Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Alexandre Coelho, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Ao iniciar a última tentação direta contra o Senhor Jesus, Satanás tenta motivar o Messias a antecipar o que Deus já havia reservado para Ele: Ser herdeiro de todas as coisas. A cruz, pela proposta de Satanás, seria dispensável e desnecessária. Jesus poderia ter os reinos do mundo por um simples ato de se ajoelhar diante do tentador.
Mas trilhar um caminho mais curto para receber o que Deus tem para nós pode custar a nossa comunhão com o Senhor e o plano dEle para cada um de nós. O preço da antecipação do que vamos receber do Senhor é alto e muito caro, e pode envolver concessões para Satanás atuar em nossas vidas ou atrapalhar os projetos de Deus em nós. Há um caminho a ser trilhado para que recebamos do Eterno o que Ele tem reservado para nós, e tomar atalhos sempre será um desvio do caminho que nos foi proposto.
I–A GLÓRIA DESTE MUNDO
Mudando o Cenário
Ao ser derrotado por Jesus na segunda tentação, Satanás transporta o Senhor para outro lugar. Na primeira tentação, Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, onde depois foi tentado. Na segunda tentação, Satanás se encarrega de tirar Jesus do deserto e lhe oferece a oportunidade de ser um espetáculo, desafiando a Palavra de Deus e se lançando da parte mais alta do santuário hebreu. Nessa terceira tentação, o Senhor é levado para um monte muito alto.
É notório que o Espírito conduz Jesus a um lugar de retiro, para meditação e oração, elementos necessários a um ministério, e que Satanás transporta o Senhor para lugares onde Ele teria notoriedade ou receberia a atenção ou o poder deste mundo. Deus não desejava para Jesus um ostracismo, e, no devido tempo, o Messias seria visto pelo povo em seu ministério. Não é errado adquirir notoriedade e ser destacado ou honrado, mas quando essas situações ocorrem da parte de Satanás, é algo perigoso. É preciso ter cuidado e discernimento para que não nos vejamos em lugares “altos”, imaginando que quem nos colocou lá foi Deus. O Senhor pode nos exaltar e nos honrar, mas somente quando formos maduros o suficiente para dar-lhe a devida glória pelo que Ele opera por nosso intermédio.
O que Satanás Tem a Oferecer
Satanás não se aproxima de Jesus sem que tenha algo a oferecer. Ele oferece a Jesus uma visão de todas as grandiosidades que o mundo possui, mas sem mostrar as suas mazelas e pecados. Foram mostrados ao Senhor todos os reinos do mundo e a glória deles, ou seja, tudo o que eles tinham e que seria possível de encher o coração humano.
Tem sido alvo de discussões se o que Jesus contemplou foi uma visão ou se Ele realmente foi levado a um local onde contemplou todas as coisas que viu. Jesus foi a fonte das narrativas da tentação, desde a mais sintética, descrita por Marcos, quanto das mais completas, como Mateus e Lucas. Ele esteve sozinho sendo tentado, e nenhum outro ser humano presenciou os acontecimentos tratados pelos evangelistas.
Portanto, a fonte primária nos leva a crer no que foi escrito, como foi escrito.
Lucas realça em seu Evangelho que Satanás disse: “Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero” (Lc 4.6). Mateus não registra esses dizeres, mas isso não diminui a força da sua narrativa, pois a tentação permanece no mesmo ímpeto: fazer com que Jesus se curve para render adoração a uma criatura, desviando-se da adoração devida ao Criador. Pensemos na cena: a criatura tentando fazer com que o Criador se curvasse diante dela…
Entendemos que Satanás usurpou a criação e impregnou o mundo com a maldade e o pecado, se apropriando de algo que não era dele.
Salmos 115.16 diz que “Os céus são os céus do Senhor; mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens”. Os filhos dos homens se deixaram levar pelas mentiras de Satanás e ele se aproveitou para implantar neste mundo toda a sua maldade. “[…] o mundo inteiro jaz no Maligno” (1 Jo 5.19, ARA), e ele tenta há séculos seduzir os homens com benesses terrenas, tirando-lhes o foco da eternidade.
O que Satanás Pede a Jesus
Com certeza, a visão que Satanás mostrou devia ser muito instigante, e um pequeno gesto de adoração seria suficiente para o Inimigo conseguir o que desejava. A busca dessa adoração humana é um combustível para a vaidade satânica. Ele oferece algo em que os homens se interessam e os fisga como peixes em um anzol.
Satanás não pede a Jesus que deixe de adorar a Deus. Ele não exige uma adoração integral, o tempo todo. Ele pede que Jesus, ao menos naquele momento, se prostre e o adore. Era somente um simples movimento corporal, mas que indicaria muita coisa. Se pensarmos que nossos gestos costumam demonstrar o nosso estado de espírito, ajoelhar-se diante do Diabo seria uma adoração.
O Inimigo continua desejando a adoração de todos, principalmente dos servos de Deus. Para ele, uma adoração dividida já surte o efeito desejado, pois sabe que um coração dividido vai tentar agradar a dois senhores, e isso Deus não aceita.
Satanás não se contenta em ver as pessoas adorando a Deus; ele quer destruí-las por não adorarem a ele: “[…] se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou se adora” (2 Ts 2.4), e busca se parecer com o Senhor para receber a adoração devida somente ao Eterno. Seu objetivo é confundir aqueles que buscam a Deus, de tal forma que venham a abrir mão de alguns valores para receberem o que precisam. Ele sabe que buscar o Senhor com um coração dividido vai contra a orientação do próprio Deus.
Ao falar acerca dos cativos da Babilônia, o profeta mostra que o povo de Deus só o acharia quando o buscasse de todo o coração. Não com uma atitude parcial, mas com inteireza.
II – NÃO ANTECIPE O QUE DEUS TEM PARA VOCÊ
Deus não se Utiliza dos Caminhos de Satanás
Enquanto Satanás tenta seduzir os homens mostrando o que eles podem usufruir temporariamente, sem dizer-lhes o que os aguarda na eternidade, Deus mostra o que está reservado aos que andam em seus próprios caminhos e seguem as propostas do Diabo. Satanás se vale da sedução e do engano, atraindo incautos para que consumam seus pecados. Ele age oferecendo a tentação, e depois age como acusador, se a pessoa cair em pecado.
Deus se utiliza da verdade, pois Ele é verdadeiro. O Senhor tem compromisso com a sua criação, pois ela existe por um ato de amor. Satanás não tem compromisso com a humanidade, pois esta não foi fruto de sua criação. Ele não somente rouba, mata e destrói, como também leva os homens por caminhos tortuosos.
O Mundo que Jesus Veio para Salvar
Por mais que o Diabo seja apresentado na Palavra de Deus como príncipe deste mundo, seu julgamento será cumprido: “o príncipe deste mundo está julgado” (Jo 16.11). Jesus não desmente a Satanás quando este, ao mostrar os reinos e as glórias deles, diz que tem autoridade sobre eles. Ele não diz que a autoridade que o Diabo alegava ter era falsa.
Na verdade, Jesus não perde o seu tempo com discussões sobre quem detém o poder ou não. Ter ou não o poder era uma isca para a verdadeira questão: a adoração. Enquanto os homens buscam o poder, Satanás busca ser adorado. Ele oferece benesses temporárias a fim de ser venerado como uma divindade, e, assim, atende aos desejos humanos, recebe a adoração da humanidade e depois a encaminha para o inferno.
Jesus não perderia seu tempo dando argumentos a Satanás; Ele foca no que é o essencial: saber que se curvar a Satanás, ainda que por um segundo, seria um desvio total do plano da Salvação. O mundo criado é inferior ao Deus que o criou, e Satanás não iria conseguir oferecer um atalho para que Jesus completasse o plano proposto pelo Eterno desde a fundação do mundo. O Senhor passaria pela cruz, e, por meio dela, atrairia todos para Ele (Jo 12.32).
Submissão a Deus
Era preciso que Jesus mostrasse que era submisso a Deus. O poder temporal oferecido por Satanás contrastava em muito com o objetivo do verdadeiro evangelho, que era salvar o homem, e não detê-lo numa cortina falsa e temporária de poder. Em nossos dias, é possível ver grupos de cristãos divididos sobre questões políticas. Não é errado um cristão buscar servir à sociedade por meio de ações que lidem com o poder público, e muitos de nossos irmãos acham espaço para servir ao Senhor em ambientes onde podem fazer a diferença, como Daniel o fez na babilônia. Ele estava em um ambiente político, em que o poder dos homens circulava, e se manteve como um arauto de Deus naquela civilização. Entretanto, não podemos nos esquecer de que o poder político passa e, com ele, os homens que o detêm.
Satanás sempre trará algo sedutor em suas tentações. Quando passamos por uma tentação, o que nos está sendo oferecido e que vai custar a nossa comunhão e submissão a Deus? Um ministério? Um casamento? Um emprego? Um bem de consumo? Até que ponto somos impulsionados a imaginar que a fidelidade de Deus está demorando a ser manifesta em nossas vidas e que precisamos buscar outros caminhos para receber fora do tempo o que Ele nos reservou?
Satanás costumeiramente lança em nossos pensamentos a ideia de que Deus está demorando muito para nos atender ou para nos colocar em uma posição que Ele mesmo disse que estaríamos. O Inimigo se aproveita de nossos momentos de impaciência para nos oferecer saídas mais fáceis e rápidas, fazendo com que nossas mentes questionem: para que trilhar o longo caminho de aprendizado que Deus tem nos reservado se podemos ter em um curto espaço de tempo o que levaríamos anos para receber de Deus? Bastaria somente um breve momento de concessão, de abrir mão de um de nossos princípios. Satanás tenta nos convencer de que uma pequena brecha na nossa comunhão com Deus não vai inviabilizar o que o Senhor tem para nós.
Deus sabe que a paciência é uma disciplina com a qual temos de lidar, e que nos fará estar mais próximos dEle. Deus é paciente. Sua longanimidade é conhecida na Bíblia, e Ele se utiliza dela para cumprir os seus desígnios para conosco. Há um tempo reservado para que a nossa vitória venha às nossas mãos. Depois da cruz, o mesmo Jesus recebeu do Pai, de forma completa, o que Satanás estava lhe oferecendo de forma limitada — todo o poder: “E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18). Vale a pena aguardar o tempo em que Deus há de cumprir as suas promessas em nossas vidas.
III – A QUEM DEVEMOS ADORAR
O Povo no Deserto
Pela terceira vez, para vencer a tentação trazida pelo próprio Diabo, Jesus remonta ao passado, à experiência do povo de Israel no deserto. Parece-nos que os relatos de Moisés foram bem contundentes para exemplificar o quanto deixamos de ser agradecidos. Moisés traz à memória deles algumas lições.
A primeira lição era que estavam entrando em uma terra para habitar em casas que eles não construíram, beberiam águas de poços que eles não haviam cavado, e usufruiriam de olivais e vinhas que não haviam plantado (Dt 6.10, 11). E qual era o problema dessa situação? Era que eles ficariam satisfeitos com tudo o que haviam obtido, seu esforço próprio, e se esquecessem do Senhor: “guarda-te e que te não esqueças do Senhor, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão. O Senhor, teu Deus, temerás, e a ele servirás, e pelo seu nome jurarás” (Dt 6.12,13). O povo de Deus não demoraria a se esquecer dessa orientação.
Esquecimento e Ingratidão
A segunda lição era que a ordem de temer e servir ao Senhor foi acompanhada de outra ordem: que os hebreus se guardassem de seguir as “divindades” que eram cultuadas em Canaã: “Não seguireis outros deuses, os deuses dos povos que houver à roda de vós” (Dt 6.14). Essas “divindades” nada fizeram em prol dos hebreus, e eles não poderiam se esquecer de que foram livres e sustentados por Deus. O esquecimento traz a ingratidão, e a ingratidão, por sua vez, é seguida de um sentimento de rebeldia. Os hebreus, com o passar do tempo, não somente se esqueceram de Deus, mas também se tornaram ingratos diante de tantas bênçãos que receberam, e, por fim, demonstraram sua rebeldia adorando a outros deuses, o que Deus terminantemente havia proibido. Tais ações custaram aos filhos de Abraão muitas dores nos anos que se seguiram.
Adoração e Serviço a Deus
A terceira lição é que o ato de ceder a uma tentação pode selar o destino de uma pessoa. Nossa adoração e serviço devem ser exclusivos para Deus. E adoração é uma forma de vida, de quem anda conectado com Deus, e vai além do momento em que estamos entoando louvores no templo. Por mais que Satanás nos tente a fazer uma pequena concessão em nossa adoração, essa concessão será vista como uma entrega completa da nossa parte. Não há possibilidade de dizer que adoramos a Deus se nos inclinamos a Satanás para buscar benesses, poder ou autoridade deste mundo.
Jesus não abriu mão de seu chamado, ainda que lhe ofertassem atalhos. Ele permaneceu fiel a Deus, mesmo com a possibilidade de antecipar o que o Senhor lhe havia prometido. E o preço de sua fidelidade se vê em nossos dias, com milhões de pessoas que seguem a Jesus, reconhecendo nEle o único caminho que nos leva para Deus. Ele cumpriu o caminho que Deus lhe havia proposto, e derrotou a Satanás, abrindo o caminho para a nossa eterna salvação.
CONCLUSÃO
O exemplo de Jesus, ao vencer a terceira tentação, nos mostra que não precisamos antecipar o que Deus tem para nós, cedendo com pequenas concessões a Satanás. Mostra-nos que a adoração devida a Deus não é somente um momento de louvor na igreja, mas uma vida conectada com o Senhor, obedecendo a Ele, e, por fim, que podemos confiar que Deus há de cumprir suas promessas em nossas vidas, pois é grande a sua fidelidade.
Todos seremos desafiados um dia, para agir de forma precipitada, saindo do caminho proposto pelo Senhor. Lembremo-nos de que a impaciência pode nos levar ao esquecimento do que Deus tem feito por nós, e o esquecimento nos conduzirá à ingratidão e à rebeldia. Que não sejamos como os filhos de Israel, que se esqueceram do Senhor e adoraram outros deuses, mas que a nossa memória esteja sempre sendo alimentada pela Palavra de Deus, até que sejamos chamados para estar com Ele na glória.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: COELHO, Alexandre. O Perigo das Tentações: As Orientações da Palavra de Deus de Como Resistir e Ter uma Vida Vitoriosa. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.