quarta-feira, 14 de abril de 2021

Lição 03 - 2º Trimestre 2021 - Em Jesus Cristo, o nosso Salvador - Adolescentes.

 

Lição 3 - Em Jesus Cristo, o nosso Salvador 

2º Trimestre de 2021

Texto Bíblico: João 1.1-18

Destaque: João disse o seguinte a respeito de Jesus: — Este é aquele de quem eu disse: “Ele vem depois de mim, mas é mais importante do que eu, pois antes de eu nascer ele já existia.” (Jo 1.15)

Objetivos
#Conhecer
 Jesus de Nazaré;
#Estudar sobre como Jesus viveu e morreu;
#Crer na ressurreição de Jesus e na sua divindade.

Querido professor (a), Na aula desta semana há uma sugestão de conclusão de aula na seção “Quebrando a Rotina”. A proposta é que o professor fale sobre as duas naturezas e os títulos apresentados na pessoa de Jesus Cristo: Divindade, Humanidade e Ofícios. Para isso destacaremos trechos da obra Teologia Sistemática Pentecostal, a fim de equipar o (a) prezado (a) professor (a) de maiores informações de natureza teológica:

A HUMANIDADE DE JESUS

Cristo humanizou-se para aniquilar o que tinha o império da morte, o Diabo. O autor de Hebreus mostra isso de maneira sublime e sem igual: ‘E, visto que os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo’ (Hb 2.14).Esse triunfo de Cristo sobre o inimigo e seu império anulou a ‘cédula’ que era contra nós (Jo 5.24; Ap 2.11). Por isso, o apóstolo Paulo, inspirado por Deus, afirmou: ‘Havendo [Cristo] riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em sim mesmo’ (Cl 2.14,15).

A DIVINDADE DE JESUS

[...] Onipotência. Nas Escrituras é apresentado o supremo pode pessoal do Filho de Deus, evidenciando-se os seus atributos naturais e morais, próprios do Deus Pai [...] (Is 9.6).

Onipresença. [...] Como Filho do homem (sua humanidade), Ele estava limitado às dimensões geográficas: quando estava na Galileia, não se encontrava, é claro, na Judeia. No entanto, como Filho de Deus (sua divindade), sempre esteve presente em todo lugar (Mt 28.20).

Onisciência. ‘Se Jesus é onisciente, por que confessou, em certa ocasião, não saber o dia nem a hora de sua vinda?” Como coexistiam Deus e Homem numa mesma Pessoa, sabemos que ‘toda a plenitude’ da divindade encontrava-se em Jesus Cristo. Daí o profeta Isaías ter afirmado profeticamente que Ele seria possuidor da septiforme sabedoria divina [...] (Is 11.2). Quando Jesus disse: ‘Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai’ (Mc 13.32), fê-lo como Homem, não se valendo do seu atributo divino da onisciência. Ao dizer ‘nem o Filho’, expressou a sua humilhação e seu esvaziamento decorrentes da encarnação (Fp 2.6-8).

SACERDOTE, REI E PROFETA

[Sacerdote]. [...] A ordem sacerdotal à qual Jesus pertenceu não tinha origem nem numa família e nem numa tribo [...] (Hb 7.14). Portanto, Jesus pertence à ordem sacerdotal eterna e especial, como vemos em vários lugares da Epístola aos Hebreus (2.17; 3.1; 4.14,15; 5.6,10; 6.20; 7.11-28; 8.1; 9.11; 10.21). No que diz respeito à semelhança com Melquisedeque, as aplicações simbólicas parecem ser estas: Cristo é o Rei-Sacerdote, tal como aquele (Gn 14.18; Zc 6.12,13); Cristo é o Rei justo de Salém ou Jerusalém (Is 11.5); Cristo é o Rei eterno, não havendo registro do seu início no tempo (Jo 1.1; Hb 7.3). Nunca tendo sido nomeado por homem algum para o seu ministério (Sl 110.4; Rm 6.9; Hb 7.23-25) e como o mesmo também não terá fim, assim Ele não teve ‘... princípio de dias nem fim de vida’, conforme é dito acerca de Melquisedeque. Portanto, embora a obra de Cristo tenha seguido ao padrão do sacerdócio araônico, a alusão a Melquisedeque fala sobre sua autoridade real, sua eternidade e a natureza perene de sua obra.

Cristo como Rei dos reis. Observando-se as regras naturais da realeza, a criança nasce príncipe e depois se torna rei. Mas a realeza de Jesus é sem igual, especial. Ele já nasceu Rei: ‘Onde está aquele que é nascido rei dos judeus’ (Mt 2.2). O próprio Senhor, quando arguido por Pilatos sobre a sua origem Monárquica, respondeu-lhe: ‘Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci...’ (Jo 18.33,37).

Cristo como Profeta. A promessa de que Deus levantaria um Profeta ‘semelhante a Moisés’ teve cumprimento em Cristo (Dt 18.18). As Escrituras do Novo Testamento afirmam que Jesus ‘...foi varão profeta, poderoso em obras e palavras’ (Lc 24.19), assim como fora Moisés (At 7.22)” 

A Paz do Senhor Jesus!

Flavianne Vaz 
Editora Responsável pela Revista Adolescentes Vencedores da CPAD 

Fonte: SILVA, Severino Pedro da. Cristologia: a Doutrina de Cristo In. GILBERTO, Antonio; ANDRADE, Claudionor; ZIBORDI, Ciro. Teologia Sistemática Pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, pp.120-21,28-29,44-45.

Lição 03 - 2º Trimestre 2021 - Divisões na Igreja - Jovens.

 

Lição 3 - Divisões na Igreja 

2º Trimestre de 2021

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Natalino das Neves, comentarista do trimestre.

DIVISÕES NA IGREJA

A confiança do apóstolo na fidelidade de Deus, vista no capítulo anterior, dava-lhe segurança para lidar com os problemas da comunidade cristã em Corinto de maneira mais otimista e realista. Deus esteve constantemente abençoando os coríntios, e agora eles precisavam urgentemente de orientação firme do apóstolo. A partir do versículo 10, o apóstolo inicia o assunto que mais o preocupava no momento da escrita: as divisões internas da comunidade. Por causa disso, ele descreve sobre os prejuízos que elas podem trazer para a comunidade cristã, como a formação de grupos rivais com base em preferências pessoais de liderança. Paulo traz sérias advertências do perigo de tentar substituir os méritos da cruz de Cristo pela busca da ostentação e orgulho pessoal.

Uma exortação com amor e humildade para não causar mais dissensões (1.10a) 

As cartas enviadas aos coríntios, juntamente com a carta enviada aos gálatas, expressam bem a disputa que o apóstolo Paulo conviveu ao longo de seu ministério com os grupos que contestavam seu chamado e sua mensagem pelos mais diversos motivos. Fisk (2018, p. 342) fornece um bom resumo, em três passos, para demonstrar a situação entre Paulo e a comunidade cristã em Corinto no momento da escrita deste texto:

Paulo, junto com Silvano e Timóteo (2 Co 1.19), passa um ano e meio pregando em Corinto (50-52 d.C.) e fundando a igreja coríntia (At 18.1-18). De acordo com Atos 18.12, essa visita coincidiu com o período de Gálio como governador provincial (de julho de 51 a junho de 52). Paulo, durante esse período, recebe alguma ajuda financeira externa (Fp 4.14-16) para completar a renda conseguida por ele mesmo (1 Co 9.3-18), mas não recebe nenhuma ajuda dos próprios coríntios (1 Co 9.12,15-18; 2 Co 11.7-9). 2. Paulo envia à igreja sua carta anterior (agora perdida) que, em parte, foi entendida de forma equivocada ou desconsiderada (1 Co 5.9-13). 3. Os membros da família de Cloe vieram até Paulo com as informações sobre os problemas em Corinto (1 Co 1.11,12; 5.1, 2; 11.18).

Paulo foi uma pessoa dedicada e comprometida com a pregação do evangelho com vistas à conversão da maior quantidade de pessoas possível, independentemente dos sacrifícios que ele tivesse de fazer. No resumo anterior, fica evidente que o apóstolo não conseguia manter-se com o próprio trabalho de fazer tendas junto com o casal Priscila e Áquila. Os coríntios não se comoveram com a sua situação, a ponto de ele receber ajuda da comunidade de Filipos enquanto estava pastoreando a comunidade cristã em Corinto. Para a cultura grega, o trabalho operacional era desprezível, destinado aos escravos e pessoas sem instrução. O fato de Paulo trabalhar para sustentar-se, na visão desses coríntios, desqualificava-o como líder. Todavia, esse desprezo e falta de apoio não desanimaram o apóstolo ou tirou a sua simpatia pela comunidade; pelo contrário, ele continuou amando-os como se fossem sua própria família. A partir desse momento na carta, ele dispõe-se a interagir de forma mais enérgica com alguns membros, depois de receber as notícias de partidarismo e divisões no meio da comunidade. Exortar pessoas e orientar sobre como algo deve ser feito não é uma tarefa agradável, e poucas pessoas propõem-se a fazê-la. Paulo era motivado pelo amor ao Evangelho de Cristo, que o havia transformado e mudado completamente sua vida. A exortação é uma característica típica do gênero literário “carta ou epístola”. Quando Paulo fazia uma exortação, geralmente era para iniciar o aprofundamento de um aconselhamento pastoral. Ele faz algumas exortações e orientações em forma de conselhos sobre o comportamento adequado aos cristãos dentro de sua comunidade. Como fundador daquela comunidade cristã, devia ser muito duro para ele exortar aquelas ovelhas, mas era necessário. As pessoas têm a tendência de preferir relacionar-se com as demais nos momentos descontraídos e que não precisam ficar controlando nada e nem ninguém. No entanto, as dissensões estavam trazendo prejuízos sérios à comunidade; algo precisava ser feito. Para exortá-los, primeiramente Paulo toma uma atitude humilde, não com imposição autoritária, por isso ele inicia com a frase “Rogo-vos”, chamando-os de irmãos, que sugere uma expressão de comunidade fraternal. Por fim, evoca a autoridade do nome de Jesus: “pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. 

As dissensões prejudicavam a unidade da igreja (1.10b)

Paulo havia ensinado aos coríntios o modelo de vida das primeiras comunidades cristãs, que tinham como principal característica a unidade no ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2.42-47; 4.32-35; 5.12-16; 9.31ss; 12.24ss). Entretanto, a comunidade era nova, e seus membros estavam acostumados com o modelo das sociedades romanas e gregas, organizadas a partir de cima (poderosos, cultos, pessoas de projeção). O apóstolo sempre lutou para manter a harmonia entre diferenças existentes dentro das primeiras comunidades cristãs. Ele certamente sofria com os diversos desentendimentos ao longo do seu pastoreio. Todavia, o apóstolo não podia esmorecer; tinha de tomar uma atitude e continuar conscientizando os membros das comunidades cristãs sobre o valor da unidade da igreja. Paulo estimula seus leitores a retomarem a harmonia, buscando a concordância entre eles de tal forma que tivessem uma só voz. Ele incentiva que haja uma harmonia recíproca tanto na mente como na vontade. O funcionamento da Igreja de Cristo deve ser semelhante ao do corpo humano, ainda que limitado, criado perfeitamente por Deus e que reflete a unidade e a harmonia entre seus membros (1 Co 12.12-27). Paulo utiliza a palavra grega katartizein para demonstrar que Deus quer restaurar a harmonia dos membros da comunidade que estavam distanciados e divididos, tornando possível um julgamento ou opinião em consenso, na busca de uma harmonia perfeita, visando o bem da coletividade e a renúncia às atitudes divisionistas que estavam ocorrendo na igreja. O que Paulo almejava para a comunidade era uma vida comunitária solidária, que eles continuassem a viver juntos e em paz, que pensassem sobre a importância da unidade de forma que esta seja a motivação de todas as ações coletivas e individuais. Trata-se de uma harmonia tanto na doutrina quanto nos esforços e disposição para a coletividade. Para que haja harmonia, é preciso predisposição para tal.

Paulo identifica o problema e a fonte de sua informação (1.11) 

Paulo expõe diretamente o problema “contendas entre vós” e não esconde a fonte: “me foi comunicado pelos da família de Cloe”. Geralmente, as pessoas gostam de expor os problemas de forma anônima, assim não precisam comprometer-se. Cloe aparece somente uma vez no Novo Testamento. Não há informações adicionais sobre ela e sua família. Tem quem defenda que ela poderia ser moradora de Éfeso, local de onde Paulo estava escrevendo a carta, sendo uma comerciante e que seus empregados (família, escravos e livres) transitavam entre Corinto e Éfeso. Todavia, o texto indica que ela e sua família eram conhecidas pela igreja. Cloe provavelmente era uma senhora respeitada, do mundo gentílico, comprometida com o Reino e, por estar sofrendo com a situação da igreja, comunica ao apóstolo. Certamente, ela fez isso pela confiança no chamado e autoridade outorgada por Deus a Paulo. 

Há uma grande diferença quando alguém comunica algum problema à liderança por inveja ou para prejudicar alguém enquanto há uma comunicação visando o bem comum. Quando o assunto é tratado diretamente, como Paulo o fez, e citando as fontes, comprova-se que o fato não é um boato, mas algo público e notório. A informação deu origem aos quatro primeiros capítulos da carta, que tratam das dissensões que estavam prejudicando a pregação da Palavra e o crescimento da igreja. Paulo novamente trata os seus leitores como “irmãos meus”, abordando o problema interno como uma família fraterna, com carinho e autoridade pastoral. Paulo tinha a intenção de resolver o problema de divisão que não se menciona o tempo que estava acontecendo ou se era algo permanente. Todavia, essa era uma atitude característica da própria sociedade, e a cultura de disputas e divisões estava sendo transferida também para a igreja. A cultura grega favorecia esse tipo de acontecimento, porém Paulo quer demonstrar que esse comportamento não é adequado para ser reproduzido dentro da igreja; ele favorece o relacionamento mais amigável e sob a coordenação dos líderes oficiais para tratar as diferenças de qualquer tipo que possa surgir na igreja. Paulo trata o assunto com a seriedade de que necessita, com o objetivo de contornar a situação com informação verídica e com o envolvimento de todas as pessoas que faziam parte da comunidade cristã de Corinto.

O Partidarismo na Igreja (1.12) 

Tratamento inadequado das diferenças de opinião A palavra grega “eris”, traduzida por contenda, utilizada no versículo 11, significa discussão e discórdia. A maioria dos membros da comunidade de Corinto havia perdido a percepção de que Cristo deve ser o centro de todas as coisas e faltava habilidade para lidar com opiniões diferentes, visando, ao mesmo tempo, a manutenção da harmonia dos envolvidos. A diversidade de opiniões pode ser benéfica, desde que não seja motivo de dissensões e ofensas às pessoas com ideias diferentes. O cristianismo era uma novidade em Corinto, cidade acostumada a receber pessoas de várias culturas. A nova ideia influenciava o contexto social, mas também era influenciada ao contextualizar-se. A igreja era heterogênea (classes sociais, pluralismo religioso, conflitos éticos e morais, entre outras diferenças), e, ao que parece, alguns viam na nova comunidade a possibilidade de ter mais influência sobre os outros (tendências imperialistas) por pura ambição. Todavia, as comunidades cristãs vieram com uma nova forma de organização e estilo de vida. O que prevalecia era a coletividade e a busca pela igualdade de oportunidades, pelo menos diminuir as diferenças. Paulo busca o resgate do modelo de gestão de Cristo. Contudo, não dá para atribuir esse comportamento somente para a comunidade cristã de Corinto. A contraposição de modelo de gestão na convivência era predominante em todo o território romano, e é evidente que, em algumas regiões, devido a características peculiares, eram mais ou menos que outras. Por isso, Corinto, conforme as informações já vistas na primeira lição, era um local onde esses comportamentos eram mais acentuados do que em outros locais. Nas primeiras comunidades cristãs, isso também fica evidente ao ler as cartas do Novo Testamento, embora não seja um problema exclusivo. Em sua segunda viagem missionária, em Corinto, Paulo depara-se pela primeira vez em seu ministério pastoral com um confronto interno acentuado, pessoas insubmissas ou mesmo judeus atraídos por Jesus, porém sem a mesma liberdade em Cristo como o apóstolo. Paulo sabia que teria de tratar o assunto, pois se fazia necessário uma cultura de tratamento adequado das diferenças de opinião sob a direção do Espírito Santo.

Formação de grupos rivais 

Como resultado das dissensões, a comunidade acaba por dividir-se em quatro facções (grupos de Paulo, Apolo, Pedro e Cristo). Cada uma delas seguiu o seu pregador e líder preferido. Paulo, Apolo e Cefas não queriam o poder pelo poder, mas lideravam visando a confirmação do Reino de Deus. Por exemplo, Apolo estava com Paulo em Éfeso na época da escrita da carta (16.12). Há líderes que buscam influência por ambição e até conquistam seguidores, mas não para Cristo. Por outro lado, existem líderes bem intencionados, mas alguns de seus seguidores podem buscar em sua liderança formas de obter controle sobre os liderados e até ocupar o lugar do seu líder. Parece que era isso que estava acontecendo: usavam o nome de Paulo, Apolo, Pedro e até de Cristo para formarem grupos rivais devido à ambição pelo poder e supremacia por suposto conhecimento privilegiado. Talvez estivessem influenciados pela cultura de veneração a heróis da mitologia grega e do culto a personalidades, que influenciam cristãos até os dias de hoje.  Paulo não se aliou nem mesmo àqueles que se diziam seus seguidores exclusivos. Outro líder em seu lugar poderia ter até desejado saber se existia algum grupo de pessoas defendendo o seu apostolado e sua liderança. No entanto, diferentemente de muitos líderes de sua época e da época atual, o apóstolo não se deixou levar pela possibilidade de controle e de dominação. A formação de grupos rivais não interessava a Paulo, assim como não deve interessar a nenhuma pessoa que esteja interessada no crescimento do Reino de Deus. É evidente que existem pessoas que extrapolam a questão do bom senso e acabam com as possibilidades de harmonia entre os liderados, mas essa não era a situação de Paulo. O apóstolo, em momento algum, nem em Corinto ou qualquer outra comunidade cristã fundada ou cuidada por ele, deu a entender ou trouxe qualquer ensinamento que priorizasse uma liderança em detrimento da outra, de um grupo em detrimento de outro. Paulo estava ciente de que esse comportamento de formação de grupos rivais estava prejudicando o bom andamento da igreja e dificultando a pregação do evangelho. Infelizmente, ao longo da história da igreja, esse comportamento foi reproduzido e continua até os dias atuais. Paulo não se esquivou de tratar o problema em nome do amor ao evangelho e ao Reino de Deus. Há problemas que são difíceis de tratar, mas não podem ser ignorados devido aos impactos que podem trazer para a igreja.

Os tipos de grupos rivais 

O apóstolo não comenta sobre as peculiaridades de cada grupo, mas que cada um identificava-se com um dos quatro dos principais líderes da comunidade. Pelo contexto, parece que se baseavam no líder que os havia batizado. O apóstolo não menciona se toda a comunidade estava envolvida em algum tipo de grupo rival, o que parece improvável. Possivelmente, a maioria estava envolvida, porém não podemos crer que todos os membros da comunidade estavam “cadastrados” em um dos grupos e tomavam-no como a sua bandeira. Uma coisa é certa: todos os membros estavam envolvidos no resultado desastroso que esse procedimento causava. Em um grupo social, é normal um pequeno grupo mais incisivo e dinâmico acabar influenciando os demais, a ponto de, às vezes, muitas pessoas participarem de certos grupos e nem saberem o motivo. Infelizmente, isso não é diferente na igreja. Diante disso, é importante o cristão saber sempre em quê e com quem está se envolvendo e qual o verdadeiro objetivo de tal movimento e atitude. Os partidários de cada um dos grupos guiavam-se pelo estilo de ministério e liderança do líder preferido ou escolhido. Com base nisso, é possível conjecturar as especificidades de cada grupo: a) grupo de Paulo – os primeiros cristãos, principalmente os gentios e os devotos do judaísmo convertidos ao cristianismo; b) grupo de Apolo – membros que se converteram e entusiasmaram-se com seu estilo eloquente; c) grupo de Pedro – judeus de origem legalista e farisaica; d) grupo de Cristo – aqueles que se achavam mais santos do que os outros, com base na justiça própria. A preferência ou identificação por alguém é natural. O perigo é quando essa relação torna-se motivo para achar-se superior e classificar as outras pessoas como inferiores, para a prática de exclusão e o afastamento daqueles que não têm a mesma preferência ou identificação. Quem não se familiariza ou se simpatiza mais com um líder do que com outro? Quem não gosta mais de ouvir um estilo de pregação do que outro? Todavia, isso não precisa virar um cabo de guerra. O cristão deve tratar e ouvir a todos com o mesmo respeito e de tudo tirar o que se tem de melhor. 

As Divisões e seus Perigos (1.13-17)

O perigo de tentar abafar os méritos da Cruz de Cristo (1.13) Paulo, após falar sobre a formação dos grupos rivais, aponta para a possível causa das discórdias entre eles. Parece que estavam “idolatrando” o fato de serem batizados por determinada pessoa, valorizavam mais o ser humano que os havia batizado do que o próprio sacrifício de Cristo (Rm 14.9; 1 Co 7.23). Paulo é categórico: “Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo?”. O questionamento do apóstolo é direto: “Está Cristo dividido?”. Como se dissesse que, para atender à nova realidade da igreja em Corinto, Deus precisaria recortar o Corpo de Cristo em pedacinhos para justificar cada um dos grupos formados dentro da igreja. Isso, se Deus fosse sujeitar-se aos desejos pessoais, como se a pessoa fosse mais importante do que Ele, com poder para determinar como o próprio Criador deve gerir o Universo e o mundo espiritual. A abrangência do questionamento paulino não é percebido por alguns leitores da carta. Uma pessoa que tem o seu corpo dividido não sobrevive; na realidade, é um estado de quem está morto. Evidente que toda analogia e figura que se utiliza de forma comparativa têm suas limitações, principalmente quando se compara o mundo material com o imaterial, o humano com o espiritual. Todavia, seguindo a metáfora do corpo utilizado por Paulo, comparando o Corpo de Cristo com a igreja, ele está dizendo que, se os coríntios tratassem a igreja como um corpo dividido, ela não subsistiria diante dos desafios daquela sociedade. O sacrifício de Cristo é o único eficaz para a justificação da humanidade. É o único e perfeito sacrifício aceito por Deus para remissão dos pecados. Essa era a causa do batismo de todo cristão. Eles estavam sendo batizados em memória do sacrifício de Cristo, sua morte e ressurreição, simbolizando a morte de “velho homem” e a ressurreição como “nova criatura”. Paulo mais uma vez é direto e incisivo. É como se ele questionasse: “Vocês estão pensando que eu, Apolo e Cefas fomos crucificados e oferecemos um sacrifício perfeito como o de Cristo para a vossa justificação? Vocês foram batizados em nosso nome ou em nome de Cristo?”. Na realidade, eles estavam tentando abafar os méritos da morte de Cristo na cruz com a “adoração” de seu “líder preferido”, e Paulo revela esse absurdo! Nos dias atuais, esse fato que aconteceu em Corinto tem-se repetido, algumas vezes por presunção e por orgulho de alguns líderes; outras vezes são promovidos por seguidores fanáticos. Juntam-se a esses os seguidores, dentre eles pessoas em busca real e sincera de Deus, e outros em busca de satisfação própria. Esses líderes ou falsos seguidores de Cristo subestimam o sacrifício de Jesus, o único que morreu na cruz e tem o poder para restaurar o ser humano com Deus.

O perigo de ser um narcisista pós-moderno (1.14-16) 

Paulo faz um agradecimento que causa espanto e pode ser mal interpretado. Ele dá graças a Deus por ter batizado apenas algumas pessoas da comunidade: Crispo, ex-chefe de sinagoga (At 18.8), Gaio e a casa de Estéfanas. Ele descreve o motivo (v. 15) para que ninguém se vangloriasse por ter sido batizado por ele. Pode-se ter a impressão de que o apóstolo estava revoltado e ofendendo os seus leitores; todavia, na realidade, ele está mais uma vez sendo direto e claro. Diante do comportamento dos coríntios, de ficarem idolatrando os líderes que os batizaram, como se o batismo fosse diferente ou mudasse o status diante de Deus e das pessoas, dependendo de quem o realizasse, Paulo afirma que não gostaria de ter seu nome relacionado a tal comportamento. Se ele tivesse batizado várias pessoas, estas também poderiam estar usando o seu nome para vangloriar-se disso. A atitude de Paulo dá a entender que as pessoas batizadas por ele, que são mencionadas, entenderam o verdadeiro significado do batismo e glorificavam a Deus pelo resultado que era simbolizado pelo batismo, a justificação por meio do sacrifício de Cristo. O apóstolo não tinha a preocupação de manter o controle sobre as pessoas que se convertiam por intermédio dele para benefício próprio. A era atual, denominada como pós-moderna, tem como característica ter uma sociedade narcisista, que busca de forma desenfreada a satisfação dos próprios desejos e considera os outros meros objetos e meios de alcançar fins egoístas. Paulo seguia o modelo de Cristo, que amava as pessoas e usava os objetos. Ele não buscava ser “adorado” pelas pessoas, mas centralizava tudo em Cristo.

O perigo de pregar o evangelho por ostentação (v. 17) 

A sociedade de Corinto, influenciada pela cultura helenista (grega), valorizava em excesso o valor do conhecimento como forma de ostentação. Uma das principais preocupações do apóstolo nesta carta, como em outras do mesmo período dirigidas ao ambiente fortemente influenciado pela cultura helênica, era o entusiasmo pelo “sedutor fascínio da retórica sofista, com sua programação de autopromoção, sua promessa de reconhecimento público e seu talento para produzir as facções” (FISK, 2018, p. 345). Essa busca pelo conhecimento que provesse forma de ostentação não era somente uma característica dos oponentes do apóstolo, mas também uma cultura que prevalecia no ambiente grego. A carta de Paulo evidencia que esse sentimento ainda estava presente entre membros da igreja. Paulo não confiava na “sabedoria de palavras”, mas na pregação do evangelho que havia transformado sua vida e era a força transformadora que movia a comunidade cristã. Fisk (2018, p. 345) afirma que o grande desafio de Paulo era “se manter firme contra os oradores profissionais e debatedores de improviso sem trair as fraquezas da mensagem que ele fora chamado a proclamar, e sem ceder sob a pressão diária que ele sentia em relação a todas as igrejas (2 Co 11.28)”. Paulo era conhecedor das técnicas de oratória, mas tinha uma característica mais reservada, diferentemente de Apolo, como veremos em capítulos posteriores. Essa característica de Paulo era explorada pelos seus opositores, desprezando seu estilo por não ser empolgante diante dos critérios gregos. O objetivo do apóstolo Paulo era passar a mensagem de uma forma simples, em especial no ambiente interno da igreja, que era formada, na sua maioria, por pessoas simples. Ele não poderia falar para uma minoria de intelectuais da igreja e deixar os demais ouvindo sem entender o que se estava falando, como era o costume secular. Ele não tinha como ocupação principal buscar a aprovação de seu estilo e a busca de autopromoção. As cartas paulinas e os relatos do livro de Atos apresentam um Paulo com objetivo bem definido quanto à simplicidade da pregação do evangelho. Ao contrário, é comum no meio evangélico ouvir pregadores confiando em sua capacidade: “Eu preguei em tal lugar, e tantos foram convertidos, e tantos foram batizados no Espírito Santo, [...]”. Pregadores que mudam o tom de voz, diferente de seu natural, para imitar pregadores de projeção nacional e internacional. Utilizam de técnicas de oratória não apropriadas para um púlpito de igreja, sempre com vistas à sua projeção pessoal de autoperformance. Pregadores com esse comportamento, em sua maioria, não possuem um preparo teológico adequado, não respeitam o texto bíblico e tentam utilizá-lo de acordo com seus objetivos e metas pessoais. Se for para fazer assim, melhor é ficar sentado e ouvir quem realmente tem experiência com Cristo e compromisso com a Palavra de Deus. De outra forma, o prejuízo será para a própria pessoa, as pessoas à sua volta e seus ouvintes desatentos para a intenção do preletor. A pregação do evangelho não é para projetar pregadores e nem para benefício próprio, mas para aplicação da eficácia da cruz de Cristo. O beneficiado deve ser aquele que nEle crê, pois o evangelho “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16).

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Lição 03 - 2º Trimestre 2021 - Por que Deus nos Criou? - Juvenis.

 

Lição 3 - Por que Deus nos Criou? 

2º Trimestre de 2021

ESBOÇO DA LIÇÃO
1. A CRIAÇÃO DE DEUS
2. O SER HUMANO SEGUNDO A BÍBLIA
3. EVOLUÇÃO NÃO, CRIAÇÃO SIM
4. CUIDANDO DAQUILO QUE É DE DEUS

Querido (a) professor (a), na próxima aula vamos debater a questão “Por que Deus nos Criou?”. Essa é uma excelente oportunidade para identificar possíveis problemas de autoestima e em Deus cooperar para um processo de cura e restauração na vida de seus juvenis. 

Segundo psicólogos este é um período de grande sensibilidade e insegurança quanto a si mesmo. Não é para menos, seus alunos acabaram de atravessar uma série de mudanças físicas, hormonais, estéticas, etc. Enquanto ainda tentam lidar com elas, também se esforçam para se conhecerem, se entenderem, encontrarem sua identidade internamente, mas também serem aceitos externamente. Não é fácil. Tente recordar os conflitos internos, inseguranças, baixa autoestima, etc. da sua época, quando tinha a idade deles. Tenha empatia pelos seus alunos e não desdenhe de suas dores.

Além de todos esses fatores, muitos jovens nasceram em lares que não os planejaram, sentem-se de alguma forma rejeitados, excluídos ou não identificados com sua família. O inimigo se vale deste cenário somado à intensidade e sensações de deslocamento comuns à faixa etária. Que ele não encontre brecha no emocional de seus alunos. Converse com eles sobre essas questões. Esteja atento a possíveis distorções da própria imagem, distúrbios como bulimia, anorexia, se manifestam muito nessa idade. O Senhor Jesus livre a sua turma.

Que ao final da aula seus alunos compreendam que Deus os escolheu desde o ventre materno, que foram planejados e desejados por Ele. Alguns podem ter vindo de surpresa para os seus pais, uma linda surpresa, mas não para o Senhor. (Cf. Jr 1.5; Sl 139.13-16). É importante que eles entendam que mesmo que alguns adultos não os levem a sério, Jesus lhe dá muito valor. 

Aqui propomos uma dinâmica. Além da aplicação de todo conteúdo programático de sua revista, havendo tempo hábil, se valha deste recurso para reforçar a lição e autoestima de seus alunos. 

Separe uma folha em branco por aluno com o título em cima “Que bom que Deus criou você. Porque você é: ” Cada um deverá colar esse papel em suas costas e não poderão ver até o final da atividade. Coloque um hino cuja letra exalte a forma tão bela, única que Deus nos criou ou sobre o profundo amor dEle por nós, enquanto cada um deverá escolher uma característica marcante para preencher sobre o papel nas costas do colega, de preferência uma que ainda não tenha sido escrita. Mas não vale demorar, precisam escrever no maior número de pessoas possível. 

Quando parar a música eles poderão olhar e conversar sobre o que está escrito. Os que desejarem poderão complementar e fazer declarações aos amigos, por exemplo: “Escrevi que ‘Maria’ é boa conselheira porque um dia precisei e ela me ajudou com um conselho que deu certo”, etc.

Ao final expresse também o que você admira em cada um, e reforce como cada um foi criado de maneira única e especial por Deus e devem se aceitar, amar e valorizar, com todas as suas peculiaridades.

Ore com sua turma e peça que o Senhor lhes dê uma autoestima sarada, sempre enraizada no profundo amor com que o Todo-poderoso os criou.

O Senhor lhe abençoe e capacite! Boa aula. 

Lição 02 - 2º Trimestre 2021 - Ação de Graça pela Igreja de Corinto - Jovens.

 

Lição 02 - Ação de Graça pela Igreja de Corinto 

2º Trimestre de 2021

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Natalino das Neves, comentarista do trimestre.

AÇÃO DE GRAÇAS PELA IGREJA DE CORINTO 

Paulo inicia a carta com as saudações, de forma fraternal e agradecendo a Deus pela vida dos coríntios. O amor do apóstolo pela comunidade fala mais alto do que sua insatisfação com alguns comportamentos internos. Antes de falar sobre os problemas, o apóstolo registra uma das características da igreja, que era a abundância de dons.

I. Saudações de Paulo à Igreja (1.1-3) 

O autor da carta apresenta-se e justifica seu chamado (1.1) Segundo Brown (2004, pp. 554-561), na época do apóstolo Paulo, existia certo padrão de escrita para as correspondências. Elas geralmente começavam pelo “endereço”, que compreendia os nomes do remetente, do destinatário e as saudações, seguido do “proêmio”, a segunda seção da carta, que poderia ser formulada como uma ação de graças ou como doxologia, envolvendo descrições da situação do remetente e da condição do destinatário. Após a apresentação dos assuntos expostos no corpo da carta, a correspondência era encerrada com uma saudação final e a despedida. Paulo não inventa um modelo novo para escrever; pelo contrário, ele segue o modelo existente, favorecido pela sua boa formação. No entanto, nem sempre Paulo escrevia pessoalmente suas cartas. Ele fazia uso de outro costume da antiguidade, comum tanto nas casas comerciais quanto nas famílias mais abastadas, que tinham à sua disposição um escravo bem instruído para redigir as correspondências, que eram ditadas pelos seus senhores. O nome desse escriba profissional era “amanuense”. Paulo não escreveu a Carta aos Romanos com as suas próprias mãos, mas ditou-a para o copista Tércio, provavelmente conhecido dos irmãos da igreja de Roma, pois ele aproveita para enviar-lhes saudações (Rm 16.22). Quando Paulo escreve aos coríntios (1.1), de início demonstra que ele não trabalhava sozinho; o irmão Sóstenes estava com ele. Sóstenes era o antigo chefe da sinagoga de Corinto, que se converteu a Cristo e foi espancado pelos judeus diante do tribunal romano por defender a Paulo (At 18.17). Enquanto Paulo escreve a carta em Éfeso, Sóstenes continua ao seu lado para ajudar a comunidade cristã com seus problemas. Mais à frente, iremos ver que Paulo sempre delegava atividades e responsabilidades aos seus auxiliares como Apolo, Timóteo, Silas e Tito. A amizade verdadeira é algo muito precioso na vida de uma pessoa e deve ser cultivada desde a tenra idade para que se mantenha ao longo da vida. Ela é como um tesouro a ser preservado. Paulo, como costume em outras cartas (Gl 1.1; Rm 1.1), faz questão de defender seu apostolado e a origem divina de seu chamado, pois na comunidade também surgiram alguns falsos mestres que constantemente tentavam manchar a imagem do apóstolo e o valor de sua mensagem. Ele faz questão de destacar que seu ministério era da vontade de Deus. A convicção do chamado dá a garantia na excelência no exercício do ministério cristão.

II. Paulo dá Graças a Deus pela Obra de Cristo na Vida dos Coríntios (1.4-9) 

Paulo, como era seu costume, inclui no início de sua carta ações de graças a Deus pela obra de Cristo na vida de seus ouvintes. O hábito de orar pelas pessoas desenvolve em quem ora o sentimento de empatia, de colocar-se no lugar do outro. A pessoa que ora com sinceridade diante de Deus tem a tendência de ter um melhor relacionamento interpessoal. Paulo estava com o coração abatido pelas informações que havia recebido sobre a situação da igreja em Corinto, mas, antes de tudo, ele reconhece o valor da obra de Deus na vida daquelas pessoas. Elas haviam aceitado a mensagem do evangelho e estavam buscando uma nova vida com Deus. Paulo dá graças pela conversão e a fé em Cristo dos coríntios, fruto de suas pregações e testemunho de vida transformada na convivência de 18 meses naquela comunidade. O estilo de vida da cidade era um grande desafio para a manutenção de uma vida exemplar. Paulo, mesmo diante das diversas falhas demonstradas pelos membros da igreja, era grato pela permanência do grupo de fiéis. Ele distingue três pontos importantes: o enriquecimento na Palavra, no conhecimento experiencial de Deus e o testemunho de Cristo confirmado neles. O apóstolo conhecia bem o poder do evangelho para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). A cultura e os costumes da cidade eram um grande desafio para os membros da igreja, e o apóstolo dá uma mensagem de ânimo para seus liderados. No meio da comunidade, estavam acontecendo muitas falhas e comportamentos inadequados; contudo, o apóstolo não poderia desistir deles. Pelo contrário, ele tinha consciência de que deveria dar graças a Deus pela obra de Cristo na vida daquelas pessoas, porquanto ele também pensava conhecer a Deus e precisou ter sua vida totalmente transformada pelo amor de Cristo. Além do mais, não eram todas as pessoas da comunidade envolvidas nas divisões e dissensões; pelo que tudo indica, na sua maioria, eram as pessoas com melhores posses e condições educacionais e culturais segundo o critério humano.

Paulo inclui um alerta de fidelidade em suas ações de graças (1.7b,8) O reconhecimento e as ações de graças pela vida e fé dos destinatários preparam o caminho para o que estava por vir. Alguns teólogos afirmam que as palavras amáveis de Paulo eram uma forma de ironia, mas essa não parece ser a intenção. Paulo realmente vai preparando o coração dos ouvintes para expressar suas preocupações com as informações recebidas sobre o comportamento interno na comunidade. Eles ainda estavam no início da caminhada cristã e faltava-lhes maturidade espiritual. Paulo faz menção da promessa do arrebatamento e cita o Dia do Senhor. Esse “Dia” tem um significado teológico muito impactante. No Antigo Testamento, a expressão “o Dia de Iahweh” apontava para o dia do juízo de Deus (Jl 3.14; Am 5.18-20). No Novo Testamento, a expressão refere-se ao regresso de Cristo, ou seja, a parúsia (Fp 1.6,10; 2.16; 1 Ts 5.2). De certa forma, o arrebatamento também é uma forma de juízo, pois quem não está preparado não será arrebatado. Por outro lado, para quem está dentro da vontade de Deus, será um dia de gozo e vitória permanente. Infelizmente, sempre existirão aqueles que estarão indiferentes por não terem recebido ou por não terem crido na mensagem do evangelho. Paulo temia que o comportamento dos membros daquela comunidade pudesse comprometer a própria salvação. O apóstolo deixa claro que o comportamento no presente pode comprometer o futuro, evidenciando que um dos objetivos de sua carta era dissipar com os conflitos e comportamentos que não condiziam com a vida cristã.

A expectativa de Paulo estava alicerçada na fidelidade de Deus (1.9) 

Paulo esclarece que sua expectativa estava fundamentada na fidelidade de Deus ao seu projeto de salvação da humanidade. A sua conversão do judaísmo para o cristianismo certamente mudou sua forma de ver o Senhor, de um Deus irado e vingativo para um Deus de amor e de misericórdia. Na comunidade cristã em Corinto, existiam muitas práticas que não agradavam ao Pai, mas Paulo tinha convicção de que Deus nunca desistiria deles. Por mais falho que seja o ser humano, Deus sempre está disposto a perdoá-lo e auxiliar na mudança de rumo de sua vida. Os crentes eram abençoados pelo Espírito, mas não estavam andando pelo Espírito. Todavia, Paulo confiava plenamente na fidelidade de Deus ao plano de salvação da humanidade planejada por meio de seu Filho, Jesus Cristo. Por esse motivo, ele afirma com veemência: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor”. Paulo não está afirmando que, uma vez que havia feito a decisão por Cristo, estavam salvos de forma definitiva. Ele está enfatizando a fidelidade de Deus com o plano de salvação; para isso, os cristãos em Corinto deveriam manter-se firmes na sua fé. No caso de falha, Deus sempre está disposto a dar uma nova chance a quem estiver disposto a retornar para Ele. Deus é fiel às suas promessas e ao plano de salvação em Cristo Jesus.

Uma Igreja Marcada pelos Dons (1.7) 

Os dons são cumprimento da pregação do evangelho Os primeiros versículos da carta trazem uma saudação encorajadora do apóstolo, destacando a graça e a paz que vem de Deus por meio de Jesus ao seu povo. Dentre esses versículos, o versículo 7 pode passar despercebido, mas tem um grande impacto na comunidade coríntia e será tratado com mais detalhes por Paulo mais à frente na carta (1 Co 12-14). Paulo sensibiliza seus ouvintes de que as promessas de Deus por intermédio de suas pregações do evangelho estavam sendo cumpridas no meio da comunidade. Eles estavam cheios de dons (presentes) de Deus. Arrington e Stronstad (2003, p.129) afirmam que a declaração de que aos coríntios não faltam nenhum dom espiritual tem tido três possíveis interpretações:

1. Pode significar que eles, como uma congregação, possuíam todos os dons espirituais; 

2. De um relacionamento próximo é a ideia que, potencialmente, senão de fato, todos os dons poderiam ser seus; 

3. Pode ainda significar que os coríntios jactavam-se de possuírem todos os dons e que Paulo estivesse sendo sarcástico repetindo a sua reivindicação. Mas é improvável que Paulo reprove-os a esse respeito.

De qualquer forma, os dons concedidos à igreja serviam de testemunho da verdade da doutrina cristã pregada pelo apóstolo. Ele, ao escrever a carta, provavelmente ficava imaginando no momento que havia chegado à cidade de Corinto. Muitos dos que estavam na comunidade no momento da escrita ele encontrou na sinagoga judaica ainda, assim como ele antes da conversão, agarrados no legalismo judaico, e de repente são alcançados pela sua pregação do evangelho. Na sinagoga, também deve ter conhecido vários devotos que se sentiam desprestigiados e inferiores no ambiente judaico e, ao aceitarem Jesus, descobrem que também têm acesso direto a Deus, sem intermediários. Mulheres, crianças, escravos, entre outros marginalizados que ouviam que as pessoas ricas estavam naquela situação porque eram justas, e os pobres, devido ao pecado, como o ensino da Teologia da Retribuição que ainda imperava na Palestina, ao converterem-se, sentem-se incluídos como filhos de Deus. Todos estes, em especial quando estavam já nas casas em suas reuniões cristãs, certamente ouviram Paulo pregar sobre os dons e dizer que todos teriam acesso e que Deus deliberadamente os dá a quem quer. Como Paulo deve ter ficado feliz ao ver os dons sendo derramados entre os cristãos em Corinto! Certamente, sua alma jubilava ao ver seus “filhinhos” passaram por essa experiência cristã. Agora, ao escrever a carta, sabendo dos problemas internos da comunidade, Paulo lembra-os dos dons recebidos de Deus, algo para ser preservado e continuar buscando.

Algumas pessoas ainda hoje questionam a existência e a finalidade dos dons. Outros, que defendem a teologia cessacionista, afirmam que os dons serviram somente para os tempos da Igreja Primitiva, como se Deus fosse limitar seus dons ao tempo e espaço. Todavia, não há melhor forma de comprovar uma verdade a não ser experimentando-a. Por isso, muitos como os coríntios podem comprovar o cumprimento da pregação do evangelho desfrutando os dons de Deus em sua vida. Uma das primeiras reações que se ouve em relação aos leitores das cartas aos Coríntios é: como Deus pôde derramar tantos dons para uma igreja tão rebelde e cheia de problemas morais? Aqui vale destacar o conselho de Richards (2014, p. 326): “quando estivermos desanimados com outros, lembremo-nos do exemplo de Paulo. Vamos nos unir a ele agradecendo a Deus pelo potencial que, no seu tempo, Deus fará com que seja desenvolvido até mesmo na vida do cristão mais apático”. O próprio significado de dom, um presente imerecido de Deus, auxilia a aproximação ao entendimento. Paulo diz que a manifestação dos dons na igreja era o testemunho de Cristo confirmado no meio dela (1 Co 1.6,7). Os dons espirituais confirmam o anúncio da Palavra de Deus (Mc 16.17-20; Gl 3.2-5; Hb 2.3,4).

Os dons não definem grau de espiritualidade 

No meio pentecostal, a cultura que predomina é de que as manifestações dos dons espirituais são sinônimas de espiritualidade e santidade. Isso é um engano, pois a santidade é evidenciada pelo fruto do Espírito. Na nova situação diante de Deus, o cristão deve andar sob a lei do Espírito de vida (Rm 8.5). Muitas pessoas confundem uma pessoa avivada com manifestações externas e de dons espirituais, mas Paulo deixa claro em Romanos 8.2 e principalmente na carta aos Gálatas que a pessoa avivada é aquela que tem vida espiritual manifestada pela presença do fruto do Espírito em sua vida (Gl 5). 

Os dons são capacitações para o serviço e o bem comum 

Os dons devem ser utilizados com base no amor. Talvez esse seja o motivo de Paulo incluir o capítulo 13 (o poema do amor) entre os capítulos 12 e 14 dessa carta. O poema do amor é um interlúdio ao tema teológico dos dons espirituais. Assim como Tiago (1.19-27), ele mostra para quem quer ver e também para quem não quer qual é o sentido da verdadeira religião, que não está baseada nas práticas litúrgicas nem nos dons espirituais, entre outros aspectos da vida religiosa, mas no amor. O amor aplicado é um dos sinais da espiritualidade cristã. Não é por acaso que Paulo relaciona o amor como fruto do Espírito (Gl 5.22,23).

A diversidade de dons é um grande tesouro para qualquer comunidade, desde que o dom não seja considerado um fim em si mesmo. Paulo nas suas cartas aconselha a humildade na utilização dos dons dados por Deus e adverte sobre o perigo de se utilizá-los para projeção própria. Segundo o pastor Antonio Gilberto, “o dom espiritual é uma dotação ou concessão especial e sobrenatural pelo Espírito Santo, de capacidade divina sobre o crente, para o serviço especial na execução dos propósitos divinos para e através da Igreja”. Ele reforça que “foi a poderosa e abundante operação dos dons do Espírito que promoveu a expansão da Igreja Primitiva como se vê no livro de Atos dos Apóstolos e nas Cartas” (GILBERTO, 2006, p. 68). Pastor Antonio Gilberto (2006, p. 68-73) assevera que os dons de 1 Coríntios 12—14 são de atuação eventual, inesperada e imprevista (quanto ao portador). Tudo depende da soberania de Deus na operação dos dons. Ele separa os dons em três classes, conforme resumo abaixo:

1. Dons que manifestam o saber de Deus (1 Co 12.8-10) – manifestam a multiforme sabedoria de Deus: a. A palavra da sabedoria (v.8) – Dom de manifestação da sabedoria sobrenatural, pelo Espírito Santo; b. A palavra da ciência (v. 8) – Dom de manifestação de conhecimento sobrenatural pelo Espírito Santo; de fatos, de causas, entre outros; e c. O dom de discernir os espíritos (v. 10) – Dom de conhecimento e de revelação sobrenaturais pelo Espírito Santo.

2. Dons que manifestam o poder de Deus (1 Co 2.9,10) – Manifestam o poder dinâmico de Deus: a. A fé (v. 9) – Manifestação de poder sobrenatural pelo Espírito Santo. Superação e eliminação de obstáculos. Trata-se da fé chamada “fé especial”, “fé miraculosa”, que opera também em conjunto com vários outros dons; b. Os dons de curar (v. 9) – Esses dons são multiformes na sua constituição e na sua operação. Manifestação de poder sobrenatural pelo Espírito Santo para a cura das doenças e enfermidades do corpo, da alma e do espírito, para crentes e descrentes; e c. As operações de maravilhas (v. 10) – São operações de milagres extraordinários, surpreendentes, prodígios. Prodígios espantosos pelo poder de Deus para despertar e converter incrédulos (Jo 6; At 8.6, 13, 19.11).

3. Dons que manifestam a mensagem de Deus (1 Co 12.10) - Manifestam a mensagem da parte de Deus, poderosa, edificante e consoladora: a.  A profecia (v. 10) - Manifestação sobrenatural de mensagem verbal pelo Espírito, para edificação, para exortação e para consolação do povo de Deus (1 Co 13.2,9; 14.1,3,5,29,39); b.  A variedade de línguas (v. 10) - Dom de expressão plural, um milagre linguístico sobrenatural. As mensagens em línguas mediante esse dom devem ser interpretadas para que a igreja seja edificada (1 Co 14.5,27); c.  Interpretação de línguas (v. 10) - Manifestação de mensagem verbal, sobrenatural, pelo Espírito Santo. O dom de interpretação é um dom em si mesmo, e não uma duplicação do dom de profecia (1 Co 12.10, 30, 14.5,13,26-28).

Os dons espirituais têm como um dos objetivos a glorificação do Senhor Jesus e a edificação da igreja (Jo 16.14; 1 Co 12.3; 14.5). Quando alguém recebe os dons e usa-os com o objetivo de glorificar a si mesmo, esse alguém está tomando para si o que é para ser dedicado a Deus. Os dons são dados gratuitamente pelo Senhor para serem compartilhados e trazerem mais benefícios quando se complementam entre si (sinergia). Portanto, a autoavaliação dos dons recebidos não deve ser feita comparando com o uso das demais pessoas, mas avaliando qual a contribuição dada para a totalidade dos dons concedidos à comunidade cristã. Por isso, Paulo compara a Igreja como um corpo. Paulo dá graças pelos dons que se manifestavam entre os coríntios, mas adverte que os dons devem ser usufruídos para o bem comum (1 Co 14). 

Lição 03 - 2º Trimestre 2021 - Dons de Revelação - Adultos.

 

Lição 3 - Dons de Revelação 

2º Trimestre de 2021

ESBOÇO GERAL
I – PALAVRA DA SABEDORIA
II – PALAVRA DA CIÊNCIA
III – DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS 

Elinaldo Renovato

“Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1 Co. 14.26).

Os dons de revelação constituem parte da revelação de Deus, concedida ao homem salvo, para que, por eles, a “multiforme sabedoria” divina seja manifestada no meio da Igreja, e os crentes em Jesus sejam protegidos das sutilezas do adversário e das maquinações humanas contra a fé cristã. 

Sem a presença física de Cristo, após sua Ascensão aos céus, os salvos, reunidos em igrejas locais, precisam de maneira indispensável, dos dons espirituais, tanto para cumprirem a Missão confiada por Cristo, quanto para lutar e vencer “as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais” (Ef 6.12). Sem eles, a igreja local não passa de uma comunidade humana, uma associação religiosa, como um “vale de ossos”, transformados em corpos com tecidos humanos, mas sem vida. Tem estruturas humanas, ministeriais, denominacionais, intelectuais, políticas e administrativas, mas não tem o poder de Deus em sua vida institucional. Os dons espirituais propiciam a provisão divina para a igreja cumprir a sua missão, concedida por Cristo, de proclamar o evangelho por todo o mundo a toda a criatura. 

Dentre esses, os chamados “dons de revelação” aparecem como categoria de grande valor e necessidade, no meio das igrejas locais. No tempo de Paulo, havia confusões, mistificações doutrinárias, ensinos heréticos e tantos outros tipos de informações, que chegavam aos ouvidos dos crentes, que muitos se desviaram, iludidos pelos “ventos de doutrina” (Ef 4.14). O gnosticismo ameaçava a integridade da fé cristã. Os judaizantes queriam impor seus ensinos legalistas e ultrapassados. A igreja precisava de recursos espirituais sobrenaturais para não ser esmagada pelas heresias, muitas delas travestidas de verdades absolutas. Só a revelação de Deus, manifestada de forma incisiva poderia evitar a derrocada do cristianismo.

E, nos dias presentes, será que não há necessidade da revelação especial de Deus, através de sua palavra e de dons ou carismas que façam a diferença, para  que os cristãos saibam discernir o “joio do trigo”? Certamente, hoje, mais do que nunca, a igreja de Jesus, em toda a parte, necessita desses recursos. Os dons de revelação podem identificar a origem, os meios e os propósitos de muitas falsas doutrinas, que surgem a cada dia, no meio evangélico. Pela revelação sobrenatural, pode-se desmascarar os falsos pastores, os “obreiros fraudulentos”, “de torpe ganância”.

Satanás sabe muito bem aproveitar os novos meios de comunicação à disposição das pessoas. Através da televisão e da internet, são disseminadas seitas e heresias as mais diversas. Pastores, bispos, apóstolos e profetas espalham suas mensagens de forma tão sutil, que são capazes de arrebanhar milhares de crentes incautos, que não conhecem nem leem a palavra de Deus. Sinais, milagres e prodígios tomam conta de espaço considerável, em programas de TV, levando muitos a supervalorizarem a fé, em detrimento da pessoa do Senhor Jesus Cristo. Os sinais do poder de Deus são necessários, sem dúvida. Mas o foco neles, em lugar do foco na cruz de Cristo constitui grave desvio da missão da Igreja de Cristo.

Sem a revelação de Deus, muitos crentes abandonam as igrejas onde nasceram, foram batizadas com o Espírito Santo e receberam tantas bênçãos, atraídas por pregadores milagreiros. Muitos desses só falam de curas e libertação de  demônios, mas não combatem o pecado. Vemos líderes de grandes igrejas, em caríssimos programas de televisão, que não dão uma palavra sequer contra a prostituição e o homossexualismo. E há até alguns que aprovam o aborto, esse crime hediondo. Por quê? Por que não querem ser “politicamente incorretos”. Mas pregam milagres. E lamentavelmente, por falta de revelação, no seio de muitas igrejas, há divisões e deserções que causam tantos escândalos ao Corpo de Cristo.

Neste comentário, discorreremos sobre três tipos de dons de revelação: A palavra da sabedoria, a palavra do conhecimento (ou da ciência) e o discernimento dos espíritos. Três manifestações dos dons do Espírito Santo, que são indispensáveis à integridade espiritual, ao acesso ao conhecimento mais profundo das verdades bíblicas e ao confronto com as “hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. 

Texto extraído da obra “Dons Espirituais e Ministeriais”, editada pela CPAD.

Lição 02 - 2º Trimestre 2021 - O Propósito dos Dons Espirituais - Adultos.

 

Lição 2 - O Propósito dos Dons Espirituais 

2º Trimestre de 2021

ESBOÇO GERAL
I – OS DONS NÃO SÃO PARA ELITIZAR O CRENTE
II – EDIFCANDO A SI MESMO E AOS OUTROS
III – EDIFICAR TODO CORPO DE CRISTO 

Elinaldo Renovato

A experiência da vida cristã indica que grande parte das pessoas, nas igrejas pentecostais, não sabe lidar muito bem com os recursos espirituais que Deus coloca à disposição dos crentes. A começar do batismo com o Espírito Santo, há uma confusão de ideias sobre sua natureza, a forma de receber, e, mais ainda, quanto à sua finalidade ou propósito. Há quem pense que o cristão é batizado para falar línguas. Quando, na verdade, o falar em línguas, em princípio, é um sinal da experiência do recebimento do batismo com o Espírito Santo, e este uma bênção distinta da salvação, concedida para que o cristão tenha poder para testemunhar com eficácia da mensagem do evangelho (At 1.8).

O falar línguas também pode ser evidencia do recebimento do “dom de variedade de línguas”, como um dom, ou carisma do Espírito Santo, entre outros, tão importantes, que Deus concede “a cada um como Ele quer”, mas sempre com propósitos ou finalidades especiais, visando a edificação, a unidade e o fortalecimento da sua igreja, tanto no sentido Universal, quanto no sentido da igreja local. Com esse entendimento, podemos dizer que, se o batismo com o Espírito Santo e o uso dos dons espirituais não forem bem compreendidos, no seio da igreja  local, certamente, haverá a manifestação estranha de comportamentos inadequados de espiritualidade.

Em certa ocasião, este escritor foi pregar numa igreja, no interior de um Estado brasileiro. O templo estava lotado. Mas, na hora da pregação, ficou inviável discorrer sobre o tema a que o pregador se propôs, porque os irmãos, quase sem parar, falavam línguas o tempo todo. Era uma comunidade bem animada, avivada, por assim dizer, mas pareceu claro que havia faltado ensino quanto ao uso dos dons espirituais, especialmente o dom de línguas. 

Eles não o faziam com o intuito de prejudicar a transmissão da mensagem. Mas estavam muito mais interessados em mostrar que eram batizados com o Espírito Santo, ou que falavam línguas, do que com o entendimento do que lhes seria transmitido. Tivemos que encerrar a prédica mais cedo, pois éramos interrompidos o tempo todo, com brados em alta voz de louvor. A falta de ensino resulta no mau uso dos dons espirituais. Dá lugar a meninices no meio da igreja. A igreja de Corinto, na Grécia, possuía praticamente todos os dons espirituais (cf. 1 Co 1.7), mas o apóstolo Paulo, em sua primeira carta àquela igreja, fez uma referência nada desejável àqueles irmãos. “E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo” (1 Co 3.1).

Um verdadeiro paradoxo à primeira vista. Uma igreja que possuía todos os dons, com crentes batizados com o Espírito Santo; uns falavam línguas, outros profetizavam; outros interpretavam; outros tinham dons de curas e milagres; outros possuíam muito conhecimento espiritual, mas Paulo lhes escreve, demonstrando que, em sua avaliação, eles não eram tão espirituais quanto pareciam ser pelo fato de terem tantos dons! Foi mais contundente, dizendo que eles eram “carnais” ou “meninos em Cristo”! Seria motivo para perguntarem a Paulo: “Como pode, pastor Paulo, uma coisa dessas? O senhor diz, no início de sua carta (1.7), que nenhum dom falta à igreja, e, poucos parágrafos depois, diz que esta igreja é formada de carnais e meninos em Cristo?”

Talvez nem foi feita tal pergunta, pois a resposta sobre sua avaliação da igreja de Corinto foi dada logo a seguir, naquele trecho da missiva do apóstolo, para não deixar dúvida quanto à sua afirmação desagradável: “porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu, de Apolo; porventura, não sois carnais?” (1 Co 3.3,4). Não poderia haver uma igreja mais espiritual do que aquela, mas, infelizmente, não poderia haver crentes mais carnais do que aqueles. Se fosse nos dias atuais, algum “apóstolo” ou “bispo” se sentiria muito vaidoso em ser pastor de tal congregação.

Entre eles havia crentes invejosos, outros que promoviam contendas e dissensões, lançando irmãos contra irmãos. Certamente, eles não entendiam bem a natureza e o propósito dos dons espirituais para a igreja. Imaginavam, como acontece hoje, que possuir um dom espiritual é motivo para considerar-se superior aos outros; era razão para ser consagrado ao ministério, para ser presbítero ou ministro; quem sabe, havia irmãs de oração, que viviam profetizando, com a finalidade de dirigir a vida do pastor ou de outras pessoas; quem sabe, ainda, havia quem sapateasse na igreja, ou saísse marchando ou correndo, para lá e para cá, para chamar a atenção para sua espiritualidade. 

Havia algo pior. Divisão dentro da própria igreja. Havia grupos, partidos, “igrejinhas”, “panelinhas” e grupinhos de partidários de Apolo, de Pedro, de Paulo e até “de Cristo”. Aliás, este último grupo ou partido era o mais carnal de todos. Eram do tipo de crente que, hoje, diz: “Eu não dou satisfação a ninguém. Eu não obedeço ‘a homem’, mas só a Cristo”. São os que não obedecem aos pastores, ao dirigente da igreja, principalmente quando esses querem corrigir excessos de manifestações ditas espirituais no uso de dons. 

Como Paulo não era o pastor titular da igreja, mas seu fundador, e vivia distante por força de seu ministério missionário, deve ter tomado conhecimento através de informações consistentes quanto ao comportamento da igreja. E por carta precisou exortá-los a que não continuassem na prática de comportamentos contrários à sã doutrina e ética no uso dos dons espirituais. Assim, é importantíssimo que os líderes de igrejas promovam o ensino bíblico quanto à origem, a natureza e o propósito dos dons espirituais. Este comentário tem essa finalidade, fornecendo análise e subsídios para o ensino sobre o propósito dos dons espirituais.

Texto extraído da obra “Dons Espirituais e Ministeriais”, editada pela CPAD. 

Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso no preparo de suas Lições Bíblicas de Adultos. Nossos subsídios estarão à disposição toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não vão esgotar todo o assunto e não é uma nova lição (uma lição extra). Você não pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo. 

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Lição 01 - 2º Trimestre 2021 - A Primeira Carta de Paulo à Igreja de Corinto - Jovens.

 

Lição 1 - A Primeira Carta de Paulo à Igreja de Corinto 

2º Trimestre de 2021

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Natalino das Neves, comentarista do trimestre.

A Primeira Carta de Paulo à Igreja de Corinto

INTRODUÇÃO

Para iniciar o contato com a Primeira Carta aos Coríntios, serão apresentadas algumas considerações iniciais para auxiliar o entendimento dos demais capítulos.

De início, serão identificadas a autoria, a ocasião e a motivação da escrita. Para uma aproximação ao contexto socioeconômico, político e cultural, será apresentado um panorama da cidade e das comunidades judaica e cristã. Por fim, veremos algumas das principais características da Carta.

Considerações Iniciais da Primeira Carta aos Coríntios

Carta ou Epístola, qual termo usar? Existe uma discussão antiga sobre qual o termo correto para identificar as correspondências de Paulo. Alguns dizem que, quando a correspondência é destinada a uma pessoa, o termo correto seria carta, e quando enviado para comunidades, deveria ser utilizado o termo epístola. Na verdade, o nome dado não vai prejudicar em nada o estudo do texto bíblico, mas algumas considerações são importantes para definir qual termo será utilizado neste livro. Na Roma antiga, a utilização da epístola era um procedimento corrente e necessário para tratar de assuntos tanto oficiais quanto particulares. O governo e as famílias dispunham de mensageiros para a entrega de suas correspondências. O corpo de escrito paulino geralmente é classificado como pertencente ao gênero denominado “epistolar”. Segundo Malatian (2009, p. 198), “a codificação do gênero epistolar é antiga. As Epístolas de Cícero (106-43 a.C.) serviram como modelo durante séculos, testemunhando a sua vida privada e, principalmente, a pública, como filósofo, orador e político romano”. Deissmann (1910, pp. 218-221,225), no final do século XIX, propôs uma distinção entre “carta” e “epístola”. Ele considerava a carta um meio “não literário” de comunicação entre as pessoas, de natureza pessoal e confidencial, podendo ser endereçado a um indivíduo como também a uma comunidade inteira, enquanto que a “epístola” constituía uma forma literária, como o diálogo, a oração e o drama antigo, destinada a um público mais amplo e à posteridade. Segundo esse conceito de Deissmann, os escritos paulinos seriam classificados como não literários, porque eram endereçados a pessoas (Filemom), e às comunidades específicas (Romanos, Coríntios, Gálatas, Tessalonicenses, Filipenses, etc.). Seriam “cartas” por apresentarem mais semelhanças com os escritos não literários antigos do que com as epístolas propriamente ditas. Tudo indica que, na época de Paulo, não havia distinção entre os termos “carta” e “epístola”. O próprio apóstolo denominava suas correspondências como epistole (1 Co 5.9; 16.3; 2 Co 3.1-3,7.8), que, na sua época, denominava qualquer tipo de correspondência, independentemente de sua finalidade e da quantidade de destinatários. Nos dias atuais, a língua portuguesa não distingue os dois vocábulos: “carta” e “epístola”. Eles são concebidos como sinônimos. As versões modernas do Novo testamento traduzem o termo epistole por carta. Dessa forma, neste livro será utilizado o termo moderno carta. 

O apóstolo Paulo é considerado o autor da Primeira Carta aos Coríntios tanto no meio eclesiástico como na academia. Essa Carta está entre as cartas paulinas conhecidas como inquestionáveis (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filemom) pela “notável afinidade no vocabulário, sintaxe e conteúdo” (FISK, 2018, p. 300). Paulo era ao mesmo tempo judeu (Rm 11.1; Fl 3.4,5; 2 Co 11.22), cidadão romano (At 16.37,38; 22.25-29; 23.27; 25.10-12) e cidadão da diáspora, influenciado pela cultura helenista (cultura grega). Paulo, provavelmente, falava aramaico (At 22.1), grego, hebraico e latim. A religiosidade e rigor ao cumprimento da Lei transformam-no em perseguidor dos seguidores de Cristo, por entender estar fazendo a vontade de Deus (Gl 1.13,14; 1 Co 15.9; Fl 3.6). Todavia, ele converte-se, e o perseguidor torna-se perseguido por amor ao evangelho (At 9.1-19; 22.4-21; 26.8-18; Gl 1.11-17). A partir desse período, ele passa a ser conhecido como o apóstolo dos gentios. Paulo foi o primeiro e o maior teólogo de todos os tempos. Ele, mais do que ninguém, contribuiu para que o cristianismo tornasse-se internacionalmente conhecido e intelectualmente coerente. Seus escritos moldaram o cristianismo mais do que qualquer outro escrito do Novo Testamento. Os seus textos, desde a primeira vez em que foram recebidos, obtiveram o reconhecimento da igreja como uma norma oficial de fé e vida. Para Kümmel (2003, p. 178), o pensamento teológico de Paulo ocupa o centro do Novo Testamento sob o ponto de vista cronológico e determina a evolução do pensamento cristão primitivo. 

Paulo chegou na cidade de Corinto entre o ano 50 e 51 d.C. (At 18.1), vindo de Atenas, e hospedou-se na casa de Priscila e Áquila, casal de missionários que haviam sido expulsos de Roma em 49 por meio do decreto do imperador Cláudio (At 18.2,3). Ele permanece por 18 meses nessa cidade, trabalhando na oficina de fabricação de tendas do casal e pregando o evangelho quando tinha oportunidade, começando pelos judeus na sinagoga, onde sofre forte resistência. Então, Paulo passa a dedicar-se à pregação aos pagãos (At 18.6,7), reunindo-se na casa de Justo, que ficava ao lado da sinagoga. No início, a comunidade era formada de pobres e pessoas sem muita instrução (1 Co 1.26; 7.21; 11.21,22), até que Crispo e Sóstenes, ambos chefes da sinagoga, também se convertem (At 18.8,17). A estadia de Paulo foi marcada por muitas tensões e conflitos tanto com judeus quanto com gregos, e essa situação provocou intensa correspondência entre Paulo e a Igreja em Corinto. A primeira carta conhecida em nossa Bíblia foi escrita quando Paulo estava em Éfeso (1 Co 16.8) durante a terceira viagem missionária, entre 54 e 55 d.C. 1.1.4 Propósito da carta O propósito geral para a escrita da Primeira Carta aos Coríntios foi instruir os novos convertidos de uma recente comunidade cristã urbana com forte influência da cultura helenística (grega) sobre os riscos de partidarismos e divisões que estavam ocorrendo por influência de alguns líderes, bem como enfatizar o significado e a importância da mensagem da cruz de Cristo. No entanto, esse propósito geral para uma exposição mais didática pode ser classificado em dois motivos principais: 1. Dar orientações a partir de informações recebidas de pessoas da casa de Cloe (1 Co 1.11) sobre problemas internos da comunidade, a saber: divisões (1 Co 1.12-16), escândalo público de incesto (1 Co 5.1), brigas internas levadas ao tribunal da cidade (1 Co 6.1) e comportamento escandaloso de alguns (1 Co 6.12ss). 2. Responder ao pedido de orientações feito pela comunidade (At 16.15-17; 1 Co 7.1) sobre dúvidas a respeito do casamento (1 Co 7.1-40), compra de carne oferecida aos ídolos (1 Co 8.1-10.33), comportamento nas reuniões da comunidade (1 Co 11.2-14.40) e sobre questões da ressurreição (1 Co 15.1-58). 1.2 Quem Foram os Destinatários da Carta 1.2.1 Um panorama da cidade de Corinto Na época do apóstolo Paulo, a cidade de Corinto tinha muitos atrativos; ela era um centro turístico de negócios, de lazer, de política, de conhecimento e de religiosidade. No entanto, para chegar a esse status, antes ela tem uma história de destruição e superação (NEVES, 2019, pp. 73-75). Após três anos de tensões sem precedentes entre Roma e Corinto, em 146 a.C., o general romano Lúcio Múmio exterminou grande parte da população masculina e dos libertos, escravizou as mulheres e crianças, saqueou a cidade, devastou as edificações e construções referenciais a ponto de transformar a cidade de Corinto num desolado monte de ruínas. Aproximadamente cem anos depois, ela surge das ruínas. Júlio César reconstrói a cidade em um curto período de tempo, favorecido pelas vantagens topográficas do local. Corinto torna-se uma cidade-colônia, a metrópole da província romana de Acaia. Corinto chegou a ter mais de 500 mil habitantes, uma das maiores de todo o Império Romano. Corinto é um istmo, ou seja, uma faixa de terra rodeada de água dos dois lados. Por ser uma cidade portuária com dois portos: Laqueu/Lequeo/Licaeus (golfo de Corinto — liga a cidade à navegação que vem e vai para a Itália e o Ocidente) e Cencreia (golfo sarônico — movimentava todo o comércio que vinha e ia para Atenas, Éfeso, Antioquia e o Oriente), possuía uma grande prosperidade comercial. No entanto, dois terços da população eram de escravos e trabalhadores: “doqueiros” (carregavam e descarregavam os navios) e os “diolcois” (transporte de navios de um porto, o Egeu; para o outro, o Adriático, por meio de paus roliços). O outro terço da população era composto de homens livres e libertos, principalmente helênicos e romanos, pertencentes ao sistema patronal romano e elite grega. Além destes, havia os ricos capitães e marinheiros que controlavam as embarcações comerciais e turísticas que transitavam nos dois portos da cidade. Quando ocorriam os jogos ístmicos (atletismo) durante a primavera, a sociedade dinamizava-se para receber centenas de turistas para Corinto, entre eles pessoas das mais diversas regiões e características, pensadores itinerantes, filósofos consagrados portadores das mais diferentes visões de mundo, além de proclamadores de outras religiões. A cidade, pela sua localização estratégica, também foi beneficiada com a construção de uma cidadela que trazia segurança bélica. Nela ficava estacionada a guarnição e soldados que controlavam o movimento de pessoas, mercadorias e que facilitavam a cobranças de impostos. Segundo Peixoto (2008, p. 26), a cidadela era construção ampla, cercada por altos muros de mais de dois quilômetros de comprimento, que alcançavam até o porto de Licaeus. Nela, no tempo de Paulo ficava estacionada a tropa romana com seu governo, matérias de guerra e costumes. A parte maior da cidade desenvolveu-se fora dos muros da cidadela. Essa estrutura favorecia o transporte e comércio das mercadorias produzidas na cidade, como no caso de Paulo, Priscila e Áquila com suas tendas, que possivelmente também serviam ao exército com barracas militares. Quanto à religião, dentre os 23 templos da cidade, dois destacam-se pela imponência e importância: Templo de Afrodite/Vênus (deusa do amor) e Templo de Apolo (deus da música, do canto, da poesia e da beleza masculina). As religiões mistéricas promoviam experiências em que seus participantes eram levados ao êxtase, com vistas à autossatisfação, alienação e ausência de consciência crítica. Eram celebradas grandes festas tidas como sagradas, com carnes sacrificadas a ídolos (representantes do Império Romano). Assim, em algumas celebrações religiosas, os participantes entravam em transe; em outras, em orgias. Existia uma sinagoga judaica, possivelmente composta pela maioria de judeus que foram expulsos de Roma pelo Imperador Cláudio em 54 d. C., conforme afirma Renan (2003, p. 183): “Próximo ao desembarque de Paulo, um grupo de judeus expulsos de Roma pelo édito de Cláudio também havia chegado de barco, entre os quais estavam Áquila e Priscila, que já nesta época professavam a fé em Cristo”. Em relação à sexualidade, havia um grande conflito entre os costumes dos religiosos; a valorização do ser humano e como se dava a exploração do corpo, tratativas com o casamento, viuvez, celibato, virgindade, entre outros costumes de uma cidade cosmopolita como a Corinto do primeiro século. Existia uma grande valorização da sabedoria filosófica, conhecimento considerado como fonte de libertação humana. O oposto da sabedoria e do sistema de governo que dominava a cidade de Corinto, Paulo apresenta a sabedoria da cruz, a opção não pela elite e pelos poderosos, mas pelo Crucificado, pelos pobres e pelos desprotegidos, pelos desprezados e sem projeção na sociedade corintiana. Paulo procurava conscientizar os cristãos de Corinto que eles não podiam reproduzir as desigualdades, as injustiças e as promiscuidades romanas que dominavam a cidade. Corinto era sinônimo de riqueza e luxo, de alcoolismo e de corrupção. O estilo de vida era tão depravante que era utilizado um termo pejorativo para os moradores da cidade, “corintizar”, tamanha falta de seriedade e frouxidão moral. Nos dias do apóstolo Paulo, havia uma população de raça indefinida e heterogênea. Os primeiros colonizadores romanos eram homens livres vindos da Grécia, Egito, Síria e Judeia. Na sua maioria, aventureiros gregos e burgueses romanos. Quanto às profissões, eram ex soldados romanos, filósofos, mercadores, marinheiros, marreteiros, entre outras. 

A presença de uma comunidade judaica em Corinto é mencionada em Atos 18.4-8. A comunidade tinha sua sinagoga formada, na sua maioria, por judeus que foram expulsos de Roma pelo decreto do Imperador Cláudio em 54 d.C. Paulo tinha por hábito em suas viagens missionárias, ao chegar a uma nova cidade, começar pregando nas sinagogas, pois isso lhe provia uma base por onde abancar seu trabalho. As sinagogas na diáspora, ou seja, fora da Palestina, desempenhavam uma função mais significativa aos judeus do que as sinagogas em seu próprio território. Era considerada o centro da vida comunitária dos judeus da diáspora. Na sinagoga, era possível estudar, tomar decisões sobre a comunidade dos judeus; ela servia de arquivo de registros da vida comunitária, além de ser o ponto de reunião religiosa e de culto. Willians afirma que havia três grupos estratégicos para a expansão do evangelho entre os membros da sinagoga.

Com o cristianismo, os devotos gentios simpatizantes com o judaísmo não precisavam mais ter de adequar-se a todo ritualismo que era imposto aos judeus puros para sentirem-se parte integrante da comunidade. Em Cristo, a antiga distinção entre judeu e gentio havia sido abolida; diante de Deus, todas as pessoas que se submetem ao senhorio de Cristo são tratadas da mesma forma, independentemente de nacionalidade, cor, gênero, entre outras diferenças. Essa mensagem era difícil para um judeu ouvir e aceitar. Paulo, em suas preleções e ensinos, traz fortes argumentos sobre a justificação pela fé na obra vicária de Cristo e das exigências que eram exclusivas para os judeus.

No entanto, essa mensagem não agrada a maioria dos judeus da sinagoga, inclusive judeus que acabam convertendo-se ao cristianismo e que não se sentiam ainda à vontade com a doutrina da justificação pela fé. Por isso, a comunidade judaica de Corinto manifesta-se contra a pregação messiânica de Paulo nas sinagogas frequentadas por judeus. Os anciãos dessa comunidade, revoltados com a mensagem do apóstolo, acabam por arrastá-lo para ser julgado em tribunal romano. Gálio, procônsul na Acaia, recusou-se a julgar o caso por entender que era uma questão judaica interna. Segundo Rohden (1999, p. 230), Gálio era irmão do célebre filósofo romano Sêneca e também adepto da filosofia dos estoicos. A sua existência e o cargo que ocupava encontram-se “imortalizados numa carta que o imperador Cláudio dirigiu a Delos, como atesta uma inscrição em pedra encontrada na dita cidade; ‘Gálio, meu amigo e procônsul de Acaia’, lhe chama Cláudio’”. Assim, Paulo sai absolvido (At 18.15). Durante a estadia de Paulo em Corinto, o relacionamento com a comunidade judaica foi marcado por tensões e conflitos. 1.2.3 A comunidade cristã de Corinto Paulo fundou e consolidou a comunidade cristã de Corinto (1 Co 3.6,10; At 18.1-8). Os primeiros membros da comunidade cristã em Corinto eram provenientes da comunidade judaica, mas a maioria dos cristãos tinha origem no círculo de pagãos simpatizantes do monoteísmo judaico (At 18.1-11). As sinagogas tinham por costume aproximar as pessoas da mesma profissão. Assim, Paulo fica mais próximo de Áquila e Priscila, deles recebe hospedagem e passam a trabalhar juntos, pois tinham o mesmo ofício de fabricar tendas. Provavelmente, a loja em que eles trabalhavam também passa a ser fonte de pregação da Palavra durante a semana. As pessoas vão sendo confrontadas pela pregação de Paulo e convertendo-se. Devido ao rompimento com os judeus da sinagoga, Paulo passou a realizar as reuniões nas casas de pessoas cristãs. Semelhante à proporção populacional da cidade, a maioria das pessoas convertidas era escrava (1 Co 1.26). Mas pessoas importantes dentre os judeus convertem-se, como “Tito Justo, que servia a Deus e cuja casa estava junto da sinagoga, e Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; também muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados” (At 18.7,8). A primeira casa em que foram realizadas as reuniões do grupo cristão foi na residência de Tito Justo. Os judeus provavelmente ficaram irritados com o grupo cristão realizando reuniões bem ao lado da sinagoga, pois era uma boa oportunidade para continuar chamando atenção dos judeus que ali congregavam. A igreja expandiu-se, e outras casas também foram abertas para que outros grupos de cristãos fizessem suas reuniões. No entanto, os costumes e hábitos dos coríntios acabam por transpor as portas da igreja e começam acontecer os conflitos e divisões. Dois grandes perigos ameaçavam a unidade da igreja local: o legalismo (salvação por meio da obediência exclusiva a certos regulamentos e costumes da Lei) e o antinomismo (a salvação vem pela fé, e não era necessário sujeitar-se a nenhuma lei moral). A jovem comunidade cristã destacava-se pelo entusiasmo espiritual que acompanha as orações e as reuniões. Era uma comunidade rica em dons (1 Co 1.4-7), porém imatura espiritualmente (1 Co 3.1-4). 

As cartas de Paulo à comunidade cristã em Corinto A situação conflituosa devido às diferenças internas na comunidade, como as tensões entre judeus e gregos (1 Co 1.18-31), livres e escravos (1 Co 7.21-23) e a insegurança em relação a várias questões doutrinárias provocaram uma intensa correspondência entre Paulo e a igreja em Corinto. No cânon bíblico, existem somente duas cartas, todavia o apóstolo Paulo escreveu, pelo menos, quatro cartas aos coríntios, mas duas dessas cartas foram perdidas (1 Co 5.9; 2 Co 2.4; 7.8). A primeira carta escrita por Paulo aos coríntios é conhecida como pré-canônica. Ela é uma carta que se perdeu (1 Co 5.9-13) e foi escrita para orientar sobre o relacionamento com pessoas devassas e corruptas. Alguns teólogos defendem que fragmentos dessa carta estariam em 2 Co 6.14–7.1. A segunda carta escrita é a que conhecemos hoje no cânon como primeira. A carta foi entregue por Timóteo (1 Co 4.17; 16.10,11) entre 55 e 56 d.C. Nela, Paulo menciona sua intenção de enviar Timóteo a Corinto a fim de resolver alguns dos problemas. As cartas de Paulo, em geral, eram escritas para tirar dúvidas e prestar orientações pastorais às recentes comunidades cristãs fundadas entre os gentios. Quando estava em Éfeso, o apóstolo ficou ciente de alguns problemas na igreja devido à grande influência secular e religiosa. Além das tensões entre judeus e gregos (1 Co 1.12,13,18-31), livres e escravos (1 Co 7.21-23), existiam questões doutrinárias sobre ressurreição, casamento, dons espirituais, questões morais e éticas, entre outras. Isso faz das cartas aos coríntios uma grande fonte de doutrinas sistemáticas, que graças à disposição e desprendimento do apóstolo Paulo para a missão e o ensino, chegaram até nós. Na sequência, Paulo escreveu uma terceira carta, conhecida como “a carta das lágrimas”, para resolver conflitos no relacionamento com a comunidade. Ele fez menção dela em 2 Coríntios 2.3-9; 7.8-12. Ela também se perdeu. Alguns teólogos defendem que fragmentos dessa carta estariam em 2 Co 10-13. A quarta carta escrita é a que conhecemos hoje no cânon como a Segunda Carta aos Coríntios.

Estrutura da Primeira Carta aos Coríntios 

As cartas de Paulo, em geral, eram escritas para tirar dúvidas e orientar pastoralmente as recentes comunidades cristãs entre os gentios. Na proposta de estrutura a seguir, fica evidente essa prática do apóstolo. Introdução: saudações e ação de graças (1.1-9). 

I - Problemas noticiados a Paulo por pessoas da casa de Cloe (1.10–4.21): 
a) Divisões, partidos e tendências (1.10-16); 
b) Esforço de Paulo para resolver o problema (1.17–4.21). 

II - Problemas de conhecimento público que chegou até Paulo (5.1–6.20): 
a) Caso de incesto (5.1-13); 
b) Incapacidade de resolver os problemas internos da comunidade (6.1-11); 
c) Imoralidade sexual (6.12-20). 

III - Problemas trazidos a Paulo pela própria comunidade (7.1–14.40): 
a) Castidade, casamento e virgindade (7.1-40); 
b) Carnes sacrificadas aos ídolos (8.1–10.33); 
c) Comportamento nas reuniões de culto (11.2–14.40): a. Participação das mulheres (11.2-16); b. Participação na Santa Ceia (11.17-34); c. Dons e ministérios eclesiásticos (12.1–14.40); 
d) Dúvidas sobre a ressurreição (15.1-58). 

Conclusão: recados e despedidas (16.1-24). 

A leitura da carta auxiliada pela estrutura descrita contribuirá para que o leitor compreenda as intenções do autor ao escrevê-la e para que tenha uma visão geral antes da leitura completa do texto bíblico. 

Imaturidade espiritual: partidarismos e divisões internas da comunidade Uma das principais características da Primeira Carta é o problema que mais preocupa o apóstolo: as divisões internas da comunidade. Esse comportamento demonstrava a imaturidade espiritual da nova comunidade cristã. Esse problema perpassa toda a carta, porém recebe atenção especial nos quatro primeiros capítulos: 

a) as divisões a partir das pessoas que anunciavam o evangelho (1.1-16);

b) as divisões a partir da condição social dos membros; 

c) as divisões a partir das duas sabedorias: de Deus e a humana (2.1-16); e

d) divisões a partir do relacionamento de Paulo com a comunidade (4.1-21). 

Destaca-se a forma pedagógica, carinhosa e, ao mesmo tempo, firme de tratar o problema em busca de solução aplicada pelo apóstolo. O exemplo de Paulo pode ajudar as comunidades cristãs contemporâneas na solução de seus problemas internos. 1.3.4 O contraste entre a loucura da cruz e a sabedoria do mundo Outra característica que se destaca na Carta é a ênfase que Paulo dá ao contraste entre a loucura da cruz e a sabedoria do mundo. Corinto contava com uma grande quantidade de filósofos, poetas e oradores que se orgulhavam da sua herança intelectual. Para eles, a encarnação de Jesus e sua morte como criminoso representavam a perversão da sabedoria. Por isso, a sabedoria do mundo não serve para definir o modo de viver do cristão. Quando Paulo esteve em Corinto pela primeira vez, a mensagem central foi o Cristo crucificado. Ele não se importou de ser contestado e ser chamado de louco ou de escandaloso (1.23). A mensagem da cruz de Cristo condena as divisões (1.17-4.13), questiona a vanglória dos que praticam escândalo (5.1-13), censura as imoralidades sexuais (6.12-20) e reprova o comportamento egoísta nas reuniões (11.17- 34). A pregação do evangelho é loucura para os padrões humanos e sabedoria de Deus para salvação aos que creem (1.21).