Qual a estratégia de trabalho para alcançar os alunos da Terceira Idade?
“O idoso também é gente, é sujeito, e, portanto, não pode ser tratado como um simples objeto – um objeto descartável”
Em seu livro: Vida Para Consumo – a transformação das pessoas em mercadoria, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman escreveu: “Numa sociedade de consumidores é muito difícil ser sujeito sem primeiramente se tornar objeto”.
Uma das marcas da cultura pós-moderna é a “coisificação” das pessoas, isto é, a transformação de sujeitos em objetos. E transformação de gente em mercadoria. Nesse aspecto, o que vale e o que conta hoje em dia em nossa sociedade líquida é aquilo que possui valor de mercado.
Na cultura líquida, pós-moderna e onde se prega o fim das certezas, os relacionamentos, quando existem, são frágeis. Bauman comenta em uma outra obra: Capitalismo Parasitário, que:
“Para os jovens, a principal atração do mundo virtual deriva da ausência de contradições e objetivos contrastantes que infestam a vida off-line. O mundo on-line, ao contrário de sua alternativa off-line, torna possível pensar na infinita multiplicação de contatos como algo plausível e factível. Isso acontece pelo enfraquecimento dos laços – em nítido contraste com o mundo off-line, orientado para a tentativa constante de reforçar os laços, limitando muito o número de contatos e aprofundando cada um deles”.
Na metáfora de Bauman, o mundo off-line é formado pelos relacionamentos reais, corpo a corpo. Por outro lado, o mundo on-line é o mundo onde os relacionamentos não acontecem de forma real, presencial. São relacionamentos que se constroem virtualmente. São relacionamentos fecebookianos, onde é fácil se construir uma amizade e mais fácil ainda desfazê-la. Dessa forma, se os relacionamentos se tornaram fragmentários entre jovens, como aponta Bauman, entre os mais velhos eles se tornaram patológicos. A exclusão dos mais velhos, portanto, dos considerados mais inaptos dentro dessa cultura é um dos piores efeitos colaterais.
Em uma análise detalhada dos efeitos dessa cultura de mercado sobre a sociedade, o filósofo espanhol Antonio Cruz denunciou esse o individualismo narcisista da cultura Pós-moderna. Em seu livro: Posmodernidad – el evangelio ante o desafio del bienestar, disse: “O individualismo da modernidade que era competitivo na economia, sentimental no doméstico, revolucionário no político e artístico, se transformou na cultura pós-moderna em um individualismo puro e duro, sem os valores morais e sociais da família. O próximo já não é o outro, mas eu mesmo. O organismo deve estar sempre jovem e em perfeito funcionamento, igual aos automóveis. Não se aceita a velhice. O velho é aquele que não pode desfrutar de corpo jovem.
Daí que os anciãos hajam inaugurado essa terrível infância chamada de terceira idade. O corpo assassinou o espírito, como Caim assassinou Abel”.
É um fato que a população brasileira, a exemplo da mundial, está envelhecendo. Os estudos mostram que esta é uma tendência mundial. “Todas as pessoas estão envelhecendo”, observa o expositor bíblico D.O. Moberg, destacando que elas devem “reconhecer a brevidade da vida, vivendo sabiamente como bons mordomos os anos que lhe foram dados (Sl 90). Devendo lembrar-se do seu Criador nos dias da sua mocidade “antes que venham os maus dias” (Ec 12), mas até mesmo os idosos podem nascer de novo (Jo 3.4). Quem tiver o relacionamento certo com Deus ainda será frutífero na velhice (Sl 92.12-15). Servirão ao próximo até o fim da sua vida e, como resultado colherão bênçãos para si mesmos e para os outros. Dessa forma o crescimento espiritual continua por muito tempo, mesmo após o início de outras perdas e declínios”.
Como tratar, portanto, essa importante parte da sociedade tem se constituído em um dos principais desafios para governantes, educadores e pesquisadores. Esse desafio tem sido encarado de duas formas – primeiramente vemos políticas públicas que usam o lazer como forma de inserção do idoso na vida ativa. Por outro lado, há aqueles, que acham que somente isso não basta, e buscam uma dar uma ressignificação ao “eu” do idoso.
Em outras palavras, o idoso também é gente, é sujeito, e, portanto, não pode ser tratado como um simples objeto – um objeto descartável.
Alguns educadores acreditam que um melhor juízo de valor sobre essa questão será feito se algumas variáveis forem levadas em conta:
1. Problematizar o conhecimento e o reconhecimento da realidade do idoso;
2. Discutir a geografia existencial do cotidiano do idoso;
3. Argumentar sobre a destinação antropológica do ser que envelhece;
4. Refletir sobre fatos e situações problemáticas do cotidiano;
5. Perceber a si e o seu grupo de pertinência como potencial;
6. Gerar novas interpretações dos fatos conhecidos;
7. Refletir sobre o relacionamento com as pessoas próximas.
Esses vetores sociais revelam que a educação do idoso, que não é mais um jovem, nem tampouco um simples adulto, precisa ser vista de uma forma especial.
Nesse contexto, para que um processo educativo se mostre eficiente, é necessário que leve em conta a inserção do idoso em seu contexto social. É preciso que se enxergue o idoso como um ser existencial importante, e mais, fazer com que ele mesmo se veja assim. O idoso precisa se sentir motivado e ter sua autoestima elevada. Isso ajuda a eliminar a cultura que ver o idoso como um simples “ferro velho” ou um “aposentado” que já deu o que tinha de dar.
É preciso mais - é necessário integrar o idoso na vida ativa através de métodos que permitam a sua participação. Nunca esquecer que o idoso ainda possui um “eu” em construção. Ele pode ensinar através do seu histórico de vida, mas também pode se abrir para o mundo que se descortina à sua volta e aprender com as novas formas de saberes que se constroem.
Em um verbete intitulado de Conceito Cristão de Velhice, a Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, destaca a importância de um ministério cristão com essa importante fase da vida:
É extremamente ampla a gama dos serviços em potencial e já existentes prestados pela igreja aos idosos. Além dos ministérios que servem a todas as idades, as instituições patrocinadas pela igreja para alojar e cuidar dos idosos ajudam a satisfazer as necessidades em vários níveis. É desejável, também, que haja um aumento na variedade de serviços domiciliares. A maioria dos gerontólogos recomenda que as pessoas sejam ajudadas para permanecerem no seu próprio lar o máximo possível, tanto para promover o sendo de bem-estar deles mesmo, como para reduzir os custos econômicos globais. Serviços voluntários e mutirões de trabalho e uma ajuda regular na limpeza da casa, lavagem das roupas, banhos, consertos domésticos e transportes para serviços externos necessários poderão aumentar os anos durante os quais muitos idosos conseguirão continuar residindo em casa.
Programas para cidadãos idosos ajudam a satisfazer muitas necessidades físicas, materiais, sociais, espirituais quando são planejados e orientados com sabedoria. Além disso, dão às pessoas mais idosas a oportunidade de servirem ao próximo.
Serviços de atendimento diurno poderão cuidar das necessidades diárias dos idosos enquanto os membros da família estão no emprego ou na escola. As igrejas poderão suplementar os programas públicos de assistência social, e ao mesmo tempo, fornecerão às pessoas mais idosas a oportunidade de ajudarem aos outros e, assim, ajudarem a si mesmas.
Artigo do pastor José Gonçalves, publicado na Revista Ensinador Cristão, Ano 16 – Nº 63 (jul/ago/set de 2015)
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