quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Lição 04 - 1º Trimestre 2020 - Os Atributos do Ser Humano - Adultos.

Lição 4 - Os Atributos do Ser Humano 

1º Trimestre de 2020
ESBOÇO GERAL
I – A ESPIRITUALIDADE HUMANA 
II – A RACIONALIDADE HUMANA
III – A SOCIABILIDADE HUMANA
IV – A LIBERDADE HUMANA
V – A CRIATIVIDADE HUMANA E O TRABALHO

A RACIONALIDADE HUMANA
Claudionor de Andrade
Tenhamos em mente esta proposição: Deus é um ser racional. Logo, há perfeita harmonia entre a genuína razão e a fé bíblica. Por isso mesmo, Ele requer, de cada um de nós, um culto racional. 
1. Deus é um ser racional. Certa vez, o Senhor desafiou o povo de Judá, que caíra na apostasia, a arrazoar acerca do verdadeiro caminho (Is 1.18). Portanto, Ele requer de seus servos uma postura racional, porquanto dotou-nos de razão. Não temos uma natureza animal e bruta, mas racional e inteligente (Sl 32.9).
De acordo com a Bíblia Sagrada — o mais razoável e lógico dos livros —, a razão é o instrumento com que o Criador nos dotou, a fim de administrarmos o universo visível. Não há, pois, incompatibilidade entre a razão, quando usada corretamente, e a genuína fé em Deus. Embora esta se ache acima daquela, entre ambas não há qualquer antagonismo.
Em sua Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo demonstra que os gentios, ao atentarem razoavelmente à criação divina, chegam a uma conclusão mais do que lógica: a existência do Único e Verdadeiro Deus. Haja vista o ocorrido em Atenas. Apesar de todos os altares dedicados, ali, ao panteão grego, havia um espaço singular consagrado ao Deus Desconhecido.
Tributamos erradamente a Aristóteles (384-322 a.C.) a invenção da lógica, pois tal ciência, cujo objetivo é investigar nossas operações intelectuais, não foi inventada por homem algum; é um recurso que Deus colocou na alma de todos os seres humanos. Se dela fizermos bom uso, lograremos descobrir as verdades que estão ao nosso alcance. Mas, se a alimentarmos com inverdades, concluiremos enganos e mentiras, pois nem tudo o que é lógico é verdadeiro. 
No que tange à lógica, como legítimo instrumento de pesquisa, Salomão usou-a de forma sistemática bem antes de Aristóteles e de Francis Bacon (1561-1626). Assim escreveu o mais sábio dos homens: “Eis o que achei, diz o Pregador, conferindo uma coisa com outra, para a respeito delas formar o meu juízo [...]. Eis o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7.27-29, ARA).    
2. A harmonia entre racionalidade e espiritualidade. A verdadeira espiritualidade manifesta-se de maneira racional, porquanto o nosso Deus é um ser racional por excelência. Ele não é de confusão (1 Co 14.33). Para que o agrademos, o Espírito Santo nos desenvolve a inteligência espiritual (Cl 1.9).
Se Deus não fosse um ser racional, nós também não o seríamos, porquanto Ele nos criou segundo à sua imagem e semelhança. E, nessa semelhança e imagem, encontra-se, logicamente, o atributo da racionalidade. Doutra forma, a comunhão da criatura com o Criador seria impossível, porque jamais viríamos a entendê-lo, nem Ele, apesar de toda a sua ciência e presença, lograria compreender-nos. Mas, sendo Ele um Ser perfeitamente racional e infinitamente sábio, criou seres racionais e também sábios: anjos e homens. É claro que a nossa racionalidade e sabedoria são imperfeitas e limitadas, quando comparadas à razão e ao saber divinos, mas tais limites e imperfeições não nos incapacitam de ouvir e entender o Pai Celeste.
Que Deus é um ser racional, não há dúvida. Todavia, não necessita Ele de operações intelectuais, como a lógica, para descobrir o que é certo e errado, ou o que é verdade e mentira. Ele sabe de todas as coisas; conhece-as absolutamente desde o princípio até o fim; presente, passado e futuro não lhe constituem qualquer mistério. Enfim, Deus não precisa raciocinar para concluir que dois mais dois são quatro, porque não somente as operações matemáticas, como a própria matemática, saiu de seu espírito. NEle, e somente nEle, residem todos os tesouros da ciência.
Embora perfeito em conhecimento, Deus revelou-se de tal maneira à humanidade, que até mesmo a criança mais débil e o homem mais ignóbil são capazes de compreender as belezas e mistérios do Evangelho, conforme o Filho, exultante, agradece ao Pai: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Lc 10.2, ARA). Por esse motivo, o Senhor Jesus ordenou-nos a pregar as Boas Novas a toda a criatura, porque todos, até mesmos, os loucos, são habilitados, pelo Espírito Santo, a entender, aceitar e viver as verdades evangélicas (Is 3.8). Caso contrário, a mensagem da cruz seria algo tão inútil como as filosofias que, forjadas nas academias mundanas, são ininteligíveis até mesmo aos que as escrevem.
Quanto aos sábios deste mundo, que confiam no próprio saber e fazem da lógica a sua pedra de esquina, o Evangelho torna-se algo incompreensível, louco e escandalizável, conforme escreve Paulo aos irmãos de Corinto: 
Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos. Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. (1 Co 1.18-25, ARA)
Há os que ensinam que só viremos a compreender o Evangelho de Cristo, se nos munirmos de um método hermenêutico de comprovada eficácia. Uns propõem o histórico-crítico. Outros, o histórico-gramatical. Ainda outros sugerem a desconstrução sumária dos profetas e dos apóstolos, a fim de se erguer, sobre os despojos dos autores sagrados, um evangelho que, rigorosamente, em nada lembra o Evangelho de Cristo, que Paulo pregava com poder e graça (1 Co 1.18; Gl 1.8). 
Quanto a mim, proponho um método comprovadamente eficaz: o canônico, cuja essência é resumida nesta proposição áurea — a Bíblia interpreta-se a si mesma. Foi o método, aliás, utilizado pelos apóstolos e evangelistas do Novo Testamento (At 7; 8.35). O Cristo fez uso desse recurso (Lc 24.27). Colocando-o em prática, valemo-nos de outra proposição igualmente áurea: o Espírito Santo é o real intérprete da Bíblia Sagrada.
Tenhamos em mente, pois, um dos atributos mais sublimes da Palavra de Deus: a conspicuidade — a excelência daquilo que é claro e perceptível. No Salmo 119, o autor sagrado discorre sobre as qualidades da Bíblia Sagrada; um livro que restaura o sábio e dá vida ao ignorante. Mas, para que isso ocorra, é necessário que tanto um quanto outro se curvem à soberania das Escrituras Sagradas.     
3. O culto racional agrada a Deus. Posto que Deus é um ser racional, devemos cultuá-lo racionalmente (Rm 12.1). Isso significa, antes de tudo, que a nossa adoração ao Pai Celeste tem de ser perfeitamente entendida, explicada e praticada (Êx 12.26; 1 Pe 3.15). Doutra forma, não terá valor algum (Jo 4.22). Aliás, o culto cristão é o mais racional de todos, apesar de parecer, para os incrédulos, escândalo e loucura (1 Co 1.18,24).
O culto que rendemos a Deus tem de ser racional, mas não pode ser racionalista, nem deve estar submisso ao racionalismo. Essa proposição não é um jogo de palavras, nem um mero ornato retórico; é algo a ser observado em todos os nossos atos de adoração ao Todo-Poderoso. Ela traduz plenamente o que Paulo ensinou à igreja em Roma: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1). Não sei quantas vezes li essa passagem. Mas, somente agora, começo a descobrir-lhe as reais belezas e mistérios.
Antes de tudo, atentemos à recomendação que o apóstolo faz aos irmãos de Roma. Solícito e preocupado, escreve-lhes: “Rogo-vos”. Tal expressão é usada, no grego moderno, para se pedir um obséquio a alguém: “Parakaló”, “por favor”. Então, gentilmente, o apóstolo dirige-se àquele rebanho, para implorar-lhe um grande obséquio não para si, mas para cada uma daquelas ovelhas: a apresentação de seus corpos como sacrifício vivo a Deus, que é o seu culto racional.
O culto a Deus deve ter início no lugar mais reservado e santo de nosso ser — o espírito: a sede de nossas afeições e sentimentos. A fim de qualificar esse ato cultual, o apóstolo escolhe o termo grego latreia, para mostrar-nos como deve ser a adoração que agrada a Deus. Essa palavra denota serviço único, adoração singular, devoção excelente e entrega incondicional. Mas, para alcançar tais qualidades, o culto não pode ser marcado apenas por emoções e sentimentos. Precisa ser caracterizado, em primeiro lugar, pela racionalidade, que nos advém da leitura piedosa e atenta das Sagradas Escrituras.
O adjetivo “racional”, usado por Paulo, advém do termo grego logikos, que, num primeiro momento, pode ser traduzido como lógica e razão. Mas, aqui, suplanta tanto a razão quanto a lógica, mas não as contradiz quando legitimamente usadas.  Os gregos e romanos, conquanto ilustrados e cultos, não sabiam como harmonizar a razão com o culto ao Deus Único e Verdadeiro. Por isso, ostentando um saber que jamais tiveram, fizeram-se loucos devido à sua vida libertina e devassa (Rm 1.22). Os discípulos de Cristo, porém, em virtude de sua pureza e santidade, mostravam, na prática, um culto racional e, ainda, apresentavam a razão de sua fé e serviço a Deus: “antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15, ARA).
No verdadeiro culto a Deus, a latreia precede a leitourgia. Que nos lembremos dessa proposição em todos os nossos atos cultuais. Se a nossa adoração particular não for caracterizada pelo amor e pela racionalidade de que fala o apóstolo, o nosso culto público tende a ser frio, mecânico e formal. Assemelhar-nos-emos aos judeus contemporâneos de Isaías. Não obstante todo o seu aparato cerimonial, louvavam a Deus apenas com os lábios, pois o seu coração achava-se longe do Senhor. 
Quando se chega a esse estado de decadência espiritual, a adoração — latreia — torna-se idolatria, e o serviço público a Deus — leitourgia — redunda num mero e pecaminoso liturgismo. Nessas condições, o que deveria ser um culto racional converte-se numa reunião racionalista, na qual as razões humanas suplantam a sabedoria divina. Daí, em diante, um racionalismo satânico começa a dominar todos os elementos da Igreja de Cristo — doutrina, teologia, cânticos, ministérios e a própria esperança na vinda do Senhor. 
O que Deus requer, de cada um de nós, é um culto verdadeiramente racional: a posse completa de nosso corpo, alma e espírito. Consagremo-nos inteiramente ao Senhor! Se não o fizermos, jamais o veremos.    
Texto extraído da obra “A Raça Humana: Origem, Queda e Redenção”, editada pela CPAD. 
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