sábado, 21 de setembro de 2013

Como Tornar a Comunicação Eficiente no Âmbito da Sala de Aula.

Perfil

Pr. Marcos Tuler.

É Pastor, Bacharel em Teologia, Pedagogo, Pós-graduado em Docência Superior e Psicopedagogia e Diretor da FAECAD. Autor dos livros "Manual do Professor de Escola Dominical", "Ensino Participativo", "Dicionário de Educação Cristã", "Abordagens e Práticas Pedagógicas", "Recursos
Didáticos para a Escola Dominical" todos editados pela CPAD. É membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil."Abordagens e Práticas Pedagógicas", "Recursos Didáticos para a Escola Dominical" todos editados pela CPAD.    É membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil.

Como tornar a comunicação eficiente no âmbito da sala de aula!

Há professores que, por falta de conhecimento ou sensibilidade docente, não percebem que  são maus comunicadores. A impressão que temos é que se preocupam com a medíocre exposição de sua matéria em detrimento da educação propriamente dita. O professor acha que sua função consiste em transmitir conhecimentos e que é obrigação do aluno ouvir e compreender. Alguns educadores costumam chamar esta tendência ao monólogo de “salivação”, ou seja, o professor fala o tempo todo e os alunos, em atitude de extrema passividade, apenas ouvem. 


A comunicação entre alunos e professores deve ser bilateral ou multilateral e nunca unilateral. Em outras palavras, os alunos devem expressar livremente suas opiniões, idéias e sentimentos. Portanto, é aconselhável que o mestre promova entre eles debates, discussões, trabalhos em grupos, dinâmicas, incentivando a troca de experiências e informações. 



A raiz do problema



Alguns, têm suas idéias tão mal, ou tão perfeitamente organizadas, que não há neles lugar para a imaginação criativa dos alunos. Quando as idéias do professor estão desorganizadas, sua mensagem é confusa e insegura. Os tais preferem o monólogo, isto é, a criticada “salivação”. Outros costumam ensinar partindo da seguinte premissa: “Se os alunos mais inteligentes dos primeiros assentos entendem o que eu falo, todos os demais também entenderão”. Ora, isso é simplesmente um absurdo! 



Em relação à linguagem, muitos são os que costumam utilizar conceitos ou termos que ainda não existem na experiência dos estudantes. Ao contrário destes, há os que assumem uma postura bem mais nociva: não se preocupam em enriquecer o vocabulário dos alunos. 



A maneira de expor a matéria é outro problema que dificulta a boa comunicação entre educadores e educandos. Muitos mestres colocam tantas idéias em cada exposição que somente algumas delas são compreendidas e retidas na mente do aluno. Falar rápido demais, articular mal as palavras, usar voz baixa e em tom monótono são comportamentos igualmente perniciosos. 



Se existem professores que não utilizam meios visuais para comunicar conceitos, ou relações que exigem apresentação gráfica, há também os que utilizam recursos visuais de forma inadequada: por exemplo, empregam o quadro-negro sem planejamento algum, escrevendo e desenhando ora aqui, ora ali, com muita confusão e desordem. Aqui está um breve resumo dos principais problemas que atrapalham a comunicação entre docentes e discentes em qualquer nível do processo ensino-aprendizagem. 



A eficiência da comunicação resulta fundamentalmente do seguinte: clareza, precisão, simplicidade, criatividade e objetividade da mensagem.  



Identifique o foco de interesse da aula



Seus alunos têm interesse no conteúdo da aula? 2) Em que tipo de matéria eles têm interesse? 3) Você costuma variar seus métodos? 

Os objetivos e os conteúdos merecem atenção especial. Refletem eles a necessidade e o interesse do aluno? É a partir desse foco que será realizado o contexto, ou situação estímulo, para que se processe a aprendizagem. Muitas vezes, a comunicação não se efetiva devido à ausência de um foco de interesse. O professor fala e os alunos fazem ou pensam outra coisa.



Ajuste a mensagem às condições dos alunos


Você conhece seus alunos? Certamente sua turma é heterogênea. Você conhece seus alunos individualmente? Qual o nível intelectual, escolar, sócio-cultural, e espiritual da sua classe? E quanto ao nível vocabular? E quanto a experiência cristã? “Você sabe como seus alunos se relacionam com a comunidade onde vivem?” “Conhece seus interesses, suas dificuldades e dúvidas?” “Sabe algo sobre seu desempenho nos estudos seculares ou no trabalho?” “Mantém boas relações com suas famílias?” “Conhece algum problema em particular em suas vidas?” “O que poderia dizer sobre seus testemunhos? “Há alguma coisa especial de que necessitam?” “Você está disposto a passar mais tempo com eles para guiá-los, instruí-los, consolá-los e desfrutar de sua amizade?” “Tem você orado com e por eles?” 

Avalie o potencial de sua classe



Faça um pré-teste no início de cada lição ou trimestre. A avaliação prévia ou diagnóstica tem por objetivo verificar o que a classe não sabe ou até que ponto conhece a matéria. 



Tarefas muito difíceis, confusas, ou muito fáceis não despertam o aluno para a ação. O aluno possui possibilidades de vocabulário que necessitam ser consideradas pelo professor. Só existe aprendizagem se o aluno modifica seu comportamento. Entretanto, ele não modificará seu comportamento se não possuir a base necessária para tal. As experiências dos alunos permitem ou facilitam a nova aprendizagem? Possuem eles capacidade para entender o que o professor está informando ou pretende informar?



Organize a mensagem equilibrando conhecimentos novos com antigos. 



Se tudo que se pretende transmitir já é conhecido do aluno, não há razão para a comunicação. Bem como, se a mensagem for totalmente estruturada com elementos novos o aluno não terá capacidade de apreendê-la.



Recapitule!



Recapitular envolve três tempos: Explica o que vai ser estudado; reforça o que está sendo ensinado e revisa o que foi ensinado. Quando recapitular? No início da aula, após cada ponto importante, ao final da lição ou no término de uma série de lições sobre um mesmo tempo.  



Estabeleça uma seqüência permitindo que o aluno avance progressivamente até à assimilação da informação. Para chegar ao domínio de conceitos complexos, é necessário partir do exame de conceitos ordinários, sejam estes dominados ou não pelos alunos.



Seja conciso em sua exposição



Expor as idéias em poucas palavras é uma virtude extremamente necessária à práxis docente. Nos desligamos facilmente quando ouvimos pessoas prolixas. Aquelas que dizem muita coisa, porém, inútil e irrelevante. 



Desenvolva uma linguagem natural. Isto é, que seu comportamento verbal seja claro, consistente e coerente, expressando idéias bem conectadas.



Utilize a linguagem didática


O que é linguagem no ensino? O que é linguagem didática? 



A linguagem é o principal recurso de comunicação de que o professor se utiliza para ministrar informações, prestar esclarecimentos aos alunos e orientar-lhes todo o processo de aprendizagem. 



A linguagem didática se distingue tanto do linguajar vulgar, indisciplinado e quase sempre incorreto, como do estilo solene e formalizado. A linguagem didática situa-se a meio termo entre estes dois extremos.



Características: Instrutivas e educativas



Instrutivas: Em relação ao estilo e elocução



Quanto ao estilo, a linguagem deve ser:



1) Simples, natural e fluente (vacilante, tortuosa, rebuscada).

2) Sóbria, direta e incisiva (sem rodeios).

3) Clara e acessível (sem termos difíceis, pouco usados e incompreensíveis; neologismos, excesso de termos técnicos).

4) Exata e precisa (sem ambigüidades, indecisões ou equívocos).
5) Gramaticalmente correta.



Quanto à elocução, a linguagem dever ser:



1) Bem articulada e com boa dicção.

2) Enunciada com voz clara e firme.

3) Animada, expressiva e enfática.

4) Evitar maus hábitos, tais como: “hã”, “entendeu”, “muito bem”, interpolados com intervalos freqüentes.


Obs: O uso de tais enchimentos é, em geral, uma reação nervosa e reflete uma tentativa oral de tomar tempo para os processos mentais do professor.



Educativas:



1) Educar o ouvido dos alunos à boa linguagem, correta e expressiva.

2) Desenvolver nos alunos a apreciação e o bom gosto pela linguagem correta e apurada.

3) Formar nos alunos o hábito de falar com desenvoltura, clareza e correção.



Domine a arte de ouvir



O professor necessita ouvir com interesse e atenção. A audição inteligente é ainda facilitada quando atentamos para a fisionomia e para a gesticulação de quem fala. Concernente a esta séria questão, gostaria de contar aos meus leitores um episódio que me ocorreu quando lecionava em determinado seminário do Rio de Janeiro: 



Certa noite, entusiasmado com minhas observações sobre saber ouvir”, decidi fazer uma experiência com meus alunos do curso teológico. No transcurso de uma interessante aula, interrompi abruptamente minha preleção e disse: “Por hoje, é o bastante! Imediatamente depois, fiz duas perguntas: – No que é que vocês estavam pensando quando interrompi a aula? – O que é que eu estava falando? Não sendo possível detalhar o resultado da minha decepcionante pesquisa, contento-me em apenas informar aos leitores minha infeliz pasmaceira: apenas 28% dos meus alunos, de fato, me ouviam. Os outros, como diriam meus filhos, estavam em “off”, completamente desligados. 



Um dos maiores problemas de comunicação, tanto a de massa como a interpessoal, é como o receptor capta uma mensagem. Raríssimas são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está dizendo. 



Ouvir depende de concentração. Ouvir é perceber através do sentido da audição. Escutar significa dirigir a atenção para ouvir. 



Enquanto uma pessoa normal fala, em média 120 a 150 palavras por minuto, nosso pensamento funciona três ou quatro vezes mais depressa. Conseqüentemente surge um mal hábito na audição. Muitas pessoas estão de tal forma ansiosas em provar sua rapidez de apreensão, que antecipam os pensamentos antes de ouvi-los dos lábios do interlocutor. Isso ocorre quando ouvimos a famigerada exclamação: “Já sei o que você vai dizer!” 



Ouvir, portanto, é muito raro. É necessário limpar a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante a fala alheia. Ouvir, implica uma atenção irrestrita ao outro. Daí a dificuldade de as pessoas com raciocínio rápido efetivamente ouvirem. Sua inteligência em funcionamento, seu hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar tudo, interferem como um ruído, na plena recepção daquilo que lhe está sendo falado. 



Às vezes, imaginamos ter tanta coisa “interessante” para dizer, nossas idéias são tão originais e atrativas que é um castigo ouvir. Queremos falar. Falando aparecemos. Ouvindo nos omitimos. Só ouvir, acreditamos, dá aos outros uma impressão desfavorável de nossa inteligência. Por isso falamos, mesmo nada tendo a dizer. Porém não é esse o conselho bíblico. É melhor ouvir que falar. “...mas todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar...” (Tg 1.19).

É através dos sentidos que a alma humana comunica-se com o mundo. No ato de ouvir, percebemos e identificamos os sons pelo sentido da audição. Ouvindo atentamente interpretamos e assimilamos o sentido do que percebemos. 



Não é de hoje a dificuldade que as pessoas têm de ouvir atentamente o que os outros falam. O próprio Senhor Jesus discorreu sobre o tema quando explicava a seus discípulos a razão de falar-lhes por parábolas. Naquela ocasião, o Mestre usou a seguinte expressão: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça...” (Mt 13.9).  Segundo Champlim essa expressão, inclusive usada por Jesus outras vezes, sob diferentes circunstâncias (Mt 11.15; Mc 4.9,23; Ap 2.7,11,17,29; e 3.6,13,22), era um ditado comum entre os judeus, empregado especialmente pelos rabinos. 



“O adágio era usado para chamar a atenção sobre a importância do ensino apresentado, o sentido oculto do ensino e a total compreensão do que fica subentendido no ensino. Jesus queria dizer que seus ensinos deveriam ser ouvidos com atenção e diligência, e que por ausência disso, muitos não poderiam compreendê-lo”. 



Naturalmente que os ouvidos foram feitos para ouvir. Jesus usou o pleonasmo para realçar seus verdadeiros propósitos. Não era suficiente apenas ouvir no sentido de identificar os sons das palavras, era necessário interpretar o sentido delas para praticá-las. Significa: ter ouvidos com capacidade para ouvir e entender os mistérios de Deus. Jesus estava dizendo que, falando por parábolas, nem todos teriam capacidade de ouvir e compreender o pleno sentido de suas palavras. “Ouvindo, não ouvem, nem compreendem” (Mt 13.13). Ouviram com os seus ouvidos os seus ensinamentos, mas permaneceram surdos para as suas implicações. Isto porque a eficiência do aprendizado, através da audição, depende da predisposição da pessoa. Ou seja, a atitude mental de quem ouve é imprescindível. 



Deus outorgou ao homem meios para conhecer a personalidade divina, mas o uso desses meios não é obrigatório. Os indivíduos, por sua própria vontade, podem “fechar” seus ouvidos. 



Infelizmente, em nossas igrejas, muitos ouvem a pregação da Palavra de Deus apenas para cumprir um protocolo eclesiástico. Conforme o dito popular, as palavras “entram por um ouvido e saem por outro” sem sequer serem compreendidas racionalmente. Que dirá refletidas e interiorizadas pela alma e espírito. 


CONCLUSÃO



A emissão, transmissão e recepção do conteúdo didático são componentes da rede de comunicação entre professores e alunos. É necessário enfatizar que da excelente comunicação dependem não só a aprendizagem, mas também a admiração mútua, a cooperação e a criatividade em sala de aula. O professor, que também pretende ser bom comunicador, precisa desenvolver empatia, ou seja, colocar-se no lugar do aluno e, com ele, procurar as melhores respostas para que, ao mesmo tempo que aprende novos conteúdos, desenvolve sua habilidade de pensar. 



Marcos Tuler é pastor, pedagogo, escritor, conferencista e Reitor da FAECAD (Faculdade de Ciência e Tecnologia da CGADB)



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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Lição 12 - 3º Trim. 2013 - A Reciprocidade do Amor Cristão.

Lição 12
A RECIPROCIDADE
DO AMOR CRISTÃO
22 de setembro de 2013

TEXTO ÁUREO

“Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Fp 4.13).

VERDADE PRÁTICA


A igreja de Cristo deve zelar pelo bem-estar dos que a servem, a fim de que não haja necessitados entre os filhos de Deus.

COMENTÁRIO DO TEXTO ÁUREO

“Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Fp 4.13).
O contexto do nosso texto áureo está inserido na declaração de Paulo em ter aprendido e contentar-se sob todas as condições de vida (Fp 4. 12).  Mas não obstante a essa declaração do versículo 12, onde percebemos uma auto-suficiência frente as muitas lutas, tribulações e aflições, ao mesmo tempo, o apóstolo tomou o cuidado de declarar que não dependia inteiramente de si mesmo, mas em tudo dependia do SENHOR, ele tinha a consciência da presença íntima de Cristo, a qual, a todo o tempo lhe supria as forças necessárias.
Muitos foram os sofrimentos de Paulo:
• Ele enfrentou “muitas tribulações” ao servir a Deus (At 14.22).
• Foi afligido no “espírito”, por causa do pecado dominante na sociedade (At 17.16).
• Derramou muitas lágrimas (2 Co 2.4).
• Angústia de espírito, por causa do pecado tolerado dentro da igreja (2 Co 2.1-3).
• Tribulações “por fora e por dentro”, por causa do seu compromisso com a pureza moral e doutrinária da igreja (2 Co 7.5).
• Sofreu três naufrágios e foi apedrejado (2 Co 11.25).
• Enfrentou muitos perigos (2 Co 11.26).
• Frio, fome e nudez (2 Co 11.27).
Uma das regras básicas da interpretação da Bíblia é a análise do texto de acordo com o seu contexto. Por conseguinte, quando alguém, para fantasiar uma existência saudável, rica e isenta de problemas, fundamenta-se, por exemplo, em Filipenses 4.13, está perversamente torcendo a Palavra de Deus.
Além do mais, o próprio Cristo advertiu-nos: “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33).
Não obstante estar na cadeia e estar cheio de experiências difíceis, Paulo declara sua total dependência de Cristo em todas as circunstâncias: “Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade” (Fp 4.12).
Nesse versículo, o apóstolo deixa bem claro que, embora já houvesse experimentado escassez e abundância, jamais deixou de confiar em Deus. Sejam quais fossem as circunstâncias, o Senhor Jesus era a sua contínua suficiência. É por isso que, nEle, o apóstolo podia todas as coisas.
Paulo não ficou rico no seu exercício ministerial. Pelo contrário. Ele iniciou o seu ministério fazendo tendas (At 18.3) e terminou a sua carreira em uma prisão em Roma (Fp 1.3; At 28.30).
No final de seus dias, precisou que Timóteo lhe enviasse uma capa, para se aquecer no cárcere (2 Tm 4.13). O que disso concluímos? O contentamento do apóstolo não dependia da abundância ou da escassez de bens materiais, mas da suficiência em Cristo.
Com certeza este texto áureo é uma dos versículos mais conhecidos e citados das Escrituras Sagradas. Todavia, na maioria das vezes é mencionado de forma equivocada, fora do seu contexto.
De acordo com o Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, p.1313, o apóstolo Paulo nos mostra a termos: “Compromisso com o contentamento (Fp 4.10-13) [...] Nos versos 11-14, Paulo ressalta ser livre da opressão da necessidade”. Sua alegria não se deve a ter suas necessidades satisfeitas, mas ao fato de que a preocupação dos filipenses está fundamentada no Senhor.
O relacionamento de Paulo com Deus tem-no conduzido a um senso de contentamento que transcende sua circunstância imediata. Paulo experimentou tanto a necessidade quanto a abundância.
A palavra usada para ‘necessidade’ aqui, é a mesma para a humilhação de Cristo no capítulo 2.8 de Filipenses; mas, devido a este contexto, provavelmente se refere à privação econômica.
Ele então emprega dois conjuntos de verbos contrastantes para mostrar os extremos através dos quais experimentou contentamento: quando estava bem alimentado, quando teve fome, quando viveu períodos de abundância e quando padeceu necessidades.
Através de todas estas situações, descobriu o segredo do contentamento. Em uma conclusão triunfal, no verso 13 revela a sua principal fonte de contentamento: ‘Posso todas as coisas, naquele que me fortalece’.
Este contexto do verso tem sido frequentemente transgredido, e esta verdade tem sido colocada a serviço de extravagâncias caprichosas. “O apóstolo está claramente se referindo à grande variedade de suas próprias experiências (Fp 4.12)” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed., RJ: CPAD, 2004, p.1313).
Portanto, o “tudo posso” do apóstolo Paulo revela nossa total e completa dependência de Deus. Sendo um homem dependente de Deus, o apóstolo não moldava a sua vida pelas circunstâncias. Cristo era o centro de sua existência.
O mesmo Deus que o fortalecia na abundância, também o sustentava na escassez. Dessa forma, afirmemos com segurança e ousadia: “Tudo posso naquele que me fortalece!” Amém.

RESUMO DA LIÇÃO 12


A RECIPROCIDADE DO AMOR CRISTÃO

I. AS OFERTAS DOS FILIPENSES COMO PROVIDÊNCIA DIVINA
1. Paulo agradece aos filipenses.
2. Reciprocidade entre o apóstolo e a igreja.
3. A igreja deve cuidar dos seus obreiros.

II. O CONTENTAMENTO EM CRISTO EM QUALQUER SITUAÇÃO
1. O contentamento de Paulo .
2. "Sei estar abatido" (v.12).
3. O contentamento desfaz os extremismos.

III. A PRINCIPAL FONTE DO CONTENTAMENTO (4.13)
1. Cristo é quem fortalece.
2. Cristo é a razão do contentamento.
3. O cumprimento da missão como fonte de contentamento.

INTERAÇÃO

Você tem sido generoso para com aqueles que servem a Deus e a igreja?
Então não terá dificuldade alguma em ensinar a respeito do tema proposto para a aula de hoje: a generosidade da igreja para com aqueles que a servem.
Os irmãos de Filipos eram bem generosos.
Eles enviaram os recursos que Paulo necessitava para sobreviver na prisão (4.10-20).
Vivemos em uma sociedade marcada pelo egoísmo, todavia o crente tem em seu coração o amor de Cristo e este amor o leva a ajudar aqueles que necessitam de socorro.
Nossa oferta de amor para aqueles que realizam a obra de Deus revelam a graça do Todo-Poderoso em nossas vidas.
Ofertamos não para recebermos algo em troca, mas o fazemos de coração porque já temos experimentado das dádivas divinas.
Que não venhamos nos esquecer que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35).


OBJETIVOS

Após esta aula, esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Saber que as dádivas dos filipenses era resultado da providência divina.
Compreender que o cristão tem o contentamento de Cristo em qualquer situação.
Explicar a respeito da principal fonte de contentamento do cristão.

COMENTÁRIO


Antes de adentrarmos na lição discutiremos sobre dois  princípios abaixo colocados, extraídos da BÍBLIA DE APLICAÇÃO PESSOAL, CPAD, p.1620.
Explique que estas duas regras devem nortear a nossa doação em favor daqueles que trabalham na obra do Senhor:
•   “Ao entregar uma oferta o valor não é o mais importante, mas sim a disposição de contribuir para o Reino”.
•   “A doação deve ser como resposta a Cristo, e não pelas vantagens que podemos ter por fazê-lo. O modo como doamos reflete a nossa devoção ao Senhor”

INTRODUÇÃO

PALAVRA CHAVE
GENEROSIDADE:
Virtude daquele que se dispõe a sacrificar os próprios interesses em benefício de outrem; magnanimidade, ato generoso; bondade.
Na lição de hoje, aprenderemos a importância da generosidade da igreja para com aqueles que a servem.
Dependente das ofertas dos irmãos para sobreviver no cárcere romano, Paulo expressava uma profunda gratidão à igreja de Filipos pelos recursos enviados por intermédio de Epafrodito (4.10-20).
O apóstolo estava agradecido aos filipenses pelo amor que lhe haviam demonstrado. Ele, porém, destaca que sempre confiou à providência divina o seu sustento, e que sua alegria maior estava não nas ofertas recebidas, e sim no fato de os filipenses terem se lembrado dele.
I. AS OFERTAS DOS FILIPENSES COMO PROVIDÊNCIA DIVINA
1. Paulo agradece aos filipenses.A igreja em Filipos já vinha contribuindo com o ministério de Paulo desde o seu início (v.15).
Agora, o apóstolo fora surpreendido pela segunda oferta enviada a ele, exatamente quando estava preso em Roma. Por isso, agradece e regozija-se pela lembrança dos irmãos (v.10).
Ele declara ainda que a oferta dos filipenses era o fruto da providência divina em seu ministério, pois confiava plenamente em Deus, em qualquer situação.
2. Reciprocidade entre o apóstolo e a igreja. Paulo amava a igreja em Filipos. Esta cidade foi a primeira da Europa a receber a mensagem do Evangelho. Ali, Paulo enfrentou perseguições, prisão e muito sofrimento.
Porém, agora a igreja, firmada em Cristo, demonstra sua gratidão ao apóstolo cuidando dele e ajudando-o em suas necessidades (vv.10,11,15-18).
3. A igreja deve cuidar dos seus obreiros. Nenhum obreiro deve fazer de sua missão um meio de ganhar dinheiro. Todavia, a igreja precisa prover sustento digno àqueles que a servem.
Paulo muito sofreu com a falta de sensibilidade da igreja em Corinto (v.15). Por outro lado, a igreja em Filipos procurou ajudar o apóstolo.
A Palavra de Deus nos exorta quanto ao sustento daqueles que labutam na seara do Senhor: “Não amordaces o boi, quando pisa o trigo” (1Tm 5.18 — ARA).
No mesmo versículo, o apóstolo completa que “digno é o obreiro do seu salário”. Por isso, a igreja deve apoiar devidamente àqueles que são verdadeiramente obreiros, ajudando-os em suas necessidades (1Tm 5.17).
SINOPSE DO TÓPICO (1)
Nenhum obreiro deve fazer de sua missão um meio de ganhar dinheiro, todavia a igreja precisa oferecer sustento digno àqueles que a servem.
II. O CONTENTAMENTO EM CRISTO EM QUALQUER SITUAÇÃO
1. O contentamento de Paulo. O apóstolo aprendeu a contentar-se em toda e qualquer situação. Seu contentamento estava alicerçado no fato de que Deus cuida dos seus servos e ensina-os a viver de forma confiante.
Aos coríntios, Paulo escreveu: “não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus” (2Co 3.5).
Paulo deu o crédito de sua força e contentamento a Deus. Muitos se gabam de sua robustez, coragem e até espiritualidade, esquecendo-se de que a nossa capacidade vem do Senhor.
Para agirmos de forma adequada em meio às provações e privações é preciso reconhecer que dependemos integralmente do Senhor.
2. “Sei estar abatido” (v.12). Paulo inicia o versículo doze dizendo: “Sei estar abatido e também ter abundância”.
Ele estava convicto do cuidado de Deus. Por isso, aceitava as privações sem se envergonhar ou mesmo entristecer-se.
Precisamos acreditar na provisão divina e aprender a contentar-nos em toda e qualquer situação.
Talvez você esteja passando por dificuldades. Não permita, porém, que elas o abatam. Confie no cuidado e na bondade do Pai Celeste. Ele é o nosso provedor.
Para que o Evangelho chegasse aos confins da terra, muitos homens e mulheres, às vezes sem qualquer sustento oficial, deixaram suas famílias e saíram pregando a Palavra de Deus e fundando igrejas.
Esses pioneiros não desistiram, e os resultados ainda podem ser vistos. Hoje, as igrejas, em sua maioria, possuem recursos para enviar obreiros e missionários a outras nações e ali sustentá-los, e devem fazê-lo. Cumpramos, pois, o nosso dever conforme a Bíblia nos recomenda.
3. O contentamento desfaz os extremismos. Apesar de o exemplo paulino e de a Bíblia ensinar-nos acerca do contentamento, é necessário abordar o perigo da adoção dos extremismos nessa questão.
Muitos servos de Deus são obrigados, pela falta de compromisso de suas igrejas, a abandonar a obra de Deus. Para que isso não aconteceça, sejamos fiéis no sustento daqueles que estão servindo a causa do Mestre (1Tm 5.18).
Os obreiros, por sua parte, não podem deixar-se dominar pela avareza e pela ganância. Paulo nos dá uma importante lição quando afirma: “Aprendi a contentar-me com o que tenho” (v.11).
O culto ao Senhor não pode ser transformado em uma fonte de renda. É o próprio apóstolo Paulo quem ensina a nos apartar daqueles que não se conformam “com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade”.
Isto porque, os tais apreciam “contendas de homens corruptos de entendimento e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho” (1Tm 6.5).
O ensino paulino demonstra que a piedade, com contentamento, já é, por si mesma, um “grande ganho” (1Tm 6.6).

SINOPSE DO TÓPICO (2)
O crente pode contentar-se em toda e qualquer situação, pois seu contentamento está no fato de que Deus cuida dos seus servos e ensina-os a viver de forma confiante.
III. A PRINCIPAL FONTE DO CONTENTAMENTO (4.13)
1. Cristo é quem fortalece. Paulo nos ensina, com a declaração do versículo 13, que sua suficiência sempre esteve em Cristo. O que fez com que Paulo suportasse tantas adversidades?
Havia algum segredo? Não! O que fez do apóstolo um vencedor foi a sua fé em Jesus Cristo, aquele que tudo pode.
A força do seu ministério era o Senhor. Você quer forças para vencer os obstáculos em seu ministério? Confie plenamente no Senhor!
2. Cristo é a razão do contentamento. Nossa alegria e força vêm do Senhor Jesus. Segundo Matthew Henry, “temos necessidade de obter forças de Cristo, para sermos capacitados a realizar não somente as obrigações puramente cristãs.
Precisamos da força dEle para nos ensinar a como ficar contente em cada condição”. Busque ao Senhor e permita que a alegria divina preencha a sua alma (Ne 8.10).
3. O cumprimento da missão como fonte de contentamento. Uma vez que o objetivo de Paulo era pregar o Evangelho em toda parte, nada lhe era mais importante que ganhar almas para o Reino de Deus.
Nenhuma dificuldade financeira roubaria a visão missionária do apóstolo. Ele não se angustiava pela privação material e social. Pelo contrário, a alegria do Senhor era a sua força.
Paulo regozijava-se com a suficiência que tinha de Cristo. O descontentamento é como uma planta má que faz brotar a avareza (Hb 13.5,6), o roubo (Lc 3.14) e a preocupação com as coisas materiais (Mt 6.25-34).
Por isso, contente-se em Cristo! Ele tomará conta de nós.
SINÓPSE DO TÓPICO (3)
Cristo é a razão do contentamento, nossa alegria e força vêm dEle.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aprendemos na lição de hoje, que a igreja de Cristo deve zelar pelo bem-estar dos seus obreiros, a fim de que não venham a passar privações.
Todavia, a real motivação para servirmos à igreja de Deus jamais devem ser as recompensas materiais.
Confiemos na provisão divina, pois assim seremos felizes em toda e qualquer situação.
Nosso contentamento em meio às adversidades é resultado da nossa fé e comunhão com o Senhor Jesus.
Que estejamos na dependência do Senhor, para que Ele nos conceda alegria e força a fim de vencermos as vicissitudes e tribulações da vida.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
RICHARDS, L. O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2007. PEARLMAN, M. Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs. 1 ed., RJ: CPAD, 1998.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio Teológico
“Graças pelo dom e comunhão deles. A principal razão para Paulo escrever a essa igreja e de estar agradecido por esses irmãos é a expressão concreta deles de apoio a ele (4.1-18). Essa igreja enviou um presente em dinheiro para auxiliar Paulo enquanto estava na prisão (4.10-18). Paulo chama esse presente de ‘comunic[ar] com ele, usando a forma verbal (ekoinõsen, v.15) da palavra grega para comunhão (koinonia). Eles comungam com ele ao participar de seu ministério por meio dessa expressão concreta de amor e de preocupação. Paulo não esperava nem pretendia esse auxílio. Paulo aprendeu a se contentar seja qual fosse sua situação, quer na pobreza quer na abundância. Na verdade, quando Paulo escreve que pode todas as coisas por intermédio de Cristo que o fortalece (4.13), ele quer dizer que pode enfrentar todo tipo de circunstância ou situação financeira sem perder de vista o propósito de Deus para ele. Por isso, recebe o presente deles com gratidão, no qual ele diz ser ‘oferta de aroma suave’ a Deus (4.18 — NVI). A preocupação deles faz com que lhes assegure que Deus também cuida deles (4.19)’” (ZUCK, R. B. (Ed.) Teologia do Novo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2008, p.365).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II
Subsídio Teológico
“Nos versos 15 e 16, Paulo alegremente relembra o apoio que os filipenses lhe ofereceram”. Relembra os dias anteriores, quando o evangelho foi proclamado pela primeira vez em Filipos (At 16.4). Quando o apóstolo passou pela Macedônia até a Acaia, em sua segunda viagem missionária, a igreja em Filipos foi a única a sustentar seus esforços. Na linguagem emprestada do mundo comercial, o apóstolo considerou sua parceria como uma questão de ‘dar e receber’ (termos aproximadamente equivalente aos conceitos de débito e crédito). Paulo ‘deu’ o evangelho aos filipenses e ‘recebeu’ seu apoio. De fato, o verso 16 indica que por mais de uma vez enviaram sua assistência a Paulo antes que deixasse a Macedônia, enquanto ainda estava na cidade vizinha de Tessalônica (At 17.1-9). Os filipenses, por sua vez, ‘deram’ seu apoio material e moral a Paulo, tendo recebido a mensagem das boas novas e agido de acordo com esta.
No versículo 17, Paulo reitera a pureza de seus motivos em sua expressão de gratidão aos cristãos de Filipos. Não está procurando ‘dádivas’ ou agradecendo de alguma maneira que venha a ser a base para favores futuros. Sua motivação visa o benefício deles. Sua descrição da recompensa que terão por associarem-se a ele na obra de Deus é expressa em termos financeiros. Sua participação no Evangelho produzirá juros ou dividendos (literalmente ‘fruto’), o que resultará no ‘aumento da conta’ deles” (ARRINGTON, F. L.; STRONSTAD, R. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 4 ed., RJ: CPAD, 2004. p.510).
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
A reciprocidade do Amor Cristão
“Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; [...] Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12.30,31). Estes dois mandamentos eram o estrado da prática cristã na Igreja do Primeiro Século. Eles aparecem implicitamente na porção escrita pelo apóstolo Paulo. Antes o apóstolo havia ordenado aos filipenses a regozijarem-se, mas agora ele é quem se regozija em Deus pela atitude amorosa dos irmãos para com a sua vida. Esses crentes, através das ofertas, supriram a necessidade do apóstolo dos gentios.
O amor mútuo e profundo dos irmãos filipenses pelo o apóstolo Paulo era forjado nas raias do sofrimento. A alegria de Paulo não se deu pelo valor da oferta, mas por aquilo que ela significava. Não era uma oferta negociada pelas regras comerciais e de mercado, mas geradas pelo amor recíproco da comunidade de Filipos para com seu pai na fé. Este ato de amor faz o apóstolo reviver reminiscências entre ele e os filipenses. Como sofreram juntos pelo o amor do Evangelho! Caminharam dia e noite objetivando demonstrar a verdade que gera vida. Ao receber a oferta de amor da igreja tais recordações explodiram como bomba no coração do apóstolo.
O apóstolo não se turbava porque através da demonstração de amor dos seus filhos na fé, ele compreendia que o próprio Cristo o fortalecera no amor partilhado pelos seus irmãos. Paulo vivia uma vida de grande contentamento em Deus, pois no amor recíproco ele sente-se recompensado por Deus em tudo. O contentamento de Paulo o faz jamais elevar a sua voz para murmurar das circunstâncias que lhe rodeavam. Ele compreende e aceita a vocação de padecer por amor ao Evangelho.

Interessante ressaltar que, apesar de Paulo receber ofertas dos irmãos de Filipos, a sua confiança não está nelas, pois o apóstolo estava instruído em tudo, seja no abatimento, seja na abundância; a ter fartura como a passar fome. Esta experiência não o permitia a dissimular e ser avarento. O apóstolo tinha decidido há muito deixar o conforto do farisaísmo para padecer por Cristo. Ele bem sabia o que isto representava. Por isso, Paulo tinha outro olhar quando recebia a oferta de amor dos filipenses. Não para o dinheiro, mas para motivação amorosa que se escondia por de trás daquele ato filipense.  FONTE: www.professoralberto.com.br

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Savonarola, o Profeta de Florença.

PERFIL

Esdras Costa Bentho é pastor, teólogo, especialista em Hermenêutica Bíblica e pesquisador em Hermenêutica Filosófica, chefe do Setor de Bíblias e Obras Especiais da CPAD e escritor. É autor dos livros “A Família no Antigo Testamento – História e Sociologia” e “Hermenêutica Fácil e Descomplicada”, e co-autor de “Davi: As vitórias e derrotas de um homem de Deus”, todos títulos da CPAD. 


  

Savonarola, o Profeta de Florença.

Vida e fé numa era de crise espiritual do clero.
Girolamo Savonarola, ou Savonarola como é conhecido, foi um dos pré-reformadores cuja atuação específica foi na Itália. Nasceu em Ferrara, onde seu avô paterno, um médico conhecido tanto por sua devoção quanto por sua retidão moral, o educou. Deste avô recebeu princípios cristãos que o levaram, ainda jovem, a unir-se à ordem dos pregadores de São Domingos, ou dominicanos. Em pouco tempo, Savonarola se distinguiu por sua dedicação ao estudo das Escrituras e pela santidade.
Depois de pregar em várias regiões do norte da Itália, chegou a Florença em 1490, para servir como preletor público em San Marco, a pedido de Lourenço de Médicis. Savonarola foi mestre de estudos no Convento Dominicano de Bologna. As multidões logo foram atraídas a San Marco por causa de seus sermões vivos e impactantes. Sua popularidade cresceu rapidamente e, em 1491, ele foi convidado para pregar em Santa Maria das Flores, a igreja mais importante da cidade. Savonarola pregou contra a corrupção que reinava em todos os níveis sociais, e contra os impostos pesados exigidos por Lourenço de Médicis – responsável por colocar Florença no epicentro do Renascimento. Por sua vez, Lourenço contratou um pregador para atacar Savonarola do seu púlpito, mas sem qualquer sucesso. Sua pregação não agradou aos poderosos locais, e Lourenço de Médicis logo se arrependeu de tê-lo convidado a ser pregador em Florença.
Médicis tentou abafar a voz do profeta de Florença, mas o monge dominicano respondeu que ninguém podia mandar calar a Palavra de Deus. Poucos meses depois Savonarola foi eleito prior de San Marco. Quando alguns frades lhe disseram que era costume cada novo prior fazer uma visita de cortesia a Lourenço de Médicis, para agradecer-lhe sua boa vontade para com a casa, frei Jerônimo simplesmente contestou, dizendo que devia sua eleição a Deus e não a Lourenço e, que por isso, iria se retirar para dar graças a Deus e se colocar sob suas ordens.
Pouco tempo depois, Jerônimo mandou vender todas as propriedades do convento para dar o dinheiro aos pobres. A vida dos frades passou a ser um exemplo proverbial de santidade e serviço. O sonho de Savonarola era que San Marco se convertesse em um centro missionário e, por conseguinte, eram estudados no convento, além do latim e do grego, o hebraico, o árabe e o caldeu.
Savonarola era um pregador profético. Seus sermões incluíam predições para aqueles dias. Profetizou a invasão de Florença pelos franceses, o que ocorreu dois anos depois. O cumprimento das profecias atestavam o ministério profético do frade e, por esta razão, muitos eram arrebanhados. Savonarola previu que assim como os montes seriam jogados no fundo do mar, também a frota que invadia Florença e uma esquadra da Santa Aliança seria lançada ao mar. Pouco depois, uma tempestade imprevista destruiu a esquadra da Santa Aliança, vários navios afundaram, e os invasores viram-se obrigados a levantar o sítio. Isto trouxe não poucos problemas. Quando uma crise financeira assolou Florença, não faltaram críticas pelo fato de Savonarola, o profeta, não tirar Florença de seus problemas.
Não tardou para que o Papa Alexandre VI, inconformado com as mensagens de Jerônimo contra as injustiças e a imoralidade do clero, enviasse bulas de excomunhão contra ele. Savonarola, com apoio do governo florentino, não aceitou a excomunhão afirmando que não era válida, pois baseava-se em supostas heresias que ele não pregara.
O Papa mandou Jerônimo calar, o que este fez provisoriamente; no entanto, usou a imprensa para divulgar os seus sermões, cada vez mais virulentos contra o clero. Pela primeira vez a imprensa fora usada como instrumento de propaganda religiosa, pois os escritos eram lidos avidamente, tanto em Florença quanto fora da cidade. Quando o Papa Alexandre VI tentou comprar o silêncio de Jerônimo, oferecendo-lhe o chapéu cardinalício, Savonarola retrucou: “-Não quero outro chapéu que um vermelho: vermelho de sangue”.
Após várias escaramuças, Savonarola foi preso e torturado. Três julgamentos se seguiram e o frei dominicano foi condenado sem misericórdia. Não havia ninguém que o defendesse. Fora cuspido, esbofeteado e humilhado com palavras grosseiras, condenado como “herege cismático”, apesar de nunca terem provado ou dito qual era a heresia pelo qual estava sendo acusado. Foi enforcado juntamente com outros dois seguidores da “heresia de Savonarola”, e depois queimado.