionisíacas durante os bacanais . A devassidão sexual, sendo prática condenável em si mesma segundo a ótica cristã, estava diretamente associada às potestades que envolviam os cultos dionisíacos. Alertar a cada um possuir seu vaso em santificação e honra (1 Ts 4.4) envolve diretamente a necessidade de manter o corpo em separação exclusiva para Deus.

Perceba, no entanto, que a dedicação religiosa do corpo a Jesus Cristo no culto cristão significa algo completamente diferente daquilo que a possessão dionisíaca produz. Enquanto Dioniso bestializa seus adoradores — conduzindo-os ao completo descontrole, aos seus instintos mais baixos e à perda da consciência de si —, a consagração do corpo ao Senhor Deus implica domínio próprio, adoração consciente e profundo autoconhecimento — produzido pelo entendimento da fragilidade constitutiva de tudo aquilo que é humano.

A santidade de Deus em nossas vidas conduz-nos, muitas vezes, a um padrão de sociabilidade que, de várias maneiras, transcende as convenções sociais convenientemente aceitas, porém moral e espiritualmente reprováveis. Assumir-se cristão em Tessalônica implicava em enfrentar a fúria dos seguidores de César, Baco, Osíris e de tantos outros seres e deuses que dominavam a cena política e religiosa daquela cidade.”

*Este subsídio foi adaptado de BRAZIL, Thiago. A Igreja do Arrebatamento: O Padrão dos Tessalonicenses para Estes Últimos Dias.  1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

Que Deus o(a) abençoe.

Telma Bueno

Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens

1 Que fique registrado que uma questão absolutamente similar na Igreja de Corinto também é abordada de forma análoga por Paulo (1 Co 8). 

2 Especialistas afirmam que o Dioniso greco-romano é a mesma divindade que era cultuada no Egito sob a denominação de Osíris. Dioniso-Osíris é, dessa maneira, o deus dos rituais de fertilidade, do vinho e dos êxtases sexuais coletivos. Cf. SISSA, Giulia. DETIENNE, M. Um falo para Dioniso. In: Os deuses gregos. São Paulo: Cia das Letras, 1990. p. 267-277.

3 Eram assim que se denominavam oficialmente as celebrações a Dioniso — ou Baco, como também era nomeado. Esses rituais envolviam predominantemente mulheres que, entusiasmadas por Baco, entravam em transe religioso, despindo-se, indo em bandos para as florestas, tomadas por um frenesi bestial que as conduzia às mais animalescas práticas sexuais.



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Lição 05 - 2º Trimestre 2018 - Ética Cristã, Pena de Morte e Eutanásia - Adultos.


Lição 5 - Ética Cristã, pena de morte e eutanásia

 2º Trimestre de 2018

PONTO CENTRAL

A vida humana é sagrada.

ESBOÇO GERAL DA LIÇÃO

Introdução

I - A Pena de Morte nas Escrituras

II - Eutanásia: Conceitos e Implicações

III - A Vida Humana pertence a Deus

Conclusão

OBJETIVO GERAL

Estabelecer a perspectiva doutrinária da sacralidade da vida. 

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

I. Mostrar a perspectiva bíblica acerca da pena de morte;

II. Expor o conceito e as implicações éticas da eutanásia;

III. Conscientizar sobre o aspecto sacro da vida. 

SOBRE A EUTANÁSIA

Claudionor de Andrade

No campo da bioética, há duas perguntas de vital importância. A primeira diz respeito à legalização do aborto: "Quando começa a pessoa humana?" A segunda concerne à descriminalização da eutanásia: "Quando termina essa mesma pessoa?"

[...] Os dicionários definem a morte como cessação definitiva da vida. O fim da existência humana, porém, não cabe numa definição tão simplista. No campo da ética, somos constrangidos a lidar com uma questão intrigante e perturbadora: Será que a pessoa encerra-se apenas quando seus sinais vitais já não são percebidos? 

A questão é complexa. Os dilemas éticos daí decorrentes obrigam-nos a constatar a falência encefálica de um enfermo antes mesmo da cardíaca. E isso nem sempre é fácil, pois é possível que, num corpo que mecanicamente vive, já não exista a pessoa que o possuía. 

[...] Sem alma, o nosso corpo nada é. Ele não tem movimento, nem expressão. Hoje, porém, as novas tecnologias são capazes de prolongar os batimentos cardíacos mesmo em um corpo sem alma. Mas, como saber o instante preciso em que a alma deixa o corpo? Ainda não foi criado um protocolo capaz de constatar o momento exato do desenlace entre os componentes material e espiritual do ser humano. Todavia, o enfermo terminal não deve ser levianamente descartado e o crônico não poder ser ignorado. Neste ínterim, o médico é constrangido a tomar decisões num terreno em que a fronteira entre a vida e a morte é imperceptível. Por isso, oro para que os profissionais de saúde não desperdicem vida alguma. Oro também, para que muitas vidas sejam salvas através do transplante de órgãos, porque isso também é praticar o amor cristão. 

(Texto extraído da obra "As Novas Fronteiras da Ética Cristã", editora CPAD)

Marcelo Oliveira de Oliveira

Editor da Revista de Lições Bíblicas Adultos

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terça-feira, 24 de abril de 2018

Lição 04 - 2º Trimestre 2018 - Conservando uma Vida Frutífera - Jovens.


Lição 4 - Conservando uma Vida Frutífera

 2º Trimestre de 2018

INTRODUÇÃO

I - LIDERANÇA FRUTÍFERA, IGREJA FRUTÍFERA

II - UMA IGREJA QUE FRUTIFICOU

III - O QUE FAZER PARA CONTINUAR FRUTIFICANDO

CONCLUSÃO



Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:

Identificar as características de uma liderança frutífera;

Reconhecer os desafios que a igreja em Tessalônica superou para frutificar;

Compreender o que é necessário fazer para frutificar.

Palavra-chave: Fruto.



Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio abaixo:

O evangelho frutificou e consolidou-se em Tessalônica, apesar de tudo cooperar para o contrário: fuga de Paulo, multiculturalismo local, fortes perseguições sociais, introdução de falsos pregadores. Como se pode explicar tal fato? Pela simples resposta: foi a maravilhosa graça de Deus. A jovem comunidade cristã tessalonicense, apesar de sua fragilidade doutrinária, conseguiu acessar o cerne da mensagem evangélica: o amor. Eles não apenas compreenderam o cristianismo como vivência pura e profunda do amor, como também experimentaram comunitariamente os efeitos de tal verdade divina. Reflitamos sobre como crescer em comunhão intensa com Deus de modo rápido, porém absolutamente sadio.



O que Paulo podia esperar depois da surra e cadeia em Filipos e da fuga repentina de Tessalônica? Bem, se Paulo fosse um de nós, talvez a confirmação de que a vocação para a Macedônia era um propósito divinamente inspirado e não apenas um empreendimento humanamente falido. A missão em Bereia serviria perfeitamente a essas expectativas; afinal de contas, como nos narra Lucas, houve uma adesão coletiva daquela cidade à pregação de Paulo (At 17.11,12). E que modo melhor de ratificar isso, senão por meio de uma exitosa missão na celebrada Atenas?



Centro filosófico do mundo, ainda naquele momento histórico, casa dos fatalistas estoicos e dos epicuristas hedonistas, Atenas — numa análise humanamente fundada — seria uma ótima oportunidade para chancelar o ministério de Paulo não apenas naquela região, mas também em todo o mundo antigo. Entretanto, como bem se sabe, apesar do emblemático discurso no Areópago (At 17), os resultados práticos foram similares aos de Filipos e Tessalônica: numericamente inexpressivos; bem diferente dos alcançados em Bereia.



Talvez, a maior lição transmitida por Paulo em seu ministério macedônico seja esta: a presença de Deus na vocação ministerial de uma pessoa não deve ser mensurada numericamente ou pela popularidade que esta alcança, mas, sim, pela doação pessoal em tudo o que se realiza. Como qualquer outra pessoa, a vida de um vocacionado é repleta de altos e baixos, fracassos e vitórias. É ambiência contemporânea, moldada por uma ambição perfeccionista, que nos impele a falsa crença de que só os colecionadores de sucesso serão felizes. Devemos retornar, de maneira insistente, aos princípios e pressupostos de Cristo, segundo os quais, mesmo em meio as mais aparentes derrotas, muitas vezes, somos feitos vitoriosos por Deus.



Falando em termos meramente humanos, quem continuaria numa jornada tão desgastante como essa que Paulo empreendia com seu grupo de amigos se não fosse pela presença fortalecedora de Deus? É a graça cotidiana de Deus que aperfeiçoa nossos ministérios e continuamente confirma, de modo especial a nós mesmos, o quanto nossas vocações são valiosas para o Reino de Deus.



Os efeitos de uma hipotética desistência de Paulo em sua missão macedônica são simplesmente inimagináveis para seu ministério em particular, assim como as repercussões de tais acontecimentos para o curso de todo o cristianismo primitivo. A boa notícia que nos relata a história é que, mesmo diante de todas as adversidades, Paulo não desistiu.



A ambição dos negociadores de adivinhações em Filipos (At 16.19), a inveja dos líderes judeus em Tessalônica (At 17.5) e o achincalhamento dos filósofos atenienses (At 17.18) não foram capazes de ofuscar a enorme alegria de Paulo por tudo aquilo que Deus estava fazendo em sua segunda viagem missionária. Conforme argumenta Marques:



É confiado em Deus que parte para Tessalônica, sabendo que ali Deus garantiria o sucesso da missão tal como em Filipos. Isto nos diz que a fundação de Tessalônica tem sua origem na confiança de Paulo em Deus. Como se convenceu disto? Foi pelo resultado obtido, apesar de ser expulso, desta vez por manobras de judeus. Em Atenas (1Ts 3,1), perante o fracasso no Areópago, vê com clareza a mão de Deus em Tessalônica. Que tal esforço não fora inútil, os tessalonicenses mesmos o confirmaram (1Ts 2,1). Esta confiança de Paulo em Deus não nascera apenas na Macedônia, é claro. Dirá mais tarde, como em outras ocasiões, que foi salvo por sua fé em Deus (cf. 2Cor 6,4-10; 11,23-28). (MARQUES, 2009, p.24)

Assim, compreende-se que o conjunto de vivências experimentadas por Paulo e sua equipe em todo o seu percurso ministerial é fundamental para o crescimento do próprio apóstolo, de modo que o acúmulo de aprendizagens fez, cada vez mais, a vocação paulina aperfeiçoada.



É nesse contexto da atuação em Atenas que Paulo toma uma de suas decisões ministeriais mais acertadas junto à Igreja em Tessalônica: o apóstolo resolve enviar Timóteo para visitar aquela comunidade e trazer-lhe notícias. Por que o próprio Paulo não voltara à Tessalônica? Porque, segundo ele afirma em 1 Ts 2.18, houve uma forte oposição — não apenas circunstancial, física e material, mas também espiritual. O missionário chega a nomear Satanás como o impedimento a seu retorno àquela cidade. Para autores como Pastor (2009, p. 152), essa nomeação da malignidade está associada à cultura apocalíptica da qual Paulo era participante. Sobre esse impedimento satânico, afirma-nos Turrado:

[Paulo] Não precisa como o impediu. Logo, não é necessário, ainda que não se exclua, supor uma intervenção extraordinária ou milagrosa; bastam obstáculos naturais, de ordem física ou moral, nos quais Paulo vê as mãos do demônio. Ele está firmemente convencido, muito ao contrário do que praticamente às vezes nos passa despercebido, da funesta ação do demônio, cujo triste papel é opor-se aos interesses de Deus (Rm 16.20; 1 Co 7.5; 2 Co 2.11; Ef 6.11; 1 Tm 3.7). (TURRADO, 1965, p. 650)

Para além de toda conjectura de qualquer natureza, o que é mais relevante tratar nesse episódio do impedimento paulino é o reconhecimento da existência de oposições que não são meramente fruto do acaso, mas subordinadas a determinada causalidade malignas.

Paulo como um Formador de Novos Líderes



Em 1 Tessalonicenses 3.2, somos informados de que Timóteo é enviado a Tessalônica não como um estagiário em missão de representação de seu líder, mas como um ministro revestido de autoridade e responsabilidade sobre um determinado grupo de irmãos. Como já afirmamos anteriormente, essa é uma atitude absolutamente acertada para ambos os lados, isto é, tanto Timóteo, que teve a oportunidade de vivenciar uma riquíssima experiência pastoral ainda muito jovem, quanto a comunidade dos tessalonicenses, que foi confortada e animada por meio da palavra anunciada.



Para a maioria dos comentadores, Timóteo tinha entre 20 e 30 anos quando foi enviado em missão à Igreja de Tessalônica. Quais eram os riscos que tal atitude de Paulo poderia produzir para a vida de Timóteo? Inúmeros. Em primeiro lugar, a própria morte. O clima em Tessalônica estava absolutamente hostil; tanto os religiosos judeus quanto os desordeiros que havia naquela cidade realizaram uma verdadeira caçada a Paulo e seus amigos, tanto que alguns irmãos sofreram perseguições e prisões ainda com Paulo em Tessalônica (At 17.6), e, mesmo depois de terem saído da cidade, a equipe missionária ainda foi perseguida de maneira insistente, a ponto de terem de fugir de Bereia também (At 17.13-15).

Havia, de fato, um risco de morte, não apenas pela oposição dos religiosos e baderneiros, mas também do próprio império romano, uma vez que a acusação que pesava sobre os missionários era de insurreição. Os religiosos recorreram às autoridades romanas sob a alegação de que Paulo e sua equipe proclamavam outro rei em terras tessalonicenses, Jesus (At 17.7). Ora, esta fora a mesma acusação segundo a qual o próprio Cristo acabou sendo crucificado.

Se o risco de morte for desconsiderado de modo arbitrário, ainda persistem as possibilidades de perseguição, prisão, espancamento, etc., que já eram reais durante a ação ministerial de Paulo e que continuavam, pois a distância temporal da fuga apostólica para o retorno de Timóteo era muito curta.

Além de todos os riscos de integridade física que Timóteo corria, ainda havia a possibilidade de tudo se complicar ministerialmente. Bastaria os tessalonicenses rejeitarem a juventude do auxiliar de Paulo, ou, quem sabe, de modo justificado, sua inexperiência, e a trajetória ministerial de Timóteo sofreria um revés, talvez, insuperável.

É necessário lembrar que, além dos problemas sociais — que se concretizavam por meio da oposição comunitária que se constituía —, a Igreja tessalonicense enfrentava uma consistente crise doutrinária, especialmente com relação a questões escatológicas, as quais repercutiam em problemas relacionais. Era, então, necessário um pastor habilidoso, que soubesse, ao nível dos tessalonicenses, transmitir as verdades ainda não compreendidas por eles.

Timóteo foi o homem certo para a missão de retorno a Tessalônica. As qualidades deste auxiliar de Paulo podem ser avaliadas a partir do versículo 2, quando o apóstolo define-o por meio de dois termos de designam positivamente duas áreas diferentes da vida do jovem pastor: irmão (ἀδελφός) e cooperador (συνεργός). Enquanto trato pessoal, Paulo tinha total confiança em Timóteo, tanto que o tratava como irmão — em outros contextos, anos à frente, Timóteo será amorosamente chamado de filho; nas circunstâncias que envolviam a Igreja em Tessalônica, ele recebe uma denominação que denota sua proximidade a Paulo não apenas nas relações pessoais, mas também na responsabilidade ministerial. Já com relação ao perfil vocacional, Paulo testemunha que seu amigo não é um inexperiente neófito, e sim um qualificado colaborador do Reino de Deus. Sobre a confiança de Paulo em Timóteo e as qualificações deste, afirma Pastor:

O apóstolo sabe das dificuldades e dos problemas dos tessalonicenses (cf. 1 Ts 1,6; 2,14; 3,1-5) e, uma vez que ele não pode ir pessoalmente para ajudá-los e sustentá-los, enviou seu colaborador Timóteo com esse encargo e com o de informar-lhe a situação da comunidade. Por esse motivo, vemos uma primeira qualificação deste personagem em tom altamente positivo; Paulo chama-lhe, além de irmão, de nada menos que colaborador de Deus na pregação do evangelho, indicando como Deus não atua de forma separada da ação humana, ainda que não seja uma colaboração no mesmo nível (cf. p.e. Rm 10,14-15). (PASTOR, 2009, p. 154)



A relação do apóstolo com o jovem obreiro era muito estreita, tanto que, ao afirmar que era necessário o envio de Timóteo à Tessalônica, Paulo declara em 1 Ts 3.1 que ficou, literalmente, “abandonado”, “sem ajuda”. Não temos acesso aos pormenores da visita e nem ao ambiente de recepção do jovem missionário; entretanto, as palavras de Paulo registradas em 1 Ts 3 demonstram o sucesso do envio. Nas palavras do apóstolo, usando um trocadilho que, em língua portuguesa, se perde, mas que fica muito claro no grego, ele afirma no versículo 6: “Vindo, porém, agora, Timóteo de vós para nós e trazendo-nos boas novas da vossa fé e amor”; ou seja, Timóteo, ao regressar de Tessalônica, trouxe tão ricas notícias por meio das quais “evangelizou” Paulo acerca da fé e do amor dos tessalonicenses. As informações de Timóteo eram muito confortantes a Paulo, analogamente, assim como o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo foi confortante aos tessalonicenses.



Paulo e o Ministério como Motivação para a Vida Cotidiana



Em 1 Ts 3.8, temos uma das declarações mais pastorais de todo o Novo Testamento. Paulo literalmente diz nesse texto que a continuação da vida tornou-se muito mais leve e sem o peso da culpa por meio da maravilhosa notícia de que os tessalonicenses permanecem firmes na vocação da salvação que lhes foi anteriormente anunciada pelo missionário.



A amabilidade desse texto surpreende qualquer leitor de outras cartas paulinas, nas quais, apesar de toda atenção e cuidado, em nenhuma se registra tamanho afeto. Nessa pequena declaração, Paulo está afirmando o quanto foi angustiante ficar sem notícias daquela jovem comunidade; desse modo, diante do retorno de Timóteo, o ânimo novamente se recobrou no coração do apóstolo.

Ao refletirmos sobre o relacionamento de Paulo com a Igreja de Tessalônica, deparamo-nos com um modelo de liderança muito distante das práticas eclesiástico-empresariais dos dias atuais. Quem atualmente investiria tempo e pessoal numa localidade extremamente avessa ao evangelho? Basta analisar o quanto a igreja contemporânea investe em templos suntuosos em comparação ao que envia para os trabalhos missionários em países avessos ao cristianismo.

Lembremos que Tessalônica era um desses lugares ostensivamente contrários à pregação do evangelho; onde se formou uma pequena comunidade de novos cristãos; contudo, era para lá que as orações de Paulo estavam direcionadas; era para lá que seu coração pulsava. É necessário reconhecermos que os fundamentos do Reino são completamente diferentes das regras dos negócios religiosos de hoje.

Precisamos urgentemente de pastores como Paulo.

Conclusão

Sem amor, toda e qualquer intenção humana facilmente transitará entre a ganância e o animalesco instinto de sobrevivência. Foi para amar que fomos salvos, para viver em amor, para existir pelo amor. Que a experiência mais extraordinária da vida cristã — amar — seja uma realidade em nossas vidas.

*Este subsídio foi adaptado de BRAZIL, Thiago. A Igreja do Arrebatamento: O Padrão dos Tessalonicenses para Estes Últimos Dias.  1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

Que Deus o(a) abençoe.

Telma Bueno

Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens



Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso no preparo de suas Lições Bíblicas de Jovens. Nossos subsídios estarão à disposição toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não vão esgotar todo o assunto e não é uma nova lição (uma lição extra). Você não pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo.

Lição 03 - 2º Trimestre 2018 - O Fruto de um Trabalho Zeloso - Jovens.


Lição 3 - O fruto de um trabalho zeloso

 2º Trimestre de 2018

INTRODUÇÃO

I-O MINISTRO COMO AQUELE QUE SERVE

II-O COMPROMISSO COM A PALAVRA

III-OS OBJETIVOS DE UM MINISTÉRIO ÍNTEGRO

CONCLUSÃO



Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:

Identificar o caráter de um ministro de Cristo;

Demonstrar a relevância da Palavra de Deus numa Igreja local;

Apresentar os objetivos de um ministério íntegro.

Palavras-chave: Fruto, trabalho e zeloso.

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio abaixo:

“Paulo inicia o segundo capítulo de sua primeira epístola aos tessalonicenses destacando a natureza abnegada de seu ministério entre aqueles irmãos. Mais que um autoelogio narcisista, essa apologia paulina ao seu ministério pessoal — atitude que ele também toma ao escrever para outras igrejas (2 Co 12.11-21; Gl 6.14-18) — é um registro histórico do modelo inspirativo de ministro no cristianismo primitivo. Mesmo tendo vivenciado uma experiência extremamente traumática em Filipos (acusação de perturbação pública, prisão, açoite, detenção inapropriada, etc.), o apóstolo persistiu na obediência à visão que Deus concedera a ele (At 16.9) e iniciou a evangelização em Tessalônica.



Não era ganância ou benefícios pessoais que moviam o coração de Paulo para a realização desse serviço ao Reino de Deus, e sim o amor às pessoas e a confiança de que o Senhor que vocaciona também é o que supre todas as necessidades daquele que se dedica liberalmente à obra.



Compreender como se deu esse processo de evangelização, quais os fundamentos da mensagem anunciada por Paulo entre os tessalonicenses e, principalmente, qual o comportamento adotado pelo apóstolo entre os habitantes daquela cidade serão os objetos de estudo para nossa discussão e reflexão.

I- O Esforço Pessoal de Paulo para Garantir a Evangelização dos Tessalonicenses



Qual seria a reação normal de alguém que, seguindo uma intuição pessoal, ao iniciar um novo empreendimento, encontra de pronto um forte revés? Logicamente, desistir. É por isso que tantas empresas fecham nos seus três primeiros anos de funcionamento; muitas pessoas abandonam a faculdade ainda no primeiro ano de estudo. Entretanto, é isso que se esperaria de um missionário que, logo no início de sua atuação evangelística num território desconhecido, tivesse enfrentado cárcere, perseguição e tortura? Segundo uma avaliação humana, sim; talvez, alguém ainda dissesse: “Essa missão não era de Deus!” ou “A vocação desse missionário acaba de ser desqualificada!”



Deve-se esclarecer, no entanto, que, em primeiro lugar, Paulo não seguia um pressentimento pessoal; sua ida à Macedônia fora resultado de uma orientação divina (At 16.9). Ora, a obediência à vocação divina não nos isenta dos sofrimentos da vida. Deve-se lembrar, inclusive, que a ida de Paulo àquela região tinha como objetivo auxiliar os irmãos que, segundo a visão divina, passavam por dificuldades e necessitavam de ajuda.



Sobre o entendimento acerca do sofrimento paulino registrado nas suas epístolas e, especialmente neste caso, aos tessalonicenses, afirma-nos Barreira:

Por isso, a melhor maneira de se esperar a parusía é uma fé que não pretende dar conta de realidades objetivas e “a-históricas”, ou mesmo de uma fé de imperativos éticos, pois, em ambos os casos, nega-se o caráter histórico da revelação e se produz uma forma de idolatria (Vattimo, 2004, p. 110-112). Paulo associa seu destino soteriológico ao destino dos tessalonicenses (1 Ts 2, 20). Os sentidos da pregação de Paulo, como sua própria salvação, ancoram-se no testemunho de que estes derem até a parusía. [...] Na carta aos Tessalonicenses, de acordo com Gesché, a tribulação e o sofrimento da experiência cristã vinculam-se ao destino soteriológico (1 Ts 2, 12; Rm 8, 17; 8,18; Cl 3,4). Este autor também esclarece que a precariedade existencial se associa à experiência de filiação ao Pai, filiação que, na carta aos Romanos, é o grande mistério revelado e oculto desde toda a eternidade (Rm 3, 21-22 Rm 16, 25-26; ver Cl 1, 26; 2 Tm 1, 10; Tt 1, 3 e 2, 11). (BARREIRA, 2008, 261-262)



Soteriologia e Escatologia estão imbricadas por meio da temática do sofrimento no pensamento de Paulo apresentado aos tessalonicenses. Ao entender-se a dor humana — muito mais complexa no seu aspecto existencial-fundante do que no físico-circunstancial — por meio desses prismas, altera-se qualquer análise valorativa sobre uma suposta negatividade do sofrimento e vislumbra-se uma rica positividade nesse contexto.

A Bíblia está repleta de exemplos de pessoas que, mesmo no cumprimento da perfeita vontade de Deus, tiveram que passar por momentos angustiantes. O próprio Jesus é o perfeito exemplo sobre essa questão. O seu sofrimento em vários níveis (intenso, contínuo, episódico) e tipos (emocional, físico, espiritual) era um dos elementos inevitáveis no curso do pleno cumprimento do plano de Deus.

Sobre essa relação entre o cristão, Cristo e o sofrimento, declara-nos Dietrich Bonhoeffer:

Ser cristão não significa ser religioso de uma determinada maneira, tornar-se alguém (um pecador, um penitente ou um santo) com base em alguma metodologia, mas significa ser pessoa; Cristo não cria em nós um tipo de ser humano, mas o próprio ser humano. Não é o ato religioso que produz o cristão, mas a participação no sofrimento de Deus na vida mundana. Esta é a metanoia: não pensar primeiro nas próprias necessidades ou aflições, perguntas, pecados e medos, mas deixar-se arrastar para o caminho de Jesus, para dentro do evento messiânico... (BONHOEFFER, 2003, p.489)

Como bem argumenta o teólogo alemão, o sofrimento não é uma opção para o verdadeiro cristão, mas, antes, um fundamento condicionante de sua fé em Cristo Jesus. Não há Cristo sem cruz, assim como não há cristão sem o Cristo crucificado, e muito menos cristão sem a vivência existencial de Mateus 16.24.



No momento da dor, naturalmente, não conseguimos avaliar qualquer aspecto positivo nas tormentas da vida; contudo, após a vivência e superação de tais problemas, segundo a graça constante que nos concede Deus, somos capazes de reavaliar os acontecimentos e identificar a ação de Deus em tudo o que envolve nossa vida. É o que nos afirma os autores dos Salmos 118.18; 119.71, por exemplo; tal compreensão não está acessível a todos os indivíduos, mas apenas àqueles que, tendo sido provados, atravessam o processo avaliativo com louvor, isto é, são aprovados. Pois, após todo esse encadeamento de acontecimentos, certamente se colherão os devidos prêmios de tal amadurecimento (Tg 1.12). Tal tipo de contexto situacional é o que alguns comentadores chamarão de “sofrimento educativo”. A dor, a angústia e o medo — avaliados de modo bruto, apenas em si — são extremamente negativos; todavia, ao serem devidamente contextualizados e imersos num conjunto de acontecimentos patrocinados pela misericórdia de Deus, tornam-se absolutamente pedagógicos. Esta parece ser a virtude paulina a ser elogiada nesse contexto: a visão de conjunto (Rm 8.28).



Não foram as adversidades de Filipos que desestimularam Paulo, muito menos a intolerante recepção em Tessalônica. O apóstolo continuava firme e empolgado com a orientação dada por Deus.

II- Uma Prática Ministerial Centrada em Cristo nunca é Infrutífera



Diante desse quadro de adversidades que se estabeleceu, Paulo fez questão de registrar que sua ida aos tessalonicenses não foi em vão. Mais uma vez, se a análise da situação for feita a partir de elementos humanos, os resultados da viagem da equipe missionária à Tessalônica foram pífios e inúteis: a presença apostólica na cidade foi de apenas alguns meses — talvez, meramente, de semanas; não houve tempo para a consolidação da fé daqueles irmãos, além de restarem numerosas dúvidas no processo do discipulado, etc.



A avaliação, contudo, deve ser feita segundo o critério da fé. Por isso, os instrumentos de mensuração e classificação são completamente outros; desse modo, Paulo pode alegremente afirmar para aqueles irmãos: a presença entre os tessalonicenses não foi inútil (v. 1). Conforme nos declara Glubish:



... [kenos]. Onde quer que Paulo ministrasse, não importando aquilo que fizesse, tudo deveria ser avaliado de acordo com uma medida de serviço: Trabalhei arduamente para Jesus? Fui fiel? Cumpri o meu dever? Como um servo obediente de Cristo, trabalhou com todo o seu coração (Cl 3-23). Os convertidos foram o fruto de seu trabalho, que provou que ele não correu nem labutou em vão [kenos] (Fp 2.16). Paulo está confiante no sucesso de sua visita a Tessalônica... (GLUBISH, 2006, p. 1372)

Elege-se o serviço como instrumento de medida ministerial. Segundo tal critério, o apóstolo pode ficar confortável quanto a sua avaliação, pois, sabendo ele o quanto se doou, sua auto avaliação ocorrerá de modo mais claro e objetivo. Quando se trata da apreciação sobre determinado conjunto de ações ministeriais, os resultados quantificáveis são, na maior parte dos casos, menos relevantes que a repercussão espiritual, não enumerável, do que se realizou.



Se os inimigos da sinagoga judaica estabelecida em Tessalônica tinham dúvidas sobre o que estava sendo feito por intermédio de Paulo e de sua equipe ministerial, não se estabelecera nenhuma incerteza no coração do apóstolo, mas, antes, uma pacificadora convicção de que aquilo que poderia ser feito — segundo as limitações daquele contexto — foi realizado. Em Cristo, nada que fazemos é em vão.

O objetivo de Paulo em Tessalônica não é simplesmente compartilhar uma mensagem ou apresentar àquela população mais uma religião dentre tantas outras que já havia naquela cidade. O apóstolo estava convicto em desenvolver relacionamentos, compartilhar as verdades profundas do próprio eu; mercenários interessados apenas no enriquecimento pessoal são incapazes de ter atitudes assim. O padrão de liderança neotestamentário estabelecido por Paulo em Tessalônica é este: deseja-se tão afetuosamente a felicidade do outro que, para tanto, o doar-se completamente, assim como fez o próprio Cristo, é algo natural.



Conclusão



Nossa vocação divina não visa à obtenção de objetivos pessoais ou financeiros, mas, sim, o desenvolvimento de relacionamentos interpessoais sadios e edificantes mutuamente, por meio dos quais possamos glorificar a Deus muito mais pelo que somos do que por qualquer tipo de obra que façamos. O princípio jesuânico da plena doação de si vivenciado por Paulo em Tessalônica deve ser o fundamento de nossa prática ministerial cotidiana. Não temos mais nada a perder; podemos doar-nos por completo, pois somos absolutamente de Deus.

*Este subsídio foi adaptado de BRAZIL, Thiago. A Igreja do Arrebatamento: O Padrão dos Tessalonicenses para Estes Últimos Dias.  1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.



Que Deus o(a) abençoe.

Telma Bueno

Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens



Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso no preparo de suas Lições Bíblicas de Jovens. Nossos subsídios estarão à disposição toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não vão esgotar todo o assunto e não é uma nova lição (uma lição extra). Você não pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo.

Lição 02 - 2º Trimestre 2018 - A Alegria Pela Nova Vida em Cristo - Jovens.


Lição 2 - A Alegria pela nova vida em Cristo

2º trimestre de 2018

Introdução

I-Paulo e os tessalonicenses: um líder e seus amigos

II-Quais as características desta igreja que Paulo ama?

III-A Nova Vida em Cristo e seus Feitos

Conclusão 

Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos: 

Refletir a respeito dos benefícios de uma liderança afetuosa;

Apresentar as características da igreja em Tessalônica;

Discutir a respeito da nova vida em Cristo e suas características.

Palavras-chave: Alegria.

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio abaixo:

O capítulo inicial de 1 Tessalonicenses pode ser naturalmente subdividido em três temáticas centrais: 1) Palavras de gratidão de Paulo. Gratidão pela vida dos cristãos em Tessalônica, pela preservação da fé destes, mesmo em meio a uma situação adversa complexa, e pelo desenvolvimento espiritual daqueles irmãos; 2) Um emocionado testemunho do apóstolo sobre a fé contagiante dos tessalonicenses. O cristianismo apregoado por Paulo e praticado pelos tessalonicenses constituiu-se como o fundamento de uma prática de vida restaurada e inspiradora; e 3) Uma síntese daquilo que Paulo compreende como natureza, desenvolvimento e finalidade do evangelho. Ao final desse primeiro capítulo de 1 Tessalonicenses, o apóstolo apresenta os elementos constitutivos do evangelho que se tornou fundamento de fé para aqueles cristãos. Analisemos, assim, pormenorizadamente, cada um desses aspectos do capítulo introdutório da epístola. O capítulo inicial de 1 Tessalonicenses pode ser naturalmente subdividido em três temáticas centrais: 1) Palavras de gratidão de Paulo. Gratidão pela vida dos cristãos em Tessalônica, pela preservação da fé destes, mesmo em meio a uma situação adversa complexa, e pelo desenvolvimento espiritual daqueles irmãos; 2) Um emocionado testemunho do apóstolo sobre a fé contagiante dos tessalonicenses. O cristianismo apregoado por Paulo e praticado pelos tessalonicenses constituiu-se como o fundamento de uma prática de vida restaurada e inspiradora; e 3) Uma síntese daquilo que Paulo compreende como natureza, desenvolvimento e finalidade do evangelho. Ao final desse primeiro capítulo de 1 Tessalonicenses, o apóstolo apresenta os elementos constitutivos do evangelho que se tornou fundamento de fé para aqueles cristãos. Analisemos, assim, pormenorizadamente, cada um desses aspectos do capítulo introdutório da epístola.



O Cristianismo como Amor Fraterno: A Saudade de Paulo e dos Tessalonicenses



Há uma característica no ministério paulino que, já aqui no seu primeiro texto epistolar, sobressai-se de maneira bastante destacada: Paulo é muito mais que um pregador itinerante — figura tão comum no ambiente religioso daquela época, muito em função de uma compreensão apocalíptica daquele contexto histórico que influenciava, inclusive, o judaísmo da época 1 —, ele era um plantador de igrejas, um pastor 2.

O comprometimento de alguém com tal vocação com as pessoas para quem o evangelho é anunciado é algo muito forte. Não basta apregoar, não é suficiente demonstrar a razoabilidade do discurso que se anuncia; é necessário mais. O comprometimento de Paulo com as comunidades que pastoreou e, em especial, Tessalônica, por ser objeto de nossa análise, envolve dedicação pessoal, atenção, acompanhamento, mentoria — em suma, discipulado.



O cristianismo que Paulo apregoa àqueles irmãos não teria sentido algum se não fosse vivenciado em práticas efetivas, que resultassem em efeitos reais tanto na vida dos cristãos em Tessalônica como do próprio apóstolo. É por isso que as epístolas aos tessalonicenses podem ser lidas a partir de conceitos como, por exemplo, o anelo pela vida em comunidade ou a confiança mútua que foi estabelecida nos vários tipos e níveis de relacionamentos que são identificados nos textos — Deus para com Paulo/Paulo para com Deus; Paulo para com os membros de sua equipe missionária (Silvano e Timóteo)/Os auxiliares de Paulo e o apóstolo; Deus e os tessalonicenses/Os tessalonicenses e Deus; Paulo e os tessalonicenses/os tessalonicenses e Paulo; os tessalonicenses e os auxiliares de Paulo/Os auxiliares de Paulo e os Tessalonicenses.



É bem verdade, como veremos capítulos a frente, que alguns relacionamentos não estavam desenvolvendo-se bem em Tessalônica; todavia, esse detalhe aponta, inclusive, para a centralidade dos conceitos de comunhão, comunidade e fé mútua nas epístolas aos Tessalonicenses.



Paulo, ao referir-se a elementos básicos da fé compartilhada com os tessalonicenses, utiliza-se exaustivamente do plural — não porque esteja em busca de auto gloriar-se por meio do uso de um plural majestático —, pois, em Tessalônica, a experiência primitiva de Atos 2.44-46 estava sendo novamente vivida.



Entre os tessalonicenses, Jesus Cristo é nosso — nunca egoisticamente meu (1 Ts 1.3;2.19; 3.11,13; 5.9,23,28); o Deus adorado também é de todos — bem diferente das divindades mistéricas da religião greco-romana (2.2; 3.9,11,13); o evangelho não é objeto de posse exclusiva de ninguém e também é nosso (1.5); depois de anunciado o evangelho, a salvação iguala a todos; por isso, Paulo pode falar sobre verdades espirituais sempre no plural (5.5,8,10); o trabalho realizado para o Reino é de uma equipe para uma coletividade, jamais apenas de um indivíduo para outro indivíduo (2.13; 3.5); o maravilhoso resultado espiritual obtido nunca é propriedade de alguém, mas sempre um bem da comunidade (2.19,20); até os acontecimentos escatológicos que a Igreja presenciará serão numa vivência coletiva (4.15).



Paulo lembrava-se do esforço amoroso — “τοῦ κόπου τῆς ἀγάπης” — que havia entre os tessalonicenses (1.3). Ele era sofredor e estava disposto a enfrentar os revezes da vida para testemunhar o novo que Deus estava trazendo àquela comunidade. Não é possível seguir a Deus sem a consciência de que, diante das situações adversas, devemos vencer mediante o amor de Deus derramado em nossos corações.



Deve-se notar que, em 1 Tessalonicenses 1.3, tem-se a primeira menção das três virtudes teologais — fé, esperança e amor —, tão comuns nos textos paulinos. Sobre a tradução e interpretação desse versículo, o mesmo Hendriksen traz-nos um extenso, porém enriquecedor comentário:



As principais teorias estão melhor representadas pelas várias traduções que têm sido sugeridas, das quais, apresentamos três:

“Lembrando sem cessar” (ou outra frase semelhante):

(1) “sua obra de fé

E labor de amor

E paciência de esperança.”

Rejeita-se esta tradução pela simples razão de fazer pouco ou nenhum sentido. O que é mesmo uma “paciência de esperança”?

(2) “sua obra, isto é, fé

E labor, isto é, amor

E paciência, isto é, esperança.”

Além de haver objeções doutrinárias, rejeitamos esta porque, embora seja gramaticalmente possível, dificilmente pode ser julgada fiel à ênfase paulina. Também, o conceito “paciência, isto é, esperança”, é difícil.

(3) “sua fé atuante

E amor diligente

E esperança tenaz.”

Mas a ênfase aqui é colocada onde não deveria estar, pelo original. As palavras enfatizadas no original não são a fé, o amor e a esperança, e sim, trabalho, esforço (ou labor) e firmeza. A nosso ver, a construção gramatical da locução é a seguinte: Os substantivos “operosidade, diligência e firmeza” estão no genitivo objetivo e servem para completar o verbo “tendo em mente”. Portanto, a palavra sua modifica as três: sua operosidade, sua diligência, sua firmeza. Cada um desses substantivos tem um modificador no genitivo (sentido de posse). A ideia aqui é que a obra é decididamente uma obra de fé, isto é, uma obra que surge da fé, é realizada pela fé e revela fé. Não fosse a presença da fé viva, essa obra não estaria em evidência. E assim ocorre com os outros modificadores: o esforço é motivado pelo amor (e revela) amor: e a firmeza é inspirada pela esperança (e evidencia) esperança. (HENDRIKSEN, 2008, p.60)

Defendendo uma compreensão oposta a de Hendriksen, Staab afirma que:



Os primeiros frutos [dos tessalonicenses] são a fé, o amor e a esperança, que, entre os fiéis de Tessalônica, não são apenas um sentimento interior, senão uma força que penetra e preenche inteiramente suas vidas. Paulo fala da “atividade” da fé, do “esforço” do amor e da “constância” da esperança. Três termos que expressam certa gradação ascendente, como a que se dá entre as três virtudes mencionadas. A fé não chega a converter-se em força ativa senão pelo amor (Gl 5.6), e este não alcança seu fim próprio enquanto a esperança não tenha a suficiente vitalidade para poder traduzir-se em constância, resignação e confiança. (STAAB, p. 23)



Os argumentos de Staab parecem-nos mais coerentes como possibilidade de tradução e compreensão hermenêutica do que os de Hendriksen, em face de sua maior integralidade com aquilo que seria um pensamento paulino como um todo. Como se dará nos outros textos de Paulo, em que as três virtudes aparecem juntas, a ênfase conceitual dá-se nestas; sendo que as expressões adjuntas servem para qualificá-las.



A hipótese interpretativa de Staab assemelha-se muito a de Tomás de Aquino (1225–74) (2015, p.34), que, em seu comentário às epístolas aos tessalonicenses, argumenta que Paulo vê na igreja em Tessalônica uma fé operosa, um amor sofredor e uma esperança constante.



Duas naturais contra-argumentações que se podem apresentar a essa hipótese é a de que, em 1 Tessalonicenses, o pensamento paulino ainda está em contínua construção; logo, relacionar o que se afirma nesse momento do ministério de Paulo com todo o corpus paulinum seria uma inferência impossível de sustentar. Outro argumento, um tanto quanto mais radical, porém não menos plausível para alguns especialistas, é a defesa de que todo esforço de sistematização do pensamento de Paulo é uma operação completamente artificial, uma vez que cada texto tem seu contexto específico e natureza própria, não podendo, assim, haver qualquer tipo de hierarquização, interpolação conceitual ou mesmo qualquer tipo de apropriação semântica intertextual entre os textos paulinos contidos no Novo Testamento 3.



Os Tessalonicenses como Imitadores de Paulo e Exemplo dos Fiéis



Este caráter positivo do elemento mimético, imitativo, do cristianismo é um conceito extraído da cultura helênica e, depois, ressignificado por Paulo 4. A imitação entre os gregos e romanos tinha uma natureza absolutamente limitada, circunscrita apenas ao entretenimento ou a não criticidade. É por isso que, na Antiguidade greco-romana, há um esforço para separar a produção de conhecimento que se propaga por meio da imitação daquela que se fundamenta na reflexão 5.



O μιμητής, o imitador, é o ator que, de maneira representativa, finge ser quem ele não é. Tal natureza da mímesis pode ser exemplificada pelo uso obrigatório de máscaras nas encenações teatrais no mundo antigo. Dessa forma, o imitador, que também pode ser denominado no contexto helênico de “impostor”, é alguém que, diante da coletividade, simula uma performance social alheia a sua, um padrão comportamental alternativo ao que, de fato, ele advoga; enfim, ele utiliza-se de máscaras para esconder quem, de fato, ele é.



Para Paulo, entretanto, a natureza mimética do discipulado tem uma finalidade completamente diferente, uma vez que o objetivo da imitação em sua concepção evangelística é conduzir os novos cristãos a um nível de espiritualidade que transcenda a simples adesão intelectual e atinja uma práxis transformadora da realidade. Nas palavras de Claro:

Em Paulo, não existe uma separação entre o Evangelho que proclama e a sua própria vida, oferecendo-se como paradigma a seguir para os Tessalonicenses. Como por exemplo, tal como ele, eles devem ganhar a sua própria vida (cf. 1 Ts 2,9; 4,10-12;5,14). A imitação está por isso estreitamente ligada ao acolhimento do Evangelho (1 Ts 1, 6) e não redunda simplesmente na vontade de imitar, mas acontece nas ações, como adiante explicitará em 1 Ts 2, 14. Usando um estilo parenético, Paulo apresenta-se como paradigma, modelo moral a imitar, pois palavras e obras estão incindivelmente unidas... (CLARO, 2017, p.58)

Como se pode perceber, a imitatio pauli tem como objetivo comunicar aos tessalonicenses um padrão de vida que se identifique com Cristo — pois, se o Mestre sofreu e foi perseguido, não há como o destino dos discípulos ser diferente. Ao contrário do que os críticos contemporâneos pretendem afirmar, a imitação na teologia de Paulo é um exercício de depotencialização, por meio do qual cada cristão deve assumir sua natureza frágil em si mesma, porém restaurada e fortalecida pela graça de Deus Pai.



Na verdade, o padrão não é Paulo, mas Cristo (Ef 5.1). Ao invés de um discurso hierarquizante, por meio do qual o apóstolo pudesse ascender a um nível não acessível aos demais indivíduos, aqui em 1 Tessalonicenses — assim como em outros escritos paulinos —, encontramos um Paulo que se identifica com as pessoas, com seus sofrimentos e agruras cotidianas, convidando-as a um padrão de vida pautado na simplicidade, alegria e piedade a Deus.

O Testemunho de Paulo, a Conversão dos Tessalonicenses e a Esperança da Parusia



A parte final dessa perícope (1 Ts 1.2-10) termina com um resumo da operação do evangelho entre os tessalonicenses. Foi um movimento que apontou para o testemunho externo das cidades circunvizinhas, as convicções internas da nova igreja que a levou a romper com a ordem idolátrica vigente e as promessas futuras oriundas do evangelho anunciado. Os versículos 9 e 10 subdividem-se assim, naturalmente, em três partes:



a) O testemunho da população de toda a Macedônia e Acaia sobre a eficácia da evangelização de Paulo e sua equipe entre os tessalonicenses. Os acontecimentos em Tessalônica tornam-se notórios para além dos limites da própria cidade. A repercussão sobre os efeitos do poder transformador do evangelho comove as cidades circunvizinhas. Essa informação apresentada por Paulo corrobora a tese de que os acontecimentos entre os tessalonicenses foram divinamente guiados, a ponto de inspirar as igrejas vizinhas a manter o mesmo nível de perseverança e alegria no evangelho que aquela recém-fundada igreja desfrutava.



b) O testemunho de Paulo sobre como a conversão dos tessalonicenses foi algo genuíno. Como já sabemos, o contexto cultural dos tessalonicenses expunha-os a um panteão, literalmente, de deuses; as várias opções de divindades e os cultos das mais diversas naturezas impunham-se como um elemento de obstáculo ao estabelecimento de uma fé genuinamente cristã. Todavia, a experiência de salvação dos tessalonicenses foi algo tão profundo que — tal como ocorreu com os efésios (ver At 19.19) — eles resolveram abandonar publicamente a idolatria e declarar exclusivamente Jesus como Senhor. A decisão dos tessalonicenses torna-se mais radical ainda quando lembramos que o culto ao imperador romano era uma prática corriqueira e quase que imposta naquela sociedade.

Como nos afirma Green:



Os tessalonicenses haviam abraçado o evangelho anti-imperial e estavam sofrendo por sua lealdade ao “outro rei” chamado “Jesus”. Em sua correspondência com eles Paulo chama a mensagem que lhes havia pregado de εὐαγγέλιον, palavra que comumente traduzimos por “boas novas” ou “evangelho”. Naquele contexto de então este substantivo e verbo afim εὐαγγελίζομαι se usavam em referência a notícias de vitórias em guerras, as palavras de um oráculo ou as boas novas de uma boda. [...] Em Tessalônica, cidade que celebrava o poder imperial no seu templo dedicado a Júlio César e o “filho de deus” Augusto, εὐαγγέλιον soava nos ouvidos dos habitantes como as “boas novas” do culto imperial que exaltava o imperador como soberano, mas também como deus e salvador. (GREEN, 2007, p.10,11)

O rompimento dos tessalonicenses com a ordem religiosa vigente obviamente desencadeou uma série de perseguições sobre aquela jovem comunidade; porém, nem mesmo essa oposição popular e institucional que se arremeteu contra os tessalonicenses fizeram com que se desviassem do foco de servir ao Senhor Jesus apregoado por Paulo.

c) O anúncio das promessas vindouras. Diante da inspiradora experiência de fé dos tessalonicenses, Paulo anuncia a maravilhosa obra da salvação. De maneira sintética, porém extremamente rica, o apóstolo esclarece aos novos irmãos as verdades profundas acerca da salvação em Cristo, nas palavras de Marques:



Pela confiança em Deus e no Seu Filho, a perspectiva histórica dos tessalonicenses se muda: seu passado, presente e futuro se explicam pela adesão à fé. O passado dos ídolos não voltará mais, o presente é a doce experiência da profunda transformação que se alimenta pela caridade ensinada pelo mesmo Deus. E o futuro é aguardado com a serenidade de quem encontrará no juiz escatológico um Pai amoroso que recria, acalenta, exorta, encoraja e instrui para a perseverança final, tendo ao lado o Filho como advogado eficaz. (MARQUES, 2009, p. 37)



Já aqui no primeiro capítulo, a temática das últimas coisas começa a ser abordada. A promessa aqui anunciada é que a “ira futura” — compreendida como condenação eterna — não atingirá os filhos de Deus, ainda que a “ira presente”, que se manifesta por meio da violência e perseguição do império romano, esteja assolando a igreja local.



A realidade dos tessalonicenses era muito dura; falsas promessas apenas angustiariam o coração daqueles irmãos já tão sofridos; era necessário tirar-lhes o foco da tribulação presente para lembrá-los do sacrifício de Cristo, já oferecido cerca de 20 ou 30 anos atrás no calvário, e apontar-lhes o futuro de eterna paz que os espera na glória vindoura. Diante das múltiplas temáticas presentes neste primeiro capítulo, pode-se perceber a riqueza do texto paulino, que consegue ser simultaneamente simples e animador em sua leitura, porém profundo e brilhante.

*Este subsídio foi adaptado de BRAZIL, Thiago. A Igreja do Arrebatamento: O Padrão dos Tessalonicenses para Estes Últimos Dias.  1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp. 27-36.



Que Deus o(a) abençoe.

Telma Bueno

Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens



1 Vide, SOUZA, 2012, p.149,150. 1Vide, SOUZA, 2012, p.149,150.

2 Conforme Thiselton (2011, p.24), essa característica marcante do ministério de Paulo pode justificar todo o cuidado e alegria para com aquela comunidade.

3 Essa é a hipótese defendida por Marques (2009, p.12), assim como por teólogos como Alain Gignac (1996), Carriker (2000), dentre outros.  É claro que, para alguns críticos, como aponta Thiselton (2011, p.25), essa apropriação paulina do termo μιμέομαι (imitar), que, aqui em 1 Tessalonicenses, é apresentada como uma prática de exercício de poder, em outros contextos, ela será parte de uma exortação a ser seguida de modo imperativo (1 Co 4.16; Fp 3.17; II Ts 3.9). Dentre os autores que apresentam essa crítica ao modelo imitativo de liderança de Paulo, estão CASTELLI, E. A. Imitating Paul: A Discourse of Power. Louisville, KY: Westminster/John Knox Press, 1991; e BURKE, T. J. Family Matters: A Socio-Historical Study of Kinship. Metaphors in 1 Thessalonians. New York: T&T Clark International, 2003.  Deve-se ressaltar, todavia, que, quanto ao aspecto da religiosidade greco-romana, há registros de orientações de caráter mimético extremamente similares às de Paulo. Vide PLUTARCO. Obras Moraise de Costumes; e EPITETO. Fragmentos.



Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso no preparo de suas Lições Bíblicas de Jovens. Nossos subsídios estarão à disposição toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não vão esgotar todo o assunto e não é uma nova lição (uma lição extra). Você não pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo.