Perfil
Pr. Marcos Tuler.
Didáticos para a Escola Dominical" todos editados pela CPAD. É membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil."Abordagens e Práticas Pedagógicas", "Recursos Didáticos para a Escola Dominical" todos editados pela CPAD. É membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil.
Como tornar a comunicação eficiente no âmbito da sala de aula!
Há professores que, por falta de conhecimento ou sensibilidade docente, não percebem que são maus comunicadores. A impressão que temos é que se preocupam com a medíocre exposição de sua matéria em detrimento da educação propriamente dita. O professor acha que sua função consiste em transmitir conhecimentos e que é obrigação do aluno ouvir e compreender. Alguns educadores costumam chamar esta tendência ao monólogo de “salivação”, ou seja, o professor fala o tempo todo e os alunos, em atitude de extrema passividade, apenas ouvem.
A comunicação entre alunos e professores deve ser bilateral ou multilateral e nunca unilateral. Em outras palavras, os alunos devem expressar livremente suas opiniões, idéias e sentimentos. Portanto, é aconselhável que o mestre promova entre eles debates, discussões, trabalhos em grupos, dinâmicas, incentivando a troca de experiências e informações.
A raiz do problema
Alguns, têm suas idéias tão mal, ou tão perfeitamente organizadas, que não há neles lugar para a imaginação criativa dos alunos. Quando as idéias do professor estão desorganizadas, sua mensagem é confusa e insegura. Os tais preferem o monólogo, isto é, a criticada “salivação”. Outros costumam ensinar partindo da seguinte premissa: “Se os alunos mais inteligentes dos primeiros assentos entendem o que eu falo, todos os demais também entenderão”. Ora, isso é simplesmente um absurdo!
Em relação à linguagem, muitos são os que costumam utilizar conceitos ou termos que ainda não existem na experiência dos estudantes. Ao contrário destes, há os que assumem uma postura bem mais nociva: não se preocupam em enriquecer o vocabulário dos alunos.
A maneira de expor a matéria é outro problema que dificulta a boa comunicação entre educadores e educandos. Muitos mestres colocam tantas idéias em cada exposição que somente algumas delas são compreendidas e retidas na mente do aluno. Falar rápido demais, articular mal as palavras, usar voz baixa e em tom monótono são comportamentos igualmente perniciosos.
Se existem professores que não utilizam meios visuais para comunicar conceitos, ou relações que exigem apresentação gráfica, há também os que utilizam recursos visuais de forma inadequada: por exemplo, empregam o quadro-negro sem planejamento algum, escrevendo e desenhando ora aqui, ora ali, com muita confusão e desordem. Aqui está um breve resumo dos principais problemas que atrapalham a comunicação entre docentes e discentes em qualquer nível do processo ensino-aprendizagem.
A eficiência da comunicação resulta fundamentalmente do seguinte: clareza, precisão, simplicidade, criatividade e objetividade da mensagem.
Identifique o foco de interesse da aula
Seus alunos têm interesse no conteúdo da aula? 2) Em que tipo de matéria eles têm interesse? 3) Você costuma variar seus métodos?
Os objetivos e os conteúdos merecem atenção especial. Refletem eles a necessidade e o interesse do aluno? É a partir desse foco que será realizado o contexto, ou situação estímulo, para que se processe a aprendizagem. Muitas vezes, a comunicação não se efetiva devido à ausência de um foco de interesse. O professor fala e os alunos fazem ou pensam outra coisa.
Ajuste a mensagem às condições dos alunos
Você conhece seus alunos? Certamente sua turma é heterogênea. Você conhece seus alunos individualmente? Qual o nível intelectual, escolar, sócio-cultural, e espiritual da sua classe? E quanto ao nível vocabular? E quanto a experiência cristã? “Você sabe como seus alunos se relacionam com a comunidade onde vivem?” “Conhece seus interesses, suas dificuldades e dúvidas?” “Sabe algo sobre seu desempenho nos estudos seculares ou no trabalho?” “Mantém boas relações com suas famílias?” “Conhece algum problema em particular em suas vidas?” “O que poderia dizer sobre seus testemunhos? “Há alguma coisa especial de que necessitam?” “Você está disposto a passar mais tempo com eles para guiá-los, instruí-los, consolá-los e desfrutar de sua amizade?” “Tem você orado com e por eles?”
Avalie o potencial de sua classe
Faça um pré-teste no início de cada lição ou trimestre. A avaliação prévia ou diagnóstica tem por objetivo verificar o que a classe não sabe ou até que ponto conhece a matéria.
Tarefas muito difíceis, confusas, ou muito fáceis não despertam o aluno para a ação. O aluno possui possibilidades de vocabulário que necessitam ser consideradas pelo professor. Só existe aprendizagem se o aluno modifica seu comportamento. Entretanto, ele não modificará seu comportamento se não possuir a base necessária para tal. As experiências dos alunos permitem ou facilitam a nova aprendizagem? Possuem eles capacidade para entender o que o professor está informando ou pretende informar?
Organize a mensagem equilibrando conhecimentos novos com antigos.
Se tudo que se pretende transmitir já é conhecido do aluno, não há razão para a comunicação. Bem como, se a mensagem for totalmente estruturada com elementos novos o aluno não terá capacidade de apreendê-la.
Recapitule!
Recapitular envolve três tempos: Explica o que vai ser estudado; reforça o que está sendo ensinado e revisa o que foi ensinado. Quando recapitular? No início da aula, após cada ponto importante, ao final da lição ou no término de uma série de lições sobre um mesmo tempo.
Estabeleça uma seqüência permitindo que o aluno avance progressivamente até à assimilação da informação. Para chegar ao domínio de conceitos complexos, é necessário partir do exame de conceitos ordinários, sejam estes dominados ou não pelos alunos.
Seja conciso em sua exposição
Expor as idéias em poucas palavras é uma virtude extremamente necessária à práxis docente. Nos desligamos facilmente quando ouvimos pessoas prolixas. Aquelas que dizem muita coisa, porém, inútil e irrelevante.
Desenvolva uma linguagem natural. Isto é, que seu comportamento verbal seja claro, consistente e coerente, expressando idéias bem conectadas.
Utilize a linguagem didática
O que é linguagem no ensino? O que é linguagem didática?
A linguagem é o principal recurso de comunicação de que o professor se utiliza para ministrar informações, prestar esclarecimentos aos alunos e orientar-lhes todo o processo de aprendizagem.
A linguagem didática se distingue tanto do linguajar vulgar, indisciplinado e quase sempre incorreto, como do estilo solene e formalizado. A linguagem didática situa-se a meio termo entre estes dois extremos.
Características: Instrutivas e educativas
Instrutivas: Em relação ao estilo e elocução
Quanto ao estilo, a linguagem deve ser:
1) Simples, natural e fluente (vacilante, tortuosa, rebuscada).
2) Sóbria, direta e incisiva (sem rodeios).
3) Clara e acessível (sem termos difíceis, pouco usados e incompreensíveis; neologismos, excesso de termos técnicos).
4) Exata e precisa (sem ambigüidades, indecisões ou equívocos).
5) Gramaticalmente correta.
Quanto à elocução, a linguagem dever ser:
1) Bem articulada e com boa dicção.
2) Enunciada com voz clara e firme.
3) Animada, expressiva e enfática.
4) Evitar maus hábitos, tais como: “hã”, “entendeu”, “muito bem”, interpolados com intervalos freqüentes.
Obs: O uso de tais enchimentos é, em geral, uma reação nervosa e reflete uma tentativa oral de tomar tempo para os processos mentais do professor.
Educativas:
1) Educar o ouvido dos alunos à boa linguagem, correta e expressiva.
2) Desenvolver nos alunos a apreciação e o bom gosto pela linguagem correta e apurada.
3) Formar nos alunos o hábito de falar com desenvoltura, clareza e correção.
Domine a arte de ouvir
O professor necessita ouvir com interesse e atenção. A audição inteligente é ainda facilitada quando atentamos para a fisionomia e para a gesticulação de quem fala. Concernente a esta séria questão, gostaria de contar aos meus leitores um episódio que me ocorreu quando lecionava em determinado seminário do Rio de Janeiro:
Certa noite, entusiasmado com minhas observações sobre saber ouvir”, decidi fazer uma experiência com meus alunos do curso teológico. No transcurso de uma interessante aula, interrompi abruptamente minha preleção e disse: “Por hoje, é o bastante! Imediatamente depois, fiz duas perguntas: – No que é que vocês estavam pensando quando interrompi a aula? – O que é que eu estava falando? Não sendo possível detalhar o resultado da minha decepcionante pesquisa, contento-me em apenas informar aos leitores minha infeliz pasmaceira: apenas 28% dos meus alunos, de fato, me ouviam. Os outros, como diriam meus filhos, estavam em “off”, completamente desligados.
Um dos maiores problemas de comunicação, tanto a de massa como a interpessoal, é como o receptor capta uma mensagem. Raríssimas são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está dizendo.
Ouvir depende de concentração. Ouvir é perceber através do sentido da audição. Escutar significa dirigir a atenção para ouvir.
Enquanto uma pessoa normal fala, em média 120 a 150 palavras por minuto, nosso pensamento funciona três ou quatro vezes mais depressa. Conseqüentemente surge um mal hábito na audição. Muitas pessoas estão de tal forma ansiosas em provar sua rapidez de apreensão, que antecipam os pensamentos antes de ouvi-los dos lábios do interlocutor. Isso ocorre quando ouvimos a famigerada exclamação: “Já sei o que você vai dizer!”
Ouvir, portanto, é muito raro. É necessário limpar a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante a fala alheia. Ouvir, implica uma atenção irrestrita ao outro. Daí a dificuldade de as pessoas com raciocínio rápido efetivamente ouvirem. Sua inteligência em funcionamento, seu hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar tudo, interferem como um ruído, na plena recepção daquilo que lhe está sendo falado.
Às vezes, imaginamos ter tanta coisa “interessante” para dizer, nossas idéias são tão originais e atrativas que é um castigo ouvir. Queremos falar. Falando aparecemos. Ouvindo nos omitimos. Só ouvir, acreditamos, dá aos outros uma impressão desfavorável de nossa inteligência. Por isso falamos, mesmo nada tendo a dizer. Porém não é esse o conselho bíblico. É melhor ouvir que falar. “...mas todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar...” (Tg 1.19).
É através dos sentidos que a alma humana comunica-se com o mundo. No ato de ouvir, percebemos e identificamos os sons pelo sentido da audição. Ouvindo atentamente interpretamos e assimilamos o sentido do que percebemos.
Não é de hoje a dificuldade que as pessoas têm de ouvir atentamente o que os outros falam. O próprio Senhor Jesus discorreu sobre o tema quando explicava a seus discípulos a razão de falar-lhes por parábolas. Naquela ocasião, o Mestre usou a seguinte expressão: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça...” (Mt 13.9). Segundo Champlim essa expressão, inclusive usada por Jesus outras vezes, sob diferentes circunstâncias (Mt 11.15; Mc 4.9,23; Ap 2.7,11,17,29; e 3.6,13,22), era um ditado comum entre os judeus, empregado especialmente pelos rabinos.
“O adágio era usado para chamar a atenção sobre a importância do ensino apresentado, o sentido oculto do ensino e a total compreensão do que fica subentendido no ensino. Jesus queria dizer que seus ensinos deveriam ser ouvidos com atenção e diligência, e que por ausência disso, muitos não poderiam compreendê-lo”.
Naturalmente que os ouvidos foram feitos para ouvir. Jesus usou o pleonasmo para realçar seus verdadeiros propósitos. Não era suficiente apenas ouvir no sentido de identificar os sons das palavras, era necessário interpretar o sentido delas para praticá-las. Significa: ter ouvidos com capacidade para ouvir e entender os mistérios de Deus. Jesus estava dizendo que, falando por parábolas, nem todos teriam capacidade de ouvir e compreender o pleno sentido de suas palavras. “Ouvindo, não ouvem, nem compreendem” (Mt 13.13). Ouviram com os seus ouvidos os seus ensinamentos, mas permaneceram surdos para as suas implicações. Isto porque a eficiência do aprendizado, através da audição, depende da predisposição da pessoa. Ou seja, a atitude mental de quem ouve é imprescindível.
Deus outorgou ao homem meios para conhecer a personalidade divina, mas o uso desses meios não é obrigatório. Os indivíduos, por sua própria vontade, podem “fechar” seus ouvidos.
Infelizmente, em nossas igrejas, muitos ouvem a pregação da Palavra de Deus apenas para cumprir um protocolo eclesiástico. Conforme o dito popular, as palavras “entram por um ouvido e saem por outro” sem sequer serem compreendidas racionalmente. Que dirá refletidas e interiorizadas pela alma e espírito.
CONCLUSÃO
A emissão, transmissão e recepção do conteúdo didático são componentes da rede de comunicação entre professores e alunos. É necessário enfatizar que da excelente comunicação dependem não só a aprendizagem, mas também a admiração mútua, a cooperação e a criatividade em sala de aula. O professor, que também pretende ser bom comunicador, precisa desenvolver empatia, ou seja, colocar-se no lugar do aluno e, com ele, procurar as melhores respostas para que, ao mesmo tempo que aprende novos conteúdos, desenvolve sua habilidade de pensar.
Marcos Tuler é pastor, pedagogo, escritor, conferencista e Reitor da FAECAD (Faculdade de Ciência e Tecnologia da CGADB)
Contatos
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