quinta-feira, 8 de abril de 2021

Lição 01 - 2º Trimestre 2021 - A Primeira Carta de Paulo à Igreja de Corinto - Jovens.

 

Lição 1 - A Primeira Carta de Paulo à Igreja de Corinto 

2º Trimestre de 2021

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Natalino das Neves, comentarista do trimestre.

A Primeira Carta de Paulo à Igreja de Corinto

INTRODUÇÃO

Para iniciar o contato com a Primeira Carta aos Coríntios, serão apresentadas algumas considerações iniciais para auxiliar o entendimento dos demais capítulos.

De início, serão identificadas a autoria, a ocasião e a motivação da escrita. Para uma aproximação ao contexto socioeconômico, político e cultural, será apresentado um panorama da cidade e das comunidades judaica e cristã. Por fim, veremos algumas das principais características da Carta.

Considerações Iniciais da Primeira Carta aos Coríntios

Carta ou Epístola, qual termo usar? Existe uma discussão antiga sobre qual o termo correto para identificar as correspondências de Paulo. Alguns dizem que, quando a correspondência é destinada a uma pessoa, o termo correto seria carta, e quando enviado para comunidades, deveria ser utilizado o termo epístola. Na verdade, o nome dado não vai prejudicar em nada o estudo do texto bíblico, mas algumas considerações são importantes para definir qual termo será utilizado neste livro. Na Roma antiga, a utilização da epístola era um procedimento corrente e necessário para tratar de assuntos tanto oficiais quanto particulares. O governo e as famílias dispunham de mensageiros para a entrega de suas correspondências. O corpo de escrito paulino geralmente é classificado como pertencente ao gênero denominado “epistolar”. Segundo Malatian (2009, p. 198), “a codificação do gênero epistolar é antiga. As Epístolas de Cícero (106-43 a.C.) serviram como modelo durante séculos, testemunhando a sua vida privada e, principalmente, a pública, como filósofo, orador e político romano”. Deissmann (1910, pp. 218-221,225), no final do século XIX, propôs uma distinção entre “carta” e “epístola”. Ele considerava a carta um meio “não literário” de comunicação entre as pessoas, de natureza pessoal e confidencial, podendo ser endereçado a um indivíduo como também a uma comunidade inteira, enquanto que a “epístola” constituía uma forma literária, como o diálogo, a oração e o drama antigo, destinada a um público mais amplo e à posteridade. Segundo esse conceito de Deissmann, os escritos paulinos seriam classificados como não literários, porque eram endereçados a pessoas (Filemom), e às comunidades específicas (Romanos, Coríntios, Gálatas, Tessalonicenses, Filipenses, etc.). Seriam “cartas” por apresentarem mais semelhanças com os escritos não literários antigos do que com as epístolas propriamente ditas. Tudo indica que, na época de Paulo, não havia distinção entre os termos “carta” e “epístola”. O próprio apóstolo denominava suas correspondências como epistole (1 Co 5.9; 16.3; 2 Co 3.1-3,7.8), que, na sua época, denominava qualquer tipo de correspondência, independentemente de sua finalidade e da quantidade de destinatários. Nos dias atuais, a língua portuguesa não distingue os dois vocábulos: “carta” e “epístola”. Eles são concebidos como sinônimos. As versões modernas do Novo testamento traduzem o termo epistole por carta. Dessa forma, neste livro será utilizado o termo moderno carta. 

O apóstolo Paulo é considerado o autor da Primeira Carta aos Coríntios tanto no meio eclesiástico como na academia. Essa Carta está entre as cartas paulinas conhecidas como inquestionáveis (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filemom) pela “notável afinidade no vocabulário, sintaxe e conteúdo” (FISK, 2018, p. 300). Paulo era ao mesmo tempo judeu (Rm 11.1; Fl 3.4,5; 2 Co 11.22), cidadão romano (At 16.37,38; 22.25-29; 23.27; 25.10-12) e cidadão da diáspora, influenciado pela cultura helenista (cultura grega). Paulo, provavelmente, falava aramaico (At 22.1), grego, hebraico e latim. A religiosidade e rigor ao cumprimento da Lei transformam-no em perseguidor dos seguidores de Cristo, por entender estar fazendo a vontade de Deus (Gl 1.13,14; 1 Co 15.9; Fl 3.6). Todavia, ele converte-se, e o perseguidor torna-se perseguido por amor ao evangelho (At 9.1-19; 22.4-21; 26.8-18; Gl 1.11-17). A partir desse período, ele passa a ser conhecido como o apóstolo dos gentios. Paulo foi o primeiro e o maior teólogo de todos os tempos. Ele, mais do que ninguém, contribuiu para que o cristianismo tornasse-se internacionalmente conhecido e intelectualmente coerente. Seus escritos moldaram o cristianismo mais do que qualquer outro escrito do Novo Testamento. Os seus textos, desde a primeira vez em que foram recebidos, obtiveram o reconhecimento da igreja como uma norma oficial de fé e vida. Para Kümmel (2003, p. 178), o pensamento teológico de Paulo ocupa o centro do Novo Testamento sob o ponto de vista cronológico e determina a evolução do pensamento cristão primitivo. 

Paulo chegou na cidade de Corinto entre o ano 50 e 51 d.C. (At 18.1), vindo de Atenas, e hospedou-se na casa de Priscila e Áquila, casal de missionários que haviam sido expulsos de Roma em 49 por meio do decreto do imperador Cláudio (At 18.2,3). Ele permanece por 18 meses nessa cidade, trabalhando na oficina de fabricação de tendas do casal e pregando o evangelho quando tinha oportunidade, começando pelos judeus na sinagoga, onde sofre forte resistência. Então, Paulo passa a dedicar-se à pregação aos pagãos (At 18.6,7), reunindo-se na casa de Justo, que ficava ao lado da sinagoga. No início, a comunidade era formada de pobres e pessoas sem muita instrução (1 Co 1.26; 7.21; 11.21,22), até que Crispo e Sóstenes, ambos chefes da sinagoga, também se convertem (At 18.8,17). A estadia de Paulo foi marcada por muitas tensões e conflitos tanto com judeus quanto com gregos, e essa situação provocou intensa correspondência entre Paulo e a Igreja em Corinto. A primeira carta conhecida em nossa Bíblia foi escrita quando Paulo estava em Éfeso (1 Co 16.8) durante a terceira viagem missionária, entre 54 e 55 d.C. 1.1.4 Propósito da carta O propósito geral para a escrita da Primeira Carta aos Coríntios foi instruir os novos convertidos de uma recente comunidade cristã urbana com forte influência da cultura helenística (grega) sobre os riscos de partidarismos e divisões que estavam ocorrendo por influência de alguns líderes, bem como enfatizar o significado e a importância da mensagem da cruz de Cristo. No entanto, esse propósito geral para uma exposição mais didática pode ser classificado em dois motivos principais: 1. Dar orientações a partir de informações recebidas de pessoas da casa de Cloe (1 Co 1.11) sobre problemas internos da comunidade, a saber: divisões (1 Co 1.12-16), escândalo público de incesto (1 Co 5.1), brigas internas levadas ao tribunal da cidade (1 Co 6.1) e comportamento escandaloso de alguns (1 Co 6.12ss). 2. Responder ao pedido de orientações feito pela comunidade (At 16.15-17; 1 Co 7.1) sobre dúvidas a respeito do casamento (1 Co 7.1-40), compra de carne oferecida aos ídolos (1 Co 8.1-10.33), comportamento nas reuniões da comunidade (1 Co 11.2-14.40) e sobre questões da ressurreição (1 Co 15.1-58). 1.2 Quem Foram os Destinatários da Carta 1.2.1 Um panorama da cidade de Corinto Na época do apóstolo Paulo, a cidade de Corinto tinha muitos atrativos; ela era um centro turístico de negócios, de lazer, de política, de conhecimento e de religiosidade. No entanto, para chegar a esse status, antes ela tem uma história de destruição e superação (NEVES, 2019, pp. 73-75). Após três anos de tensões sem precedentes entre Roma e Corinto, em 146 a.C., o general romano Lúcio Múmio exterminou grande parte da população masculina e dos libertos, escravizou as mulheres e crianças, saqueou a cidade, devastou as edificações e construções referenciais a ponto de transformar a cidade de Corinto num desolado monte de ruínas. Aproximadamente cem anos depois, ela surge das ruínas. Júlio César reconstrói a cidade em um curto período de tempo, favorecido pelas vantagens topográficas do local. Corinto torna-se uma cidade-colônia, a metrópole da província romana de Acaia. Corinto chegou a ter mais de 500 mil habitantes, uma das maiores de todo o Império Romano. Corinto é um istmo, ou seja, uma faixa de terra rodeada de água dos dois lados. Por ser uma cidade portuária com dois portos: Laqueu/Lequeo/Licaeus (golfo de Corinto — liga a cidade à navegação que vem e vai para a Itália e o Ocidente) e Cencreia (golfo sarônico — movimentava todo o comércio que vinha e ia para Atenas, Éfeso, Antioquia e o Oriente), possuía uma grande prosperidade comercial. No entanto, dois terços da população eram de escravos e trabalhadores: “doqueiros” (carregavam e descarregavam os navios) e os “diolcois” (transporte de navios de um porto, o Egeu; para o outro, o Adriático, por meio de paus roliços). O outro terço da população era composto de homens livres e libertos, principalmente helênicos e romanos, pertencentes ao sistema patronal romano e elite grega. Além destes, havia os ricos capitães e marinheiros que controlavam as embarcações comerciais e turísticas que transitavam nos dois portos da cidade. Quando ocorriam os jogos ístmicos (atletismo) durante a primavera, a sociedade dinamizava-se para receber centenas de turistas para Corinto, entre eles pessoas das mais diversas regiões e características, pensadores itinerantes, filósofos consagrados portadores das mais diferentes visões de mundo, além de proclamadores de outras religiões. A cidade, pela sua localização estratégica, também foi beneficiada com a construção de uma cidadela que trazia segurança bélica. Nela ficava estacionada a guarnição e soldados que controlavam o movimento de pessoas, mercadorias e que facilitavam a cobranças de impostos. Segundo Peixoto (2008, p. 26), a cidadela era construção ampla, cercada por altos muros de mais de dois quilômetros de comprimento, que alcançavam até o porto de Licaeus. Nela, no tempo de Paulo ficava estacionada a tropa romana com seu governo, matérias de guerra e costumes. A parte maior da cidade desenvolveu-se fora dos muros da cidadela. Essa estrutura favorecia o transporte e comércio das mercadorias produzidas na cidade, como no caso de Paulo, Priscila e Áquila com suas tendas, que possivelmente também serviam ao exército com barracas militares. Quanto à religião, dentre os 23 templos da cidade, dois destacam-se pela imponência e importância: Templo de Afrodite/Vênus (deusa do amor) e Templo de Apolo (deus da música, do canto, da poesia e da beleza masculina). As religiões mistéricas promoviam experiências em que seus participantes eram levados ao êxtase, com vistas à autossatisfação, alienação e ausência de consciência crítica. Eram celebradas grandes festas tidas como sagradas, com carnes sacrificadas a ídolos (representantes do Império Romano). Assim, em algumas celebrações religiosas, os participantes entravam em transe; em outras, em orgias. Existia uma sinagoga judaica, possivelmente composta pela maioria de judeus que foram expulsos de Roma pelo Imperador Cláudio em 54 d. C., conforme afirma Renan (2003, p. 183): “Próximo ao desembarque de Paulo, um grupo de judeus expulsos de Roma pelo édito de Cláudio também havia chegado de barco, entre os quais estavam Áquila e Priscila, que já nesta época professavam a fé em Cristo”. Em relação à sexualidade, havia um grande conflito entre os costumes dos religiosos; a valorização do ser humano e como se dava a exploração do corpo, tratativas com o casamento, viuvez, celibato, virgindade, entre outros costumes de uma cidade cosmopolita como a Corinto do primeiro século. Existia uma grande valorização da sabedoria filosófica, conhecimento considerado como fonte de libertação humana. O oposto da sabedoria e do sistema de governo que dominava a cidade de Corinto, Paulo apresenta a sabedoria da cruz, a opção não pela elite e pelos poderosos, mas pelo Crucificado, pelos pobres e pelos desprotegidos, pelos desprezados e sem projeção na sociedade corintiana. Paulo procurava conscientizar os cristãos de Corinto que eles não podiam reproduzir as desigualdades, as injustiças e as promiscuidades romanas que dominavam a cidade. Corinto era sinônimo de riqueza e luxo, de alcoolismo e de corrupção. O estilo de vida era tão depravante que era utilizado um termo pejorativo para os moradores da cidade, “corintizar”, tamanha falta de seriedade e frouxidão moral. Nos dias do apóstolo Paulo, havia uma população de raça indefinida e heterogênea. Os primeiros colonizadores romanos eram homens livres vindos da Grécia, Egito, Síria e Judeia. Na sua maioria, aventureiros gregos e burgueses romanos. Quanto às profissões, eram ex soldados romanos, filósofos, mercadores, marinheiros, marreteiros, entre outras. 

A presença de uma comunidade judaica em Corinto é mencionada em Atos 18.4-8. A comunidade tinha sua sinagoga formada, na sua maioria, por judeus que foram expulsos de Roma pelo decreto do Imperador Cláudio em 54 d.C. Paulo tinha por hábito em suas viagens missionárias, ao chegar a uma nova cidade, começar pregando nas sinagogas, pois isso lhe provia uma base por onde abancar seu trabalho. As sinagogas na diáspora, ou seja, fora da Palestina, desempenhavam uma função mais significativa aos judeus do que as sinagogas em seu próprio território. Era considerada o centro da vida comunitária dos judeus da diáspora. Na sinagoga, era possível estudar, tomar decisões sobre a comunidade dos judeus; ela servia de arquivo de registros da vida comunitária, além de ser o ponto de reunião religiosa e de culto. Willians afirma que havia três grupos estratégicos para a expansão do evangelho entre os membros da sinagoga.

Com o cristianismo, os devotos gentios simpatizantes com o judaísmo não precisavam mais ter de adequar-se a todo ritualismo que era imposto aos judeus puros para sentirem-se parte integrante da comunidade. Em Cristo, a antiga distinção entre judeu e gentio havia sido abolida; diante de Deus, todas as pessoas que se submetem ao senhorio de Cristo são tratadas da mesma forma, independentemente de nacionalidade, cor, gênero, entre outras diferenças. Essa mensagem era difícil para um judeu ouvir e aceitar. Paulo, em suas preleções e ensinos, traz fortes argumentos sobre a justificação pela fé na obra vicária de Cristo e das exigências que eram exclusivas para os judeus.

No entanto, essa mensagem não agrada a maioria dos judeus da sinagoga, inclusive judeus que acabam convertendo-se ao cristianismo e que não se sentiam ainda à vontade com a doutrina da justificação pela fé. Por isso, a comunidade judaica de Corinto manifesta-se contra a pregação messiânica de Paulo nas sinagogas frequentadas por judeus. Os anciãos dessa comunidade, revoltados com a mensagem do apóstolo, acabam por arrastá-lo para ser julgado em tribunal romano. Gálio, procônsul na Acaia, recusou-se a julgar o caso por entender que era uma questão judaica interna. Segundo Rohden (1999, p. 230), Gálio era irmão do célebre filósofo romano Sêneca e também adepto da filosofia dos estoicos. A sua existência e o cargo que ocupava encontram-se “imortalizados numa carta que o imperador Cláudio dirigiu a Delos, como atesta uma inscrição em pedra encontrada na dita cidade; ‘Gálio, meu amigo e procônsul de Acaia’, lhe chama Cláudio’”. Assim, Paulo sai absolvido (At 18.15). Durante a estadia de Paulo em Corinto, o relacionamento com a comunidade judaica foi marcado por tensões e conflitos. 1.2.3 A comunidade cristã de Corinto Paulo fundou e consolidou a comunidade cristã de Corinto (1 Co 3.6,10; At 18.1-8). Os primeiros membros da comunidade cristã em Corinto eram provenientes da comunidade judaica, mas a maioria dos cristãos tinha origem no círculo de pagãos simpatizantes do monoteísmo judaico (At 18.1-11). As sinagogas tinham por costume aproximar as pessoas da mesma profissão. Assim, Paulo fica mais próximo de Áquila e Priscila, deles recebe hospedagem e passam a trabalhar juntos, pois tinham o mesmo ofício de fabricar tendas. Provavelmente, a loja em que eles trabalhavam também passa a ser fonte de pregação da Palavra durante a semana. As pessoas vão sendo confrontadas pela pregação de Paulo e convertendo-se. Devido ao rompimento com os judeus da sinagoga, Paulo passou a realizar as reuniões nas casas de pessoas cristãs. Semelhante à proporção populacional da cidade, a maioria das pessoas convertidas era escrava (1 Co 1.26). Mas pessoas importantes dentre os judeus convertem-se, como “Tito Justo, que servia a Deus e cuja casa estava junto da sinagoga, e Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; também muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados” (At 18.7,8). A primeira casa em que foram realizadas as reuniões do grupo cristão foi na residência de Tito Justo. Os judeus provavelmente ficaram irritados com o grupo cristão realizando reuniões bem ao lado da sinagoga, pois era uma boa oportunidade para continuar chamando atenção dos judeus que ali congregavam. A igreja expandiu-se, e outras casas também foram abertas para que outros grupos de cristãos fizessem suas reuniões. No entanto, os costumes e hábitos dos coríntios acabam por transpor as portas da igreja e começam acontecer os conflitos e divisões. Dois grandes perigos ameaçavam a unidade da igreja local: o legalismo (salvação por meio da obediência exclusiva a certos regulamentos e costumes da Lei) e o antinomismo (a salvação vem pela fé, e não era necessário sujeitar-se a nenhuma lei moral). A jovem comunidade cristã destacava-se pelo entusiasmo espiritual que acompanha as orações e as reuniões. Era uma comunidade rica em dons (1 Co 1.4-7), porém imatura espiritualmente (1 Co 3.1-4). 

As cartas de Paulo à comunidade cristã em Corinto A situação conflituosa devido às diferenças internas na comunidade, como as tensões entre judeus e gregos (1 Co 1.18-31), livres e escravos (1 Co 7.21-23) e a insegurança em relação a várias questões doutrinárias provocaram uma intensa correspondência entre Paulo e a igreja em Corinto. No cânon bíblico, existem somente duas cartas, todavia o apóstolo Paulo escreveu, pelo menos, quatro cartas aos coríntios, mas duas dessas cartas foram perdidas (1 Co 5.9; 2 Co 2.4; 7.8). A primeira carta escrita por Paulo aos coríntios é conhecida como pré-canônica. Ela é uma carta que se perdeu (1 Co 5.9-13) e foi escrita para orientar sobre o relacionamento com pessoas devassas e corruptas. Alguns teólogos defendem que fragmentos dessa carta estariam em 2 Co 6.14–7.1. A segunda carta escrita é a que conhecemos hoje no cânon como primeira. A carta foi entregue por Timóteo (1 Co 4.17; 16.10,11) entre 55 e 56 d.C. Nela, Paulo menciona sua intenção de enviar Timóteo a Corinto a fim de resolver alguns dos problemas. As cartas de Paulo, em geral, eram escritas para tirar dúvidas e prestar orientações pastorais às recentes comunidades cristãs fundadas entre os gentios. Quando estava em Éfeso, o apóstolo ficou ciente de alguns problemas na igreja devido à grande influência secular e religiosa. Além das tensões entre judeus e gregos (1 Co 1.12,13,18-31), livres e escravos (1 Co 7.21-23), existiam questões doutrinárias sobre ressurreição, casamento, dons espirituais, questões morais e éticas, entre outras. Isso faz das cartas aos coríntios uma grande fonte de doutrinas sistemáticas, que graças à disposição e desprendimento do apóstolo Paulo para a missão e o ensino, chegaram até nós. Na sequência, Paulo escreveu uma terceira carta, conhecida como “a carta das lágrimas”, para resolver conflitos no relacionamento com a comunidade. Ele fez menção dela em 2 Coríntios 2.3-9; 7.8-12. Ela também se perdeu. Alguns teólogos defendem que fragmentos dessa carta estariam em 2 Co 10-13. A quarta carta escrita é a que conhecemos hoje no cânon como a Segunda Carta aos Coríntios.

Estrutura da Primeira Carta aos Coríntios 

As cartas de Paulo, em geral, eram escritas para tirar dúvidas e orientar pastoralmente as recentes comunidades cristãs entre os gentios. Na proposta de estrutura a seguir, fica evidente essa prática do apóstolo. Introdução: saudações e ação de graças (1.1-9). 

I - Problemas noticiados a Paulo por pessoas da casa de Cloe (1.10–4.21): 
a) Divisões, partidos e tendências (1.10-16); 
b) Esforço de Paulo para resolver o problema (1.17–4.21). 

II - Problemas de conhecimento público que chegou até Paulo (5.1–6.20): 
a) Caso de incesto (5.1-13); 
b) Incapacidade de resolver os problemas internos da comunidade (6.1-11); 
c) Imoralidade sexual (6.12-20). 

III - Problemas trazidos a Paulo pela própria comunidade (7.1–14.40): 
a) Castidade, casamento e virgindade (7.1-40); 
b) Carnes sacrificadas aos ídolos (8.1–10.33); 
c) Comportamento nas reuniões de culto (11.2–14.40): a. Participação das mulheres (11.2-16); b. Participação na Santa Ceia (11.17-34); c. Dons e ministérios eclesiásticos (12.1–14.40); 
d) Dúvidas sobre a ressurreição (15.1-58). 

Conclusão: recados e despedidas (16.1-24). 

A leitura da carta auxiliada pela estrutura descrita contribuirá para que o leitor compreenda as intenções do autor ao escrevê-la e para que tenha uma visão geral antes da leitura completa do texto bíblico. 

Imaturidade espiritual: partidarismos e divisões internas da comunidade Uma das principais características da Primeira Carta é o problema que mais preocupa o apóstolo: as divisões internas da comunidade. Esse comportamento demonstrava a imaturidade espiritual da nova comunidade cristã. Esse problema perpassa toda a carta, porém recebe atenção especial nos quatro primeiros capítulos: 

a) as divisões a partir das pessoas que anunciavam o evangelho (1.1-16);

b) as divisões a partir da condição social dos membros; 

c) as divisões a partir das duas sabedorias: de Deus e a humana (2.1-16); e

d) divisões a partir do relacionamento de Paulo com a comunidade (4.1-21). 

Destaca-se a forma pedagógica, carinhosa e, ao mesmo tempo, firme de tratar o problema em busca de solução aplicada pelo apóstolo. O exemplo de Paulo pode ajudar as comunidades cristãs contemporâneas na solução de seus problemas internos. 1.3.4 O contraste entre a loucura da cruz e a sabedoria do mundo Outra característica que se destaca na Carta é a ênfase que Paulo dá ao contraste entre a loucura da cruz e a sabedoria do mundo. Corinto contava com uma grande quantidade de filósofos, poetas e oradores que se orgulhavam da sua herança intelectual. Para eles, a encarnação de Jesus e sua morte como criminoso representavam a perversão da sabedoria. Por isso, a sabedoria do mundo não serve para definir o modo de viver do cristão. Quando Paulo esteve em Corinto pela primeira vez, a mensagem central foi o Cristo crucificado. Ele não se importou de ser contestado e ser chamado de louco ou de escandaloso (1.23). A mensagem da cruz de Cristo condena as divisões (1.17-4.13), questiona a vanglória dos que praticam escândalo (5.1-13), censura as imoralidades sexuais (6.12-20) e reprova o comportamento egoísta nas reuniões (11.17- 34). A pregação do evangelho é loucura para os padrões humanos e sabedoria de Deus para salvação aos que creem (1.21).

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