Lição 2 - O Propósito dos Dons Espirituais
2º Trimestre de 2021
ESBOÇO GERAL
I – OS DONS NÃO SÃO PARA ELITIZAR O CRENTE
II – EDIFCANDO A SI MESMO E AOS OUTROS
III – EDIFICAR TODO CORPO DE CRISTO
Elinaldo Renovato
A experiência da vida cristã indica que grande parte das pessoas, nas igrejas pentecostais, não sabe lidar muito bem com os recursos espirituais que Deus coloca à disposição dos crentes. A começar do batismo com o Espírito Santo, há uma confusão de ideias sobre sua natureza, a forma de receber, e, mais ainda, quanto à sua finalidade ou propósito. Há quem pense que o cristão é batizado para falar línguas. Quando, na verdade, o falar em línguas, em princípio, é um sinal da experiência do recebimento do batismo com o Espírito Santo, e este uma bênção distinta da salvação, concedida para que o cristão tenha poder para testemunhar com eficácia da mensagem do evangelho (At 1.8).
O falar línguas também pode ser evidencia do recebimento do “dom de variedade de línguas”, como um dom, ou carisma do Espírito Santo, entre outros, tão importantes, que Deus concede “a cada um como Ele quer”, mas sempre com propósitos ou finalidades especiais, visando a edificação, a unidade e o fortalecimento da sua igreja, tanto no sentido Universal, quanto no sentido da igreja local. Com esse entendimento, podemos dizer que, se o batismo com o Espírito Santo e o uso dos dons espirituais não forem bem compreendidos, no seio da igreja local, certamente, haverá a manifestação estranha de comportamentos inadequados de espiritualidade.
Em certa ocasião, este escritor foi pregar numa igreja, no interior de um Estado brasileiro. O templo estava lotado. Mas, na hora da pregação, ficou inviável discorrer sobre o tema a que o pregador se propôs, porque os irmãos, quase sem parar, falavam línguas o tempo todo. Era uma comunidade bem animada, avivada, por assim dizer, mas pareceu claro que havia faltado ensino quanto ao uso dos dons espirituais, especialmente o dom de línguas.
Eles não o faziam com o intuito de prejudicar a transmissão da mensagem. Mas estavam muito mais interessados em mostrar que eram batizados com o Espírito Santo, ou que falavam línguas, do que com o entendimento do que lhes seria transmitido. Tivemos que encerrar a prédica mais cedo, pois éramos interrompidos o tempo todo, com brados em alta voz de louvor. A falta de ensino resulta no mau uso dos dons espirituais. Dá lugar a meninices no meio da igreja. A igreja de Corinto, na Grécia, possuía praticamente todos os dons espirituais (cf. 1 Co 1.7), mas o apóstolo Paulo, em sua primeira carta àquela igreja, fez uma referência nada desejável àqueles irmãos. “E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo” (1 Co 3.1).
Um verdadeiro paradoxo à primeira vista. Uma igreja que possuía todos os dons, com crentes batizados com o Espírito Santo; uns falavam línguas, outros profetizavam; outros interpretavam; outros tinham dons de curas e milagres; outros possuíam muito conhecimento espiritual, mas Paulo lhes escreve, demonstrando que, em sua avaliação, eles não eram tão espirituais quanto pareciam ser pelo fato de terem tantos dons! Foi mais contundente, dizendo que eles eram “carnais” ou “meninos em Cristo”! Seria motivo para perguntarem a Paulo: “Como pode, pastor Paulo, uma coisa dessas? O senhor diz, no início de sua carta (1.7), que nenhum dom falta à igreja, e, poucos parágrafos depois, diz que esta igreja é formada de carnais e meninos em Cristo?”
Talvez nem foi feita tal pergunta, pois a resposta sobre sua avaliação da igreja de Corinto foi dada logo a seguir, naquele trecho da missiva do apóstolo, para não deixar dúvida quanto à sua afirmação desagradável: “porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu, de Apolo; porventura, não sois carnais?” (1 Co 3.3,4). Não poderia haver uma igreja mais espiritual do que aquela, mas, infelizmente, não poderia haver crentes mais carnais do que aqueles. Se fosse nos dias atuais, algum “apóstolo” ou “bispo” se sentiria muito vaidoso em ser pastor de tal congregação.
Entre eles havia crentes invejosos, outros que promoviam contendas e dissensões, lançando irmãos contra irmãos. Certamente, eles não entendiam bem a natureza e o propósito dos dons espirituais para a igreja. Imaginavam, como acontece hoje, que possuir um dom espiritual é motivo para considerar-se superior aos outros; era razão para ser consagrado ao ministério, para ser presbítero ou ministro; quem sabe, havia irmãs de oração, que viviam profetizando, com a finalidade de dirigir a vida do pastor ou de outras pessoas; quem sabe, ainda, havia quem sapateasse na igreja, ou saísse marchando ou correndo, para lá e para cá, para chamar a atenção para sua espiritualidade.
Havia algo pior. Divisão dentro da própria igreja. Havia grupos, partidos, “igrejinhas”, “panelinhas” e grupinhos de partidários de Apolo, de Pedro, de Paulo e até “de Cristo”. Aliás, este último grupo ou partido era o mais carnal de todos. Eram do tipo de crente que, hoje, diz: “Eu não dou satisfação a ninguém. Eu não obedeço ‘a homem’, mas só a Cristo”. São os que não obedecem aos pastores, ao dirigente da igreja, principalmente quando esses querem corrigir excessos de manifestações ditas espirituais no uso de dons.
Como Paulo não era o pastor titular da igreja, mas seu fundador, e vivia distante por força de seu ministério missionário, deve ter tomado conhecimento através de informações consistentes quanto ao comportamento da igreja. E por carta precisou exortá-los a que não continuassem na prática de comportamentos contrários à sã doutrina e ética no uso dos dons espirituais. Assim, é importantíssimo que os líderes de igrejas promovam o ensino bíblico quanto à origem, a natureza e o propósito dos dons espirituais. Este comentário tem essa finalidade, fornecendo análise e subsídios para o ensino sobre o propósito dos dons espirituais.
Texto extraído da obra “Dons Espirituais e Ministeriais”, editada pela CPAD.
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