3º Trimestre de 2020
Pastor Alexandre Coelho
E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face (Dt 34.10)
INTRODUÇÃO
Exemplos de vida sempre nos chamam a atenção. Pessoas que passaram por adversidades, que tiveram planos frustrados ou suspensos por certo tempo e que posteriormente deram “a volta por cima” cativam narrativas e também nos dão certa dose de esperança para dias mais tranquilos. Há também pessoas que nos chamam a atenção pelo fato de terem sido vocacionadas a certos desafios e que, mesmo relutantes, deram passos rumo à obediência e entraram para a história como verdadeiros ícones de coragem e admiração.
Moisés é uma dessas pessoas. O tão conhecido libertador e legislador de Israel traz-nos exemplos firmes de uma vivência com Deus em dois momentos desafiadores: (1) a escravidão do povo no Egito e (2) a condução do povo, antes escravo, rumo à Terra Prometida.
Neste capítulo, trataremos não apenas sobre a vida de Moisés, mas também sobre um dos momentos mais importantes da caminhada do libertador com o povo de Deus: o momento em que ele diz que a presença do Eterno faz mais diferença do que a bênção dele em nossas vidas.
I – MOISÉS E A SUA CHAMADA
1. Um Povo que se Forma em Meio à Escravidão
Podemos dizer que a história de Moisés, homem de Deus, dá prosseguimento à história começada séculos antes pelo próprio Deus, quando Este escolheu um homem, Abraão, e desafiou-o a segui-lo por uma caminhada sem dar-lhe o destino final, porém com a promessa de uma terra e uma descendência inumerável. Casado com uma mulher estéril, Abraão creu em Deus, foi considerado justo e viu a promessa de Deus no seu filho, Isaque.
Isaque, filho de Abraão, aprendeu com o seu pai a crer em Deus, tornou-se um homem de oração e, também casado com uma mulher estéril, Rebeca, viu o milagre de Deus quando a sua família recebeu dois filhos gêmeos, Esaú e Jacó.
O mais novo dos gêmeos ganhou a bênção de ser considerado o mais velho por meio de uma mentira astuciosa; e, tendo saído de casa para não ser morto, casou-se com uma mulher também estéril, Raquel. Parece que a esterilidade naqueles tempos não era incomum — pelo menos não na história dos três patriarcas. Isso implicava mais fé de cada casal a fim de receber o cumprimento da promessa de Deus. Entretanto, como o seu pai e o seu avô, Jacó viu a misericórdia de Deus alcançando o seu lar e concedendo-lhe a paternidade com a esposa que amava.
O filho amado de Jacó, José, foi parar entre os egípcios como escravo e lá se tornou governador. José fez grandes obras no Egito, como, por exemplo, preservar a nação de uma fome de sete anos. Como já era esperado, José traz a sua família para o Egito a fim de que ela seja preservada da fome e, depois, morre. Assim se encerra o livro de Gênesis.
O livro de Êxodo narra já no início o que ocorreu depois que José morreu:
Os filhos de Israel frutificaram, e aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles. Depois, levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José, o qual disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é muito e mais poderoso do que nós. Eia, usemos sabiamente para com ele, para que não se multiplique, e aconteça que, vindo guerra, ele também se ajunte com os nossos inimigos, e peleje contra nós, e suba da terra. (Êx 1.8-10)
Sabe qual foi a forma como os egípcios delimitaram um freio no crescimento populacional dos hebreus? Matando os meninos e preservando as meninas.
2. Tirado das Águas
Moisés tem a sua vida preservada por Deus desde quando era apenas um bebê. Ele nasceu em um período péssimo para um menino ser trazido ao mundo, justamente quando crianças do sexo masculino, descendentes de hebreus, no Egito, estavam sendo mortas por ordem de Faraó para que o povo não se multiplicasse e não se voltasse contra os egípcios. Essa foi a maneira “sábia” como o rei do Egito tentou controlar a natalidade de meninos filhos dos escravos. Apesar disso, os hebreus continuavam a crescer.
Moisés significa “tirado das águas”. Trata-se de um nome apropriado para um menino que foi achado num cesto no rio. A sua mãe biológica acabou tomando conta de Moisés até este ser entregue para a sua “mãe adotiva”, a filha de Faraó. Crescido em um palácio como um príncipe, “Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios” (At 7.22). Até o momento em que precisou fugir do convívio com os egípcios por ter matado um deles, o futuro legislador de Israel teve uma cultura moldada para a liderança.
3. Uma Vida Cômoda no Exílio
Após presenciar um egípcio agredindo um hebreu, Moisés fez justiça com as próprias mãos. O seu ato fez com que ele precisasse fugir do Egito, deixando para trás a cultura palaciana, dirigindo-se para Midiã. Como refugiado em terra estranha, Moisés pode ter assimilado o costume da família de Jetro, um midianita, e foi recebido como membro daquela casa ao casar-se com Zípora (Êx 2.15,21).
Cuidar de ovelhas parecia promissor para Moisés. Fugido do Egito aos 40 anos de idade, teve bastante tempo para aprender a apascentar o rebanho da família (Êx 3.1), até que o Senhor foi falar com ele. Ao aparecer a Moisés, o Eterno diz ao hebreu refugiado que ele havia sido escolhido para libertar os seus irmãos. Essa seria uma grande empreitada, e Deus já havia planejado os detalhes. O Egito tornara-se um lugar de opressão para os filhos do patriarca Abraão: “[...] Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito” (Êx 3.7). Os escravos que Faraó estava oprimindo eram o povo de Deus. A resolução eterna já havia sido decretada: “Portanto, desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e larga” (Êx 3.8).
Mas o que Moisés tinha a ver com essa revelação e com essa empreitada divina? Ora, ele era um pastor octogenário e mais preocupado em preservar a subsistência da família cuidando de ovelhas do que outra coisa.
Ele havia sido escolhido por Deus para executar a missão de falar com Faraó e tirar o povo do Egito: “Vem agora, pois, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito” (Êx 3.10).
As orações do povo de Deus foram feitas para Ele. A missão era dEle. O povo a ser liberto era dEle. O Senhor, porém, chama Moisés para representá-lo. Certamente Moisés não esperava por essa. Aqui está uma das verdades mais contundentes quando pensamos nas pessoas da Bíblia: todas fazem parte de um plano maior, desenhado por Deus, para fazerem a diferença no mundo. O Senhor “desceu” não apenas para livrar o seu povo, mas também para comissionar aquele que seria o seu porta-voz, Moisés. Na sua grandeza, Deus está mais interessado em trabalhar com pessoas limitadas para realizar grandes feitos por meio da fé.
Acontece que o próprio Moisés dá desculpas para não se envolver nessa empreitada. Os anos como fugitivo dos egípcios deram a ele uma zona de conforto da qual não se afastaria, a não ser por uma forte intervenção divina. Ele tinha conhecimento da sua ascendência hebreia, mas não imaginava que seria usado por Deus para retornar ao Egito e desafiar um rei a colocar em liberdade a sua mão de obra escrava.
Acho que sou a pessoa errada para isso...
Aos seus próprios olhos, Moisés era uma pessoa limitada. Vemos, no diálogo com Deus, Moisés apresentando ao menos cinco desculpas para não cumprir o que o Senhor havia determinado:
a) “Quem sou eu?” (Êx 3.11) Essa é a perspectiva de um homem que tem dificuldades de olhar para si como uma pessoa adequada por ter sido escolhida por Deus.
E as desculpas estavam só começando...
b) Qual é o nome do Deus que te enviou? (Êx 3.13) “E eu apareci a Abraão, e a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, o Senhor, não lhes fui perfeitamente conhecido” (Êx 6.3). Os deuses egípcios tinham os seus nomes e atribuições, e, com certeza, os hebreus iriam querer saber se havia uma conexão entre as suas orações e aquele enviado hebreu para falar com Faraó.
c) Deus não apareceu a você (Êx 4.1). Uma das questões mais importantes na vida cristã é a certeza de que uma pessoa teve um encontro com Deus. Se Moisés fosse ao Egito no seu próprio nome, teria dificuldades para ser convincente. As pessoas iriam acreditar que Deus havia aparecido a Moisés?
d) Não sou eloquente (Êx 4.10). Desde que o Senhor dotou-nos da capacidade de falar e transmitir ideias, somos desafiados a ter uma forma de falar que seja convincente. Um homem com dificuldades de comunicar-se pode atrair mais risos do que convicção. Deus, no entanto, iria tratar com o Egito não apenas com as palavras de Moisés, mas também com operações sobrenaturais.
e) Manda outro (Êx 4.13). Por fim, Moisés pede ao Senhor que mande outra pessoa no seu lugar. O Eterno irou-se com Moisés e mencionou o nome de Arão como uma pessoa que iria com Moisés tratar dos assuntos de Deus.
4. Deus Confirma a Chamada de Moisés
O Eterno, onisciente, não deu margens às questões ponderadas por Moisés; antes, impulsionou o reticente pastor de ovelhas à sua chamada. O Senhor não apenas chancelou vocação daquele ancião, como também agiu confirmando com milagres o que havia dito a Moisés. Mais do que isso, Deus foi com ele nas entrevistas com o rei do Egito, orientando Moisés e intervindo, por meio do seu servo, com julgamentos sobrenaturais ante às negativas de Faraó.
É possível crer que as limitações que apresentamos ao Senhor para não realizarmos a sua obra serão aceitas? Penso que não. Limitações tornam-se a fonte pela qual o poder de Deus opera em nós. É possível dar desculpas a Deus para não se fazer a obra dEle, mas, quando aprendermos a confiar nEle, e não em nossa capacidade, veremos o quanto pode ser feito para a sua glória.
5. De volta para o Egito
Vencidas as primeiras objeções do próprio Moisés, chega o momento de partir para o Egito e obedecer a Deus. Arão encontra-se com Moisés; eles conversam, reúnem os anciãos, e Moisés refaz os milagres que foram feitos no seu encontro com Deus. O resultado não poderia ser diferente: “E o povo creu, e ouviram que o Senhor visitava aos filhos de Israel e que via a sua aflição; e inclinaram-se e adoraram” (Êx 4.31).
Após esse momento, Faraó recebe a visita de Moisés e Arão, deixando claro, porém, que não atenderia ao que Moisés falou. O povo de Israel era escravo e, na perspectiva de Faraó, deveria continuar assim. Além disso, por que o rei acreditaria em um profeta vindo de Midiã, falando em nome de um Deus que sequer poderia ser representado por meio de objetos ou de seres existentes?
Como se não bastasse, a mão de Faraó pesou sobre o povo, e as condições de trabalho pioraram. O povo passou a sofrer mais e reclamou de Moisés, responsabilizando-o pelas novas agruras. O povo que viu os milagres feitos por Moisés foi o mesmo povo que o acusou de ser responsável pelas novas e piores condições de trabalho. Eles não entenderam que, até vir a sua libertação, ainda passariam por mais problemas por causa da dureza de coração do rei do Egito.
Na prática, aquela situação serviria de lição para Moisés e o povo. Para Moisés, teria a sua paciência para com o povo treinada, bem como a dependência constante de Deus, mais solidificada. O povo, por sua vez, não estava amadurecido para entender que o Senhor julgaria as ações dos egípcios e que, em pouco tempo, sairiam da terra da escravidão devidamente indenizados pelos tantos anos de trabalhos sem pagamento (Êx 11.2,3).
6. Os julgamentos de Deus no Egito
Cada praga enviada pelo Senhor atingiu os egípcios. Animais, plantações, residências: todos foram alcançados. Somente os hebreus, apesar das duras condições de trabalho, ficaram livres da pesada mão de Deus no Egito e os seus habitantes.
A cada praga, um julgamento. Swindoll chama-as de “pragas que pregam”, pois foram acontecimentos que marcaram a narrativa do Êxodo. Somente a última praga convenceu Faraó de expulsar os hebreus das terras egípcias. Na noite em que os primogênitos dos egípcios morreram, nascia a primeira Páscoa.
Deus manda que os hebreus matem um cordeiro e que, com o sangue dele, manchem os umbrais da porta da casa em que habitam e que comam a carne daquele animal vestidos como quem vai sair com pressa.
Swindoll chama a noite do grande julgamento sobre o Egito de “A noite em que ninguém dormiu”. A ordem de passar sangue no umbral da porta de cada família era uma garantia de que as garras da morte não alcançariam aquele lar. Na prática, por mais estranha que parecesse a ordem de Deus, ela foi cumprida.
Amanhecido o dia da primeira Páscoa, não havia mais como os hebreus ficarem no Egito. Se, antes, Moisés foi pedir a Faraó que libertasse o povo, agora, dessa vez, é Faraó quem pede a Moisés e a Arão para irem embora levando os filhos de Israel (Êx 12.31-33).
7. Navegar é preciso?
Decretada a liberdade dos hebreus, era preciso sair dos limites do Egito e seguir rumo à terra que o Senhor havia-lhes prometido. Não basta afastar-se daquilo que representa um estilo de vida antigo. É preciso andar em direção ao destino que nos aguarda, o destino escolhido por Deus. Todavia, o local para onde Deus conduziu Israel serviria de lição para os egípcios e para o próprio povo.
Não havia embarcações para levar o povo para atravessar o mar. Eles estavam em um beco sem saída, e Deus havia-os mandado para lá.
A única coisa que Moisés poderia fazer era orar ao Deus que os mandou para aquele lugar. A Bíblia não diz que oração foi feita por ele, porém mostra qual foi a resposta do Senhor:
Então, disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco. E eis que endurecerei o coração dos egípcios para que entrem nele atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó, e em todo o seu exército, e nos seus carros, e nos cavaleiros (Êx 14.15-17)
A ordem de Deus foi clara. O povo deveria seguir o caminho aberto pelo mar, e eles assim o fizeram. Deus fez passar um vento oriental toda aquela noite, de forma que as águas foram separadas, e o povo passou pelo meio das águas em seco. O Senhor mais uma vez julgou o Egito e Faraó, e o povo de Israel seguiu o seu caminho para a Terra Prometida por Deus.
II - Em cada situação narrada anteriormente, Moisés participou de forma ativa como emissário de Deus ao povo e a Faraó. A partir da libertação do povo, novos desafios surgiriam, provando a fé de Moisés.
1. Dias com Deus na Montanha
Já liberto o povo da escravidão e vencido o mar Vermelho e o exército de Faraó, Moisés tem um encontro com Deus no monte Sinai. O Senhor chamou-o para passar uns momentos a sós com Ele, momentos estes em que o legislador recebeu a Lei divina.
O povo precisava de regras claras de conduta, pois, se antes eram escravos, agora eram pessoas livres, rumo a uma nova terra, da qual não poderiam viver sem orientações. Os hábitos com os quais estavam acostumados no Egito não serviriam para a nova realidade com a qual se deparariam. Eles deveriam pautar-se por um novo ordenamento jurídico dado pelo Senhor a fim de que manifestassem aos povos vizinhos um padrão diferenciado. O culto a Deus não teria prostituição, nem crianças oferecidas em sacrifício; o trabalho deveria ser a forma como uma família seria mantida; a palavra dada deveria ter valor, e a mentira e o engano deveriam ser extirpados. Nova vida, novas regras.
2. O Bezerro de Ouro
Enquanto o Senhor falava com Moisés, o povo reuniu-se e, numa expressão de ingratidão para com Deus e Moisés, decidiram produzir um bezerro de ouro para adorá-lo: “[...] porque quanto a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu” (Êx 32.1). Eles referem-se a Moisés como se este fosse uma pessoa distante e descartável. A proposta de adoração daquele ajuntamento de pessoas não refletia gratidão para com tudo o que lhes fizera Deus. Eles queriam fazer um culto, só que nos moldes do Egito, quando ainda eram escravos.
3. Refaça as Tábuas da Lei
O servo de Deus, ao deparar-se com tal cena, não apenas fica indignado, como também quebra as tábuas da Lei, que recebera de Deus.
Passado o momento de ira, Moisés deveria tomar a iniciativa para reconstruir o que Deus fizera. “Então, disse o Senhor a Moisés: Lavra-te duas tábuas de pedra, como as primeiras; e eu escreverei nas tábuas as mesmas palavras que estavam nas primeiras tábuas, que tu quebraste” (Êx 34.1). Duas lições vemos nesse cenário.
A primeira é que não podemos ser pessoas intempestivas ou dominadas pela raiva a ponto de destruir ou inviabilizar algo que o Senhor fez ou deseja fazer. As tábuas da Lei foram preparadas por Deus para serem entregues ao povo, e não para serem destruídas. Moisés deveria providenciar as novas tábuas para substituir as que quebrara anteriormente. Só depois disso é que Deus colocaria novamente a sua Lei escrita naqueles objetos.
A segunda lição é que devemos tomar a iniciativa para restaurar algo que foi destruído. O Senhor ordenou a Moisés que ele mesmo escolhesse as pedras, que as cortasse e levasse montanha acima. Seria um trabalho árduo e pesado. E mais um detalhe: Moisés não poderia ser ajudado a levar montanha acima as pedras substitutas: “E ninguém suba contigo” (Êx 34.3). Imagine agora um homem de 80 anos tendo de levar pedras montanha acima simplesmente porque perdeu o controle por um momento.
Não raro, o preço para restaurarem-se coisas ou relacionamentos que foram quebrados é alto — às vezes, tendo de ser feito sem a ajuda de outras pessoas. Que venhamos a valorizar o que Deus fez e manter intacto o seu plano para nossas vidas.
III – A BÊNÇÃO SEM A PRESENÇA DE DEUS
1. Um Anjo Vai na Frente
Após o episódio do bezerro de ouro, o Senhor diz a Moisés que Ele irá cumprir o que havia prometido aos patriarcas: dar a Terra Prometida à descendência deles. Contudo, essa missão não teria a presença dEle. Os hebreus eram complicados demais. Não tinham paciência para esperar as orientações de Deus. Não aprenderam a importância de confiar no Deus que ouviu as suas orações, que mandou as pragas no Egito, que os livrou da morte e que os fez passar pelo mar. Na primeira oportunidade que tiveram de autonomia temporária — quando Moisés foi ao cume da montanha para falar com o Senhor —, decidiram fazer um deus para que pudessem adorá-lo.
A resposta de Deus a Moisés, para garantir a promessa, foi: “E enviarei um Anjo adiante de ti (e lançarei fora os cananeus, e os amorreus, e os heteus, e os ferezeus, e os heveus, e os jebuseus), a uma terra que mana leite e mel; porque eu não subirei no meio de ti, porquanto és povo obstinado, para que te não consuma eu no caminho” (Êx 33.2,3). O povo de Israel era tão rebelde que chegou a deixar o Senhor realmente “irritado”.
Imaginemos Moisés ouvindo o Senhor dizer isso e lembrando-se da chamada que ele recebera há algum tempo. O legislador sabia que caminhar até à terra que “mana leite e mel” sem Deus entre eles seria um caminho fadado ao fracasso.
2. Se o Senhor não For Comigo...
Imaginemos agora: o Senhor diz que cumprirá a sua promessa, mas que não estará com as pessoas que vão ver a promessa cumprida. Bastaria um anjo de Deus para que os caminhos fossem abertos e a promessa fosse cumprida. De qualquer forma, Deus não deixaria de realizar aquilo que tinha prometido a Abraão, a Isaque e a Jacó. Para Moisés, porém, era melhor ter a presença do Senhor, e ele estava disposto a não sair de onde estavam caso Deus não fosse com eles: “Então, disse-lhe: Se a tua presença não for conosco, não nos faças subir daqui” (Êx 33.15).
Moisés viu a diferença de estar acompanhado da promessa de Deus sem estar acompanhado da presença dEle. Há quem prefira ser contemplado por bênçãos e não ter qualquer relacionamento com Deus. Moisés, por sua vez, tinha a plena certeza de que a presença de Deus consigo valia muito mais do que as bênçãos que ele receberia. A presença de Deus em nossas vidas vale muito mais do que as bênçãos que podemos receber nessa comunhão.
3. “Irá a minha Presença contigo para te Fazer Descansar”
Diante do que Moisés disse, o Senhor responde que o legislador poderia contar com a sua presença. Se o povo não levava a sério ter Deus tão próximo, Moisés, o líder, tinha em alta conta poder estar perto de Deus.
4. Um Gigante de Deus
Como todos nós, Moisés tinha as suas limitações e, em um momento de descuido, foi impedido por Deus de entrar na Terra Prometida. Ele chegou a ver a terra de longe, mas outro líder entraria nela conduzindo o povo. Tal fato não tira de Moisés todo o trabalho de Deus na sua vida, nem o quanto esse homem foi usado pelo Altíssimo no tempo em que viveu. Ele era tão usado por Deus que o apóstolo Pedro mencionou-o como referência em comparação ao ministério profético de Jesus: “Porque Moisés disse: O Senhor, vosso Deus, levantará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser”.
Que venhamos a entender que ter a presença de Deus conosco é mais importante do que ter somente a bênção dEle.
CONCLUSÃO
A vida de Moisés teve outros cenários muito dignos de serem destacados. Entretanto, para esta análise e sob a perspectiva da confiança, ele teve a coragem de reconhecer que a presença de Deus faz a diferença mais ainda do que a bênção dEle.
Com isso, não estamos dizendo que a bênção de Deus não é boa, pois “a bênção do Senhor é que enriquece, e ele não acrescenta dores” (Pv 10.22). O que queremos dizer é que há uma enorme diferença entre a presença de Deus conosco e a bênção dEle conosco sem a sua presença. Que isso nos sirva de lição: sirvamos a Deus pelo que Ele é, e não pelas bênçãos que podemos receber dEle.