4º Trimestre de 2020 - 22/11/2020
INTRODUÇÃO
A história de homens e mulheres de Deus é narrada na Bíblia de diversas formas. Mesmo em lugares onde existe uma aparente impiedade, o Senhor dá o seu testemunho na vida de pessoas que foram usadas ou abençoadas por Ele. O período em que a sunamita viveu foi o da monarquia, no Reino do Norte. Não era efetivamente um dos períodos que poderíamos destacar como sendo de profunda devoção nacional a Deus. O Reino do Norte viu surgir profetas como Elias e Eliseu, homens que foram usados pelo Eterno de forma poderosa, pois era um reino que também tinha pessoas do naipe de Acabe e Jezabel. No Reino do Norte, também havia pessoas aparentemente anônimas, cujas ações foram agradáveis aos olhos de Deus e que colocaram a fé e a generosidade como práticas pessoais, sendo, posteriormente, abençoadas por isso. Neste capítulo, trataremos de uma mulher de Suném, a quem a Bíblia chama de sunamita. A narrativa da sua trajetória na Bíblia é curta, porém impressionante o suficiente para fazer-nos pensar que boas ações trazem boas recompensas e que Deus pode fazer além do que pedimos ou pensamos.
I – A MULHER QUE VIVIA EM SUNÉM
Suném era uma localidade situada no território destinado à tribo de Issacar, no sul da Galileia e ao norte de Samaria. Levando em conta que essa localidade era próxima a Jezreel, pode-se entender que Suném não estava distante dos acontecimentos que antecederam o ministério de Eliseu. É provável que Suném fosse um lugar que tivesse espaço para a permanência de grupos grandes de pessoas, pois, no reinado de Saul, após a morte de Samuel, os filisteus acamparam-se em Suném para atacar os hebreus naquela que seria a última guerra em que Saul participaria antes de tirar a própria vida. No aspecto religioso, poucos anos antes do ministério de Eliseu, Acabe reinava em Israel, Reino do Norte, e implantou com Jezabel a adoração a Baal nos costumes do povo. Os embates de Elias contra os pecados do rei Acabe e Jezabel mostram a supremacia do Deus verdadeiro sobre os que se diziam deuses. Ainda assim, com tantos sinais, até à vinda do cativeiro assírio, reis ímpios revezavam-se no governo do povo de Deus.
Em nossos dias, dado à necessidade cada vez mais constante de privacidade, pessoas que se deslocam de um lugar para outro mais distante prezam por ficar em hotéis. Eles geralmente são seguros, oferecem um isolamento mínimo, comida, conforto e uma noite de descanso. Em outros tempos, ficar na casa de famílias também era usual, mas esse costume tem sido menos incentivado na atualidade. De qualquer forma, em casas familiares ou em hotéis, viajantes acham abrigo para descansar. Não há o registro de que houvesse uma estalagem ou outro meio em que um viajante pudesse parar para alimentar-se e descansar naquela localidade. Eliseu, como profeta, deveria ter de percorrer diversos lugares, e o convite para comer pão na casa da sunamita foi bem-vindo como um momento de descanso e comunhão. Viagens costumam ser cansativas e, nos tempos antigos, também eram demoradas e desgastantes. A Sunamita – Quando a Fé Faz a Diferença em Atitudes | 93 Eliseu teve tempo para comer e usufruir da hospitalidade daquele lar. Isso nos mostra que também é necessário ter espiritualidade para fazer vínculos de amizades que agradem ao Senhor: “[...] e sucedeu que todas as vezes que passava, ali se dirigia a comer pão” (2 Rs 4.8). A casa da sunamita tornou-se um refúgio para o profeta sempre que ele passava naquela região. 3. Um Santo Homem de Deus De alguma forma, a santidade de Deus na vida do profeta havia sido expressa, e isso faz a diferença. Eliseu, pelo relato, somente comia pão na casa daquela mulher, não havendo registros de profecias ou milagres nessa parte do texto. Ao que nos parece, a santidade vista no profeta está mais associada à maneira como ele mantinha a sua postura. A verdadeira santidade é vista no convívio de pessoas santas com outras pessoas. Pessoas santas refletem a sua comunhão com Deus para outras pessoas. A Palavra de Deus não nos diz que Eliseu trouxe alguma profecia àquela casa inicialmente, mas diz que ele foi considerado um homem santo. A santidade de Deus na vida de Eliseu não o impediu de interagir com a família da sunamita ou de alimentar-se na casa dela. Santidade não é isolamento. Eliseu era um homem simples, não era dado ao luxo e nem se aproveitava da sua posição de profeta para lucrar com as coisas de Deus. Ele nunca vendeu uma profecia para ter bens, ou roupas caras, ou propriedades. O seu ministério foi impecável. E, desse mesmo jeito, ele portou-se como um santo homem de Deus.
II – MILAGRE E ADVERSIDADE
Estendendo a sua prática de hospitalidade, a sunamita e o seu esposo constroem um cômodo onde o profeta poderia descansar. Tal narração na Bíblia mostra que as decisões daquele lar eram tomadas com base no diálogo (2 Rs 4.9,10). Quando há diálogo no lar, as ações são tomadas em consenso. Um quarto foi construído, servindo de refúgio para o homem de Deus. Dentro do local, havia utensílios simples, mas que trariam conforto ao ilustre viajante. O quarto ficava dentro da propriedade, do lado do muro, trazendo certa privacidade ao profeta. A Sunamita – Quando a Fé Faz a Diferença em Atitudes | 95 Tal atitude foi tão nobre que Eliseu quis saber o que ele poderia fazer por ela. Nada mais natural para o homem de Deus, pois aquele casal não pediu nada em troca pela generosidade oferecida.
A generosidade da sunamita trouxe ao profeta Eliseu o desejo de retribuição. Nenhuma pessoa é tão abastada que não precise de nada. O homem de Deus perguntou a ela se havia algum favor que ela gostaria de receber do rei ou do chefe do exército, pois o profeta poderia interceder por ela às autoridades. Sendo abastada, a sunamita entendeu que não precisava de nada da parte do profeta. Ela não o acolheu esperando receber retribuição alguma e, quando questionada por Eliseu sobre que tipo de benefício ela gostaria de receber, respondeu simplesmente que habitava no meio do seu povo — uma forma de dizer que não tinha falta de nada. Entretanto, o lar da sunamita não tinha uma criança, e quem reparou isso foi Geazi, moço de Eliseu. Nem mesmo o profeta percebeu aquela situação. Na cultura judaica, crianças sempre foram vistas como “herança do Senhor”. Na perspectiva do Antigo Testamento, aquela casa não estava completa. Uma casa sem crianças era um lar onde Deus não havia pousado a sua mão, abrindo o ventre para receber a chegada de uma “herança”. Então, o profeta diz àquela mulher que “segundo o tempo da vida, abraçarás um filho” (2 Rs 4.16). A surpresa na declaração do profeta gera uma expectativa na sunamita, que, decorrido o prazo, teve um menino. Se faltava algo naquela casa, agora não faltava nada. Passado o tempo da gestação, conforme a palavra de Eliseu, nasceu um menino, trazendo alegria àquela casa. O Senhor surpreendeu aquela família, completando o lar com uma criança. Isso pode parecer estranho em dias como os nossos, em que há um clamor de certos ramos da sociedade para dar permissão à mulher dar cabo da vida de crianças que ainda não nasceram. Deus valoriza a vida, e o presente que Ele deu para a sunamita foi um filho.
O Filho Morre Passado algum tempo e tendo o menino já se desenvolvido e crescido, aquela família passou por um drama terrível: o menino sentiu uma dor de cabeça e, em seguida, morreu. Como em nossos dias, a perda de um filho é sempre traumática, sendo sempre pior para os pais. Apesar de não gostarmos de lidar com esse 96 | Os Bons e Maus Exemplos assunto, a ordem natural da vida é que os pais passem para a eternidade e, depois, os filhos. Espera-se que os pais envelheçam e terminem os seus dias com uma idade avançada. Quando essa ordem é rompida, há um processo doloroso de sentimento de perda. A sunamita passou por essa situação com um agravante: ela perdeu o único filho que tinha. Há quem creia que pais que perderam um filho sentiram uma profunda dor, mas que tal infortúnio foi atenuado pela presença de outros filhos que permaneceram vivos na família. Esse, porém, não foi o caso da sunamita. O filho único que ela teve, dado por Deus, havia sido levado pela morte.
III – A AÇÃO DE DEUS NA VIDA DA SUNAMITA
Profetas são descritos na Bíblia como pessoas a quem o Senhor revelava informações necessárias. Todavia, nem sempre Deus fala tudo com os profetas. A sunamita dirigiu-se para falar com Eliseu, o homem santo de Deus. O filho dela estava morto. Ele precisava saber da dor daquela mulher e intervir de forma sobrenatural (ver 2 Rs 4.27). Essa é uma narrativa singular, pois o sucessor de Elias, Eliseu, não tinha recebido qualquer revelação do Eterno sobre o que estava acontecendo com a sunamita. Todavia, aqui há um motivo: Deus queria que o profeta fosse à casa dela para que pudesse ver o que estava acontecendo e saber quais medidas deveria tomar. Quando o Senhor fica calado acerca de alguma circunstância, é necessário termos o devido tato para saber o que está acontecendo. Há coisas que Deus espera que saibamos por meios naturais. Eliseu precisou ir à casa da sunamita para saber que o filho dela estava morto e, lá chegando, foi canal de um milagre para aquela família.
Da mesma forma como a sunamita foi generosa com o profeta, construindo-lhe um quarto para descansar e colocando nele uma cama (2 Rs 4.10), Deus foi generoso para com ela, pois a ressurreição do seu filho ocorreu no mesmo quarto que foi construído para abrigar o profeta, na cama em que o corpo do menino havia sido colocado. A ressurreição é uma verdadeira quebra da ordem natural pós-Éden. Não fomos criados por Deus para morrer, mas, por causa do pecado, fomos sujeitos à morte, e até que possamos ressuscitar no grande dia em que Cristo voltar, veremos pessoas que amamos sendo recolhidas. O profeta entrou no seu quarto, onde estava o corpo do menino, e orou. Ele não tinha poder sobre a morte, mas sabia que Deus tem. O homem de Deus, após ter orado, agiu: deitou-se sobre ele, e o calor do seu corpo aqueceu o corpo do menino. Deus, então, traz de volta aquela criança para o convívio com os seus pais.
“Ora, o rei falava a Geazi, moço do homem de Deus, dizendo: Conta-me, peço-te, todas as grandes obras que Eliseu tem feito. E sucedeu que, contando ele ao rei como vivificara a um morto, eis que a mulher cujo filho vivificara clamou ao rei pela sua casa e pelas suas terras; então, disse Geazi: Ó rei, meu senhor, esta é a mulher, e este o seu filho, a quem Eliseu vivificou. E o rei perguntou à mulher, e ela lho contou; então, o rei lhe deu um eunuco, dizendo: Faze-lhe restituir tudo quanto era seu e todas as rendas das terras, desde o dia em que deixou a terra até agora.” (2 Rs 8.4-6)
Eliseu, passados vários acontecimentos, disse à sunamita que o Senhor havia chamado para a terra um período de fome e que ela deveria mudar-se daquele lugar com a sua família e retornar em outro momento. Passados sete anos, ela retornou ao Reino do Norte e precisou dirigir-se ao rei para pedir as suas terras de volta. Na sua ausência, as suas propriedades foram tomadas, e ela queria-as de volta. Como o rei não a conhecia e estava conversando com Geazi, moço de Eliseu, ouviu que o profeta havia ressuscitado o filho de uma mulher. Naquele momento, ela clamou ao rei, e este foi informado de que aquela mulher e o seu filho eram as pessoas que Eliseu, pelo seu ministério, havia abençoado. Então, o monarca ordenou que as suas terras e a renda dessas terras fossem devolvidas àquela família. Esse foi o resultado de uma atitude generosa daquela mulher para com o homem de Deus.
CONCLUSÃO
A história da sunamita coloca-nos diante de algumas verdades fundamentais:
• Recursos dados por Deus devem ser usados com generosidade e misericórdia. A sunamita mostra-nos que podemos usar nossos recursos para fazer a diferença na vida de outras pessoas. O que ela e o seu marido possuíam foram usadas para abençoar um homem de Deus, e, por meio dessa postura, ela e o seu esposo foram grandemente abençoados.
• A sua história também nos fala que há momentos em que o Senhor permite-nos passar por situações adversas, mas que Ele sempre terá uma solução. O filho da sunamita faleceu, mas foi trazido de volta à vida pelo profeta que ela e o seu esposo abençoaram anteriormente. Em alguns casos, aqueles que abençoamos tornam-se nossos abençoadores depois.
• Por fim, mostra que nossas ações em benefício de outras pessoas, desde que seja de forma sincera, são aprovadas por Deus e que Ele retribui-nos no devido tempo. Quando foi necessário, houve um testemunho em favor da sunamita e o seu filho, de tal forma que as suas posses foram restauradas após o período da fome. O Senhor não se cansa de abençoar aqueles que têm um coração abençoador.