PERFIL
Esdras Costa Bentho é pastor, teólogo, especialista em Hermenêutica Bíblica e pesquisador em Hermenêutica Filosófica, chefe do Setor de Bíblias e Obras Especiais da CPAD e escritor. É autor dos livros “A Família no Antigo Testamento – História e Sociologia” e “Hermenêutica Fácil e Descomplicada”, e co-autor de “Davi: As vitórias e derrotas de um homem de Deus”, todos títulos da CPAD.
Savonarola, o Profeta de Florença.
Vida e fé numa era de crise espiritual do clero.
Girolamo Savonarola, ou Savonarola como é conhecido, foi um dos pré-reformadores cuja atuação específica foi na Itália. Nasceu em Ferrara, onde seu avô paterno, um médico conhecido tanto por sua devoção quanto por sua retidão moral, o educou. Deste avô recebeu princípios cristãos que o levaram, ainda jovem, a unir-se à ordem dos pregadores de São Domingos, ou dominicanos. Em pouco tempo, Savonarola se distinguiu por sua dedicação ao estudo das Escrituras e pela santidade.
Depois de pregar em várias regiões do norte da Itália, chegou a Florença em 1490, para servir como preletor público em San Marco, a pedido de Lourenço de Médicis. Savonarola foi mestre de estudos no Convento Dominicano de Bologna. As multidões logo foram atraídas a San Marco por causa de seus sermões vivos e impactantes. Sua popularidade cresceu rapidamente e, em 1491, ele foi convidado para pregar em Santa Maria das Flores, a igreja mais importante da cidade. Savonarola pregou contra a corrupção que reinava em todos os níveis sociais, e contra os impostos pesados exigidos por Lourenço de Médicis – responsável por colocar Florença no epicentro do Renascimento. Por sua vez, Lourenço contratou um pregador para atacar Savonarola do seu púlpito, mas sem qualquer sucesso. Sua pregação não agradou aos poderosos locais, e Lourenço de Médicis logo se arrependeu de tê-lo convidado a ser pregador em Florença.
Médicis tentou abafar a voz do profeta de Florença, mas o monge dominicano respondeu que ninguém podia mandar calar a Palavra de Deus. Poucos meses depois Savonarola foi eleito prior de San Marco. Quando alguns frades lhe disseram que era costume cada novo prior fazer uma visita de cortesia a Lourenço de Médicis, para agradecer-lhe sua boa vontade para com a casa, frei Jerônimo simplesmente contestou, dizendo que devia sua eleição a Deus e não a Lourenço e, que por isso, iria se retirar para dar graças a Deus e se colocar sob suas ordens.
Pouco tempo depois, Jerônimo mandou vender todas as propriedades do convento para dar o dinheiro aos pobres. A vida dos frades passou a ser um exemplo proverbial de santidade e serviço. O sonho de Savonarola era que San Marco se convertesse em um centro missionário e, por conseguinte, eram estudados no convento, além do latim e do grego, o hebraico, o árabe e o caldeu.
Savonarola era um pregador profético. Seus sermões incluíam predições para aqueles dias. Profetizou a invasão de Florença pelos franceses, o que ocorreu dois anos depois. O cumprimento das profecias atestavam o ministério profético do frade e, por esta razão, muitos eram arrebanhados. Savonarola previu que assim como os montes seriam jogados no fundo do mar, também a frota que invadia Florença e uma esquadra da Santa Aliança seria lançada ao mar. Pouco depois, uma tempestade imprevista destruiu a esquadra da Santa Aliança, vários navios afundaram, e os invasores viram-se obrigados a levantar o sítio. Isto trouxe não poucos problemas. Quando uma crise financeira assolou Florença, não faltaram críticas pelo fato de Savonarola, o profeta, não tirar Florença de seus problemas.
Não tardou para que o Papa Alexandre VI, inconformado com as mensagens de Jerônimo contra as injustiças e a imoralidade do clero, enviasse bulas de excomunhão contra ele. Savonarola, com apoio do governo florentino, não aceitou a excomunhão afirmando que não era válida, pois baseava-se em supostas heresias que ele não pregara.
O Papa mandou Jerônimo calar, o que este fez provisoriamente; no entanto, usou a imprensa para divulgar os seus sermões, cada vez mais virulentos contra o clero. Pela primeira vez a imprensa fora usada como instrumento de propaganda religiosa, pois os escritos eram lidos avidamente, tanto em Florença quanto fora da cidade. Quando o Papa Alexandre VI tentou comprar o silêncio de Jerônimo, oferecendo-lhe o chapéu cardinalício, Savonarola retrucou: “-Não quero outro chapéu que um vermelho: vermelho de sangue”.
Após várias escaramuças, Savonarola foi preso e torturado. Três julgamentos se seguiram e o frei dominicano foi condenado sem misericórdia. Não havia ninguém que o defendesse. Fora cuspido, esbofeteado e humilhado com palavras grosseiras, condenado como “herege cismático”, apesar de nunca terem provado ou dito qual era a heresia pelo qual estava sendo acusado. Foi enforcado juntamente com outros dois seguidores da “heresia de Savonarola”, e depois queimado.
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